Editando O Montanhês

Ir para: navegação, pesquisa

Aviso: O banco de dados foi bloqueado para manutenção, por isso você não poderá salvar a sua edição neste momento. Talvez você queira copiar o seu texto num editor externo e guardá-lo, para posterior envio.

Quem bloqueou o banco de dados forneceu a seguinte explicação: Routine maintenance until midnight.

A edição pôde ser desfeita. Por gentileza, verifique o comparativo a seguir para se certificar de que é isto que deseja fazer, salvando as alterações após ter terminado de revisá-las.
Revisão atual Seu texto
Linha 1: Linha 1:
José do Carmo Eiras (1917-2006),  o ''Zé Montanha'', ganhou este apelido por ter sido gerente da '''A Montanha''', jornal semanal que circulou em Cambuí entre abril de 1948 a dezembro de 1950. O jornal tinha como diretor-responsávei o deputado Milton Salles, da UDN, e, além de fazer o jornal como tipógrafo, Eiras publicou vários poemas satíricos assinados como ''Montanhês''. Os poemas tinham dupla função: satirizar os políticos adversários e preencher os espaços em branco conhecidos como “calhau” na gíria dos gráficos.   
+
José do Carmo Eiras (1917-2006),  o ''Zé Montanha'', ganhou este apelido por ter sido gerente da '''A Montanha''', jornal semanal que circulou em Cambuí entre abril de 1948 a dezembro de 1950. O jornal tinha como diretor-responsávei o deputado Milton Salles, da UDN, e, além de fazer o jornal como tipógrafo, Eiras publicou vários poemas satíricos assinados como "Montanhês". Os poemas tinham dupla função: satirizar os políticos adversários e preencher os espaços em branco conhecidos como “calhau” na gíria dos gráficos.   
  
Se na oposição estava a '''A Montanha''', na situação tinha '''A Gazeta''', dirigida pelo advogado Haley Lopes Bello e tendo como tipógrafo Pedro Nogueira, que obviamente  passou a ser conhecido como ''Pedro Gazeta''. E é sobre um escorregão deste jornal, que o ''Montanhês'' satiriza pela primeira vez em 5 de dezembro de 1948.  Um certo réu teria sido “absorvido" pelo advogado Bello.
+
Se na oposição estava a '''A Montanha''', na situação tinha '''A Gazeta''', dirigida pelo advogado Haley Lopes Bello e tendo como tipógrafo Pedro Nogueira, que obviamente  passou a ser conhecido como ''Pedro Gazeta''. E é sobre um escorregão deste jornal, que o Montanhês satiriza peIa primeira vez em 5 de dezembro de 1948.  Um certo réu teria sido “absorvido" pelo advogado Bello.
 
 
''Eis um ‘belo’ advogado''  
+
''Eis um ‘belo’ advogado   
''Que põe alma na defesa'' 
+
''E o homem - tento contado -''
+
''Vai pra rua com certeza...''
+
''Pois manejando o Direito'' 
+
''Vejam só, meu Deus do céu –''
+
''É preciso ser perfeito'' 
+
''Para ‘absorver’ o réu!...''
+
  
(Numa nota no pé do poema, o ''Montanhês'' avisa que "absorvido" quer dizer "engolido, consumido, recolhido em si").
+
''Que põe alma na defesa''
  
No poema seguinte ('''A Montanha''', nº 34, 121248), o ''Montanhês'' satiriza a ordem do prefeito do PSD, João Batista Lopes, para que o Posto de Saúde só funcionasse do meio-dia às 16 horas. Há no poema uma notável atualidade sobre a saúde pública.
+
''E o homem - tento contado -''
 +
 +
''Vai pra rua com certeza...''
 +
 +
''Pois manejando o Direito'' 
 +
 
 +
''Vejam só, meu Deus do céu –''
 +
 +
''É preciso ser perfeito'' 
 +
 
 +
''Para ‘absorver’ o réu!...''
 +
 
 +
Numa nota no pé do poema, o ''Montanhês'' avisa que "absorvido" quer dizer "engoli¬do, consumido, recolhido em si".
 +
 
 +
No poema seguinte ('''A Montanha''', nº 34, 121248), o "Montanhês" satiriza a ordem do prefeito do PSD, João Batista Lopes, para que o Posto de Saúde só funcionasse do meio-dia às 16 horas. Há no poema uma notável atualidade sobre a saúde pública.
 +
 
