Biogeografia de uma cidade mineira

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Levindo Furquim Lambert

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À memória de 
Ney Lambert
filho queridíssimo, nascido em Cambuí, tão cedo arrebatado 
pela morte ao amor de sua família, à amizade de seus colegas, 
ao apreço de seus concidadãos, à confiança de seus clientes. 

Índice

Cambuí é história

Oiliam José, da Academia Mineira de Letras

A história local ou regional, porque mais próxima, tanto no espaço como no tempo, de quem a escreve, oferece a esse vantagens que lhe tornam menos penosa a pesquisa e mais rápida a conceituação dos fatos, na medida em que esses deixaram rastros em documentos ou se fixaram na tradição bem apreendida e razoavelmente conservada e transmitida. Contudo, a perspectiva para a análise desses fatos se torna, no caso, mais sujeita a imprecisões, desvios ou distorções. Daí o muito que a história local ou regional acaba exigindo de quem a ela se entrega com o ânimo consciente de manter-se fiel aos acontecimentos e de interpretá-los, como necessidade inelutável, à luz da boa e segura exegese. É, respeitada a relatividade e a natureza das coisas, mais fácil ser um historiador nacional ou internacional, que triunfar no limitado mas árduo campo da história de uma região, cidade ou entidade social, econômica ou política.

Porque ciente dessas verdades e buscando concretizá-las nos homens, coisas e acontecimentos de sua terra natal, Cambuí, Levindo Lambert conseguiu superar as dificuldades indicadas e oferecer a Minas um trabalho histórico bem estruturado e, mais seguramente ainda, concluído. Para tanto, buscou os arquivos e os autores, examinou-lhes os documentos e as obras e os sintetizou com segurança; ouviu a tradição e expurgou-a daquilo que poderia torná-la inaceitável; respeitou a justa medida entre a narração e a crítica dos fatos; e valeu-se de uma linguagem clara, direta, e elegante, infelizmente nem sempre amada por nós historiadores, para nos conduzir até o passado de uma terra, cujos fatos e figuras interessam quer a Minas, quer a São Paulo. E, para isso, não teve pressa. Preferiu antes aproveitar a insubstituível vantagem do decurso do tempo e de uma experiência pessoal e profissional que o situa entre os mais respeitáveis valores humanos e culturais do Estado, desde que iniciou seus estudos primários em Cambuí concluiu seus estudos de farmácia e direito, leu e anotou milhares de textos e obras e, já no plano estadual, fez política, presidiu sindicato, lecionou em colégios e faculdades, dirigiu conservatório de música, ocupou altos cargos de chefia e conduziu com eficiência a Secretaria da Educação, que é teste dos mais difíceis e perigosos para o homem público. E ainda escreveu contos, estudou Machado de Assis e focalizou interessantes aspectos da obra desse surpreendente romancista, fez-se teatrólogo e, com aquela serenidade e dedicação de quem sabe o que quer e quer o que sabe, pertence ao Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais e à Comissão Mineira de Folclore.

Biogeografia de uma cidade mineira surge, pelo que se vê, para ficar, para colher louvores e inserir a rica e movimentada história de Cambuí no contexto maior da História de Minas e da História de São Paulo. Sim, de ambos os estados, porque a terra cambuiense se fez e cresceu exatamente nos antigos sítios do Sapucaí e sentiu de perto, ora com temor e angústia, ora com tranqüilidade e renovada esperança, os lances da disputa de divisas que, ao longo de dois séculos, preocupou mineiros e paulistas.

O plano do trabalho de Levindo Lambert, abrangendo a terra e o homem, a política partidária e o governo, a justiça e a religião, o ensino e a educação, as comunicações e as tradições e costumes, corresponde, pois, ao que de sensato e produtivo se poderia estabelecer para o roteiro histórico de uma comunidade, municipal ou regional. Une quantidade à qualidade, varia a perspectiva dos fatos e analisa e sintetiza os dados recolhidos, correlacionando-os, dando-lhes seqüência e unidade, tornando-os história e numa visão mais ampla, colocando-os em condições de servirem, doravante, como indispensável contribuição para aquilo que pode representar o julgamento do que a terra cambuiense fez para si, para o Sul de Minas, para nosso Estado e até para o Brasil. Biogeografia de uma cidade mineira pertence, agora, efetivamente ao patrimônio da Historiografia Mineira. Pode. o crítico discutir essa ou aquela conclusão do autor e até impugná-las com êxito, o que é natural em trabalho dessa natureza. Mas o livro de Levindo Lambert pertence merecidamente à Historiografia das Gerais. E em condições de refletir o que é a boa e saudável pesquisa histórica municipal, aquela que se faz com os dados de um município, mas acaba, irresistivelmente, servindo ao Estado e ao País, na medida em que esses expressam o sentir e o viver de suas comunidades de base, aquelas que, desde as metrópoles até os sertões, concretizam a autêntica maneira de ser brasileiro.

Preliminarmente

Dois capítulos desta obra modesta e despretensiosa reclamam palavras explicativas.

O primeiro, que tem o título Como nasce uma cidade e subtítulo Área Contestada, procura situar o povoado nascente na região disputada por paulistas e mineiros, já que a decisão de limites, consolidando a demarcação Rubim, só se efetivou em 1936.

Até então, as perlengas entre os dois Estados, constantes e irritantes, às vezes, criavam um ambiente de certo constrangimento não só nos escalões superiores da administração e da política, como, por igual, nas populações lindeiras.

Enfim, a margem esquerda do Sapucaí, a despeito da linha divisória estabelecida pelo preposto de Bobadela, era ainda permanente motivo de contestações em vários de seus pontos.

E Cambuí estava nessa área.

O segundo capítulo em causa tem relação estreita com o primeiro comentado. Refere-se, precisamente, aos pontos vulneráveis da linha Rubim, em que os atritos se aprofundavam, dilatando-se pelas circunvizinhanças e despertando animosidades inconciliáveis nas respectivas populações .

E Cambuí, por esse tempo, recebia o influxo da contenda, participando dela, porque cidade e município então satélites de Bragança, centro nevrálgico da liça. Não era e não é município limítrofe, mas seus interesses comerciais e econômicos se prendiam à região paulista sujeita à controvérsia.

Vem daí a inclusão desses capítulos na estrutura da obra.

E é só? Não. Estão faltando aqui os versos de Camões:

Cantando espalharei por toda parte 
Se a tanto me ajudar o engenho e arte, 

possivelmente inspirado no brocardo latino:

Feci quod potuit, faciant meliora potentes...

L.F.L.

Posição geográfica de Cambuí nos mapas de Minas Gerais e do Brasil

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Capítulo I - Como nasce uma cidade

Área contestada

Não foi difícil ao paulista alcançar desde logo os sertões do Goitacás na ânsia desmedida de apoderar-se das minas de ouro c das jazidas de esmeraldas, cuja abundância enchia de coragem e pertinácia o ânimo dos primeiros colonizadores portugueses.

O pastoreio do gado ou a exploração da cana-de-açúcar, que Anchieta trouxera para aclimatação nas terras virgens do novo inundo, saciavam a sede laboriosa do pau¬lista, mas a notícia dos ricos veios de ouro descobertos nessas terras açularam a gula do ádvena, na certeza de riqueza farta e poderio onipotente.

Iniciava-se então a penetração em diversas direções, enfrentando a hostilidade e a bravura do íncola, proprietário da terra. Ela se faz pelo curso dos rios navegáveis ou, quando não é assim, por via xerográfica, acompanhando as aberturas deixadas nas matas pelos nativos.

Coube, sem dúvidas, aos romanos a iniciativa de, por meio de estradas pavimentadas, promover a interligação de várias regiões da Europa, com o intuito de alcançar dominação política e encarecimento econômico. Diz Vidal de La Blache, a esse propósito, que "a estrada romana é sobretudo uma obra de imperialismo, um instrumento de domínio que aperta em suas garras todo um feixe de países diversos e afastados. Ela ficou associada à história intima e viva. Foi por ela que caminharam, com as mercadorias, os peregrinos e os exércitos, todos os ruídos do mundo, as ideias e as lendas. Assim o povo não deixou de lhe assinalar o nome, ele a personificou, e escolheu para isso no seu vocabulário o que encontrou de ilustre: César, Trajano, Brunehilde, Carlos Magno etc."

Essa, guardadas as devidas proporções, a estrada aberta pelo sertanista de Piratininga, nas pegadas dos primitivos habitantes da terra.

O sentido de orientação, que caracteriza o indígena, lhe mostrava ainda a direção exata na abertura apisoada por ínvios rincões e matas entrançadas. A muralha alcantilada da Mantiqueira era vencida pelos dois flancos, quer ladeando as águas do Paraíba e transpondo as gargantas da serra por Guaratinguetá, Lorena ou Taubaté, quer abrindo passagem por Atibaia até alcançar a região cobiçada, vencendo distâncias através de matarias densas e planícies forradas de vegetação arbustiva indevassada.

O centro de atração se assentava na região do Rio Verde, nas Gerais, ante as descobertas do malsinado metal. Não se verificava fluxo permanente ou êxodo compacto, mas rumas de sertanistas inveterados, aventureiros e sonhadores, em magotes ou grupos amorfos, intermitentes, marchando em procura do sertão incógnito.

As trilhas e veredas percorridas pelo indígena — já se disse — não ofereciam dificuldades excessivas ao sertanista, porque desbravadas, amputada a galha ri a ciliar e marcada a direção exata pelo chão aberto em sulcos longitudinais, indicativo de trânsito permanente de seus habitantes naturais. O Morro do Lopo e o pico granítico do São Domingos, visíveis de muitas dezenas de léguas, serviam de balizas para a direção da investida e para orientação do regresso ao ponto de partida. A caminhada estreita, no começo, devassava região levemente acidentada, ora constituída de matagais exuberantes ora referta de horizontes intermitentes, porque interrompidos aqui-e-ali por espigões de variada altitude.

De Atibaia às margens do Sapucaí nenhum grande rio a embaraçar o trânsito livre, nem mesmo oferecendo caudal volumoso para o emprego de canoas ou balsas, e os que se punham na trilha assim aberta eram transpostos, ora pelos vaus de fácil travessia, ora, facilitando a carga, nos peraus ligando margem-a-margem por longos troncos de árvores abatidas ali mesmo, formando pinguelas. A partir de Canguava (Carigoaba ou Carigainboava), relevo de certa altitude, o horizonte abria-se em calha larga, divortium acquaram de lado-a-lado, constituído de cristas elevadas em contra fortes da Mantiqueira, cobertas nos seus flancos orientais e ocidentais por florestas densas.

Na planura achatada da calha, apertada entre as vertentes de um c outro contraforte, escorria a bacia hidrográfica do Itaim, cujas nascentes, no sopé do São Domingos, iam, a pouco e pouco, recebendo o fluxo de afluentes peque¬nos, riachos e ribeiros, córregos e ribeirões, engrossando-lhe o débito hidrográfico até se lançar mansamente no Mandu, que, por sua vez, defluía suas águas no Sapucaí, para onde convergia, ao cabo de contas, as arrancadas invasoras dos paulistas. Campanha-do-Rio-Verde, outrora arraial de Santo Antônio, atraía então a ambição dos sertanistas ambiciosos e sonhadores.

Esse o caminho perlustrado pelos pesquisadores, a partir de 1560, precisamente quando Braz Cubas transpôs pela primeira vez a Mantiqueira e galgou as cabeceiras do São Francisco, estrada, por igual, seguida pelos chamados "fura--matos" do século XVII para fixarem a espinha dorsal da civilização mineira", no dizer de Cassiano Ricardo ("Marcha para o Oeste", 1° vol. pág. 251).

Ao longo desse roteiro, a partir de Atibaia, até atingir o núcleo centripetante do promissor movimento, um verdadeiro rosário de centros de povoamento se ia formando e distendendo tentáculos pelos arredores. Assim é que Simão de Toledo Piza assentou os fundamentos do Arraial de Toledo, munido de carta cie sesmaria expedida pelo Governador de São Paulo, e em 1762, Cláudio Fürquim de Almeida, também ganhava sesmaria na Fazenda de Pouso Alegre, hoje Itapeva, dada ainda pela Capitania de São Paulo.

Ainda na mesma rota, surge Camanducaia, aglomerado urbano algo desenvolvido, prosperando para desempenhar papel importante na história da civilização mineira. É freguesia por alvará de 1798.

Daí por diante, Estiva, Pouso Alegre, São Gonçalo do Sapucaí, Santana vão recebendo sempre influxos políticos e administrativos por parte dos Governadores de São Paulo, os quais por sua vez, impunham ordem e lei na região, ao mesmo tempo que os Bispos da mesma Capitania designavam párocos e autorizavam a construção de capelas, igrejas e cemitérios, em toda a área banhada pelo Sapucaí e seus afluentes da margem esquerda. Era o afã da procura do ouro, repetição histórica das conquistas medievais na chamada "civilização ocidental". Gregos e romanos, principalmente, tiveram na exploração de metais diversos, a fonte que alimentou as invasões e o domínio geopolítico da época.

De qualquer forma, pois, Campanha se impunha, dentro e fora da Capitania das Gerais, como centro irradiador de elevada cultura e, por força de suas riquezas auríferas, polo magnético do forasteirismo nacional.

Campanha conquistara posição de relevo nas letras brasileiras e sua gente se sentia ciosa de seu amor à cultura e às instituições pátrias. Por isso mesmo, quando Francisco Martins Lustoza e Veríssimo João de Carvalho tentaram implantar ali a posse e a jurisdição de São Paulo, foram ambos expulsos da cidade e do município. Lustoza, tabelião em Cruzes-do-Mogy, deixa as altas propinas do cartório e, intrépido, corajoso, atrevido, perlonga, em seguida, a vasta região banhada pela margem esquerda do Rio Sapucaí, em busca de ouro. Acha-o cm Santana, arraial que ele funda em fins de 1745 e aí recebe e cumpre ordens do Governador de São Paulo, em nome do qual toma posse das ricas lavras descobertas.

Recebe Louzada o importante título de "Guarda-Mor", que Dom Luiz de Mascarenhas lhe dá em recompensa. A oferta do sertanista é valiosa... Já em abril de 1700 o povo

da Vila de São Paulo e os oficiais de sua Câmara pleiteavam do Capitão-General Artur de Sá Miranda, então Governador da Repartição do Sul, levasse ele à consideração de Sua Majestade "que o território das Minas dos Cataguases, bem como suas matas e campos lavrados pertencem a eles, paulistas, porque os descobriram e conquistaram à custa de suas vidas e fazendas, sem depender da Coroa, e que seria grande injustiça conceder-se aquelas tenras e minas aos moradores de fora. Pretendiam que essa reclamação fundava-se no que dispõe a Carta Regia de 18 de março de 1694, acerca de favores e mercês concedidos aos que descobrissem jazidas de ouro e prata." ("Efemérides Mineiras", vol. II, pág. 87).

Esse o espírito que presidia a orientação de Lustoza: — descobrira ele nova mina — logo, o manancial áureo era dele e, pois, dos paulistas. Investe-se na função de Guarda-Mor e dá a Veríssimo João de Carvalho, seu comparsa de jornada, as atribuições de Intendente das Minas, posse em 30 de outubro de 1746 (Pompeu Rossi, Revista do Arquivo Público de São Paulo, nº XXII).

Carta Regia de 22 de fevereiro de 1720 separava a Capitania de Minas Gerais da de São Paulo, e outra Carta Regia (23 de fevereiro de 1731) mandava que a Capitania de São Paulo se alargasse até Caxambu, a fim de ser atendida reclamação das gentes de Guaratinguetá, o que de fato é tentado, mas obstado pelos vereadores de São João Del Rei, que destroem o marco ali posto por ordem do Governador de São Paulo.

Mas São Paulo, no entanto, impõe-se. É seu o domínio absoluto da margem esquerda do Sapucaí. De todo o extremo Sul de Minas. . .

Os feitos de Louzada chegam à Capital de Minas, e o Governador Gomes Freire de Andrade, Conde de Bobadela, reage.

A Câmara de Rio das Mortes recebe ordem de expulsar os forasteiros de Sant’Ana do Sapucaí. O cumprimento

da ordem mobiliza autoridades e força expedicionária. Chegam à beira do grande rio, mas não conseguem transpô-lo. Pedem canoas a Louzada, que nega atendimento. E reage. Resistência violenta e drástica.

Na impossibilidade de vencer a reação e alcançar a margem dominada pelo caudilho, a forca expedicionária regressa ao seu ponto de partida.

Lustoza mantém-se firme no arraial. Transmite de imediato a notícia ao Governador de São Paulo, que, por sua vez, retruca (8 de junho de 1746), recomendando-lhe oponha viva resistência se nova tentativa vier da parte de São João Del rei. Afirma "que irá pessoalmente ao reduto de Lustoza, caso sobrevenha novo ataque, para que, venci¬dos os invasores, traga preso para São Paulo o Ouvidor de Rio das Mortes."

Diante dessa atitude, Gomes Freire de Andrade vacila. Tenta contemporizar a situação, mas, ao cabo de contas, vencida a dúvida, prepara novo ataque, levando dessa vez numeroso contingente militar e copioso material bélico.

Constrói alentada frota de canoas.

Lustoza, avisado de antemão, ataca os invasores de surpresa e destrói desde logo a pequena "invencível arma¬da." Põe a pique canoas, aprisiona outras e destrói a macha¬do ainda outras.

O Guarda-Mor detém a operação, e os atacantes se retiram para Campanha do Rio Verde, sem alcançar qualquer êxito na refrega.

Lustoza vence. Impõe-se como ditador, apoiado decididamente pelo Governador de São Paulo. E toda margem esquerda do Rio Sapucaí mantém-se sob a jurisdição paulista.

Mas dá-se o inesperado. O panorama se transforma repentinamente. Em virtude dos atritos entre mineiros e paulistas, disputando ambos largo trato do Sul da Província das Gerais, Carta Regia de 9 de maio de 1748 confere a

Gomes Freire de Andrade atribuições para administrar São Paulo e a Capitania de Minas Gerais. A Capitania paulista é suprimida e transformada em comarca. . .

Lustoza, astuto, vê fugir-lhe das mãos o bastão de comando, porque justamente aquele que fora por ele desacatado ia assumir o poder e exercer, por isso mesmo, uma autoridade incontrastável sobre as minas descobertas e o arraial por ele fundado.

E é o que se dá. O Conde de Bobadela recebe ordem regia e poderes para estabelecer, era definitivo, os limites das duas capitanias. Transfere-os imediatamente (27 de maio de 1749) ao Ouvidor da Comarca de Rio das Mortes, Dr. Tomaz Rubim de Barros Barreto, que se apresta na execução do mandato. A linha divisória seria o cume da Mantiqueira, o Morro do Lopo e a Serra de Mogi-Guaçu até topar o Rio Grande. Nesse caso, assim satisfeita a linde, Sant'Ana, Ouro Fino e todo o Sul de Minas se reintegrava na Capitania das Gerais. O auto de demarcação é lavrado e publicado em 18 de setembro de 1749, em Sant’Ana do Sapu¬caí, para onde se transporta o Ouvidor e. sua comitiva, dessa vez sem qualquer embaraço da parte do Guarda-Mor, que lhe não opõe embargo ao uso de suar, canoas no Sapucaí.

Lustoza, no entanto, presente no ato em que era lida a decisão de Rubim, tenta tumultuar a reunião, desacatando a autoridade e protestando contra a decisão ali solenizada. Investe acremente contra o representante do Governador de Minas Gerais, acusando-o de ultrapassar os limites das atribuições que lhe foram conferidas.

Ninguém lhe cria dificuldade à palavra livre e solta. A ata é assinada. Cessava a arrogância do caudilho, que se retira para Ouro Fino, onde já havia descoberto jazida aurífera e onde lançara os alicerces de urna Igreja. Todavia, por pouco tempo se detém no arraial. Receoso das represálias de Gomes Freire de Andrade, que ele tanto ofendera, transfere-se para o Paraná.

Cessava também, cm definitivo, a posse paulista sobre a margem esquerda do Sapucaí. E todo o Sul de Minas, constituído, até então, área de fricção geopolítica, integra¬va-se na órbita provincial das Gerais, definitivamente.

No decorrer do tempo notam-se manifestações contraditórias e esporádicas em torno do impasse criado entre as duas capitanias lindeiras. Enquanto São Paulo procurava espichar suas fronteiras para alcançar, mann militari, a rica região agrícola e aurífera do Sul de Minas, a Capitania das Gerais teimava em lhe não ceder um palmo sequer de seu território. Enquanto isso se dava — repete-se — a população da área contestada procurava incorporar-se ao território paulista.

