Mudanças entre as edições de "Rios e ribeirões de Cambuí - onde estão?"

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O traçado, simples, mas com muita sabedoria e ciência, localizou a Igreja Matriz no alto da colina que verte para três lados: leste, norte e oeste. Em frente a ela, uma praça. E dali partindo a rua principal (rua Silviano Brandão, depois Moreira Sales,), exatamente em direção à vargem do norte, de onde partiam, ortogonalmente, os incipientes quarteirões, já traçados.   
 
O traçado, simples, mas com muita sabedoria e ciência, localizou a Igreja Matriz no alto da colina que verte para três lados: leste, norte e oeste. Em frente a ela, uma praça. E dali partindo a rua principal (rua Silviano Brandão, depois Moreira Sales,), exatamente em direção à vargem do norte, de onde partiam, ortogonalmente, os incipientes quarteirões, já traçados.   
  
Esse foi - muito sinteticamente descrito - o planejamento original da cidade, ainda no século XIX, que atendia o crescimento da cidade até aproximadamente a década de 1960. Ocupava-se a colina e lançavam-se alguns bairros na outra margem do Rio das Antas, como a Vila da Mandioca, depois Matadouro, sem se esquecer que, por esse local, chegavam os caminhos dos bairros rurais a oeste da cidade: Vazes, Serra do Cabral, Portão, Água Comprida, Pessegueiro. E os então distritos: Senador Amaral (Campos) e Bom Repouso (Boa Vereda).
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Esse foi - muito sinteticamente descrito - o planejamento original da cidade, ainda no século XIX, que atendia o crescimento da cidade até aproximadamente a década de 1960. Ocupava-se a colina e lançavam-se alguns bairros na outra margem do Rio das Antas, como a Vila da Mandioca, depois Matadouro, sem se esquecer que, por esse local, chegavam os caminhos dos bairros rurais a oeste da cidade: Vazes, Serra do Cabral, Portão, Água Comprida, Pessegueiro. E os então distritos: Senador Amaral (Campos) e Bom Repouso (Bom Retiro).
  
 
Pelo lado nordeste, a cidade atravessava também um riozinho e subia por outro morro, seguindo o caminho que levava a outro distrito, Bom Jesus do Córrego, hoje com nome invertido para Córrego do Bom Jesus. O crescimento para os lados do “pasto do Candoca”, ao sul, e do “pasto do Alípio, a leste, onde havia um “bambuzeiro perdido”, teve, logicamente, que atravessar alguma água. Mas não o foi para quem deixou que a especulação imobiliária dominasse o crescimento da cidade.
 
Pelo lado nordeste, a cidade atravessava também um riozinho e subia por outro morro, seguindo o caminho que levava a outro distrito, Bom Jesus do Córrego, hoje com nome invertido para Córrego do Bom Jesus. O crescimento para os lados do “pasto do Candoca”, ao sul, e do “pasto do Alípio, a leste, onde havia um “bambuzeiro perdido”, teve, logicamente, que atravessar alguma água. Mas não o foi para quem deixou que a especulação imobiliária dominasse o crescimento da cidade.

Edição atual tal como às 08h26min de 17 de fevereiro de 2017

riodasantas.jpg

Eneida Ferraz, da ACLAC

Acaba de ser publicado, com lançamento em Cambuí no dia 30/07/2016, o livro “A Terceira Margem do Rio”, do Jornalista Ulisses Capozzoli, hoje atuante membro da ACLAC - Academia Cambuiense de Letras, Artes e Ciências¹.

Um rio não é somente linear, seguindo seu curso. Um rio é também sua bacia e, no caso do rio das Antas, suas margens inundáveis e toda a rede dos pequenos veios que o alimentam.

A escolha do sítio para a implantação da cidade de Cambuí já foi contada pela história, mas há muito mais sabedoria naquela opção do que se costuma divulgar. Basta uma rápida análise geográfica deste sítio e o traçado de suas ruas, largos e lotes, para podermos ter uma ideia da acertada decisão.

Se não, vejamos: um maciço ao sul², protegendo dos ventos frios que de lá sopram; a colina onde se implanta o núcleo da cidade, com pelo menos um ribeirão de cada lado; um espigão ligando este núcleo ao maciço (Cruz do Rosário, hoje avenida Tiradentes), de onde vinha a água para abastecimento; a extensa vargem ao norte, calha e fornecedora de alimentos, principalmente do arroz, e ao mesmo tempo do material para a construção da cidade: o tijolo das olarias, em sua segunda fase de arquitetura.