 +
''Muito bem, Senhor Prefeito!''
 +
 
 +
''Tudo tem que ser bem feito'' 
 +
 
 +
''Ordem em tudo, isto sim!'' 
 +
 
 +
''Somente o que não tem hora'' 
 +
 
 +
''E que entra noite afora'' 
 +
 
 +
''É bilhar ou botequim'' 
 +
 
 +
''Se é pobre, cambuiense''
 +
 
 +
''O Posto é teu, te pertence'' 
 +
 
 +
''Respeita, porém, o trato:'' 
 +
 
 +
''Se tu ficares doente'' 
 +
 
 +
''Assim, sem mais, de repente'' 
 +
 
 +
''‘Tem que ser’ das doze às quatro!'' 
 +
 
 +
''Se tiveres congestão'' 
 +
 
 +
''Ou mesmo intoxicação'' 
 +
 
 +
''Dor de calo, ou outra dor'' 
 +
 
 +
''Podes ficar sossegado'' 
 +
 
 +
''Serás logo medicado'' 
 +
 
 +
''No Posto pelo doutor'' 
 +
 
 +
''Mas, por Deus, tenhas juízo!'' 
 +
 
 +
''Lembras-te sempre do aviso'' 
 +
 
 +
''Esquecê-lo é fatal!'' 
 +
 
 +
''Se chegares adoecer'' 
 +
 
 +
''É preciso, ‘tem que ser''’ 
 +
 
 +
''das doze às quatro! Que tal?!..."''
  
''Muito bem, Senhor Prefeito!''
 
''Tudo tem que ser bem feito'' 
 
''Ordem em tudo, isto sim!'' 
 
''Somente o que não tem hora'' 
 
''E que entra noite afora'' 
 
''É bilhar ou botequim'' 
 
''Se é pobre, cambuiense''
 
''O Posto é teu, te pertence'' 
 
''Respeita, porém, o trato:'' 
 
''Se tu ficares doente'' 
 
''Assim, sem mais, de repente'' 
 
''‘Tem que ser’ das doze às quatro!'' 
 
''Se tiveres congestão'' 
 
''Ou mesmo intoxicação'' 
 
''Dor de calo, ou outra dor'' 
 
''Podes ficar sossegado'' 
 
''Serás logo medicado'' 
 
''No Posto pelo doutor'' 
 
''Mas, por Deus, tenhas juízo!'' 
 
''Lembras-te sempre do aviso'' 
 
''Esquecê-lo é fatal!'' 
 
''Se chegares adoecer'' 
 
''É preciso, ‘tem que ser''’ 
 
''das doze às quatro! Que tal?!..."''
 
  
 
Em 19 de dezembro de 1948, a sátira do ''Montanhês'' ataca o prefeito naquilo que é matéria-prima de todas as sátiras: a moralidade pública. Caminhões do prefeito estariam sendo pagos por serviços prestados à Prefeitura sem concorrência. No meio da sátira, os trocadilhos com a palavra "sal" se referem ao contrabando do produto feito durante a Segunda Guerra.  
 
Em 19 de dezembro de 1948, a sátira do ''Montanhês'' ataca o prefeito naquilo que é matéria-prima de todas as sátiras: a moralidade pública. Caminhões do prefeito estariam sendo pagos por serviços prestados à Prefeitura sem concorrência. No meio da sátira, os trocadilhos com a palavra "sal" se referem ao contrabando do produto feito durante a Segunda Guerra.  
  
''"A Gazeta" domingo vinha''   
+
''"A Gazeta" domingo vinha''   
''Distribuindo louvaminha''
+
''Ao nosso "caro" prefeito:'' 
+
''"No começo foi ferreiro..''. 
+
''Em ser honesto, o primeiro:'' 
+
''Homem limpo e é direito!...''
+
''Depois num grande salseiro'' 
+
''Quem ganhou muito dinheiro'' 
+
''Com a guerra, aos montões?'' 
+
''Salvando esse salvatério'' 
+
''Do comentário, o critério'' 
+
''Do caso dos caminhões!'' 
+
''Co'esse recurso confuso'', 
+
''De guerra... caminho escuso...'' 
+
''Câmbio negro... (Que embrulhões!)'' 
+
''"A Gazeta" deu resposta'' 
+
''À história (sem proposta)'' 
+
''Do caso dos caminhões!...''
+
''Vale à salvante embrulhada'' 
+
''(Lenga-lenga salmodiada)'' 
+
''Que "inocenta" os chefões!'' 
+
''Salvaguarda da aparência'' 
+
''(Salário sem concorrência)'' 
+
''Do caso dos caminhões!...''
+
''Que o Prefeito foi ferreiro''
+
''Teve...e tem dinheiro...''
+
''De acordo, sem senões!...''
+
''Mas — que diabo! — em que ficou'' 
+
''("A Montanha" publicou)'' 
+
''O caso dos caminhões?..."''
+
  