Assim é que, segundo se lê em Amadeu de Queiroz ("Revista do Arquivo Municipal de São Paulo", 1937) as populações dos Municípios de Extrema, Camundacaia, Cambuí, Paraisópolis, Itajubá, Santa Rita do Sapucaí, Pouso Alegre, Ouro Fino e Jacutinga, em 1857, pleitearam à Assembleia Geral uma lei que os anexasse ao território paulista, dando-se-lhes por divisa com Minas Gerais o Ria Sapucaí-Guaçu. Comenta esse memorial o seguinte:

"Não é somente o temor de uma nova divisão da Província que dá origem ao pedido de anexação da comarca (Comarca do Sapucaí) é a pró¬pria conveniência que o leva a dar esse passo. Colocado nas proximidades da Capital de São Pau¬lo, a cujo bispado pertence, fazendo exclusivamente suas exportações pelos portos dessa Província, com a qual sempre manteve relações comerciais e religiosas; acabrunhados com pesados tributos sem o menor benefício público, distando cerca de no¬venta léguas de sua Capital, cujo governo apenas se faz sentir em suas medidas de exação; as afeições populares e outras razões, que são inúteis lembrar a essa Assembleia, são poderoso motivo que levam a Comarca do Sapucaí para a união com São Paulo, como as forças de atração e gravidade impelem o satélite para o centro do planeta" (pág. 187) .

Posteriormente, em 1862, o Deputado Evaristo da Veiga apresenta à Câmara dos Deputados projeto de lei criando a Província "Minas do Sul", com a Capital em Campanha, e, em 1864, idêntico projeto é apresentado pelo Deputado Dr. Olímpio Valadão, secundado, em 1868, pelo Deputado Aurélio Lobo, este dando à nova Província a denominação de "Província do Sapucaí" ("Efemérides Mineiras", 3º vol. pág. 84).

No entanto, ao revés, Carta Regia de 24 de julho de 1711, ao Governador Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho recomendava-lhe não admitisse paulistas cm postos de infantaria paga "para se não entregarem as armas a uns homens dos quais não havia toda a confiança".

Contraditoriamente ainda, em 1715, outra ordem regia determinava que nos cargos públicos da Capitania tivessem preferência os paulistas aos nascidos em Portugal ("Efemérides Mineiras", 3º vol. pág. 145).

De qualquer modo, no entanto, findas as controvérsias fronteiriças entre paulistas e mineiros, a larga faixa apertada entre o Sapucaí e a linha divisória fixada por Rubim, onde se desenvolvem as Cidades de Pouso Alegre, Ouro Fino, Alfenas, São Sebastião do Paraíso, Poços de Caldas, Guaxupé, Cambuí, Camanducaia e outras, submetia-se, em caráter definitivo e decisivo, ao governo e à política de Minas Gerais.

Cambuí-Velho

Ao longo da trilha aberta pelos bugres e mais tarde perlongada por bandeirantes, sertanistas e aventureiros, instalaram-se os paulistas com cartas de sesmaria uns, por conta própria sem alvarás ou determinações superiores outros, abrindo fazendas de criar e de plantações várias, lançando as bases de um povoamento em crescente progresso. A primeira sesmaria foi concedida ao paulista Cláudio Furquim de Almeida, cm 1762, ramo de pujante família destinada a fecunda interveniência na vida pública e cultural da província. Essa sesmaria, por ser ponto de parada regular dos itinerantes indo e vindo entre uma e outra capitania, foi denominada Pouso Alegre, tempos depois chamada Itapeva. A três léguas além de Camanducaia surgia um ponto de parada e arranchamento à margem da picada cm direção a Estiva e Pouso Alegre. É Cambuí.

O topônimo explica a origem tupi-guarani da localidade. Segundo Nelson de Sena ('"Armário de Minas Gerais", vol. 6º) significa "rio do leite". Camby-y, rio de água cor de leite, explica Alfredo de Carvalho. Para o Professor Salvador Pires Pontes ("Nomes Indígenas na Geografia de Mi¬nas Gerais", pág. 139) Cambuí ou Caámboy quer dizer "a planta ou folha que se desprende". Ao encontro dessas opiniões, Joaquim Ribeiro Costa ("Toponímia de Minas Gerais", pág. 186) registra e. palavra indígena nas variações dadas por Nelson do Sena e Salvador Pires Pontes. Também Teodoro Sampaio ("O Tupi na Geografia Nacional") endossa as mesmas interpretações, como sendo "a planta ou a folha que se desprende (mirtacea)."

É de se presumir que a cor leitosa expressa pelo étimo tenha origem nos atritos da água corrente: com as margens do chamado Rio das Antas, revestidas de rocha argilosa, tabatinga, que assim lhe emprestava o colorido leitoso, se é que ó tiveram suas águas mansas.

Por outro lado, a montante do Rio das Antas, tributário do Itaim, extensas várzeas eram povoadas de árvore; de pequeno porte por todos chamadas "Cambuí" (eugenia tendia, família das myrlaceas) tronco liso, enxadrezado, brilhante, galharia enfezada.

A água do rio ou a proliferação do arbusto cederam, por certo, seus predicados físicos ao topônimo.

A região a pouco e pouco se povoava. Espalhavam-se já pequenas lavouras e algumas propriedades bastante desenvolvidas na criação de gado e agricultura, cujos proprietários, alguns de espírito arejado e ideias avançadas. Entre esses, sobressaiam-se, pela capacidade de iniciativas e do comando, o Capitão Francisco Soares de Figueiredo, vindo de Campanha, e o Capitão Joaquim José de Moraes, nascido cm Pitangui. Partiu desses homens bem orientados a ideia da construção de uma Capela na parada denominada “Cambuí” coisa de meia légua à esquerda da estrada que ligava a Pouso Alegre, no sopé do Pico de São Domingos.

Para que o intento lograsse o colimado efeito, o Capitão Joaquim José de Moraes e sua mulher, Dona Isabel Pinheiro Cardozo, adquiriram terras de Inácio de Souza e sua mulher, mediante escritura de mão feita pelo Capitão Francisco Soares de Figueiredo, doando-as, cm seguida, a Nossa Senhora do Monte do Carmo, escritura pública posteriormente lavrada em Campanha aos 25 de maio de 1813, por meio de procuração passada em Camanducaia na data de 12 de maio desse mesmo ano.

O autorizado o eminente historiador Dr. José Guimarães e o Cônego João Aristides de Oliveira, aos quais se segue neste passo, transcrevem o seguinte trecho da aludida escritura:

"huma sorte de Terras que se compõem de Mattas virgem o Capoeira citos na paragem denominada Camboy as quais Terras possuem por compra que. da:-; mesmas fizeram de Ignacio de Souza e sua mulher Maria de Jesus e partem para o Poente com Salvador Cardoxo principiando do Ribeiram Maior e sobem por um corguinho asima em q. tem hurna Caxoeirinha e dahi a Cortar Rumo direito em te hum Morro alto pela banda da Esquerda e tornando outra vez a barra segue pelo Ribeiram maior asima athé as suas cabeceiras divizando com Jozé Rodrigues cujas Terras na forma divizada que as possuem livre c desembargadas muito de suas livres vontades e tem constrangimento de pessoa alguma faciam doação como de facto doado tinham de hoje para todo o sempre a NoSa Senhora do Monte do Carmo de Camboy deste termo para nas referidas terras edificarem sua Capela e Patrimônio e sustentação dos seus guizamentos".

Esse, pois o patrimônio doado para que nele se construíssem a igreja e o arraial. Como a feitura de igreja ou, mesmo, sua reconstrução, dependiam de autorização regia e canônica, nos termos da ordem de 2 de abril de 1739, foram tomadas providências nesse sentido c, antes mesmo que. essas fossem satisfeitas, erigiu-se a Capela, entre maio e novembro de 1813, no topo de uma encosta, ladeada por armamentos íngremes e desajeitados.

Feita de adobes, argamassada de capim e sapé, que lhe garantiam paredes compactas, mas pouco resistentes, a obra estava destinada a vida efêmera, porque em breve desgastada pelas intempéries. Exigia-se-lhe, no entanto, legalização canônica.

Para tanto, visitou-a propositadamente o Capelão Padre Joaquim Conrado de Oliveira, com poderes especiais para isso.

O Capitão Joaquim José de Moraes apresentou documentação idônea de pública-forma da doação, ao mesmo tempo que requeria ao Juiz de Fora de Campanha, que, pelo juiz de vintena do Arraial de Pouso Alegre, fossem dados poderes ao Capitão Francisco Soares de Figueiredo para requerer o que conviesse a bem da nova Capela. Na data de 19 de novembro de 1813 essa petição recebeu o seguinte despacho:

"Autode poçe - Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jezus Cristo de Mil e oitoSentos e treze aos vinte três dias do mês de Nbro. Nesta paraje adominada a Chamada Camboi Freguezia de Camanducaia termo de Vila de Campanha da prinçeza e Minas Comarca do Rio das mortes Aonde Francisco Ignacio de Freitas juiz da vintena sendo ahi com¬pareceu prezente como procurador e zelador competente da Capela de NoSa Senhora do monte do Carmo Capitam Francisco Soares de Figueiredo e sua M. digo e ahi emtimou aclespaxo do dotor Juiz de Jora José Joaquim Carneiro de Miranda e Costa Desembargador de S.A.R. o Prinsepe Regente de NoSo Senhor Que Deos Ge. em vertude do mesmo despaxo dei pose Nopatrimonio da dita Senhora como Zelador da Capela e sitei aos ComFrontantes João Ferra, dos Santos Joaquim Rodrigues da Sá. e Alexo Corrêa. Lemes e todos levaram A bem e aSsistiram ao Auto de pose e eu Fui com os suprimentos e duas testemunhas ao diante Nomeadas e aSinadas .na dita paraje e Publi¬quei Cavando terra Cortando Ramos atirando para o ar Guirtando com voz alta clara inteligível dia claro SolFora e ahi lhe dei Pose atoai Real Judicial Corporal Real a Provação (?) e como não hove em¬baraço Faço este Auto de pose como Zellador da Senhora do monte do Carmo e pelo que Faso este em prezença das testemunhas Manuel Fortunato Thomas Francisco da Sá. e eu Francisco Ignº de Freitas juis de vintena que em verdade dos despa¬xo posto na petição Retro o escrevi, (a) Francº Soares de Figueiredo. Como testemunha q. este vi Fazer e aSino Manuel Fortunato como testemunha q. este vi Fazer e aSino Thomas Francisco da Silva - Francisco Ignacio de Freitas Juis de vintena."

Investido das delicadas funções de zelador do patrimônio, não descansou ainda o Capitão Soares, que, acompanha¬do do Capitão Joaquim José de Moraes, em todas as diligências e instâncias, promoveu, pessoalmente, em São Paulo, a satisfação das exigências canônicas para a ereção da Capela. Peticionou então ao Bispo Diocesano, D. Mateus de Abreu Pereira, que, na data de 23 de dezembro de 1813, determinou a expedição da respectiva provisão. Ao mesmo tempo, como a obra só podia ter andamento mediante prévia visita de autoridade eclesiástica competente, D. Mateus designou, por provisão de 24 de dezembro de 1813, o Padre Joaquim Conrado de Oliveira, Capelão, para a desejada missão, embora a esse tempo a obra já estivesse concluída. Isso feito, voltaram o Capitão Soares e o Capitão Moraes a requerer a benção da Capela e a permissão para a instalação de cemitério próprio, ressalvados os direitos paroquiais — o que lhes é deferido por despacho do mesmo dia e ano. Ainda na mesma data, peticionou o Capitão Soares fosse autorizada a ereção da pia batismal na Capela, alcançando do antístite alvará de atendimento e atestação a posteriori por parte do Padre Joaquim Conrado, em 22 de fevereiro de 1814, acrescentando este, ainda, haver ele próprio, a priori, escolhido o local em que se erguera a Capela.

O funcionamento regular dos atos religiosos dependiam, no entanto, de alfaias e espécies sacras, empregadas nos ofícios litúrgicos, em razão do que, após juramento prestado em 12 de fevereiro de 1814, na casa do Padre Joaquim Conrado de Oliveira, em Cambuí, o Escrivão Manuel Silvério Monteiro lavra termo de visita em que relaciona a existência de duas casulas de damasco (roxa e verde, branca e vermelha) bem como cálice, e patena, além de três alvas, uma bretanha e duas de linho. Completando essas providências, o Capitão Soares e o Capitão Moraes, ainda em São Paulo, alegando em memorial ao Bispo Diocesano estar a Capela ereta, visitada e benta, com patrimônio constituído, em cumprimento de exigência regia, requeriam a faculdade para pia batismal e cemitério. Em março de 1814, D. Mateus encaminha o pedido ao Vigário-Geral, que, por sua vez, passa o processo à alçada do Procurador da Mura. Emitido parecer favorável em 9 de março de 1814, foi então expedida provisão autorizativa para a celebração de todos os atos litúrgicos.

Encerrava-se assim a tramitação regular do processo na Cúria Diocesana. Diante disso, foi publicado edital, agora na própria Capela, convocando, sob juramento, os peritos Alferes Vicente Ferreira da Cunha c José Martins de Figueiredo, Escrivão Manuel Silvério Monteiro, para inquirirem o Sargento de Ordenança Thomaz Francisco da Silva e Antônio Lopes Pinheiro, bem como os doadores, a fim de se proceder a avaliação das terras doadas (valiam mais de 120$000) -— tudo sob a presidência do referido Capelão Padre Joaquim Conrado de Oliveira e presença do Juiz-Geral da diocese, Cônego Joaquim José Mariano, na data de 8 março de 1814, em São Paulo.

Esse processo foi julgado "válido, e, por igual, firme e valioso o patrimônio, constituído da referida sorte de terras, para o título dele poder ser erigida e conservada a capela".

Rematando as providências do estilo, o Vigário-Geral da Diocese, Cônego Joaquim José Mariano, expediu provisão concedendo "faculdade para que na mencionada Capela se pudesse celebrar Missa c todos os ofícios sacros, bem como batizar na respectiva Pia e sepultar os defuntos fiéis 110 mesmo cemitério".

Todavia, a situação era irregular.

Já se disse que Carta-Régia determinava de maneira conclusiva que a construção de Igreja exigia, sempre, autorização superior. A Capela de Cambuí estava concluída sem ter tido, a priori, atendimento à exigência real.

E isso foi feito de maneira completa e decisiva. Os dois grandes benfeitores da Igreja e do arraial, Capitão Soares e Capitão Moraes, obtiveram Provisão do próprio D. João VI, então Príncipe Regente, nesse sentido e assim dizendo:

"Dom João por graça de Deos Príncipe Regente de Portugal, e dos Algarves, d'aquem e d'alem Mar, em África Senhor de Guine && e do Mestrado Cavalleria, e Ordem de Nofso Senhor Jesus Christo Faço Saber, que Attendendo a Presentar-Me os Cappitaens Francisco Soares de Figueiredo e Joaquim José de Moraes, Comandante aquelle do Districto de São Domingos, e este do Rio do Pexe do Rispado de São Paulo, que tendo os Suppricantes Erigido huma Ermida na paragem de Cambui com licença do Ordinário sendo o orago Nofsa Senhora do Monte do Carmo. Me pedião a Graça de Minha Real approvação. O que visto e Resposta do Procurador Geral das Ordens, Hey por bem Fazer Mercê a Supplicantes de lhe Approvar a Ereção da mencionada Capella de Nofsa Senhora do Monte do Carmo, Revalidado-lhe com esta minha Real Approvação a nulidade com que se acha Erecta, e esta se cumprirá sendo pafsado pela Chancellaria da Ordem. O Príncipe Regente Nofso Senhor e mandou pellos Ministros abaixo afsignados do Seu Conselho, e Deputados do Tribunal da Mesa da Consciência e Ordem. Faustino Maria de Lima Fonseca Gutierres a fez no Rio de Janeiro aos doze de Novembro de mil oito centos e doze. Desta mil e seis centos réis, e afsignaturas três mil e duzentos réis. Joaquim Joze de Magalhães Coutinho c a subscreveu." (Duas assinaturas ilegíveis) .

Esse importante documento, altamente histórico, segundo o notável historiador e linhagista mineiro, Dr. José Guimarães, encontra-se nos arquivos da Cúria Arquidiocesana de Pouso Alegre.

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Fac-símile do alvará em que Dom João VI, então Príncipe Regente, aprova a ereção da Capela do Cambuí-Velho, relíquia histórica pertencente à Cúria Arquidiocesana de Pouso Alegre, sentindo pesquisa do eminente historiador ourofinense, Dr. José Guimarães.

Concluía-se, finalmente, o processo para que a Capela exercesse suas funções e os fiéis cumprissem suas obrigações religiosas.

Daí por diante, passaram a exercer munus eclesiásticos na Capela os seguintes sacerdotes:

Padre Joaquim Conrado de Oliveira, de 1813 a 1817; 
Padre Manuel Alves Teixeira, de 1818 a 1821; 
Padre João da  Silva  Brito,  em 1824; 
Padre Manuel Alves Teixeira, de 1825  a 1827 e 
Padre Joaquim Manuel de Toledo, de 1828 a 1834.

* * *

A 29 de setembro de 1814 era sepultada na nave do templo Dona Quitéria Maria Rodrigues, cunhada do Capitão Soares, e a 18 de fevereiro de 1815 o mesmo acontecia com a esposa do Capitão Soares, irmã de Dona Quitéria, Dona Leonor Francisca de Jesus.

Enfrentando aclives e declives, subindo e descendo, contorcendo-se em rampas íngremes e cheias de anfractuosidades solapadas pelas chuvas, o arraial crescia a pouco e pouco, auspiciosamente. Em setembro de 1815 recebia a primeira visita pastoral feita pelo Cônego Antônio Paes de Andrade, secretariada pelo Padre Francisco de Paula, e, em setembro de 1818, ali estava o visitador Antônio Marques Rodrigues, que, em Camanducaia deixava escrita recomendação expressa no sentido da reparação, ou mesmo reedificação, da Capela de Cambuí, tal o seu desgaste provocado pelas intempéries e em razão ainda do péssimo material em¬pregado na sua construção.

O mesmo acontecia com o arraial em relação às demais construções: casas de taipa e adobe, casebres de barro e pau-a-pique, cafuas trepadas pelos morros acima e taperas cercadas de bambus pelas encostas abaixo. Arruavam-se essas habitações de maneira tortuosa e sem qualquer respeito a exigências urbanísticas. Não as justificavam as disposições assimétricas de outros arraiais mineiros — Ouro Preto, Mariana, Sabará, Congonhas, Caetés e mesmo Ouro Fino e Santana do Sapucaí — porque essas povoações eram as "catas", a procura do ouro à beira irregular dos regatos, que impunham direção às ruas e disposição incorreta às casas.

O Arraial de Camboy não oferecia perspectiva aurífera. Só poderiam enriquecê-lo a pecuária e a agricultura. Por isso mesmo, a recomendação escrita feita pelo Visitador Antônio Paes de Andrade constituía o "ponto-de-partida" para um movimento de grande envergadura e larga amplitude: a construção de outra Capela e a mudança do arraial para lugar aprazível e adrede escolhido.

E foi o que se deu.

Novo Cambuí

Respeitando Carta Regia de 2 de abril de 1739, que vedava construção de igrejas e capelas sem autorização de autoridades competentes, em agosto de 1834, foi dirigido o seguinte memorial à Cúria Diocesana de São Paulo:

"Dizem os habitantes da Capela de Nossa Senhora do Carmo de Cambuhy, filial da Freguezia de Camanducaia, q. achando-se a dita Capela situada no cume d'hum monte onde he bastante difícil hirem os Spps. cumprir com os seus deveres religiozo e mmo. pr. estar a dita Capela danificada, e dezejando pr. isso mudarem pá. hum terreno plaino mto. mais espaçozo, e onde se pode divisar não só a desencia do templo como o aformoziamento da povoação, e como não podem fazer sem licença de V. Excia., portanto P. A. V. Excia. se sirva conceder aos Supps. a dita licença. E. R. Mcê".

Subscrevem essa petição os seguintes moradores do arraial:

"Manuel Marques de Oliveira, Antônio José da Silva, Jacinto José da Fonseca, Francisco José de Macedo, Tomaz Garcia dos Santos, Vicente Marques de Oliveira, Salvador Rodrigues Gonçalves, Antônio Soares Guimarães, José Inácio Froes, Antônio Francisco Mendes, Joaquim Pereira Lima, Joaquim Inácio Simões, Antônio Silvério Pereira, Antônio Rodrigues Matos, José Martins Bastos, Manuel Martins de Almeida, Manuel Lopes Pinheiro, José Lopes Pacífico, João Paulo Lopes Pinheiro, Manuel Ferraz da Cunha, João Lourenço de Souza, Salvador da Veiga, Lourenço Dias, Vicente Ferreira de Abreu, Mateus José da Rosa, José Domingues, Manuel Afonso dos Santos, João Clemente Gomes de Oliveira, Joaquim Inácio Lopes, Possidônio Pires Machado, Manuel Bueno de Moraes, Manuel Inácio Froes, Francisco Nunes Pinheiro, José da Cunha Vasconcelos, Henrique da Cunha Vasconcelos, João Lopes Corrêa, Jerônimo Pedro Gonçalves, Joaquim Antônio de Afonseca, Francis¬co de Souza Vieira, Tristão Leite Ferreira de Melo, Benedito Soares Leite, Félix da Costa Pinheiro, Manuel Joaquim de Moraes, João Francisco do Prado, José Gabriel da Silva e José Mariano da Silva."

