A morte dos fantasmas

De Wiki Cambuí
Ir para: navegação, pesquisa

Toda sexta-feira à noite uma bela garota aparece no jardim. Um dos rapazes se apaixona por ela e, vencendo a timidez, começam a conversar. Na hora de ir embora, eles descem a rua Quintino Bocaiúva, pegam a rua coronel Lambert, passam pela venda do Moisés e daí ela se despede. Ela não quer que ele a leve até em casa. Não adianta insistir, sob pena de romper o iniciante namoro.

Toda sexta é assim, ele insiste, mas ela diz que não - o limite é a venda do Moisés. Ela sobe a rua do Candoca (hoje Major Higino Cesar) sozinha.

Até que a sexta cai no dia 1º de novembro, Dia de Todos os Santos. E cai uma chuva muito forte. Ele, então, empresta para ela sua capa de chuva. Ele, prevenido, tem um guarda-chuva.

- Você vai ao cemitério amanhã? - ela pergunta.

- Vou. Eu vou todo ano no Dia dos Mortos.

- Então, amanhã eu te devolvo sua capa.

No outro dia, no cemitério, ele procura sua namorada. Vê sobre um túmulo sua capa. E pela foto e dizeres na lápide, descobre que ela morreu há mais de 40 anos.

Esta história, com variações, conforme o contador, era a que fazia mais sucesso à noite na praça depois que a sessão do cinema terminava, as meninas iam embora e os rapazes ficavam contando histórias de fantasmas, sempre envolvendo mortos conhecidos. Os espíritas tentavam dar uma certa ordem e justificativa nos casos, mas a observação que, numa sessão espírita, o espírito baixou com tanta força que quebrou o pé da mesa, sempre os irritava. E aí faziam ameaças vindas do além e do destino.

Até que dava onze e meia, meia-noite, mais o frio, e era hora dos rapazes também irem embora.

Mas aos poucos, as histórias de fantasmas sofreriam dois golpes mortais: a televisão e o iluminação de mercúrio nas ruas.

Nenhum fantasma sobrevive a inimigos tão poderosos.

Almanaque de Cambuí[editar]