No número seguinte, de 26 de dezembro de 1948, o ''Montanhês'' volta a pegar um besterol publicado na '''A Gazeta'''. O jornal do PSD, através do seu colunista "Mutuca" (Não se sabe até hoje a identidade correta do "Mutuca", entretanto as suspeitas recaem sobre Antônio Anastácio de Moraes, o "Tonho do Nico", funcionário publico), deseja que o número de placas colocadas em Cambuí pelo prefeito João Lopes seja bem maior do que as colo¬cadas pelo ex-prefeito, também do PSD, José Nascimento.
+
''Distribuindo louvaminha''
 +
''
 +
Ao nosso "caro" prefeito:'' 
  
''De São Paulo, o Mutuca'' 
+
''"No começo foi ferreiro..''.   
''Em carta, agora, cutuca'' 
+
''O prefeito a emplacamento'' 
+
''Placas e placas sem fim:'' 
+
''‘Placas em tudo! Vá por mim'' 
+
''Siga o José Nascimento’'' 
+
''Quanto a isso, não contesto'' 
+
''E a favor me manifesto'' 
+
''Do tal da placamania!'' 
+
''Meteu placa em todo o lado'' 
+
''Da cadeia ao mercado...''
+
''Salve o ‘ex’ da placaria!...''
+
  ''E aqueles que inda virão'' 
+
''É certo, lembrar-se-ão'' 
+
''Desse governo a...placável'' 
+
''Que com placa...bilidade'' 
+
''Governou nossa cidade'' 
+
''Fazendo tudo notável'' 
+
''Segui-lo deve o Prefeito'' 
+
''Emplaque todo o seu feito'' 
+
''Eis uma ideia aplicável''
+
''E não quero implicar:'' 
+
''Tente com a placa aplacar'' 
+
''O murmúrio im...placável.''
+
  
O último poema do "Montanhês" apareceu no número 37 de '''A Montanha''', de 2 de janeiro de 1949. Um surpreendente defeito mecânico num gramofone revela o político.
+
''Em ser honesto, o primeiro:''
  
''Possuía meu conhecido'' 
+
''Homem limpo e é direito!...''  
''Alguns discos e um gramofone'' 
+
''E ao sentir-se aborrecido'' 
+
''Entediado ou mesmo insone'' 
+
''Infalível ser ouvido'' 
+
''Para as mágoas espantar'' 
+
''Polcas e valsas chorosas'' 
+
''Dessas próprias pra ninar...''
+
''E o que mais me divertia'' 
+
''(Ficando ele atrapalhado)'' 
+
''Era um disco em qual se ouvia'' 
+
''Um discurso tão gozado'' 
+
''Dum político que existia'' 
+
''Numa vila, o Sô Leutério'' 
+
''Nele o tal se elogiava'' 
+
''E num rompante exclamava'' 
+
''- Eu sou um homem muito sério!'' 
+
''É que tanto ele tocava'' 
+
''O disco veio a estragar.''
+
''A agulha não avançava'' 
+
''E o pobre do Só Leutério'' 
+
''Começando a discursar'' 
+
''Exclamava sem cessar'' 
+
"''Sério... sério... sério..."''
+
''Assim é o caso presente'' 
+
''Da Gazeta com o Prefeito'' 
+
''"Homem honesto e direito?"'' 
+
''Ele somente! Ele só...mente"''
+
  
O último número, 129, de '''A Montanha''' circulou em 10 de dezembro de 1950.  Com a chamada ''A quebra da luz'', o jornal ficou sem energia elétrica para ser impresso. ''Zé Montanha'' mudou-se com família para São Paulo.  
+
''Depois num grande salseiro''   
  
 +
''Quem ganhou muito dinheiro'' 
  
''Luís Carlos Silva Eiras''
+
''Com a guerra, aos montões?''
  
== Referências ==
+
''Salvando esse salvatério'' 
  
[[A Montanha, jornal]]
+
''Do comentário, o critério'' 
  