Sobreleva notar — diz o Dr. José Guimarães, comentando esse documento — que quarenta e cinco pessoas assinam o memorial de próprio punho, demonstração viva do alto grau de alfabetização que, nos afastados anos de 1834, já haviam alcançado os habitantes da área compreendida entre São Domingos e Rio do Peixe.

* * *

Neste ponto, abra-se um parêntesis e registre-se que o Dr. José Guimarães, tantas vezes citado nesta obra, prende-se a Cambuí por laços de casamento, genro de José Roberto de Moraes, um cambuiense radicado em Ouro Fino, mas amoravelmente apegado à terra natal. Veio daí o interesse que o levou a penetrar fundamente nos alicerces históricos da cidade.

De posse do memorial supra referido, a Cúria Diocesana de São Paulo ouviu o Padre Manuel Alves de Toledo, Vigário de Camanducaia, para em 23 de outubro de 1834, concordar com a mudança pleiteada, já que havia manifestação crítica da parte do Visitador Diocesano, desfavorável inteiramente à Igreja e ao arraial, dadas as condições precárias de que se revestiam.

* * *

Foi então escolhido o local na área denominada "Campo Largo", constituído de pequena colina ladeada por encostas ligeiras, em cujo dorso se espalmava achatamento bastante amplo para que nele se assentasse a praça principal do povoado. Descortinava-se dali, livres e desembaraça¬dos, largos horizontes tapizados pela bacia hidrográfica do Itaim, formando a calha perlongada por indígenas e bandeirantes, rumo ao vale aurífero do Rio Verde. Lado a lado, extensas cordilheiras formavam a moldura do majestoso quadro em que o perfil granítico do São Domingos, alteado no cimo da serra, a mais de dois mil metros de altitude, ocupava a posição de sentinela vigilante a orientar o viajor em direção à terra prometida. E o desbravador que regressasse aos pagos domésticos, trazendo no gibão de couro cru e colheita do metal cobiçado, batendo as alparcatas enrijecidas no pó ardente das trilhas e devesas, defrontava desde logo, de longa distância, aquela massa escarpada, a cavaleiro do arraial, oferecendo-lhe abrigo e indicando-lhe roteiros certos. Parece mesmo que a mão de Deus pincelou na tela da natureza um dos seus mais belos quadros paisagísticos.

Quando as chuvas, intensas e extensas, se prolongavam por dias e semanas, a várzea aberta nas margens do Itaim e de seus tributários, se transformavam em imenso lagamar pontilhado, aqui-e-ali, de moitas de gabirobeiras, araticuns, pitangueiras, tarumãs e touceiras de capituvas agrestes. Aves aquáticas sobrevoavam a extensão líquida dando vida e movimento à paisagem. O Rio das Antas, ao pé da colina, deslizava ora mansamente, sem pressa, tortuoso, pelo vargedo à fora, ora transbordante e violento, carregando nas suas águas fecundas a certeza de boas searas e messes fartas.

* * *

Escolhido, pois, o local, foi posta mão-a-obra. O Capitão Soares comandava a surtida. Espírito forte, combativo, empreendedor intimorato, enfrentou as dificuldades e as venceu. Por outro lado, os moradores vizinhos, sob o império de uma vontade férrea — genius loci — irmanaram-se e prestaram ao grande chefe a colaboração necessária, ajusta¬dos ainda no apoio dado pelos próprios habitantes do arraial condenado.

Em pouco, o novo templo se erguia, imponente, desta vez construído e revestido de material capaz de enfrentar a ação dos elementos e do tempo. Cada qual trouxe o seu quinhão. O próprio Capitão Soares cansou suas mãos já calejadas na ereção da Igreja.

Terminada a obra, procedeu-se a transladação das imagens e alfaias para o templo que ia ser na história o marco e a prova da tenacidade indômita de um povo. O transporte se fez festivamente, carregadas as relíquias por carros de bois acompanhados pelo povo entoando hinos e preces (Minas Gerais, de 4 de outubro de 1930) .

E deu-se então fato curioso, pouco encontradiço no desdobrar da história: abandonava-se um povoado, seu templo, suas casas, suas ruas, suas vivendas, suas taperas, suas cafuas, deixando-o ao sabor do tempo, do sol e da chuva, da mataria agreste, dos animais daninhos, a destruir-se lentamente, arremedo de uma Cartago inocente ou a repetição de um novo êxodo.

Inaugurado o novo templo, ali compareceu o visitador diocesano, Padre Senador José Bento, que tanto relevo teve na vida pública do Império, lançando no livro do Tombo a seguinte Provisão, aliás, datada de Pouso Alegre:

"José Bento Ferreira de Mello, senador do Império e visitador ordinário das freguezias do bispado de São Paulo, na província de Minas Geraes, etc . Aos que esta minha provisão virem saúde e Benção em o Senhor. Faço saber que attendendo ao que me representarão os Povos da Capella de Cambuhy, da freguezia de Camanducaia, Hey por bem, pela presente declarar curada a dita Capella de Cambuhy, e independente da dita freguezia de Camanducaia. Será esta registrada nos livros do Tombo da dita freguezia e Capella curada. Dada nesta villa de Pouso Alegre sob meu signal e sello das minhas armas, aos quinze de outubro de mil oitocentos e trinta e quatro. E eu, José Bento, digo José Francisco Pereira Filho, secretário da visita, que o escrevi, (a) José Bento Ferreira de Mello. Estava o sello pendente (a) Pereira Filho. Provisão porque vossa senhoria ha por bem declarar cura¬da a Capella de Cambuhy, da freguezia de Camanducaia, a favor dos Povos supra declarados. Para Vossa Senhoria ver. Registrada no livro e folhas. Pouso Alegre, quinze de outubro de mil oitocentos e trinta e quatro. Numero trinta, Pagou oitenta reis de sello. (a) Pereira Filho Ferreira Mello.”

O Visitador Diocesano foi recebido festivamente, não só pelos atributos pessoais de senador do Império, como pelo sagrado "munus" de que estava revestido, realizando então obra evangélica de acendrado devotamento: crismas, batizados, casamentos, confissões e comunhões, com devoção e sinceridade da parte do povo.

A colheita pastoral foi, sem dúvida, opima.

Também, o povoado crescera e se derramara pelas ruas, encostas e arredores. O armamento se fizera simetricamente, obedecendo a plano algo técnico: de cada canto da Praça nasciam ruas retas que desciam a encosta e alcançavam outra rua paralela às encostas, no sentido longitudinal. Ao centro, frente ao templo, a rua principal, calçada por largas lajes poliédricas, leito côncavo para o perfeito escoamento pluvial. De cada lado da rua principal partiam ainda armamentos regulares em direção às vias longitudinais, ladeando a Praça.

Antecipando-se a Camberra, (Austrália) e a Belo Horizonte, Goiânia e Brasília, nascia o Arraial de Cambuí, em 1834, sem a intervenção de engenheiros urbanistas, obedecendo apenas a critérios inteligentes no estudo e no aproveitamento de sua topografia e de suas condições mesológicas.

* * *

Dezesseis anos após esses acontecimentos, durante os quais o arraial adquiria substâncias condições de vida e desenvolvimento, é criada a Freguesia de Cambuí pela Lei Provincial nº 571, de 1º de junho de 1850, desmembrada da Paróquia de Camanducaia.

Logo depois é nomeado o Padre Feliciano José Teixeira seu primeiro pároco. Deixa de ser Curato para ser Paróquia.

De 1834 a 1850, período em que Cambuí foi simplesmente Curato, exerceram as funções de juízes de paz as seguintes pessoas:

Jacinto José da Fonseca (1838 a 1844), 
Ricardo Pereira Coutinho (novembro de 1838), 
Joaquim Ignacio Simoins (1839 a 1845), 
Lourenço Dias Portela (1839 a 1840), 
João Tavares da Cunha (1842 a 1844), 
Manoel Marques de Oliveira (1843 a 1844) e
José da Cunha Vasconcelos (1843) 

Leis então vigentes conferiam a esses servidores atribuições judicantes, limitadas a pequenas demandas e controvérsias locais.

Capítulo II - Como vive uma cidade

A freguesia

O arraial de Cambuí tomara a categoria de Curato por Provisão de 15 de outubro de 1834, expedida pelo visitador diocesano Padre Senador José Bento, que, para tanto, tinha poderes expressos.

Teve então movimentação religiosa e eclesiástica regular e efetiva. Na data de 1.º de junho de 1850 é sancionada a seguinte Lei n.º 471:

"O Dr. Alexandre Joaquim de Sequeira, Presidente da Província de Minas Gerais. Faço saber a todos os seus Habitantes 
que a Assembléia Legislativa Decretou e eu Sanciono a Lei seguinte:
Art. 1.º - Ficão elevados à Parochia:
§ 7º - o Curato de Cambuhy, do Município de Jaguary, comprehendendo o de Capivary do mesmo município.
Art. 2.º — Os habitantes das Parochias creadas pelo artigo antecedente ficão obrigados à construir e paramentar à sua custa as 
respectivas Matrizes".

Começava então para o arraial uma fase de vida social e normal, com representação eletiva , ao sabor das necessida¬des religiosas da sua população.

As exigências do artigo segundo da lei estavam previamente atendidas, já que se balanceara anteriormente os pertences da Capela, em atendimento a recomendação superior, tudo devidamente provido de acordo com os rituais litúrgicos.

Atuaram então nesta nova fase os seguintes sacerdotes:

  1. Padre Feliciano José Teixeira, de 1850 a 1854;
  2. Frei Manuel de São Vicente Ferreira, de 1854 a 1855;
  3. Padre Antônio Sanches de Lemos, de 1855 a 1858;
  4. Padre João Martins de Brito, de 1859 a 1864;
  5. Padre João Borges de Figueiredo, de 1864 a 1868, e
  6. Padre José da Silva Figueiredo Caramuru, de 1871 a 1905.

A nova freguesia subordinava-se agora, desmembrada da paróquia de Jaguari, diretamente à Cúria Diocesana de S. Paulo.

Representação paroquial

Constituída em freguesia, cabia a Cambuí eleger seus representantes na Câmara Municipal de Jaguari, que, aliás, já convocara elementos do Curato para a integrarem, tais como Antônio Marques de Oliveira (1842), Joaquim Inácio Simões (1845) e coronel Francisco Cândido de Brito Lambert (1849), antes mesmo de competir ao arraial o eleger vereadores próprios.

Consolidando a elevação de Curato a Freguesia, foram escolhidos representantes de Cambuí à Câmara Municipal de Jaguari os seguintes vereadores:

em 1849 — Joaquim Inácio Simões,
em 1853 — Coronel Francisco Cândido de Brito Lambert,
em 1857 — Elias Carlos de Carvalho,
em 1861 — Coronel Francisco Cândido de Brito Lambert,
em 1865 — Bento Luiz Ferreira de Brito,
em 1869 — Coronel Francisco Cândido de Brito Lambert,
em 1878 -- Antônio Marques de Figueiredo,
em 1883 — Justiniano Quintino da Fonseca,
em 1886 — Fernando Carlos Pereira Guimarães.

Esses representantes alternavam-se nas sucessivas legislaturas, numa das quais (1867) o Coronel Francisco Cândido de Brito Lambert foi escolhido Presidente da Câmara, comprovando seu alto prestígio, porque, residindo em Cambuí, se elegera chefe da edilidade em Jaguari. Foram também eleitos suplentes à vereança os cambuienses Joaquim José da Fonseca, Joaquim Quintino da Fonseca, José Vicente da Silva Leite, Antônio Cândido Duarte e Carlos Zacarias de Almeida.

Juízes-de-Paz:

No período de 1850 a 1880 estiveram no exercício das altas funções de Juiz-de-paz os seguintes paroquianos: Joaquim Quintino da Fonseca, Zeferino José de Brito Lambert, José Quintino da Fonseca, João Lopes Pacífico, Alexandre José de Moraes e Bernardino Gomes Moreira, em períodos e mandatos diferentes e alternados.

Os demais cargos pertinentes à organização paroquial estavam assim distribuídos:

Escrivães: Francisco Xavier de Sales, que exercia, cumulativamente as funções de Agente do Correio, embora a repartição ainda não estivesse criada legalmente, Vicente Marques Pereira, Antônio Marques de Figueiredo e Francisco de Paula Souza.

Delegado-de-Polícia e Delegado-de-Instrução: Antônio José de Brito Lambert.

Párocos: Padres José da Silva Figueiredo Caramuru e João Soares de Figueiredo.

Fiscais Distritais: João Pinto de Lima, acumulando as funções de Alinhador.

Oficiais-de-Justiça: Joaquim Antônio de Souza, João Evangelista da Silva e João Aureliano de Lima.

Diretores de Obras da Igreja: Francisco Cândido de Brito Lambert, José Quintino da Fonseca e Joaquim Quintino da Fonseca.

Sacristão: Rogério do Nascimento Gama.

Zeladores da Igreja: Cândida Maria de Moraes e Eulalia Rosa dos Santos.

Corporações Musicais: duas, a dos Quintinos, de que era diretor o Capitão José Quintino da Fonseca, e a dos Lamberts, tendo por diretor o Capitão Antônio José de Brito Lambert.

Mestres de Música: Justiniano Quintino da Fonseca e Manuel José Teixeira.

Suplentes de Delegado: Aiíeres José Vicente da Silva Leite, Tenente Antônio Marques de Figueiredo e Antônio Cândido Duarte Júnior.

Colégio Eleitoral: Cambuí pertencia ao 5º distrito sediado em Campanha e integrava o 7º colégio eleitoral da Província, com sede em Jaguari. Eram eleitores no colégio eleitoral: José Quintino da Fonseca Sobrinho, Antônio Cândido Duarte Júnior, Francisco Silvério Pereira, José Manoel da Silva, Domiciano Quintino da Fonseca, Carlos Henriques de Oliveira, Alexandre José de Moraes e Terluliano Quintino da Fonseca.

Comércio e indústria

Negociantes de Fazendas (17) :

Alexandre José de Moraes, Bernardino Furtado do Nascimento, Antônio Cândido Duarte Júnior, Bernardino Gomes Moreira, Fernando Carlos Pereira Guimarães, Inocêncio Gonçalves Barbosa, João Corrêa da Silva, João Lopes Pacífico, José Teodoro Pereira, José Antônio Eiras, José Lopes Pacífico, José Nunes Rodrigues, Justiniano Quintino da Fonseca, Justino Alves de Toledo, Manuel José Teixeira de Carvalho, Tertuliano Quintino da Fonseca e Zeferino José de Brito Lambert.

Negociantes de Molhados e Gêneros da Terra (22) :

Adão Antônio, Antônio José de Brito Lambert, Bernardino Gomes Moreira, Bernardino Furtado do Nasci-mento, Clara Francisca de Andrade, Francisco de Paula Souza, Francisco José de Azevedo, Hermenegilda Lima de Jesus, João Ursolino de Almeida, João Lopes Pacífico, João Lemos da Silva, José Belisário da Fonseca, José Lopes Pacífico, José Antônio Eiras, José Teodoro Pereira, José Rosa dos Santos, Justino Alves de Toledo, Joana Maria de Jesus, Maria das Dores do Nascimento, Manuel Gomide e Pedro Rodrigues da Silva. Engenhos de Cana (4) :

Antônio Rodrigues Gonçalves, Antônio José de Brito Lambert, Joaquim Bueno de Moraes e Joaquim Quintino da Fonseca.

Depósito de Sal, Açúcar, Café etc. (1) :

Francisco Cândido de Brito Lambert.

Fazendeiros (29) :

Ana Margarida Ferreira, Antônio Ferreira de Carvalho, Antônio de Oliveira e Silva, Antônio Xavier de Resende, Bento Luiz Ferreira de Brito, Cândido Gabriel de Brito Lambert, Carlos Marques cie Oliveira, Cirino Marques de Oliveira, Francisco Cândido de Brito Lambert, Fran¬cisco Marques de Oliveira, Francisco Pereira dos Reis, Francisco Silvério Pereira, Francisco Teodoro Lopes, Inácio Ferreira da Rosa, Joaquim Francisco Lopes, Joaquim José cia Silva, Joaquim Mariano Froes, Joaquim Quintino da Fonseca, Joaquim Vicente Pereira, José César de Oliveira, José Cabral da Fonseca, José Rodrigues Froes, José Vicente da Silva Leite, José Rodrigues de Resende, José Rodrigues Gonçalves, Manuel Rueno de Moraes, Manuel Pereira da Fonseca, Mariano José Pereira e Rangel Antônio Padilha.

Conclusões: A lista é longa e fastidiosa, mas oferece margem a comentários que explicam e definem a evolução da freguesia e retratam as diferenças econômicas de lá para cá. A análise é elucidativa.

São 17 comerciantes de fazendas e 22 negociantes de molhados em 1874. É bem possível que em 1972 — quase um século depois — a cidade supere em pouco esse contingente de comerciantes urbanos. Mas se explica: o intercâmbio comercial, social e econômico entre Cambuí e os grandes centros era quase nulo, dadas as dificuldades de transportes e de meios de comunicações. Por isso mesmo, cada comerciante seria forçado a uma estocagem vultosa para atender a demanda e, em conseqüência, como o capital a ser invertido devia de ser, por igual, vultoso — segue-se que se estratificavam estocagem e capital, distribuindo-se então uma coisa e outra por várias firmas locais.

É claro que, posteriormente, transporte fácil e constante para as metrópoles comerciais do país, a estocagem é renovada dia-a-dia, exigindo-se relativamente pequeno capital em giro. À margem dessa situação, comente-se que o comprador, em face da facilidade de transporte, adquire — manu-sua — o que precisa diretamente nos mercados da metrópole, tornando despiciendos os depósitos internos da cidade.

No que tange à distribuição territorial a situação é bem diferente. São, em toda a área, apenas 29 fazendeiros, o que explica a predominância de latifundiários em caráter intocável.

Atualmente, depois de amputado pela emancipação de Córrego do Bom Jesus e Bom Repouso, conta todo o município 3.650 minifúndios (IBRA), em processo de deterioração, porque, produzindo quantum satis para as exigências caseiras, dia-a-dia mais se subdividem através de inventários e partilhas. Recentemente, no entanto, determinaram autoridades fazendárias a estagnação dos atuais minifúndios, impedindo novas retalhações da gleba, quer por alienação quer por partilha.

Guarda Nacional

A criação da Guarda Nacional, em 18 de setembro de 1831, teve por fins a consolidação do regime e a defesa das instituições Jurídicas e sociais do país. Eram distribuídas patentes de categoria variada a elementos de marcada ex-pressão política na comuna ou a cidadão de predicados morais altamente expressivos, dando-se-lhes posto de gabarito no quadro militar honorífico. Subordinavam-se ao Ministério da Justiça e suas nomeações se processavam diretamente pelo governo imperial ou pelos presidentes das províncias ou, ainda, por eleição presididas por juízes-de-paz. Integravam-na homens livres de 21 a 60 anos, "agrupados em pequenas unidades de infantaria, cavalaria e artilharia."