O traçado, simples, mas com muita sabedoria e ciência, localizou a Igreja Matriz no alto da colina que verte para três lados: leste, norte e oeste. Em frente a ela, uma praça. E dali partindo a rua principal (rua Silviano Brandão, depois Moreira Sales,), exatamente em direção à vargem do norte, de onde partiam, ortogonalmente, os incipientes quarteirões, já traçados.

Esse foi - muito sinteticamente descrito - o planejamento original da cidade, ainda no século XIX, que atendia o crescimento da cidade até aproximadamente a década de 1960. Ocupava-se a colina e lançavam-se alguns bairros na outra margem do Rio das Antas, como a Vila da Mandioca, depois Matadouro, sem se esquecer que, por esse local, chegavam os caminhos dos bairros rurais a oeste da cidade: Vazes, Serra do Cabral, Portão, Água Comprida, Pessegueiro. E os então distritos: Senador Amaral (Campos) e Bom Repouso (Bom Retiro).

Pelo lado nordeste, a cidade atravessava também um riozinho e subia por outro morro, seguindo o caminho que levava a outro distrito, Bom Jesus do Córrego, hoje com nome invertido para Córrego do Bom Jesus. O crescimento para os lados do “pasto do Candoca”, ao sul, e do “pasto do Alípio, a leste, onde havia um “bambuzeiro perdido”, teve, logicamente, que atravessar alguma água. Mas não o foi para quem deixou que a especulação imobiliária dominasse o crescimento da cidade.

A delimitação feita pelos morros e veios d’água sempre foi muito clara. Até então, a geografia podia ser estudada “ao vivo” em Cambuí. O início da perda da relação entre território, estações do ano³, passagem do tempo e a vida cotidiana pode ter como marco a retificação do Rio das Antas. Mas houve muitos outros fatores que concorreram para isso, principalmente a desconsideração da geografia do lugar. As encostas que, mesmo não tendo condições seguras para abrigar moradias, com terrenos non aedificandi, continuam sendo ocupados sistematicamente, sem nem ao menos se obedecer às curvas de nível para a abertura de ruas, rasgando-as morro abaixo, numa incrível ignorância, e trazendo desconforto para os habitantes do local.

Os riachos que alimentam o Rio das Antas também foram vítimas de um péssimo planejamento urbano, ou melhor, da falta do mesmo. Cito dois: - O que passava pelo pasto do Candoca, atravessando a vargem que levava ao Colégio. A rua ficava em um plano bem mais abaixo do que está, e a vargem ficava branca de geada nas manhãs de inverno, quando íamos para aula. Ele passava pela então chamada 'variante' (hoje Av. Prefeito José Barbosa), pelos fundos dos quintais (dos Srs. Zé Ramiro e Toninho Cassiano, por exemplo). Desaguava no rio das Antas. Hoje alguém sabe dizer onde ele foi parar? Pois é. Há até casas edificadas sobre ele.

Do lado leste da colina do núcleo histórico da cidade, situa-se o ribeirão que, vindo da Matinha (talvez nascesse lá mesmo ou no pasto do Alípio), passava pelos fundos dos compridos quintais das casas da rua Padre Caramuru, pelo pasto da d. Maricota, até desaguar no rio das Antas. Além de canalização deste ribeirão, ”deixaram" uma viela muito estreita sobre ele, hoje totalmente ocupada por casas, o que impossibilita o seu descobrimento.

Quem desenha a cidade são os loteadores – lógico! -, com a aprovação de vereadores e prefeitos.

Quanta diferença entre a criação da vila, seus fundadores e o tratamento que a cidade tem hoje! Progredimos ou regredimos? De que adiantaram os conhecimentos da ciência no caso da expansão de Cambuí? É esta é a visão planejamento urbano?

Uma pena. Um pecado. Ou seria mesmo um crime?

Referências:[editar]

(1) Versa sobre o nosso, o rio que margeia Cambuí, o Rio das Antas ou mais modestamente, Ribeirão das Antas.

(2) Ver o artigo Maciço do Cruzeiro, de Bendito Tadeu de Oliveira.

(3) Ver crônica de João Batista Teixeira, sobre uma enchente em Cambuí. A Enchente, João Batista Teixeira