João Lopes Lambert

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por Gustavo Lambert Del´Agnolo

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Foto: João Carlos Lambert

João Lopes Lambert nasceu em 27 de novembro de 1922 na casa de seu avô paterno, Francisco Antônio de Brito Lambert – Chico de Brito, na rua Coronel Lambert, em Cambuí-MG, filho do casal Francisco Pereira Lambert (Chiquitinho de Brito) e de Maria Lopes Lambert (Mariquinha).

Poucos personagens sintetizam tão bem a Minas Gerais dos séculos XIX e XX de forma surpreendente: tradicional pelas raízes e vanguardista nas ideias. João Lambert foi um deles.

Seus antepassados foram personalidades ligadas diretamente à história de Cambuí e região, figurando nos primeiros documentos relacionados ao Município. A casa de seu avô, chamada Casa Grande, era amplamente frequentada por pessoas das mais diferentes cores e posições sociais, sendo seus avós figuras muito populares e conhecidas pelo povo como “Tio Chiquinho” e “Prima Lica”.

Até por volta dos 10 anos viveu em Cambuí, como um menino de seu tempo. Estudava no Grupo Escolar Dr. Carlos Cavalcanti, brincava, vendia frutas e leite, além de buscar o gado no pasto de sua família, que se estendia margeando o Ribeirão das Antas.

Com a revolução de 1932 o caminhão de seu pai foi requisitado pelas forças beligerantes. Então um avião sobrevoou Cambuí e o povo se alarmou. Sua família se transferiu para a fazenda de sua tia Anália, viúva do seu tio, Cel. Procópio Ribeiro, em Gonçalves-MG.

Passado esse período, seus pais decidiram se mudar para Pouso Alegre. O pai de João, que tinha vendido o carro de boi e comprado um caminhão Ford, já tinha começado a fazer o trajeto ida e volta Cambuí-Pouso Alegre levando produtos e pessoas. Nessa cidade João entrou na Escola Monsenhor José Paulino e depois no Colégio São José, já frequentado por outros cambuienses.

II Guerra

Com a morte precoce de sua mãe, ele e seu irmão Murilo ingressaram como voluntários no Exército, junto ao 14º Grupo de Artilharia de Campanha, e, com entrada do Brasil na II Guerra Mundial, foram enviados em comboio para o nordeste, assediado constantemente pelos submarinos alemães.

Por lá João se destacou com suas habilidades como motorista, ensinando as funções para vários colegas. Nos aproximadamente quatro anos que demorou-se em operações militares, entre terra e mar, ainda que não diretamente no front, escapou de um naufrágio por sorte, chegando a ser dado como morto por familiares.

Presenciou, neste período, a chegada dos antibióticos ao Brasil, o cangaço, além de personalidades que integraram a história nacional, dentre os quais Getúlio Vargas e Dilermando de Assis.

Neste período no Exército recebeu muitas homenagens por seus superiores, por sua presteza e boa conduta.

Terminada a guerra, deu baixa no Exército como 2º Sargento, ingressando na ainda jovem Companhia Siderúrgica Nacional – CSN. Nesse período se casou com sua grande companheira Teresinha Finamor da Silva, nascida em Córrego do Bom Jesus-MG, filha de Afonso Finamor da Silva e Benedita Salles Finamor, também de conhecida família local.

Já com a filha pequena, o casal se muda para Cambuí, onde João monta com o amigo Antônio Bayeux a Casa Baylam, oficina especializada em marcenaria e que funcionou por mais de uma década em Cambuí-MG.

Neste período João conheceu o fundador de Monte Verde Werner Grimberg, prestando serviços de sua oficina para a construção de um grande hotel naquela localidade. Filantropo, na ausência de estabelecimentos apropriados, forneceu muitas urnas gratuitamente às famílias menos providas. Conseguiu, dizia, praticamente a preço de custo de fábrica, os ladrilhos usados na construção do então Colégio Antonio Felipe de Salles, sem o proveito que sua condição de fornecedor exclusivo poderia lhe granjear.

Também colaborou com a instalação definitiva de serviços telefônicos em Cambuí, ajudando a construir o imóvel que sediava essas funções (prédio situado na Rua Ângelo Bernardo Faccio).

No final da década de 60 encerrou a oficina e mudou-se para Barbacena-MG, onde, até aposentar-se, foi responsável pela Madeireira Barbacena, pertencente à sua irmã Eudóxia Lambert Coutinho.

De volta a Cambuí. ACLAC

Voltando à Cambuí, e tendo feito um curso técnico de desenho, supervisionou a construção de imóveis, dentre os quais se destaca o antigo Laticínio Heloísa, de propriedade de Paulo Scarcelli.

Encerrando suas atividades profissionais, João dedicou-se à família e ao estudo da história da segunda guerra mundial. Voltou-se também à pintura de quadros retratando o casario de Cambuí, deixando às gerações vindouras as imagens de seu tempo de infância.

Reconhecido pela Academia Cambuiense de Letras, Artes e Ciências, foi empossado na Cadeira intitulada “Capitão Soares”, dedicada a Francisco Soares de Figueiredo, fundador da cidade.

Muitas vezes recebido nas escolas com curiosidade, narrava os fatos históricos que orgulhoso presenciara. Pesquisadores das gerações diversas buscavam a “Casa do Sr. João”, o homem que viveu o Exército no tempo da 2ª guerra e se lembrava detalhadamente de fatos e personagens do Brasil e de Cambuí das décadas de 20 e 30 do século passado.

Era, de fato, uma figura alegre e patriarcal, no melhor sentido do termo, como bem sabem os familiares e aqueles que tiveram o privilégio de o conhecer.

Faleceu em 2018 aos 95 anos, deixando 4 filhos, cinco netos e três bisnetos, além de um grande exemplo de honestidade e caráter.

Referência:[editar]

João Lopes Lambert, da ACLAC, segundo a Folha de São Paulo, de 18 de janeiro de 2018:

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/01/1951298-mortes-da-guerra-ao-maracanazo-foi-arquivo-vivo-de-projeto-de-pais.shtml