Transcreve-se a comemoração de 7 de setembro de 1869, publicação feita no jornal Gazeta de Cambuí, de 1º de julho de 1934:

"Cambuí, a pequena mas rica freguesia pertencente a Camanducaia, ia comemorar a data da Independência do Brasil.
O largo da Matriz, tapizado de grama verde, estava atulhado de gente. Foguetes subiam e espoucavam no ar, deixando 
no céu azul o rastro branco de fumaça. Garotos vadios, de chapéus de palha na mão, corriam desabalados à cata das varas dos rojões.
À frente da Igreja, imponente, requintada-mente elegante, ia formar o 84." Batalhão da Guarda Nacional, sob o comando do 
Tenente-Coronel Francisco Cândido de Brito Lambert. Ao lado do co¬mandante já se adiava o Estado-Maior, que tinha como 
Quartel-Mestre, Antônio José de Souza Dantas; Cirurgião, João Bernardes de Souza Vasconcelos; Secretário, Manuel Xavier Simões 
Angra; e porta-bandeira, Inácio José Ramalho.
Formava também aí a Primeira Companhia, que tinha como Capitão, Antônio José de Brito Lambert; como Tenente, Antônio José Guimarães 
Júnior, e como Alferes, Urias Bueno de Moraes.
Moços garbosos (e eu me lembro bem do Corunau) compunham o resto da Companhia.
Ao lado, no largo do Rosário (altos da Avenida Tiradentes), formava a Segunda Companhia; Capitão José Rodrigues Fróes; 
Tenente, Bento   Luiz Ferreira de Brito; e Alferes, Manuel Bino de Moraes.
E mais abaixo, na Rua Direita (Rua  João  Moreira  Salles.), impunha respeito a Terceira Companhia; Capitão, Joaquim Bino 
de Moraes; Tenente, Francisco Antônio Vieira, e alferes, Francisco Silveira Pereira Simões.
Ao toque do clarim, a Segunda Companhia desce do Largo do Rosário, marchando cheia de garbo e entusiasmo, e a Terceira 
Companhia sobe à Rua Direita. Quase ao mesmo tempo, as duas Companhias desembocam no largo da Matriz onde o Estado-Maior 
e a Primeira Companhia esperavam aprumados e em forma.
Ali estavam também as demais pessoas gradas do lugar: os Juízes-de-Paz, Alferes Joaquim Quintino da Fonseca, que 
também desempenhava o cargo de Sub-Delegado; Zeferino José de Brito Lambert, José Quintino da Fonseca e José Vicente 
da Silva Leite. O escrivão Francisco Xavier de Salles tomava nota para as comunicações de praxe.
Defrontam-se os três grupos, prestando as continências do estilo. Foguetes em profusão. Repicar de sinos. Trombetear 
agudo e vozes de comando.
— Viva Sua Majestade Imperial, Senhor Dom Pedro II!
O Vigário, Padre José da Silva Figueiredo Caramuru, mal grado já tivesse no coração a chama republicana, tece
loas á monarquia imperante. 
Terminado o discurso, o valente 84º Batalhão da Guarda Nacional desfila pelas ruas da freguesia, vivando a família 
imperial e o chefe conservador, Coronel Francisco Cândido de Brito Lambert.
* * * 
Lendo agora o Almanak Administrativo, Civil e Industrial da Província de Minas Gerais para 1869, sinto que vejo esse 
passado tão remoto e feliz, em que o nosso povo se deliciava com a farda rebrilhante dos oficiais da Velha Guarda, 
ouvindo, embevecido,  o som rouco do serpentão medieval do "Cirurgião" João Bernardes..."

* * *

Criada a Guarda Nacional de Cambuí, logo após sua elevação a freguesia, nas datas de 12 de março de 1851 e 2 de junho desse mesmo ano, foi nomeado o seu Conselho Qualificador constituído do Major Francisco Marques de Oliveira, Capitão José Quintino da Fonseca, Capitão Antônio Cândido Duarte, Tenente Zeferino José de Brito Lamber t e Alferes José Rodrigues Fróes. Sua primeira reunião se deu dia 30 de julho de 1851.

A garbosa milícia depereceu por si mesma, sem que se lhe desse morte e sepultura. Foi, a pouco c pouco, per¬dendo brilho e vigor, quase no ostracismo, mas seus postos graduados continuam ainda figurando à testa dos prenomes importantes, servindo-lhes de epíteto lisonjeiro nas indicações sociais ou festivas... Se o indivíduo não é "doutor" é, por certo, "capitão" ou "coronel"...

Enfim, extinguia-se o paroquiato cambuiense na esperança de perspectivas cheias de entusiasmo no self-government daí por diante.

É que, por esse tempo, transitava na Assembléia Le-gislativa da Província projeto de lei elevando a freguesia de Cambuí à categoria de Município.

Capítulo III - Como se governa uma cidade

Criação do município

Encerrado o ciclo das atividades meramente paroquiais, inicia-se em seguida o roteiro das liberdades administrativas municipais, em consequência da Lei Provincial nº 3.712, de 27 de julho de 1889, assim sancionada:

O Dr. Barão de Ibituruma, Presidente da Província de Minas Geraes: 
Faço saber a todos os seus habitantes que a Assembléia Legislativa Provincial decretou, 
e eu sancciono a lei seguinte:
Art. 1º -  Ficam creados os seguintes municípios de Abre Campo, Cambuhy e Palmira.
Art. 2º - Compor-se-hão os novos municípios das seguintes parochias:
§ 2º - O de Cambuhy: de Nossa Senhora do Carmo de Cambuhy, como sede e elevado a categoria de vila, 
de São Sebastião e São Roque de Rom Retiro e da Capella do Senhor Rom Jesus do Córrego, 
que fica elevada à categoria de Freguezia.
Art. 3º - O novo município de Cambuhy terá todos officos de justiça creados por lei geral.

Proclamava-se através desse diploma legal o self-govemment de Cambuí, às vésperas de outro acontecimento de sabor drástico na vida intestina do País, qual foi, na realidade, a implantação do regime republicano entre nós. Quatro meses depois transformavam-se por inteiro os quadros institucionais da nação e novo sistema político dava sentido e fisionomia diferentes às organizações administrativas.

Passado o impacto emocional ocasionado pelo novo regime, foi, pelo governo estadual, nomeado o Conselho de Intendência, órgão temporário destinado a legislar e administrar no interregno aberto entre a extinção da freguesia e o nascimento do município. A ata da sessão inaugural descreve a cerimônia então realizada:

"Aos 19 dias do mês de janeiro de 1890, às 3 horas da tarde, nesta vila de Nossa Senhora do Carmo de Cambuhy, termo do mesmo nome, comarca de Paraíso, Estado de Minas Geraes, na sala das sessões da Câmara Municipal, reuniram-se em sessão solene os cidadãos Intendentes — Antônio Ferreira de Oliveira, João Correia da Silva e Capitão Zeferino José de Brito Lambert, e, por motivo de ordem dos trabalhos, trataram imediatamente de eleger o seu presidente, recaindo a maioria dos votos no cidadão acima nomeado em último lugar, o qual assumiu a presidência e convidou para servir de secretário interino o abaixo assinado. Passou a ler o oficio do Exmo. Sr. Governador do Estado, o cidadão Dr. José Cesário Faria Alvim, datado de 10 do corrente, e declarou em presença de numeroso concurso de cidadãos que compareceram para assistir ao ato, que, em virtude de ordem expressa no mesmo oficio, a Intendência assumia o cargo que tão honrosamente lhe foi confiado por aquele Governador, e em ato continuo declarou empossada a Vila de Cambuí e instalado o respectivo termo que fora criado pela lei da extinta assembleia provincial nº 3.712, de 27 de julho do ano passado. Assim mais declaravam os intendentes, que prometiam sob sua palavra de honra, desempenhar bem e fielmente o seu cargo, tendo como objetivo o desenvolvimento e prosperidade morai e material do novo município, de acordo com as leis vigentes e com os interesses gerais da Nação Federal, guiando-se pelos moldes da nova e prometedora política atual. Pediu a palavra o cidadão Dr. José Moreira Brandão Castelo Branco Filho, juiz municipal de Jaguari, e manifestou em eloquentes palavras a satisfação que sentia por assistir a um ato que considerava de máxima importância para os habitantes do município que acaba de ser instalado ao qual desejava e augurava um brilhante futuro, louvando ao mesmo tempo ao Exmo. Governador do Estado pelo acerto na escolha dos intendentes. Em seguida, orou o Revmo. Vigário Caramuru externando o imenso júbilo de que se achava possuído por tão auspicioso fato, terminando por vivas ao mesmo Governador bem como ao Governador Geral dos Estados Federados. Pelo Presidente, foi ordenado ao Secretário que lavrasse uma ata do ocorrido na presente sessão e que da mesma fossem remeti¬das cópias aos cidadãos Governador do Estado, Dr. Juiz de Direito da Comarca, Dr. Juiz Municipal e Presidente da Câmara de Jaguari. Convidou a I intendência para reunir-se em sessão extraordinária no dia 23 do corrente. E encerrou os trabalhos declarando que com a intendência podiam assinar esta ata os cidadãos presentes que o desejassem. E para constar, lavro a presente, Eu, Antônio Evaristo de Brito, secretário interino a escrevi. (aa) O Presidente da Intendência Zeferino José de Brito Lambert. Os Intendentes Antônio Ferreira de Carvalho e João Corrêa da Silva. José Moreira Brandão Castelo Branco Filho, Juiz Municipal; Antônio de Almeida Gonçalves Prata, escrivão de órfãos; José Quintino da Fonseca, Antônio José de Brito Lambert, Justiniano Quintino da Fonseca, padre José da Silva Figueiredo Caramuru, Carlos Zacarias de Almeida, Fidelis Corrêa Marzagão, João Batista Ribeiro e Silva, João Ferreira da Silva, Maximiano José de Brito Lambert, José Quintino da Fonseca Sobrinho, Higino de Oliveira César, Aureliano Quintino da Fonseca, Paulino Frederico, Silvestre Pereira da Fonseca, Faustino José de Assis, Procópio Brandão, Justiniano Alves Pereira, Ricardo José Pereira, Adriano Colli, Inocêncio Quilici, Américo Corrêa Marzagão e Antônio Luiz de Brito Lambert."

Logo nos primeiros dias de sua atividade, em sessão de 7 de abril de 1890, fundas modificações se processam na estrutura da Intendência: João Correia da Silva e Sebastião Marques de Oliveira são substituídos por Padre José da Silva Figueiredo Caramuru e Alferes Joaquim Quintino da Fonseca, exonerando-se o Capitão Zeferino José de Brito Lambert, que cede a curul presidencial ao Padre Caramuru, cabendo a Antônio Ferreira de Carvalho a Vice-Presidência. Em seguida, o novo órgão passa a organizar o quadro administrativo da comuna: Avelino Cândido de Brito é nomeado procurador; Quirino Antônio Padilha e João José Pereira, fiscais; Ananias Pereira Tomaz, alinhador; Joaquim Antônio Costa e Souza, porteiro; Procópio Brandão, amanuense.

Com a exoneração, a pedido, de Avelino Cândido de Brito, é indicado Procurador Joaquim Xavier de Salles.

Continuando, o Conselho passa a legislar:

  • determina que os cães sejam açaimados pagando 2$OOO de imposto e que os desprovidos de açaimo paguem multa de 10$000;
  • os proprietários de casas são obrigados a limpar e caiar as respectivas fachadas sob pena de multa de 10$000;
  • cada cabrito ou carneiro vagando pelas ruas 2$000;
  • para mascatear fazendas ou objetos de ouro ou prata imposto anual de 30$000, e não sendo do município 100$000;
  • para a exibição de realejos e outros instrumentos 2$000;
  • exibição de macacos ou outros animais 2$000.

Registrem-se essas deliberações, não pelo seu conteúdo estranho e pitoresco, mas como expressão de uma época e de contraste entre a mentalidade de 1892 e 1972. Faça-se um paralelo da maneira como se portava o meio social de há oitenta anos passados, daí se extraindo a fisionomia, os usos c costumes de um burgo que nascia cheio de promessas e aspirações progressistas.

Na realidade, várias deliberações de alta significação para o novo município são tomadas pelo Conselho de In¬tendência, que, de 19 de janeiro de 1890 a 5 de março de 1892, período de sua vigência, marca os primeiros passos da jovem comuna no sentido do desenvolvimento e da ordem.

Em 5 de março de 1892 instala-se a primeira Câmara Municipal assim constituída:

Presidente - Antônio José de Brito Lambert, 
Secretário - Antônio de Melo Afonso,
Vereadores -João Lopes Pacífico, Justiniano Quintino da Fonseca, José Luiz Tavares da Silveira e Joaquim Firmino Lopes.

O Vereador, eleito Presidente, Antônio José de Brito Lambert, não toma posse no momento, mas posteriormente, por estar investido das funções de Juiz Municipal, nomeado pelo Governador do Estado, entrando em exercício, em caráter interino, o suplente Adriano Colli.

A situação da Câmara, a partir de então, é eficiente e fecunda. É que tinha a orientá-la uma equipe de cidadãos dotados de excepcionais requisitos e em condições de pô-la em alta posição entre sutis congêneres da região. Antônio Evaristo de Brito, escolhido Secretário da edilidade, e José Alexandre de Moraes, posteriormente vereador, tiveram a formação cultural em São Gonçalo do Sapucaí, no Liceu em que, Lúcio de Mendonça, Raimundo Correia e, por vezes, Silvio de Almeida, aqueles eleitos para a Academia Brasileira de Letras e este figura destacada nos meios intelectuais de S. Paulo, exerciam proficiente-magistério. Antônio Evaristo de Brito, inteligência brilhante, forrada de também brilhante cultura, levado por violento traumatismo moral, morreu cedo, como cedo morrera seu pai, Bento Luiz Ferreira de Brito, prestigioso vereador por Cambuí à Câmara Municipal de Jaguari. Mas José Alexandre de Moraes, revestido de excessiva, de exagerada, de profunda modéstia, emprestou seu talento à edilidade e ao executivo. Poeta, jornalista, humorista de alto coturno, dava colorido à linguagem escrita de maneira a fazê-la escorreita e elegante. Ao lado dessas duas figuras expressivas e cultas alinhava-se o Padre Caramuru, grande orador sacro e "causer" de aprimoradas qualidades. Encimando a brilhante tríade de homens de inteligência, sobres¬saiam os irmãos Brito Lambert queridos por seus predicados de espirito e de coração. Acrescente-se a nomeação de Antônio Lambert para Secretário interino. Era então estudante de d i rei Io em São Paulo e, depois de formado, Promotor-de-Justiça em várias cidades paulistas, aposentando-se 110 final da carreira como Juiz de Direito de uma das varas eiveis da Capital.

Essa equipe, valorosa sob todos os aspectos, deu impulso correto e digno à Câmara que nascia e, imprimia, sem dúvida alguma, um sentido elevado à administração municipal.

A Câmara assim eleita e empossada entrou de agir. A transformação radical porque passara a ordem social e política do País imprimira também ao novel corpo legislativo uma concepção arejada e uma disposição reformista verdadeiramente notável e surpreendente.

Foram então baixadas leis destinadas à disciplinação das medidas necessárias à organização institucional do município, bem como a fixação de normas capazes de porem em atividade a máquina administrativa. O Código tributário foi logo sancionado. Por igual, foi posto em execução o Código de Posturas. Estabeleceu-se o regime distrital, celula mater da estrutura municipal. E, promovendo o embelezamento e as melhorias das vias urbanas, deu-se publicidade à Lei nº 21, de 19 de abril de 1894, que assim dispõe:

Art. l — Fica o Presidente do Município autorizado a mandar levantar a planta do nivelamento das ruas e travessas da Cidade, 
a qual   será fundada nos seguintes princípios:
§ 1º -- Acompanhar o nivelamento do terreno despresando o nível natural de modo que este nivelamento quer suba ou desça 
acompanhe sempre a linha da superfície do terreno principiando em um ponto que pela Câmara for determinado.
§ 2º Serão tomadas distâncias de 50 em 50 metros e ahi collocado o marco de madeira de lei como ponto que indique 
onde passou o rumo do nivelamento tomado do ponto de partida.
§ 3º - Começar o nivelamento de baixo para cima e em cada marco ser mencionada a quantidade dos centímetros que 
sobem do nível natural.
§ 4º - Nos lugares onde houverem covas ou elevações ser mencionado na planta a quantidade de terra a importar 
ou transferir pela altura ou fundura em centímetros.

Seguem-se nesse diploma legal outras considerações que importam na recomendação a ser observada nas ruas novas ou a serem abertas, e no critério de autorização para novas construções.

Ora, essas recomendações, lançadas em leis há quase um século, estampam a visão administrativa e técnica dos edis e dos dirigentes locais.

É certo que a cidade progrediu lentamente. Imobilizou-a a carência de ligações rodoviárias com os centros consumidores e fornecedores. São Paulo era o polo magnético do comércio local. E a cidade dele se afastava em consequência de suas péssimas estradas de rodagem.

A pouco e pouco, no entanto, o progresso foi abrindo caminho em sua direção. Casas comerciais varejistas e atacadistas, empórios, centros de abastecimento de várias espécie, bancos, fábricas, artesanato de apurado gosto, farmácias, drogarias, pequenas indústrias, casas de saúde, laboratórios, colégios, oficinas diversas, hospitais - tudo isso, a passos lentos, é verdade, foi-se instalando e produzindo, de modo que, na hora presente, a cidade se impõe entre suas co-irmãs da região, consolidando a fama de seu progresso e de suas dimensões de beleza e encantamento. A Praça Coronel Justiniano, à frente de uma Igreja deveras imponente, é dotada de jardim bem planejado, cheio de árvores, flores e perfume. Nada lhe falta, porque aos domingos a Banda de Música "Santa Terezinha", sob a regência de José Francisco do Nascimento ou de Ismael de Paiva, enche os ares, ali, com velhos dobrados e langorosas valsas, que são o enredo romântico de novelas amorosas, revivendo a lembrança de tempos idos-e-vividos...

Por outro lado, as ruas da cidade, calçadas a paralelepípedos, molduradas por edifícios modernos, se espicham e se esparramam pelas várzeas e encostas circunvizinhas, formando, alargando o perímetro urbano, novos bairros e aglomerados, desafiando problemas complicados ao trânsito e ao urbanismo, e oferecendo ao visitante a imagem realista da coragem e do bom gosto do cambuiense: Bairro do Matadouro, Bairro do Zé Caixeiro, Bairro do Candoca, ruas alinhadas construídas por Sebastião Meyer e Olímpio Nogueira, enchem-se de casas novas e estilizadas. Logradouros novos, praças novas, ruas novas, conglomerados novos dizem bem do alto espírito inovador de um povo votado ao trabalho e à paz. E assim Cambuí cresce!

Da administração municipal

Há quatro fases na história da administração municipal de Cambuí.

Na primeira, se expressa o Conselho de Intendência incumbido de servir de elo entre a freguesia que findava e o município que nascia. Durou pouco mais de dois anos.

Na segunda, que vai de 1892 a 1930, têm exercício os Presidentes da Câmara, que tinham a função ambígua de administrar a comuna e presidir o legislativo.

A terceira fase se abriu com a revolução de 1930, em que foi quebrada a autonomia municipal em consequência da supressão das garantias constitucionais e os dirigentes municipais nomeados pelo governo estadual. Criou-se o cargo de "Prefeito". Vai de 1930 a 1945, quando então se inicia a quarta fase, em que. os Prefeitos e Vereadores são eleitos.

Dentro dessa longa caminhada, encontram-se os seguintes chefes da administração municipal:

1892 — Antônio José de Brito Lambert, Presidente, Antônio de Mello Afonso, Secretário, João Lopes Pacífico, Joaquim Firmino 
 Lopes, Justiniano Quintino da Fonseca e José Luiz Tavares da Silveira, Vereadores.
1894 — José Luiz Tavares da Silveira, Presidente, e Antônio Joaquim Vilhena   Granado,  Secretário.
1895 e 1896 - Padre José da Silva Figueiredo Caramuru, Presidente, e José Antônio Eiras, Secretário.
1897 — Major Antônio Marques  de  Figueiredo, Presidente, e José Luiz Tavares da Silveira, Secretário.
1898 — Padre José da Silva Figueiredo  Caramuru,  Presidente, e José Luiz Tavares da Silveira, Secretário.
1899 — Antônio Evaristo de  Brito, Presidente, Padre José da Silva Figueiredo Caramuru, Vice-Presidente e Antônio Alexandre 
 de Moraes, Secretário.
1900 — Antônio Evaristo de Brito, Presidente, Padre Figueiredo Caramuru, Vice-Presidente e Antônio Alexandre de Moraes, Secretário.
1901 - Justiniano  Quintino  da  Fonseca,  Presidente,  Padre Figueiredo Caramuru, Vice-Presidente e Osório Guimarães, Secretário.
1902 a 1905 — Justiniano Quintino da Fonseca, Presidente, Padre Figueiredo Caramuru, Vice-Presidente e Antônio Alexandre 
 de Moraes, Secretário.
1906 — Justiniano Quintino da Fonseca, Presidente, Adriano Colli, Vice-Presidente Antônio Alexandre de Moraes, Secretário.
1908 - Justiniano Quintino da Fonseca, Presidente, Silvério Bento da Silva, Vice-Presidente e Antônio Alexandre  de  
 Moraes, Secretário.
1909 - Justiniano Quintino da Fonseca, Presidente, Silvério Bento  da  Silva,  Vice-Presidente  e  Francisco Terra 
 Vargas, Secretário.
1910 e 1911 - Silvério Bento da Silva, Vice-Presidente em exercício e Francisco Terra Vargas, Secretário.
1912 — Silvério Bento  da Silva, Presidente, Francisco José Pereira dos Reis, Vice-Presidente e Francisco Terra Vargas,  Secretário.
1913 — Silvério Bento da Silva, Presidente e Antônio Leopoldo Marques, Secretário.
1914 e 1915 — Silvério Bento da Silva, Presidente e Francisco Terra Vargas, Secretário.
1916 - 1917 - 1918 -- José Alexandre de Moraes, Presidente e Adolfo Ferreira da Silva, Secretário.
1919 — Herculano Afonso Duarte, Presidente e Antônio Leopoldo Marques, Vice-Presidente, e Sidney Amaral Meneses, Secretário.
1920 - Herculano  Afonso   Duarte,  Presidente,  David  Herculano Bueno,   Vice-Presidente   e   Sidney   Amaral 
 Meneses, Secretário.
1921 a 1922 — David Herculano Bueno, Vice-Presidente em exercício e Sidney Amaral Menezes, Secretário.
1923 - 1924 - 1925 — Avelino Cândido de Brito, Presidente, José Corrêa da Conceição, Vice-Presidente e Adolfo Ferreira da 
 Silva, Secretário.
1926 - Silvério Bento da Silva, Presidente, José Corrêa da Conceição, Vice-Presidente e Adolfo Ferreira da Silva, Secretário.