[[A Gazeta, jornal]]
+
''Do caso dos caminhões!'' 
 +
 
 +
''Co'esse recurso confuso'', 
 +
 
 +
''De guerra... caminho escuso...'' 
 +
 
 +
''Câmbio negro... (Que embrulhões!)'' 
 +
 
 +
''"A Gazeta" deu resposta'' 
 +
 
 +
''À história (sem proposta)'' 
 +
 
 +
''Do caso dos caminhões!...''
 +
 
 +
''Vale à salvante embrulhada'' 
 +
 
 +
''(Lenga-lenga salmodiada)'' 
 +
 
 +
''Que "inocenta" os chefões!'' 
 +
 
 +
''Salvaguarda da aparência'' 
 +
 
 +
''(Salário sem concorrência)'' 
 +
 
 +
''Do caso dos caminhões!...''
 +
 
 +
''Que o Prefeito foi ferreiro''
 +
 
 +
''Teve...e tem dinheiro...''
 +
 
 +
''De acordo, sem senões!...''
 +
 
 +
''Mas — que diabo! — em que ficou'' 
 +
 
 +
''("A Montanha" publicou)'' 
 +
 
 +
''O caso dos caminhões?..."''
 +
 
 +
No número seguinte, de 26 de dezembro de 1948, o "Montanhês" volta a pegar um besterol publicado na "A Gazeta". O jornal do PSD, através do seu colunista "Mutuca" (Não se sabe até hoje a identidade correta do "Mutuca", entretanto as suspeitas recaem sobre Antônio Anastácio de Moraes, o "Tonho do Nico", funcionário publico), deseja que o número de placas colocadas em Cambuí pelo prefeito João Lopes seja bem maior do que as colo¬cadas pelo ex-prefeito, também do PSD, José Nascimento.
 +
 
 +
''De São Paulo, o Mutuca'' 
 +
 
 +
''Em carta, agora, cutuca'' 
 +
 
 +
''O prefeito a emplacamento'' 
 +
 
 +
''Placas e placas sem fim:'' 
 +
 
 +
''‘Placas em tudo! Vá por mim'' 
 +
 
 +
''Siga o José Nascimento’'' 
 +
 
 +
''Quanto a isso, não contesto'' 
 +
 
 +
''E a favor me manifesto'' 
 +
 
 +
''Do tal da placamania!'' 
 +
 
 +
''Meteu placa em todo o lado'' 
 +
 
 +
''Da cadeia ao mercado...'' 
 +
 
 +
''Salve o ‘ex’ da placaria!...''
 +
 
 +
''E aqueles que inda virão'' 
 +
 
 +
''É certo, lembrar-se-ão'' 
 +
 
 +
''Desse governo a...placável'' 
 +
 
 +
''Que com placa...bilidade'' 
 +
 
 +
''Governou nossa cidade'' 
 +
 
 +
''Fazendo tudo notável'' 
 +
 
 +
''Segui-lo deve o Prefeito'' 
 +
 
 +
''Emplaque todo o seu feito'' 
 +
 
 +
''Eis uma ideia aplicáve''l 
 +
 
 +
''E não quero implicar:'' 
 +
 
 +
''Tente com a placa aplacar'' 
 +
 
 +
''O murmúrio im...placável.''
 +
 
 +
 
 +
O último poema do "Montanhês" apare¬ceu no número 37 d"A Montanha", de 2 de janeiro de 1949. Um surpreendente defeito mecânico num gramofone revela o político.
 +
 
 +
Possuía meu conhecido 
 +
 
 +
Alguns discos e um gramofone 
 +
 
 +
E ao sentir-se aborrecido 
 +
 
 +
Entediado ou mesmo insone 
 +
 
 +
Infalível ser ouvido 
 +
 
 +
Para as mágoas espantar 
 +
 
 +
Polcas e valsas chorosas 
 +
 
 +
Dessas próprias pra ninar...
 +
 
 +
E o que mais me divertia 
 +
 
 +
(Ficando ele atrapalhado) 
 +
 
 +
Era um disco em qual se ouvia 
 +
 
 +
Um discurso tão gozado 
 +
 
 +
Dum político que existia 
 +
 
 +
Numa vila, o Sô Leutério 
 +
 
 +
Nele o tal se elogiava 
 +
 
 +
E num rompante esclamava 
 +
 
 +
- Eu sou um homem muito sério! 
 +
 
 +
É que tanto ele tocava 
 +
 
 +
O disco veio a estragar...
 +
 
 +
A agulha não avançava 
 +
 
 +
E o pobre do Só Leutério 
 +
 
 +
Começando a discursar 
 +
 
 +
Exclamava sem cessar 
 +
 
 +
"Sério... sério... sério...
 +
 
 +
Assim é o caso presente 
 +
 
 +
Da Gazeta com o Prefeito 
 +
 
 +
"Homem honesto e direito?" 
 +
 
 +
Ele somente! Ele só.. .mente"
 +
 
 +
 
 +
''Luís Carlos Silva Eiras''

Por favor, note que todas as suas contribuições em Wiki Cambuí podem ser editadas, alteradas ou removidas por outros contribuidores. Se você não deseja que o seu texto seja inexoravelmente editado, não o envie.
Você está, ao mesmo tempo, a garantir-nos que isto é algo escrito por si, ou algo copiado de alguma fonte de textos em domínio público ou similarmente de teor livre (veja Wiki Cambuí:Direitos_de_autor para detalhes). NÃO ENVIE TRABALHO PROTEGIDO POR DIREITOS DE AUTOR SEM A DEVIDA PERMISSÃO!

Cancelar | Ajuda de edição (abre em uma nova janela)