Prefeitos nomeados

1930 — David Herculano Bueno, substituído por Alfredo Eugênio de Carvalho.
1935 — José Barbosa de Oliveira Júnior.
1936 — Dr. Halley Lopes Bello, Prefeito, e Alfredo Eugênio de  Carvalho, Vice-Prefeito.
1937 — Dr. Halley Lopes Bello, Prefeito, e Alfredo Eugênio de  Carvalho, Vice-Prefeito.
1938 — João Batista Corrêa.
1940 — José Francisco do Nascimento. 
1947 — João Batista Duarte (em comissão) . 
1947 — Benedito Salles (em comissão) .

Prefeitos eleitos

1947 — João Batista Lopes.
1949 — Alcino de Oliveira Salomon  (Vice-Prefeito em exercício) .
1950 — José Francisco do Nascimento.
1955 — Alcino  de  Oliveira  Salomon (até  1957).
1957 — Álvaro de Moraes Navarro, Vice-Prefeito  em  exercício .
1959 — Benedito Carvalho, Prefeito,  Mário   Ribeiro, Vice-Prefeito.
1963 — José Francisco do Nascimento, Prefeito, Benedito Delfino Machado, Vice-Prefeito.
1967 — Dr. Braz   Meyer, Prefeito,   José   Adolfo   da   Silva, Vice-Prefeito.
1971 — Luiz Evangelista Rangel Padilha, Prefeito, e  Dr. Bruno Capossoli, Vice-Prefeito.

Vereadores

A relação dos Vereadores, de 1892 a 1972 (oitenta anos) é excessiva, mas é justo que se lhes perpetue os nomes em livro destinado à história e à posteridade, como homenagem silenciosa aos bons serviços prestados à comunidade:

Alfredo de Brito, Francisco Paulino de Araújo, Antônio Lopes Sobrinho, Francisco Lopes dos Santos, Higino de Oliveira Cesar, Francisco Antônio de Brito Lambert, José Luiz Brandão, Antônio Luiz de Cantuária, João Garcia de Andrade, Vicente Marques da Silva, Modesto Bueno de Moraes, Elias Belisário dos Santos, João Pedro Gomes do Nascimento, Antônio Cândido Ferreira, José Marques da Silva, Afonso Finamor, José Lopes Pacífico, José Honório da Silva, José Silvério Pereira, Salustiano Marques Padilha, José Guilherme Eiras, Antônio Rodrigues Ferreira, José Vanulhi, Adriano Colli, Alfredo Fanuchi, Levindo Furquim Lambert, Virgílio da Silva Lopes, Luiz Garcia de Andrade, Milton Salomon Sales, Miguel Chiaradia, Antônio Raimundo do Nascimento, José Batista da Silva, Fausto da Silva Oliveira, João Rodrigues do Paraíso, José Luiz de Souza, Dr. Sebastião Meyer, João Toledo, Waldomiro Bueno, Adolfo Jonas da Silva, Francisco Júlio Pereira, Edgard Siqueira, Ângelo Bernardo Faccio, Antônio Luiz Gonçalves, Joaquim Augusto da Cunha, José Egídio Barbosa, Benedito Sales, José Bueno da Silva, Elias da Silva de Oliveira, João Gonçalves da Fonseca, Teruiaki Yamamoto, Dr. José Barbosa, Benedito Artur de Melo, Dr. Benedito de Carvalho Lopes, Jorge Antônio Dias, Simeão Manuel Dias, Lourenço Filho, João Rangel Fancuchi, Dr. Rui Ferrer de Oliveira, Waldemir de Oliveira, José Honorato Marques, Geraldo Pereira da Rosa, Waldemir Silvério Rodrigues, Dr. José Faustino da Cunha, Anardino Ribeiro da Costa, Abílio da Silva Oliveira, Ildeu Lessa de Moura, Dr. Bruno Capossoli, João Ferreira da Fonseca Resende, Dr. José Francisco Bueno, Raul Célio de Moraes, José Tertuliano de Brito, Francisco Pedroso de Oliveira, Antônio Marques de Oliveira, José Francisco Bueno, João Correia da Silva, João Evangelista Galvão, Eduardo Crispim Mariano, João Alfredo de Magalhães, Manuel Pedro da Rosa, Alfredo da Costa Magalhães, João Marques da Fonseca, João Batista de Moraes, Júlio Marques Moreira, Messias Cândido de Alvarenga, José Francisco de Faria, Antônio de Paiva Cardoso Júnior, João Antônio do Nascimento, Benedito José Andrade e Dr. Eunápio Hardman Castelo Branco.

Assembléia Municipal

Criada por lei com o objetivo salutar de interessar a comunidade local, por seus representantes qualificados, classes sociais, comerciantes e contribuintes, na orientação econômica e no exame dos atos administrativos municipais — a Assembleia Municipal reuniu-se anualmente de 1900 a 1908, sob a presidência da Mesa da Câmara.

Estabelecia a lei pesada multa, aos membros da Assembleia regularmente convocados que não comparecessem à sessão. E a presidência da mesa fazia cumprir rigorosa mente a determinação legal, consignando em ata a imposição das respectivas penalidades.

Discutiam-se os orçamentos e sua aplicação, e, no sentido econômico, apresentavam-se sugestões para o posterior exame da edilidade.

Era imperativa a presença dos vereadores.

Cessou em 1908 a atribuição da Assembleia Municipal.

Ainda a Guarda Nacional

Registrou-se em capítulo anterior que a Guarda Nacional, criada para fins específicos, em época profunda¬mente conturbada por agitações políticas (1831), devia extinguir-se por si mesma logo também se extinguisse o regime que a instituiu. Proclamada a República, era razoável a sua perempção, dadas as suas características tipicamente monárquicas.

Todavia, isso não se deu. Ao contrário até: brotaram à mancheia patentes de todos os naipes e matizes, e era de ver a pletora de batalhões e companhias esparramados por todos os centros urbanos da província. Veja-se, por exemplo, o que publica o "MINAS GERAIS", órgão Oficial do Governo Mineiro, em 14 de julho de 1899: Por decretos de 20 de maio findo foram nomeados para a Guarda Nacional da Comarca de Cambuhy, neste Estado, os seguintes officiais:

89º Brigada de Infanteria — Estado Maior:
Coronel-comandante  —  Justiniano  Quintino  da Fonseca;
Capitães-assistentes — Alfredo de Brito e Olegário José de Brito Lambert;
Capitães-ajudantes-de-ordens:   Herculano   Afonso Duarte  e Antônio Alexandre  de Moraes;
Major-cirurgião — José Luiz Tavares da Silveira.
265º — Batalhão de Infanteria — Estado Maior:
Tenente-Coronel - Cândido   Gabriel  de   Brito Lambert;
Major-Fiscal - José Luiz Padilha; Capitão-ajudante -Joaquim Francisco de Paula; Tenente quartel mestre - 
Antônio Lopes Sobrinho; Tenente secretário — José Guilherme Eiras; Capitão cirurgião — Sebastião Marques da Silva. 
l.º Companhia:
Capitão Avelino Cândido de Brito; Tenente — José Terluliano de Brito;
Alferes — Manoel Gonçalves de Menezes e Alfre¬do Fannuchi.
2º Companhia:
Capitão — José Antônio Eiras; Tenente José Luiz Ferreira;
Alferes -     José da  Silva  Figueiredo  e  Francisco Fannuchi.
3º Companhia:
Capitão -- José Silvério Pereira; Tenente - - Paulino Frederico;
Alferes — Osório Marques  e Bernardino  Furtado do  Nascimento.
4º Companhia:
Capitão — José Marques Victor; Tenente — Vicente Siecola;
Alferes — José Roque de Resende Júnior e Francisco Gonçalves Menezes.
266º — Batalhão de Infantaria — Estado Maior:
Tenente Coronel Comandante — Antônio Evaristo de Brito;
Major Fiscal — Ricardo José Pereira; Capitão Ajudante — Antônio Luiz de Manticarpo; Tenente Secretário — Lúcio Marques da Silva; 
Tenente Quartel Mestre — José Ferreira de Brito; Capitão Cirurgião — José Amâncio de Salles.
20º Brigada de Cavalaria — Estado Maior:
Coronel Comandante João Correia da Silva;
Capitães Assistentes — Antônio Victoriano de Sousa e Vicente Marques da Silva;
Capitães Ajudantes de Ordens — Maximiano José de Brito Lambert e Fernando Carlos Pereira Guimarães;
Major Cirurgião — Antônio Luiz de Brito Lambert.

E outros nomes aparecem ainda no citado diploma legal, oferecendo patentes a vários cambuienses, a saber: Higino de Oliveira César, Major Fiscal; Antônio de Paiva Cardoso, Capitão; José Lopes Pacífico Sobrinho, Capitão; José Alexandre de Moraes, Capitão-Ajudante; José Maximiano de Brito Lambert, Capitão; Manoel Pedro da Rosa, Tenente; Benedito Alves de Toledo, Tenente-Secretário; Joaquim Xavier de Salles, Tenente-Quartel-Mestre; Silvério Bento da Silva, Tenente; Américo Antero de Salles, Tenente; Salustiano Marques Padilha, Tenente; Antônio Felipe de Salles Sobrinho, Tenente-Secretário; José Corrêa da Conceição, Tenente; Francisco Antônio de Brito Lambert, Alferes; Francisco Paulino de Araújo, Capitão.

Como se vê, ao contrário do que as instituições republicanas podiam exigir, a Guarda Nacional, honorífica e específica, ensejava a dádiva graciosa de galardões e dragonas, numa féerie. de patentes a encher e ornamentar a ombreira de cidadãos de todos os quilates da sociedade local...

Sede da Prefeitura Municipal

Os serviços burocráticos e administrativos da Prefeitura estão instalados em prédio adrede construído para o Jardim de Infância que se criou na cidade, obra devida ao Prefeito José Francisco do Nascimento.

O Prefeito Dr. Braz Meyer, tendo em vista a precariedade quase que absoluta do edifício em que funcionava a Prefeitura, perambulando os seus serviços daqui para acolá, transferiu para esse prédio inadequado, em caráter de emergência, os serviços municipais, resolvendo assim, provisoriamente, as deficiências de que padecia o Executivo Municipal.

Situa-se na Praça Professor Maximiano Lambert, no centro de uma área bem ajardinada. É encarregado da Secretaria, da Contadoria e do Serviço Militar da Prefeitura Luiz Marques Ribeiro.

Prefeitura e Câmara Municipal

Os Poderes Executivo e Legislativo do Município, nos últimos períodos, estiveram assim constituídos:

1971-1972:

Prefeito: Luiz Evangelista Rangel Padilha,

Vice-Prefeito: Dr. Bruno Capossoli,

Presidente da Câmara: José Adolfo da Silva

Vereadores: José Faustino da Cunha, Dr. Ruy Ferrer de Oliveira, Waldomiro Silvério Rodrigues, Anardino Ribeiro da Costa, Geraldo Pereira da Rosa, João Rangel Fanuchi, João Honorato Marques e José Adolfo da Silva.

1973-1976:

Prefeito: Aristeu Bueno,

Vice-Prefeito: Elpídio Marques Ferraz,

Presidente da Câmara: José Honorato Marques,

Vice-Presidente: Antônio Silvério de Castro, Vereadores: José Adolfo da Silva, José Faustino da Cunha, Dr. Ruy Ferrer de Oliveira, Ildeu Lessa de Moura, Antônio Paulino de Abreu, João Gonçalves da Fonseca e Elias Pedro da Silva.

Capítulo IV - Como é exercida a justiça

Juízes de direito

Vários diplomas legais dão foros de cidadania a Cambuí.

Assim é que o Decreto nº 239, de 13 de setembro de 1890, determina:

Art. 1º - Ficam criadas as seguintes comarcas: 
§ 2º - de Cambuí, composta do termo de Jaguari e, do de Cambuí, desmembrado do de S. José do Paraíso, sendo a sede naquele.
(a)  Chrispim Jacques Bias Fortes.

No ano seguinte é sancionada a Lei nº II, de 13 de novembro de 1891, dispondo:

Art. 1º — A divisão judiciária e administrativa do Estado de Minas Gerais fica estabelecida pela designação das 
comarcas e municípios da tabela anexa.

E dessa tabela sobressai Cambuí no número 27, sancionada a Lei pelo Presidente Cesário Alvim.

Por fim, é dada publicidade à Lei nº 23, de 24 de maio de 1892, que dispõe:

Art. 1º — Ficam elevadas à categoria de cidade todas as atuais vilas sedes de comarca.
(a) — Eduardo Ernesto da Gama Cerqueira.

Encerrava-se aí o ciclo de ordem legislativa que dava foros de independência judiciária à novel comuna mineira, desmembrada totalmente de suas coirmãs que a precederam. Sua instalação, de acordo com os respectivos assentamentos no Tribunal de Justiça do Estado, se deu dia 20 de março de 1892, conforme se verifica da seguinte ata:

"Aos vinte dias do mês de março de mil e oitocentos e noventa e dois, à uma hora da tarde, no Paço da Câmara Municipal, perante os cidadãos Vigário José da Silva Figueiredo Caramuru, presidente, e os vereadores Alfredo de Brito, João Lopes Pacífico, Antônio de Melo Afonso, Higino de Oliveira César, Justiniano Quintino da Fonseca e José Vilhena Granado, pelo cidadão Presidente foi aber¬ta a sessão. Lida e posta em discussão a ata da sessão precedente foi aprovada e assinada. Em seguida, o Vigário Figueiredo Caramuru fez sentir, como presidente da Câmara, que ia se efetuar a instalação da comarca de Cambuí, e para esse fim convidou as autoridades do município, câmara e povo, a fim de assistirem no Paço da Câmara ao ato solene da nova Comarca acima referida. Preenchidas as formalidades do estilo, tomou assento o Doutor José Moreira Brandão Castelo Branco Filho, que, depois de ler o decreto de sua nomeação e outras comunicações oficiais, convidou para exercer o cargo de Promotor interino da Comarca o cidadão Antônio Lambert, que não se fizera esperar na aceitação do honroso cargo, 110 qual o distinguia a primeira autoridade da Comarca de Cambuí. Em ato contínuo, o Doutor Moreira Filho, em arroubos de entusiasmo, declarou instalada a Comarca de Cambuí. Falou em seguida o Promotor interino da Comarca congratulando-se com a população de Cambuí pela aquisição de um juiz que havia de fazer a felicidade deste município, não só por sua ilustração como também pelo seu caráter honesto e probo. Falou depois o Vigário Caramuru, que fez a apologia da justiça e pediu ao distinto Juiz de Direito que jamais se deixasse levar pelo coração, quando sentado na cadeira de julgador, que as expansões da alma não podem sobrepujar a razão, que estava sempre fora do alcance das emoções, filhas do sentimentalismo, e que o povo ansioso espera muito do seu talento e ilustração, e findou dando vivas ao Dr. Juiz de Direito. Logo depois nomeou o cidadão Ricardo José Pereira para exercer interinamente o cargo de escrivão do Registro de Hipotecas. Foi logo depois lavrada a ata especial de instalação pelos tabeliães deste juízo, escrivão de órfãos e de Paz num livro para esse fim destinado, conforme as determinações expressas do Doutor Juiz de Direito. Findo o ato de instalação o Vigário Caramuru convidou o Doutor Juiz de Direito, Câmara, autoridades e povo para um Te-Deum em ação de graças pelo ato que acabavam de assistir. Nada mais havendo a declarar foi encerrada a sessão. E para constar lavrou-se a presente ata. Eu, Antônio Lambert, Secretário, a escrevi, (aa) Padre José da Silva Figueiredo Caramuru, Dr. Moreira Brandão, João Lopes Pacífico, Antônio de Melo Afonso, Justiniano Quintino da Fonseca, José Vilhena Granado, Joaquim Mariano Froes e Alfredo de Brito."

Essa a ata lavrada em livro próprio da Câmara Municipal, tendo sido, porém, cumpridas fielmente as recomendações do magistrado, no sentido da lavratura de iguais termos e assentamentos em cada cartório, registrando-se o mesmo cerimonial, mas acrescentando-se, em cada tabelionato, a nomeação, feita, no momento, de José Alves de Moraes e Eduardo das Chagas Pinto para oficiais de justiça. Assinaram então a ata existente nos referidos cartórios, além dos membros da Câmara Municipal, Antônio José de Brito Lambert, Joaquim Quintino da Fonseca, João Correia da Silva, 1º Juiz de Paz; José Luiz Padilha, João Ferreira da Silva, Firmino Lopes dos Santos, 2º Juiz de Paz; Emiliano Quintino da Fonseca, José Braz Lopes, Manoel Pedro da Silva, Antônio Marques de Figueiredo, José Alves de Moraes, Oficial de Justiça; Eduardo das Chagas Pinto, Oficial de Justiça; Joaquim Antônio da Costa Sousa, porteiro; e José Quintino da Fonseca. Desfeitos os laços que prendiam Cambuí às cidades e comarcas a que se subordinava judiciária e administrativamente, alargam o passo o seu povo e suas instituições em busca de cada vez mais acentuada prosperidade. E são nomeados, então, para jurisdição na comarca, os seguintes magistrados:

  1. Dr. José Moreira Brandão Castelo Branco Filho, em 1892,
  2. Dr. João Capistrano Ribeiro de Alkimim, em 1893,
  3. Dr. Carlos Francisco d'Assunção Cavalcanti de Albuquerque, em 1900,
  4. Dr. José Porfírio Álvares Machado, em 1923,
  5. Dr. Alexandre Silviano Brandão, nomeado que não tomou posse,
  6. Dr. Olímpio Tito Ribeiro, em 1929,
  7. Dr. Estevam José Pereira, em 1930, mas esteve em exercício dois dias,
  8. Dr. José Maria de Vilhena, em 1932,
  9. Dr. João Tavares Corrêa Beraldo, em 1939,
  10. Dr. Francisco Diogo Pereira de Vasconcelos, em 1942,
  11. Dr. Augusto Vilhena Valadão, em 1949,
  12. Dr. Wagner Brandão Bueno, em 1949,
  13. Dr. Luiz Renault Apocalipse, em 1961,
  14. Dr. Zorocastro de Paiva Ferreira, em 1965, e
  15. Dr. Paulo Sebastião Guimarães, a partir de 1967.

Observação: Vários juízes estiveram afastados no gozo de licença, substituídos por juízes de paz, entre os quais Ma¬noel Pedro da Rosa, Antônio Alexandre de Moraes, Antônio Luiz de Brito Lambert, Silvério Bento da Silva e Waldomiro Bueno.

Juízes municipais

Exerceram a magistratura nas funções de juízes municipais os seguintes cidadãos:

  1. Dr. Afonso da Silva Brandão, em 1892,
  2. Dr. Augusto de Albuquerque Cabral, em 1895,
  3. Dr. Francisco Antônio Camarano, em 1899,
  4. Dr. Pedro Leão de Souza Guaracy, em 1901,
  5. Francisco Pereira dos Reis, interinamente em 1904,
  6. Major José Luiz Tavares da Silveira, interinamente em 1904,
  7. Dr. Caetano Ferreira Pinto Malheiros, em 1908,
  8. Dr. Alfredo Henriques Vidigal, em 1908,
  9. Dr. Drauzio Vilhena de Alcântara, em 1910
  10. Dr. Carlos Vicente de Carvalho, em 1913,
  11. Dr. Teodoreto Ribeiro de Paiva, em 1914,
  12. Dr. José Corgulho Nogueira, em 1916,
  13. Dr. Leonel Costa, em 1917, e
  14. Dr. Romualdo Horta de Araújo Feio, em 1918.

Observações: Os juízes municipais foram substituídos em suas ausências e impedimentos por juízes de paz, entre os quais Antônio Evaristo de Brito e José Luiz Tavares da Silveira.

Promotores de justiça

O cargo de Promotor de Justiça, ocupado inicialmente, em caráter interino, por Antônio Lambert, no ato da instalação da comarca, foi desempenhado posteriormente pelos seguintes cidadãos:

  1. Capitão Antônio Felipe de Sales, em 1892,
  2. Dr. Aristides de Lima Castelo Branco, cm 1893,
  3. Dr. Alípio Benjamim Gonçalves Ferreira, em 1894,
  4. Dr. Odilon Augusto Ribeiro, em 1894,
  5. José de Almeida Prata, em 1895,
  6. José Eufrásio de Toledo, em 1899,
  7. Dr. Joaquim Nogueira, em 1903,
  8. Dr. Francisco de Moura Brandão, em 1904,
  9. Antônio Cândido Reno, em 1906,
  10. Dr. José Godofredo de Moura Rangel, em 1907,
  11. Dr. Ulysses de Medeiros Corrêa, não aceitou a nomeação,
  12. Dr. Oscar Pedmante (sem efeito a nomeação),
  13. Dr. Drauzio VilheNa de Alcântara, em 1908,
  14. Dr. Romualdo Horta de Araújo Feio, em 1911,
  15. Dr. Raphael Fleury da Rocha, nomeação tornada sem efeito,
  16. Dr. José Olyntho de Magalhães, em 1913,
  17. Dr. Orosimbo Nonato da Silva, não tomou posse,
  18. Dr. Alfredo Serra Júnior, cm 1914,
  19. Dr. Adolfo Pope Bastos de Castro, em 1915,
  20. Dr. Armando Santos, nomeação tornada sem efeito,
  21. Dr. Manuel de Oliveira Andrade Filho, nomeação sem efeito,
  22. Dr. Christino de Albuquerque Lage, nomeação sem efeito,
  23. Dr. Bronsilber Lopes Lage, em 1918,
  24. Dr. Brotero Antônio do Pilar Cobra, em 1919,
  25. Dr. Antônio Ribeiro de Andrada Sobrinho, nomeação sem efeito,
  26. Dr. Múcio de Abreu e Lima, em 1921,
  27. Dr. Genésio de Faria Ribeiro, não tomou posse,
  28. Dr. Eunápio Hardman Castelo Branco, em 1923,
  29. Dr. Erasto da Silveira Fortes, em 1924,
  30. Dr. Guttemberg Fernandes, em 1928,
  31. Dr. Lívio de Vasconcelos César, em 1929,
  32. Dr. Waldemiro de Almeida Mota, em 1929,
  33. Dr. Valporé de Castro Caiado, em 1932,
  34. Dr. Halley Lopes Bello, em 1932,
  35. Dr. José Maria da Anunciação Cavalcanti, em 1936,
  36. Dr. Victor Machado de Carvalho, em 1944,
  37. Dr. Brasilino de Moura Cardoso, em 1945,
  38. Dr. Abelardo Cabral Mota, em 1945,
  39. Dr. Alberto Pires, em 1947,
  40. Dr. Dino Macheroni, em 1948,
  41. Dr. Eugênio Carlos de Magalhães Vale, em 1949,
  42. Dr. Sinésio Luiz de Paiva Sapucaí, nomeação sem efeito,
  43. Dr. Rubem Miranda, em 1953,
  44. Dr. Paulo Tinoco, em 1954,
  45. Dr. Luiz Fernando Mendes Salomon, em 1956,
  46. Dr. Antônio Pinto da Silva, em 1956,
  47. Dr. William Cruz, em 1957,
  48. Dr. Pedro Carlos Junqueira Ferraz, em 1957,
  49. Dr. José Costa, em 1967.

Adjuntos de promotores de justiça

Exerceram funções temporárias de Adjunto de Promotor de Justiça os seguintes cidadãos: Armando Alves Franco, José Herculano de Moraes, Dr. Sebastião Meyer, Pedro Ferreira, José Benedito de Sales Cortes, Antônio Paulino de Abreu e Dra. Neila do Carmo Fanuchi, e, interinamente, nas funções de Promotor de Justiça: Possidônio Tavares Paes, Manuel Francisco Lopes, Manuel Francisco de Oliveira Bressane, Osório Guimarães, Antônio Cardoso de Paiva Júnior, Alfredo de Carvalho Agueda, Dr. Sebastião Meyer, Levindo Furquim Lambert e Dr. José Ferreira da Silva Júnior.

Serventuários da justiça

No decorrer dos anos, os serviços da Justiça foram desempenhados pelos seguintes cidadãos:

Escrivães de órfãos:

Fernando Carlos Pereira Guimarães, 1º ofício    1890
Ricardo José Pereira, 1º ofício, 	        1890

Escrivães de Judicial e Notas:

Ricardo José Pereira lº ofício		        1890
José Alexandre de Moraes, 2º ofício	        1895
Joaquim Eugênio de Carvalho Júnior, 1º ofício   1906
José Manoel da Fonseca, 1º ofício		1917
Reinaldo Vieira, 2.9 ofício		        1924
Antônio Felipe  de  Salles, 1º  ofício   	1924
Alencar  Garcia  Machado,  2º  ofício		1930
Benedito Delfino Machado, 2º ofício		1936
Benedito Salles, l.9 ofício		        1937
José Márcio Salomon, 3º  ofício                 1956

Escrivães dos Processos e Execuções Criminais:

Demétrio Ribeiro e Silva	                1901
Astolfo Hermógenes de Moraes	                1913
João Batista  Corrêa	                        1924
Guilherme Fróis de  Carvalho	                1938
Benedito  Carvalho Lopes	                1954
Ivo Edgar Eiras                                 1960

Escrivães do Registro Civil;

Antônio  Cândido  Duarte	                1880
Guilherme  Spilborghs	                        1886
Astolfo Hermógenes de Moraes	                1898
Osório Marques	                                1902
Francisco de Salles Fanuchi	                1915
Sebastião Rangel Fanuchi	                1956

Distribuidor, Contador e Partidor:

José Alexandre de Moraes	                 ?
Antônio Felipe de Salles	                1908
Francisco de Salles Fanuchi	                1913
Joaquim Augusto da  Cunha	                1933
José Faustino da Cunha	                        1957  
                   

Observação: A lista dos que ocuparam o cargo de Contador, Distribuidor e Partidor não é completa, porque o serviço, hoje, por demais movimentado, trabalhoso e difícil, não possibilitou ao seu titular colaborar com o autor desta obra, fornecendo-lhe os nomes de seus antecessores. É de se lamentar a lacuna aberta nesta obra destinada à história e à perenidade de sua organização burocrática e política. Mas, se não foi possível a cobertura da lacuna, que se há de fazer senão exclamar: si no é vero é bene trovato...

Avaliador Judicial:

Avelino Cândido de Brito, Adolfo Ferreira da Silva, José Porfírio Marques, Alfredo de Salles Magalhães, Francisco Pedroso de Oliveira, Lacides Bayeux da Silva e José Patrício de Moraes.

Oficiais de Justiça:

Joaquim Firmiano Cardoso, Joaquim Antônio de Souza, João Evangelista da Silva, José Aureliano de Lima, José Alves de Moraes, Eduardo das Chagas Pinto, João Aureliano Padilha, Manuel Teixeira de Carvalho, José Gomes Moreira, Laudelino Sálvio Eiras, José Dardis Filho, João Teixeira de Carvalho, Wilson de Carvalho e Joaquim Firmino.

Carcereiros:

João Aureliano Padilha, Francisco Rangel Padilha, Geraldo Salles e José do Carmo Salles.

Juízes de paz

A função desempenhada pelos juízes de paz hoje não se integra bem no capitulo referente à Magistratura, porque suas atribuições não são realmente judicantes mas específicas na organização política do País. Aqui ficam, no entanto, os juízes de paz, uma vez que lhes cabe a substituição dos juízes de direito.

Lembre-se que o Capítulo II desta obra já registra o exercício de juízes de paz no período de 1850 a 1880, em que Cambuí era apenas freguesia de Jaguari. Elevado a município, foram juízes de paz os seguintes cidadãos:

1890 — Joaquim Quintino da Fonseca, Antônio Luiz de Brito Lambert e José Luiz Padilha;
1892 — João Corrêa da Silva e Antônio Marques Figueiredo;
1893 — Antônio Evaristo de Brito e Zeferino José de Brito Lambert;
1894 — Francisco Antônio de Brito Lambert;
1895 — José Luiz Tavares da Silveira.  Justiniano Quintino da Fonseca c João Lopes Pacífico;
1896 — José Luiz Tavares da Silveira;
1898 e 1899 — Alfredo de Brito.

A partir de 1900 é irregular e anacrônica, nesta obra, a relação dos referidos servidores, de vez que a pesquisa dos respectivos nomes, ao pé de cada termo de casamento, representava grande sacrifício e trabalho exaustivo ao titular do Cartório de Registro Civil. E por causa disso, a relação é falha.

De oitiva ou segundo informações esparsas, registrem-se os seguintes nomes:

Cândido Gabriel de Brito Lambert, José Lopes Pacífico Sobrinho, José Antônio Eiras, Joaquim de Paiva Cardoso, Egídio Paula da Silva, Antônio Luiz de Brito Lambert, Bento José Pereira, Silvério Bento da Silva, Manuel Pedro da Rosa, Simão da Silva Maia, Herculano Afonso Duarte, Benedito Alves de Toledo, Antônio Alexandre de Moraes, Waldomiro Bueiio, Atílio D'Onófrio, José da Silva Bento e Onésio An¬tônio de Souza.

É deveras lamentável a lacuna apontada. Mas, fiat voluntas tua...

Delegados de polícia

Por igual, os itens em que se arrolam os Delegados de Polícia devia de ocupar Capítulo destacado. São autoridades incumbidas e responsáveis pela ordem social, sem atribuições judicantes. Mas tais servidores são como que corolários cia distribuição da justiça, suportes da ordem social, ressonância da paz e da tranquilidade públicas.

No Império exerceram o cargo Manuel Marques de Oliveira e Antônio José de Brito Lambert e, já na República, Francisco José Pereira dos Reis, Antônio Luiz de Brito Lambert, José Bernardes da Fonseca, Atanásio José de Oliveira, Francisco Amâncio Eiras, Dr. Fábio Alves Franco, Dr. Adolfo Gonçalves do Nascimento, Álvaro de Moraes Navarro, Antônio Toledo, Antônio Ferreira Neto, Tenente José Quirino, Capitão João Batista Soares, Capitão José Machado Bragança, Elias Fanuchi Lombardi, Mário Dias Ribeiro, José Dardis Neto, Tenente Antônio Franco Thimoteo, Dr. Mauro Ladislau Campeio e Afonso Silva Oliveira.

Também o titular do Cartório das Execuções Criminais se exime de colaborar eficientemente na feitura desta obra, deixando de relacionar os Delegados de Polícia que atuaram na cidade ao longo do regime republicano. Seria excelente para a história de Cambuí que tal coisa não se desse. Mas...quid est quod?

Fórum Paiva Júnior

A solução do grave problema suscitado pelas instalações do foro merece página à parte, dada a sua complexidade e a sua gravidade no decurso do tempo. Instalada a comarca, os serviços forenses audiências do juiz e sessão do júri — eram realizados no salão nobre da Câmara Municipal, prédio que aos poucos foi-se desgastando e se tornando impróprio até mesmo para a edilidade. Situava-se na esquina das Ruas Coronel Lambert e Capitão Soares.

Cumprindo resolução dos vereadores, ornavam-lhe a parede principal os retratos ampliados do Coronel Francisco Cândido de Brito Lambert e do Padre Figueiredo Caramuru, tendo ao centro um daguerreótipo de Tiradentes.

Teve que ser demolido, e o Fórum perambulou por ceca-e-meca, sem encontrar abrigo condigno. As sessões do júri funcionavam no Grupo Escolar, que se via forçado, por isso, a interromper suas aulas. E as audiências do juiz se faziam em saletas acanhadas e lôbregas, quando não se realizavam na residência dos magistrados ou nos gabinetes dos respectivos escrivães.

Coube ao Prefeito José Francisco do Nascimento abrir caminho para a solução do problema, depois de obter apoio do Governador Juscelino Kubitscheck. Adquiriu então parte da área junto à sede dos escritórios da Empresa Força e Luz (Rua Coronel Lambert) e desapropriou terrenos pertencentes a Antônio Pereira Duarte, enfrentando forte oposição de seus proprietários.

Chegou a iniciar a construção do prédio, abrindo-lhe alicerces e começando o levantamento das paredes, havendo, para tanto, obtido medições oportunas do empreiteiro do Estado.

Não levou a cabo o empreendimento por implemento de mandato. E a construção não foi então avante.

Tempos depois, no entanto, reeleito o mesmo Prefeito, dessa vez com a colaboração prestigiosa do Deputado Milton Salles, já no governo Magalhães Pinto, alcançou êxito no empreendimento, resolvendo em definitivo o angustioso problema.

O edifício então construído, embora hoje já deficiente para as práticas judiciais, atende magnificamente às necessidades da Justiça, na sua majestade e na sua pluralidade, pois que nele estão instalados todos os serventuários, e repartições conexas, além de amplo salão de júri, confortáveis gabinetes do juiz e do promotor.

Foi acertada a homenagem prestada à memória do Advogado Antônio de Paiva Cardoso Júnior, dando-lhe o nome honrado ao edifício do pretório cambuiense.

Achegas históricas

Ao ser criada a Comarca de Cambuí, sua sede foi trans-ferida de S. José do Paraíso para Camanducaia, face o Decreto nº 239, de 13 de setembro de 1890, e só alcançou foros de independência judiciária pela Lei nº 23, de 24 de maio de 1892, quando então se fez cidade.

A comarca foi elevada a segunda entrância pela Lei nº 1.906, de 23 de janeiro de 1959, mas a Resolução nº 46, do Tribunal de Justiça do Estado, reconsiderou essa promoção, determinando sua volta à primeira instância logo se afastasse o respectivo titular. Essa mesma Resolução anexou a Cidade de Estiva à Comarca de Cambuí.

Lembre-se que, já em 19 de setembro de 1908, pela Lei nº 375, a comarca esteve ameaçada de supressão se seu Juiz de Direito se afastasse do cargo, o que não se deu.

Capítulo V - Organizações político-partidárias

1

A política, tomada a palavra no sentido de "ciência ou arte de dirigir os negócios públicos", a política de Cambuí — repete-se, foi, de começo, dirigida e orientada pelo Capitão Joaquim Soares de Figueiredo. Exercida ela através dos órgãos eclesiásticos e diocesanos, dada a simbiose existente entre os poderes temporal e espiritual da época, era em São Paulo, na cúria diocesana, que essa política se desdobrava e se exercia.

O Capitão Soares amava a nesga de terra que escolhera para viver. Desdobrava-se em serviços e atividades diversas. Viajava para São Paulo e lá permanecia dia e dias, resolvendo os problemas atinentes ao arraial, ao curato e, posteriormente, à freguesia, que, graças a ele, se consolidava.

Em maio de 1822, o grande chefe representa a Paróquia de Camanducaia na eleição para a formação da segunda junta do Governo Provincial de Minas Gerais, demonstrando esse fato seu grande prestígio político. E justa-mente por causa desse prestígio, conseguia ele impulsionar o novel arraial, no sentido de sua prosperidade e do bem-estar de seus habitantes.

Ao falecer, em 15 de janeiro de 1861, o Capitão Soares deixava a freguesia de Cambuí devidamente organizada e em mãos hábeis.

2

Assumia então as rédeas políticas da comunidade o Tenente Coronel Francisco Cândido de Brito Lambert, que, com seus irmãos Zeferino José de Brito Lambert e Antônio José de Brito Lambert, trazia condições morais e financeiras para conduzir a localidade por caminhos certos e seguros.

Os irmãos Brito Lambert, vindos de Campanha, de onde também viera o Capitão Soares, cresceram e foram educados num meio que se impunha ao resto do Pais por seus movimentos culturais do mais requintado teor. Formaram, por isso mesmo, o seu espírito e forjaram o seu caráter na tenda do estudo, do trabalho e da educação bem orientada. Além disso, vinham bem amealhados de fortuna, pois seu genitor, em testamento firmado três dias antes de sua morte (30 de outubro de 1810), deixava-lhes bens capazes de lhes proporcionar independência econômica e, conseqüentemente, a progressão de suas finanças.

Assentando-se na nova freguesia, tornaram-se desde logo latifundiários, comerciantes e atacadistas, impondo-se também por essa via no meio por eles escolhido. Os irmãos Brito Lambert ocuparam posição de relevo na direção da coisa pública. O Tenente Coronel Francisco Cândido de Brito Lambert recebeu de D. Pedro II a Ordem de Cristo por decreto de 6 de abril de 1850 e, por decreto de 11 de marco de 1855, o título honorífico de Tenente Coronel da Guarda Nacional, agraciado, ainda pelo Imperador com a insígnia da Ordem da Rosa.

Assim prestigiado, o Tenente Coronel Francisco Cândido de Brito Lambert comandou a política local com elevação e cordura, conseguindo, por igual, a harmonia constante de toda a população.

Proclamada a República, embora fiel ao grande monarca exilado, a quem deveras venerava, não pode o Coronel Lambert afastar-se da direção política local, em vista da confiança que nele depositavam seus habitantes, municípes e comarcãos. Em suas mãos hábeis se reuniam, então, as aspirações de monarquistas e republicanos.

Por causa disso, o Partido Republicano Mineiro (PRM), então organizado, deu-lhe as rédeas do município e lhe con¬fiou a ordem política de seu povo.

3

Ao falecer, em 16 de maio de 1891, deixou o Coronel Lambert a política de certo modo acéfala, orientada por um grupo de cidadãos do mais alto gabarito moral e cultural: Antônio Evaristo de Brito, Zeferino José de Brito Lambert, Padre Figueiredo Caramuru, Antônio José de Brito Lambert e José Alexandre cie Moraes.

Com o falecimento dos dois primeiros, toma as rédeas da política o Coronel Justiniano Quintino da Fonseca, genro do saudoso Coronel Lambert, descendente de uma das maiores e mais prestigiosas e conceituadas famílias do município. Possuía o Coronel Justiniano predicados admiráveis e senso de direção também digno de apreço. Simples, modesto, alegre, comunicativo, cheio de bonomia, sabia impôr-se — não pela posição elevada que tinha no meio social, mas pela modéstia com que o fazia. Brincalhão, sabia resolver problemas difíceis açucarando-os de bondade e, desprendimento.

Era de ver a maneira com que dava uma pataca ao João Margarida para que, em tantos minutos, fosse de sua casa comercial ao portão do cemitério. Certa vez, e porque lidava com remédios e Chernoviz, pôs à prova as bravatas de um caboclo: preparou num copo a solução de ácido cítrico e noutro copo solução de bicarbonato de sódio. O caboclo engoliu de uma vez a primeira solução e, em seguida, a segunda. A reação se deu no estômago do falante - e pela boca e nariz os gases saíram violentos e sonoros, deixando o tabaréu atônito pelo impacto da reação inofensiva, aliás.

Era especialista e destro na castração de cavalos em plena Praça da Matriz, à vista de uma multidão de curiosos. Deitado o cavalo "inteiro" no gramado da Praça, as quatro patas solidamente amarradas, lavava com água creolinada a região escrotal e, em seguida, com canivete bem amolado, abria, um-a-um, os testículos, retirando-lhes a glândula seminal, que os cães, ignorantes de suas propriedades opoterápicas, apanhavam "no ar" e as deglutiam gostosamente. Isso feito, deitava água creolinada nas cápsulas vazias e dava liberdade ao novo eunuco, que levantando-se pateava de dor e de rebeldia, relinchava e tremia, sacudindo violentamente o pelame eriçado. E era uma vez um garanhão...

O Coronel Justiniano Quintino da Fonseca foi um bom. Autêntico varão de Plutarco.

4

Desaparecido o Coronel Justiniano em 6 de dezembro de 1911, passa a política local a um colegiado — o diretório do PRM, orientado pelo Dr. Carlos Francisco D'Assunção Cavalcanti de Albuquerque, genro do prestigioso chefe falecido. Não houve alteração substancial no ritmo de seus propósito" com a nova ordem política. A cidade era pacata e seu povo ordeiro e simples. Não tiveram óbices o colegiado e seu orientador durante décadas de vivência política. Tudo corria normalmente, a despeito de um que outro incidente ou acontecimento a propiciar alteração na harmonia de seu povo, mas vencido o impasse por ventura ocorrido ou conformada com o inevitável- prosseguia a população no trabalho do dia-a-dia, mais preocupada com a tranqüilidade doméstica do que com os percalços da política.

Mas, nos fins de 1922 abre-se uma brecha profunda no arcaboiço e no ambiente costumeiro da cidade: o Promotor-de-Justiça, Dr. Múcio de Abreu e Lima, sob o fundamento de que não cabia legalmente nem moralmente a um magistrado orientar partido político, organiza grei de oposição, entregando sua chefia ao Major Higino de Oliveira César. Lamentavelmente, no entanto, iniciava-se a nova organização política sob o signo da contradição, pois se ao Juiz-de-Direito vedavam a lei e a moral, justificativas para a direção político-partidária, por igual, esse direito não poderia ser exercido pelo Promotor-de-Justiça, sujeito a idênticas restrições.

O Dr. Carlos Cavalcanti aceitou o desafio e arregimentou seus amigos e correligionários.

Deflagrou-se a luta, salpicada, dia-a-dia, por incidentes que punham em risco a tranqüilidade do município. O Dr. Drauzio Vilhena de Alcântara, Juiz-de-Direito de Pouso Alegre, porque tinha especial apreço por Cambuí, onde iniciara sua vida pública, promoveu entendimentos em favor de um acordo honroso para ambas as partes, vencido, porém, em suas iniciativas.

E a luta prosseguia, aqui-e-ali prejudicada pela paixão partidária, até que, em certa noite de abril de 1923, é brutalmente assassinado em plena Praça Pública o Dr. Carlos Cavalcanti.

A tragédia tremenda abalou os alicerces da competição partidária e repercutiu de maneira insólita por todos os quadrantes do Estado. O indigitado assassino — João Belisário — negou o crime e, como não houvesse testemunha de vista, alcançou absolvição pelo júri local, sentença confirmada pelo Tribunal de Justiça do Estado.

Tempos depois, João Belisário é condenado por latrocínio, pena cumprida na Penitenciária do Estado. Faleceu no Paraná.

O trauma causado pela tragédia terrível de abril de 1923 esfriou o entusiasmo da oposição, que se retirou do prélio, ficando nele, sem qualquer vigor também, o partido da situação, o velho PRM.

Daí por diante, a direção política do município coube a três próceres do situacionismo local: Avelino Cândido de Brito, David Herculano Bueno e Antônio Felipe de Salles. Todos dotados de elevado espírito de transigência e compreensão, souberam curar a ferida e dar-lhe a cicatrização necessária: procuraram, todos, apagar a nódoa que tisnara a história da cidade. Por isso mesmo, não houve vinditas.

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O velho jequitibá prosseguiu sozinho na atividade política do Município, tatibitate, perrengue, até que em 1929 se abre a campanha partidária formada pela Aliança Liberal, possibilitando então a reunificação política de Cambuí, que se forma, por inteiro, nas fileiras comandadas pelo Presidente Antônio Carlos. Seu último diretório estava constituído dos seguintes elementos: David Herculano Bueno, Alfredo Eugênio de Carvalho, Ananias Garcia de Andrade, Sebastião Faustino de Sales, João Antônio do Nascimento, Manuel Pedro da Rosa e Levindo Furquim Lambert.

Na realidade, findou aí a existência demorada do grande partido que deu vida e saúde à república. Vieram as eleições e, em conseqüência da prepotência do governo federal, explode a Revolução de 1930, chefiada por Getúlio Vargas. Triunfante o movimento militar revolucionário, recebe-se, em Cambuí, caloroso telegrama expedido por Oswaldo Aranha, Ministro da Justiça; General Leite de Castro, Ministro da Guerra; Almirante Isaías de Noronha, Ministro da Marinha; Francisco Campos, Ministro da Educação; Batista Luzardo, Chefe de Polícia; e General Góis Monteiro, Chefe do Estado Maior das Forças Armadas, convocando o povo para a consolidação do novo regime.

Reúnem-se então no Clube Recreativo pessoas gradas da cidade c aí, entre aplausos, funda-se a Legião Brasileira "Antônio Carlos", cujo diretório é assim constituído: David Herculano Bueno, Presidente; Dr. José Ferreira Júnior, Vice-Presidente; Levindo Furquim Lambert, Secretário; Antônio de Paiva Júnior, Tesoureiro; membros: Dr. Lívio César, Dr. Poggi de Figueiredo, Benedito Sales, Silvério Bento da Silva e Francisco Perrone Neto. Assinaram essa ata, além dos membros do diretório, os seguintes cidadãos: José Bento, Lindolfo Pedroso de Oliveira, Dario Lisboa, Alencar Garcia Machado, Lacydes Bayeux da Silva, José Francisco do Nasci¬mento, Antônio de Sales Oliveira, Maximiano Lambert, Alfredo de Salles Magalhães, José A. Eiras, Américo de Salles Magalhães, João Batista Salles, Alfredo de Carvalho Agueda, Laudelino Sálvio Eiras, Antônio Anastácio de Moraes, Lázaro da Silveira Lambert e José Faustino de Salles.

6

Teve vida efêmera — ou não teve vida alguma — o partido assim organizado, porque antes de sua arregimentação eleitoral e de seu enquadramento na legalidade, nova revolução abria sulcos profundos na estrutura básica do País e criava perspectivas também novas para os ideais que orientaram a revolução de 1930.

Estalou em São Paulo o movimento constitucionalista que Ibraim Nobre, através de discursos candentes e impressionantes, soube sensibilizar as massas e pô-las em armas para que o país voltasse à normalidade jurídica e democrática. Vencida a revolução, Getúlio Vargas impõe-se então daí por diante ditador indiscutível.

O mandarinato de Vargas se prolonga até 1945, quando três grandes partidos políticos bem avisados se organizam e condensam a opinião pública do País: — o Partido Social Democrático (PSD), a União Democrática Nacional (UDN) e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), em cujas órbitas giram e se digladiam outros pequenos partidos.

No decorrer do tempo, eleições estaduais e municipais, disputadas aqui e ali, iam-se hipertrofiando um e se desgastando outros.

Era manifesta a propensão do eleitorado pelo PSD, malgrado os arroubos oratórios dos udenistas conseguissem as preferências do eleitorado de elite.

Em Cambuí somente o PSD e a UDN lograram êxito — aquele chefiado por José Francisco do Nascimento e este por Milton Salles, várias vezes eleito deputado estadual. O PSD saiu vitorioso na maioria das vezes.

7

Em 1964, no entanto, uma revolução chefiada por Minas Gerais tira o País da desordem e do caos e, por isso mesmo, suprime de uma vez as siglas que indicavam a pluralidade de partidos políticos. Eram permitidos apenas dois partidos, respectivamente, a Ação Renovadora Nacional (ARENA) e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), dos quais somente o primeiro teve organização e vivência em Cambuí. Como a lei adotava o sistema da sub-legenda, dissociou-se a Arena em duas legendas — A e B — a primeira comandada pelo Deputado Milton Salles e José Francisco Nascimento, e a segunda chefiada pelo Deputado Cristóvão Chiara dia, que nas eleições pleiteadas não logrou êxito apreciável .

Registre-se a constituição da Câmara Municipal eleita por ambas as legendas:

Ildeu Lessa de Moura, Presidente; Elpidio Marcos Ferraz, Vice-Presidente;
Maria Nascimento Lambert de Oliveira, Secretária ;
Vereadores: Dr. Bruno Capozzoli, Dr. José Francisco Bueno, Waldomiro S. Rodrigues, Abílio da Silva Oliveira, 
João Ferreira F. de Rezende, Raul Célio de Moraes, José de Lorcnzo Filho e Geraldo Pereira da Roza.

Ao mesmo tempo, foram eleitos o Dr.Braz Meyer, Prefeito, e José Adolfo da Silva, Vice-Prefeito.

8 Serviços diversos

A organização burocrática da Prefeitura está assim constituída:

a) Secretaria, Contadoria e Serviço Militar: Luís Marques Ribeiro;
b) Chefia do Ensino Primário Municipal, da Carteira de Trabalho e NAOF: Cláudio Nascimento Magalhães ;
c) Chefe da Tesouraria: Herculano Morais.

Capítulo VI - Repartições fazendárias

1

Os órgãos arrecadadores federal e estadual, incumbidos de executar também os respectivos orçamentos, foram, de início, centralizados numa só repartição.

As transformações políticas que então se processaram no País, proclamada a República, ao mesmo tempo que, em Cambuí, se instalava o Município e se criava a comarca, imobilizaram, de algum modo e por algum tempo, os serviços pertinentes ao setor financeiro. Passado, porém, o impacto reformista, deu-se empenho em que cada setor tivesse executor e execução próprios.

Assim é que, em 27 de junho de 1892, João Batista Ribeiro e Silva toma posse e entra em exercício no cargo de Coletor, cumprindo-lhe arrecadar as rendas federais e esta-duais, conjuntamente. A acumulação de atribuições num só cargo perdura por certo tempo, até a primeira década do século, quando Antônio da Silveira Lambert recebe a exatoria e, logo depois, biparte-se a repartição, transferindo a Luiz de Paiva Carvalho a seção federal, permanecendo Antônio da Silveira Lambert na direção da Coletoria Estadual.

Dissociadas as repartições, para a Coletoria Federal é nomeado José Amâncio da Fonseca, no cargo de escrivão com exercício até 1923, exonerado a pedido. A partir de 22 de fevereiro de 1924 o cargo de escrivão é exercido por Antônio Anastácio de Moraes, que em 1949 é promovido a coletor em substituição a Luiz de Paiva Carvalho, aposentado por implemento de idade.

Em 1957, em virtude de aposentadoria do titular Antônio Anastácio de Moraes, é removido para Cambuí o coletor Esteliano Pereira dos Santos, que logo depois, transmite o cargo, mediante permuta, a João Simões de Carvalho.

Em 1964 processaram-se sérias modificações na organização fazendária federal, transferindo-se os coletores, hoje exatores, para a antiga Delegacia Regional de Arrecadação, agora também extinta com a criação da Secretaria da Receita Federal.

A exatoria de Cambuí foi anexada ao Posto de Arrecadação da Receita Federal em Pouso Alegre, subordinando-se, por fim, à Delegacia da Receita em Varginha.

Cessa aí, pois, a vida funcional da Coletoria Federal em Cambuí.

2

A Coletoria Estadual funcionou, sem solução de continuidade, desde 1892, quando é nomeado João Batista Ribeiro e Silva, e, a partir da primeira década do século, a cargo de Antônio da Silveira Lambert. A escrivania esteve a cargo de João de Oliveira, Antônio Ornelas e Herculano Afonso Duarte.

Com o falecimento do respectivo titular, em 1935, passa o cargo a Herculano Afonso Duarte e, tempos depois, a João Batista Duarte, tendo como escrivão Aristeu Bueno.

Aposentado o titular efetivo, é o escrivão Aristeu Bueno promovido a coletor. Sucede-o Ademar Cruz e, em seguida, Cândida do Nascimento Paiva, atualmente detentora do cargo.

Seguindo a mesma orientação adotada pelo Ministério da Fazenda, a Secretaria da Fazenda de Minas Gerais promoveu substanciais modificações nas sistemática fazendária estadual. Assim é que Cambuí é agora sede de uma das Unidades da Fazenda abrangendo os municípios de Bom Repouso, Camanducaia, Cambuí, Córrego do Bom Jesus, Estiva, Extrema, Itapeva, Munhoz e Toledo ,

Por sua vez, a unidade sediada em Cambuí se subordina à Administração Distrital da Fazenda (ADF) com sede em Pouso Alegre, sujeita, por igual, à Superintendência Regional da Fazenda em Varginha (SRF).

As hierarquias se confundem tanto quanto se exercem sob orientação quase idêntica, nos regimes federal e estadual.

3

Esta obra pouco pode divulgar sobre a evolução e a organização da exatoria municipal, dada a impossibilidade de conseguir do titular do momento a relação de seus antecessores na repartição, embora para isso se empenhasse até mesmo por intermédio de pessoas amigas.

Sabe-se de oitiva e por achegas históricas colhidas aqui e ali, que o primeiro cidadão nomeado para gerir a exatoria ao ser instalado o município foi Avelino Cândido de Brito, exonerado a pedido em 7 de abril de 1891, sendo nessa mesma data nomeado seu cunhado Joaquim Xavier de Salles, cujo exercício vai até 29 de maio de 1902, quando no cargo, agora com a denominação de Coletor Municipal, é empossado Francisco José Pereira dos Reis.

Em 15 de maio de 1906 volta Joaquim Xavier de Salles à exatoria, sucedido no correr dos tempos por vários cidadãos, à medida que a Câmara recebe também novo Presidente, já que o cargo é de confiança. Francisco Pedroso de Oliveira, João Sebastião de Salles Fanuchi, Armando Alves Franco, Herculano Duarte de Moraes, Luiz Evangelista Ran¬gel Padilha, entre outros, têm exercício temporário. No momento, chefia a Tesouraria da Prefeitura o servidor Herculano Duarte de Moraes.

A relação é incompleta pelos motivos expostos e a que aí figura não obedece ordem cronológica. Enfim..., fiat volantas tua!

ICM

"A Secretaria de Estado da Fazenda, pela Resolução n.9 271, de 3 de janeiro de 1973, fixou definitivamente os índices percentuais para os municípios, na arrecadação do ICM para 1973. Para o cálculo dos índices foi somada a produção dos 722 municípios e chegou-se à produção anual de todo o Estado. Depois, a produção de cada município foi multiplicada por 100 e o resultado foi dividido pelo total da produção do Estado, obtendo-se o seu índice." (Do Estado de Minas, de 9 de janeiro de 1973) .

Os índices alcançados pelo município de Cambuí são os seguintes em 1973:

Código: 106
Valor agregado fiscal: Cr$ 1,00: 3.767,318
Índices percentuais: 0.096,125

Capítulo VII - Da educação e ensino

O ensino primário

O ensino primário na segunda metade do Século XIX caminhou lentamente, sem possibilidade de desenvolvimento, em virtude de vários fatores negativos. De modo geral, basta lembrar que em 1827, pouco antes de ser Cambuí elevado a Curato, só havia em toda a província trinta e três (33) es¬colas primárias, percebendo o professor cento e cinqüenta mil réis por ano...

Em 1835 se deu a publicação da primeira lei regulando o ensino primário público, que era, aliás, ministrado quase que exclusivamente a alunos do sexo masculino, sendo vedado ainda a escravos.

Em 1842, a população escolar, no País não ia além de 6.869 alunos, dos quais 637 apenas eram do sexo feminino. Decresceu em virtude das lutas políticas revolucionárias, que redundaram em árdua perseguição aos elementos filiados ao partido liberal, entre os quais se encontrava grande número de professores.

Já em 1861 a situação se modificava: entre 12.815 alunos, 10.383 eram do sexo masculino e 1.543 apenas eram meninas. E em 1889, ano da Proclamação da República, os dados referentes aos alunos matriculados eram estes (1):

meninos		28.418
meninas		15.168
total		43.568

(1)Apud "O ensino em Minas Gerais no tempo do Império", de Paulo Krugger Mourão de Miranda.

Verifica-se uma grande diferença entre meninos e meninas .

A explicação está na mentalidade dominante na época, quanto à instrução a ser dada aos filhos do sexo feminino. Nenhum interesse dos chefes-de-família nesse particular. O ensino primário era ministrado quase que exclusivamente a alunos do sexo masculino.

* * *

No período de 1850 a 1889 em que Cambuí foi simplesmente freguesia ou paróquia, havia em funcionamento ape¬nas uma escola primária pública, para meninos, de que era titular, inicialmente, o Professor Tristão Francisco Godoy Leite, substituído, em 1860, pelo Professor Joaquim José de Moraes, irmão de Alexandre José de Moraes, que teve atuação distinta em Cambuí. Nenhuma escola para alunos de sexo feminino.

O ensino era supervisionado por Delegado de Instrução, que detinha uma soma bastante ampla de atribuições, aliás, justificadas, dadas as dificuldades de comunicações entre localidades longínquas e a sede do governo provincial. Uma notícia de Cambuí a Ouro Preto, a cavalo, levava meses a fio, sem o pronunciamento das autoridades superiores. Nesse caso, o Delegado de Instrução agia de maneira de¬cisiva na sua circunscrição .

Cambuí pertencia ao 15º Círculo Literário, com sede em Camanducaia, sendo Delegado na freguesia o Capitão Antônio José de Brito Lambert.

Os requisitos exigidos para a contratação de profes¬sor público de curatos e freguesias se restringiam, apenas, à comprovaçãe de idoneidade moral (Paulo Krugger Mourão de Miranda, obr. cit.).

* * *

Em l.9 de setembro de 1888 entrou em exercício o Professor Maximiano José de Brito Lambert, filho cia localidade, então recentemente formada pela famosa Escola Normal de Campanha. Trazendo idéias e práticas novas, oriundas de um meio do mais alto teor cultural e social, iniciou o jovem mestre um tirocínio magisterial revolucionário para a época, colhendo resultados que o tornaram querido de muitas gerações, pois que seu apostolado se encerrou em 1920, depois de 32 anos de exercício.

Removida de Cabo Verde por ato de 12 de outubro de 1892, toma posse da classe primária feminina a normalista Ana de Sales Magalhães, na data de 24 de dezembro de 1892.

* * *

O ensino, que era inicialmente individual, passou a ser feito pelo sistema misto, em que, enquanto um grupo de alunos preparava exercícios escritos, outro grupo recebia aulas de Linguagem e Leitura ou de Aritmética Elementar.

Havia, por isso, um "decurião", aluno mais adiantado prestando ajuda ao mestre e que, entre 1903 e 1904, era João Moreira Salles, tempos depois magnata do comércio nacional e grande benfeitor de sua cidade natal. Cabia ao "decurião" auxiliar o professor no controle de leitura individual do estudante, passando-lhe ao mesmo tempo exercícios e colhendo-lhe resultados.

A escola funcionava numa dependência do prédio do Paço Municipal, na Rua Capitão Soares, esquina com a Rua Coronel Lambert.

Não havia mobiliário adequado nem mesmo quadro--negro, mas "pedras" ou "lousas" individviais, nas quais os alunos faziam exercícios e resolviam problemas nas quatro operações fundamentais. No centro da sala, uma grande mesa em torno da qual, nos seus três lados, porque na cabeceira se punha o Mestre, aboletavam-se os alunos, acotovelados, para os exercícios escritos. Encostados às três paredes da sala, bancos compridos em que os alunos, em adiantamentos heterogêneos, sem qualquer classificação por série, sentavam-se lado-a-lado e ombro-a-ombro.

Dava-se ênfase especial à leitura manuscrita, para a qual havia livros especiais trazendo os mais variados tipos de caligrafia, desafiando a capacidade mnemônico-visual dos alunos.

Abolira-se a palmatória. Não havia instalações nem mesmo fossas sanitárias. As necessidades fisiológicas dos estudantes eram feitas em matagal próximo à escola, nos fundos da casa de José Antônio Eiras, e a saída dos alunos era controlada por dois caramujos postos sobre a mesa, ao lado do Mestre. Só era permitida a saída de dois alunos por vez, carregando cada qual seu "caramujo." Cantavam-se nos últimos tempos, a "Marselhesa" (em francês) e um Hino a Minas Gerais, já que, por esse tempo, o Hino Nacional Brasileiro ainda não recebera a bela poesia de Duque Estrada.

O período escolar, diário, era de quatro horas, inclusive aos sábados.

No Governo João Pinheiro, o então Secretário Carvalho de Brito, fez despachar para as escolas da cidade farto e magnífico material

didático. As carteiras duplas, novidade nas escolas mineiras, fizeram sensação. As salas-de-aulas, de meninos e meninas, foram totalmente cheias desse mobiliário, ao mesmo tempo que quadros-negros, globos terrestres, mapas diversos cobriam as paredes internas da sala. E o professor recebia, por seu turno, livros didáticos e instrumentos diversos que o capacitavam para o melhor desempenho de seu magistério. Abria-se, de fato, uma era nova para o ensino mineiro.

Na última década do século passado instalou-se nova escola pública feminina, a cargo de Dona Nicota Eufrázio de Toledo. Professora de raras qualidades e notáveis métodos didáticos, inaugurou também em Cambuí um tipo de escola em que, às exigências da instrução, propriamente dita, juntavam-se as particularidades da educação, edulcorada em técnica de requintes de delicadeza e finura de trato social. Por essa escola passou um grande número de alunas que são hoje venerandas matronas de nossa sociedade. Funcionava 110 prédio da Rua Coronel Lambert onde hoje reside a Professora Dolores Padilha Lambert.

Com a transferência de Dona Nicota veio a substituí-la a Professora Mariana Silva Oliveira, em 1906, removida de Brasópolis. A sala-de- aulas continuou no mesmo prédio, à Bua Coronel Lambert, até que, em 1912, criado o primeiro grupo escolar na cidade, foi essa classe integrada no novo educandário.

Do ensino primário pela municipalidade

Foi verdadeiramente notável a atuação da Câmara Municipal, após sua instalação, nos domínios da instrução. Na data de 26 de janeiro de 1892 baixava Lei regulamentando o ensino primário na órbita municipal. Essas instruções imprimiam um cunho revolucionário ao regime escolar. Diziam assim alguns de seus dispositivos:

Art. l - Criar-se-ão em cada paróquia tantas escolas quantas forem necessárias à população.
Art. 2 — Na impossibilidade de criarem-se cadeiras para um e outro sexo, serão criadas escolas mistas, regidas por professoras.
Parágrafo único — É proibida a frequência de alunos maiores de 12 anos nas escolas mistas.
Art. 4 — Nas escolas cuja frequência de alunos for superior a sessenta, a professora poderá requisitar da Câmara um ajudante 
mediante retribuição mensal.
Art. 6 — Todos os utensílios da escola serão fornecidos pela Câmara.
Art. 7 — A sala-de-aula será espaçosa, vasta e bem arejada.
Art. 8 — O edifício da escola será constituído pela Câmara em lugar por ela determinado, tendo cômodo à freqüência dos alunos e 
residência do professor.
Art. 10 — O fornecimento de livros renovar-se-á toda a vez que o professor julgar necessário."

E fixando as disciplinas a serem ministradas, assim dispõe:

Art. 32 — Constará o ensino das seguintes matérias:

1º - Instrução Moral e Cívica; 
2º - Leitura e escrita; 
3º - Noções de gramática portuguesa; 
4º - Rudimentos de aritmética  até frações decimais, inclusive sistema métrico decimal; 
5º - Noções de geografia geral e do Brasil; 
6º - Noções de História do Brasil;
7º - Noções práticas de desenho linear e geométrico;
8º - Nas escolas mistas, haverá trabalho de agulha e de economia doméstica."

Como se vê, nascia a Câmara Municipal de Cambuí — há 80 anos passados — bem orientada, trazendo nas suas leis aquilo que de melhor se apurava no tempo, observando-se que exigindo, em 1892, obrigatoriamente, no currículo escolar, "Instrução Moral e Cívica", só agora, em 1972, as leis federais e estaduais estão a dar caráter obrigatório a essa disciplina nas escolas de lº e 2º graus.

Registre-se ainda o alto espírito de amor à causa do ensino o seguinte dispositivo do regime tributário do novo Município, aprovado também pela Lei Municipal de 20 de setembro de 1892:

Art. 2º — Fica criada mais a tabela B de impostos que serão destinados ao fundo escolar de instrução primária que denominar-se-á Taxa Escolar. A quota líquida destinada ao fundo escolar não poderá ser aplicada em negócios estranhos à instrução."

E, por fim, tabela B assim discriminada:

Taxa Escolar
Imposto anual
Por cada agricultor que plantar milho, feijão, arroz ou fumo	 2$000
Por cada comprador e exportador de fumo         	        40$000
Dito de café	                                                40$000
Dito de galinhas, milho, feijão e arroz                         40$000

Nascia, pois, o município bastante avançado no tempo.

O primeiro grupo escolar de Cambuí

O primeiro grupo escolar de Cambuí foi criado pelo Decreto nº 2.813, de 24 de abril de 1910, e instalado em 1º de fevereiro de 1912, recebendo o nome de Dr. Carlos Cavalcanti por ato de 28 de outubro de 1911. Por ato de 17 de junho de 1910 foi o Professor Maximiniano José de Brito Lambert nomeado seu primeiro diretor. A classe feminina da Professora Mariana Silva Oliveira, já em funcionamento na cidade, foi incorporada ao novo estabelecimento, nomeadas ainda as Normalistas Lucrécia Vilhena de Alcântara e Ana Silva. Foi nomeado porteiro José Pedro Vieira da Silva, pouco depois substituído por João Evangelista de Salles.

A instalação foi feita com grandes solenidades, falando na ocasião diversos oradores.

Nascia assim o novo educandário sob os melhores auspícios, quer pelo alto gabarito de seu corpo docente, quer pelo entusiasmo com que o acolheu a população da cidade. Abria-se para a educação da infância cambuiense uma era nova.

Vem dai a boa notícia que o jornal O Correio do Sul, de Jaguari, em 1913, publicava cheio de entusiasmo.

A festa da Bandeira realizada no dia 19 do corrente na vizinha Cidade de Cambuí veio pôr em relevo o quanto os cambuienses 
são patriotas, amantes da instrução e do progresso de sua terra: tal o brilhantismo, entusiasmo e harmonia que reinaram em todas 
as solenidades efetuadas no Grupo Escolar Dr. Carlos Cavalcanti.
O Professor Maximiano José de Brito Lambert, operoso, inteligente e dedicado Diretor do Grupo Escolar não poupou esforços
nem  sacrifícios para o maior realce dessa festa cívica em honra ao nosso Pavilhão em homenagem ao símbolo de nossa adorada
Pátria. Para isso concorreram  as distintas professoras Lucrécia Alcântara Moreira Salles e Ana Silva, que chegam a ponto de
vestirem, à custa própria, algumas de suas alunas pobres.
Início da Festa: às 11 horas da manhã do dia 19 do corrente, ao som do Hino Nacional, a Bandeira foi hasteada na porta do
edifício do Grupo, sendo delirantemente saudada pelos alunos do estabelecimento, os quais, devidamente uniformiza-dos de
branco com faixas auriverdes à tiracolo, mostravam a boa ordem e disciplina que sempre predominavam naquele templo do saber.
Às 4 horas da tarde, em frente ao majestoso edifício, reuniu-se novamente o povo com a formatura, em alas, dos alunos, 
fazendo-se a saudação à Bandeira. Nessa ocasião, inúmeros "Vivas" foram levantados aos Exmos. Srs. Presidente 
do Estado, Dr. Delfim Moreira, e à República. Em seguida, precedido da Corporação Musical "Carlos Gomes", formou-se um 
imponente préstio conduzindo em triunfo pelas ruas o Pavilhão Nacional.
Essa procissão cívica em que figurava o infatígável diretor do grupo, suas distintas auxiliares, o Sr. Inspetor Escolar,
alunos, Corporação Musical e povo, foi cumprimentar ao Exmo. Sr. Dr. Carlos Cavalcanti, Juiz-de-Direito da Comarca, polo 
muito que tem leito em prol da instrução naquela cidade.
Ao chegar o préstito à sua residência, o Exmo. Sr. Dr. Carlos Cavalcanti incorporou-se ao mesmo, levantando vivas à 
Bandeira Nacional, ao Exmo. Sr. Cel. Júlio Bueno Brandão, ao Exmo. Sr. Secretário do Interior, ao Grupo Escolar e ao povo de Cambuí.
À Noite -  Ao anoitecer já o "Recreio Cinema" (Prédio   hoje   ocupado   pelo   Mercado   Municipal.), caprichosamente 
iluminado, atraía as visitas de todos que convergiam para  aquela casa de diversão, a fim de assistirem à continuação das 
festas, cujo programa foi fielmente observado.
O palco estava deslumbrante e o seu conjunto era de um efeito surpreendente e admirável bom gosto que presidiu a colocação 
de cortinas, bandei-rolas e flores artisticamente manufaturadas.
As Professoras Lucrécia Moreira Salles e Ana Silva são dignas dos maiores elogios pelo auxílio que prestaram ao Diretor do Grupo
na realização do magnífico programa que abaixo transcrevemos:

Primeira Parte:

I - "Pátria" — poesia por Natália Moraes.
II -"A Bandeira Nacional" — cena escolar em verso tendo por personagens Maria' José Duarte, Dolores Padilha, Maria José Lambert,
Maria Amélia dos Santos, lolanda Bianchi e Orziela Tavares.
III - "Amanhã", poesia por Antônio Marques de Souza, e "Marechal Floriano", declamação por Waldomiro Lambert.
IV - "Caridade" — comédia com as personagens:   Professora,   Natália   Moraes,   Dona   Maria, por Isabel de Oliveira;
José, aluna Cora Pereira; e Alzira, aluna Maria Amélia dos Santos.
V - "Lavandeiras" — coral pelas alunas Natália Moraes, Dolores Padilha, Maria Duarte, Maria Marques, Maria Magalhães,
Otília Tavares, Maria Lambert, Maria Amélia dos Santos, Iria Tavares, Maria da Conceição   Fonseca, Conceição   Salles,
Sebastiana   Marques, Maria Lopes, Maria E.dos Santos, Conceição Cavalcanti, lolanda Bianchi, Ana Duarte, Isabel   Oliveira, 
Maria   Felipe,   Damásia Padilha e Cora Pereira.

Segunda Parte:

I - "O meu Dever"  — recitativo por Maria Porfírio  Marques.
II - "Se dependesse de mim" -- monólogo por Iria Tavares.
III -"Ramos de Flores" — comédia com as seguintes personagens: Euflozina — por Dolores Padilha; Gabriela — por Otitia Tavares;
Luiza — por Maria José   Duarte; Sidonia — por Maria Porfírio   Marques;   Augusta   —   por   Natália   Moraes; Maricota -  
por   Ana   Duarte;   Rosinha  - por lolanda Bianchi.
IV - "Dia dos Anos" — monólogo por Maria Lambert.
V - "As duas colegiais" — diálogo por Maria Porfírio Marques e Maria do Espírito Santo Lambert .
VI - "Mamãe não deixa" — canção por Maria   José   Lambert,   Maria   Amélia   dos   Santos   e Conceição Salles.
VII - "Discurso"  — por João  Sebastião  de Salles Fanuchi.
VIII - "Bailado" — por um   grupo de alunos.
IX -"Hino Nacional" — coral por Idalina de Oliveira, Orziela Tavares, Iracema Lambert, Ana Conceição, Rosinha Moraes,
Conceição    Cavalcanti, lolanda     Bianchi,  Izaira  Lopes,  Maria   Lambert, Cora   Pereira,   Manoela   Marques,
Francisca     Pereira, Diva   Tavares,   Maria   Conceição   Fonseca, Maria E.    do Santos, Maria Amélia Santos,
Maria José   Lambert,  Iria   Tavares,   Maria   Magalhães, Maria   Porfírio  Marques,  Maria  José  Duarte,  Dolores Padilha,
Natália Moraes e Otilia Tavares.
Terminando esta descrição cumpre-nos agradecer o honroso convite que recebemos do professor Maximiano José de Brito Lambert,
ao grupo escolar que proficientemente dirige, às respectivas Professoras e ao povo de Cambuí.

Essa reportagem longa e minuciosa, publicada há sessenta anos passados, comprova o alto nível do ensino ministrado no grupo escolar da cidade. A notícia tem agora o sabor de lembrar nomes queridos de quem já não está entre os vivos e de outras venerandas matronas ainda atuantes na sociedade local.

Em 21 de março de 1920, o Professor Maximiano José de Brito Lambert transmitiu a diretoria do Grupo Escolar - professora Estefania Ribeiro de Menezes, após 32 anos de serviço público no magistério. Aposentava-se.

A nova diretora, inteligente e esforçada, seguindo as pegadas de seu antecessor, procurou manter o impulso inicial dado ao organismo educacional que lhe foi confiado. Foi eficiente.

Não sendo professor normalista, mas efetivada, foi substituída na direção do estabelecimento pelo professor Francisco Amaral de Menezes, em 21 de junho de 1921, que, aliás, entrou logo em licença por motivo de saúde, sendo exonerado, a pedido, em 3 de abril de 1929. Nesta mesma data foi nomeado para o cargo o professor Francisco de Melo Franco, que se removeu também poucos meses depois. O Professor Pedro Brant Filho nomeado em seguida não tomou posse.

Em 26 de agosto de 1923, veio de Aiuruoca, removido, o Professor Antônio Hormisdas de Magalhães, que teve atuação destacada no exercício do cargo, fazendo mesmo excelente administração. Foi aposentado em 17 de outubro de 1930.

Sucede-o na diretoria, removida de Cristina, a professora Francisca Gomes de Barros, empossada em 22 de novembro de 1930 e, finalmente, aposentada em 4 de outubro de 1937.

* * *

Com o falecimento do porteiro João Evangelista de Salles foi nomeada para o cargo Isabel Praxedes de Salles, sendo, no entanto, substituída eventualmente por Olímpio Leite Nogueira. Em 18 de agosto de 1923, é nomeada Ana Salles para o cargo de Porteiro, de que se exonerou para ser substituída por João Batista de Salles, em 31 de outubro de 1929, ao mesmo tempo que Maria do Carmo Duarte era nomeada servente.

* * *

No período de gestão do Professor Hormisdas constituía o corpo docente do estabelecimento as Professoras Carmen Pereira Fanuchi, Elinira Silva Pereira, Alzira de Melo Alvim, Maria da Glória Ferrer, Déa de Moraes, Dolores Padilha e Aurora Lambert.

Da instalação do educandário até 1930, em classes vagas ou em períodos de licenças dos respectivos titulares, tiveram exercício interinamente ou mediante contrato: José Pedro Vieira da Silva, Maria José Furquim Lambert, Helena de Montreuil Mineiro, Maria Aparecida Nascimento, Maria da Conceição Oliveira, Efigênia Lambert, Hosina Moraes, João Sebastião de Salles Faiuichi, Jovina de Montreuil, Maria da Conceição Moraes, Brasilina Ferrer, Isaura da Silva Pereira e Alice de Salles Fanuchi.

Da sua instalação, em 1912, até 1972, o estabelecimento teve a seguinte direção:

  1. Maximiano José de Brito Lambert, de 1912 a 1920,
  2. Estefania Ribeiro de Menezes, de 1920 a 1922.
  3. Antônio Hormisdas de Magalhães, de 1923 a 1930,
  4. Francisca Gomes de Barros, de 1931 a 1937,
  5. Carmen Pereira Fanuchi, de 1937 a 1915,
  6. Déa de Moraes, em 1915 e 1916,
  7. Maria do Nascimento Lambert de Oliveira, de 1946 a 1967, e
  8. Nilta D'Onofrio de Carvalho, exercício a contar de 1968.

Em todo esse período tiveram exercício no estabelecimento as seguintes professoras titulares: Dolores Padilha, Elimira Silva Pereira, Ana Bueno (I), Aurora Lambert (removida para Belo Horizonte) Dulce de Carvalho, Maria da Glória Ferrer, Amélia Lambert, Euflausina Tereza de Moraes, Maria de Lourdes Magalhães, Maria Luiza Lima, Ma¬ria do Nascimento Lambert. Maria José de Carvalho, Ana Bueno (II) Maria Imaculada Magalhães, Lucy do Carmo Moraes, Luiza Ramos, Maria Aparecida de Paiva Bueno, Marialva Alves de Carvalho, Mariana Amaral, Maria Aparecida de Carvalho Ferraz, Maria Virgínia Lambert, Maria Cecília Lambert, Ana Romano Bueno Ferreira, Faina Divina Ferreira, Adair Pereira Borges, Maria José Medeiros, Rosalina Medeiros Borges, Ivone Stela Bueno e Neusa Maria de Oliveira.

* * *

Na data de 8 de fevereiro de 1946 foi nomeada para o Grupo sua primeira diretora técnica, a Professora Maria do Nascimento Lambert de Oliveira, após conclusão de curso realizado na Escola de Aperfeiçoamento Pedagógico do Estado, em Belo Horizonte. A partir de então, passou o estabelecimento por profundas modificações no seu sistema pedagógico, pois que sua diretora pôs em prática métodos, técnicas e processos auridos no renomado instituto padrão do Estado, quiçá do País, na esteira da pedagogia moderna .

Ao encerrar sua brilhante gestão, deixou a Professora Maria do Nascimento Lambert de Oliveira um lastro de serviços que a recomendam à gratidão do povo de sua terra.

Depois de aposentada a excelente diretora, o Grupo Escolar ficou assim constituído:

Nilta  D'0nofrio   Carvalho,   diretora,
Terezinha de Jesus Fanuchi Ferreira, auxiliar de diretoria,
Alice de Jesus Fanuchi Oliveira, auxiliar do curso supletivo,
Lúcia de Salles Nascimento  Carvalho, auxiliar de escrita,
Elza Maria Lambert, substituições eventuais,
Neusa de Melo Venturelli, artes plásticas,
Denise Aparecida de Moraes Marques, bibliotecária,
Maria tia Conceição Moraes, canto orfeônico.

Professoras regentes de classe:

Maria Edina Marques Moraes, Maria Heloísa de Moraes, Maria Cecília Barbosa Ferreira, Maria Aparecida Cavalcanti Franco, Maria Benedita de Oliveira, Maria Luzia Medeiros Cunha, Aurora Medeiros de Faria, Marialva Alves de Carvalho, Rosalina Medeiros Borges, Maria de Lourdes Lambert Duarte, Hedy Maria Bueno Cruz, Adair Medeiros Ramos, Maria do Carmo Lambert Duarte, Célia Benedita de Oliveira, e Mercedes Teixeira Di Lorenzo.

Professoras substitutas:

Nita Marques Chagas, Celina Presciliana de Toledo, Helena Maria de Carvalho, Maria José Dias, Célia Dalagnoli, Aracy Conrado da Silva, Maria Letieia Figueiredo, Ana Ferreira e Terezinha Míriam Lambert dos Santos.

Servidores Administrativos:

Expedita Alves da Cunha, Conceição Moreira da Silveira, Maria Aparecida de Paiva, Maria Aparecida Brandão dos Santos e Rita Lopes Padilha.

Biblioteca: 4.500 livros, homenagem ao Dr. José Guilherme Eiras.

O segundo grupo escolar da cidade

O segundo Grupo Escolar da cidade foi criado pelo Decreto nº 6.907, de 29 de março de 1963 e instalado dia 12 de junho de 1964. A Lei nº 2.707, de 21 de dezembro de 1962, deu a esse estabelecimento a denominação de "Juca Pinto". Sua direção e seu corpo docente estão assim constituídos:

Luiza Ramos, diretora,
Laine Divina Ferreira, auxiliar de diretoria,
Noemia Aparecida de Almeida, substituições eventuais.

Professoras:

Maria Antonia Louzada, Maria Ferreira da Silva, Ivete Martins Faria, Aracy (Piorado da Silva, Maria da Conceição Martins, Vera Lúcia Ferreira Dias, Carmelina Aparecida Lambert, Tereza Sônia Ribeiro Mercedes de Almeida Costa, Ondina Lopes Bello, Ruth de Oliveira Tavares e Marilda Aparecida Borges.

Serventes: Maria de Lourdes Simões, Maria Aparecida Froes, Maria Conceição Roque e Afaria Conceição de -Jesus Teodoro.

O terceiro grupo escolar da cidade

Com a denominação de João Lopes, dada polo Decreto nº 8.710, de 17 de setembro de 1965, foi criado o terceiro Grupo Escolar da cidade, Decreto nº 8.679, de 9 de setembro de 1965, instalação realizada dia 16 de agosto de 1967. Sua direção, seu corpo docente e seus servidores administrativos estão assim constituídos:

Maria  Virgínia Lambert, diretora técnica, 
Maria  Aparecida   de   Paiva   Bueno,   auxiliar   de   diretoria, 
Neyde  Nascimento Veulurelli,  substituições   eventuais, 
Vera Lúcia Ribeiro da  Silva, substituições eventuais.

Professoras:

Amélia Maria de Paiva Fanuchi, Maria Cecília Lambert Pereira, Iara Maria de Oliveira Ribeiro, Eliana Maria Lambert de Oliveira, Nancy Aparecida de Moraes, Maria Aparecida da Silva, Neuza Marí de Oliveira Tatero, Maria das Graças Brito Marques, Maria Alves Pereira Camargos, Maria Elizabclh dos Santos, Marina Marques Nascimento, Marilene Salles, Maria Lctícia Ferreira, Benedita Aparecida de Souza, Palmira do Carmo Paiva Fanuchi, Isabel Duarte Bueno, Ivone Stela Bueuno e Célia Dalagnolli.

Biblioteca:Dona Ana Bueno - 619 livro.

Serventes :Maria da Conceição Nunes Paiva e Tereza Ferreira Lima.

Ensino rural

No período imperial não havia qualquer interesse da província pelo ensino rural. Era mesmo inexistente, salvo em caráter privado, mantido por fazendeiros, que se cotizavam para a remuneração do mestre. Dadas aos alunos, quase sempre só meninos, as quatro operações fundamentais, e conseguidos os garranchos da assinatura - lá ia o professor para outro reduto, mascateando a sua sabença...

Já na República, mal instalada a Câmara Municipal, são fixadas normas para a criação e o funcionamento do ensino rural, criando-se escolas em vários bairros, assim dispondo a Lei Municipal em 7 de abril de 1895:

Art. 1º Ficão creadas três escolas primárias ruraes no distrito da cidade, sendo as mesmas pela seguinte forma:
A primeira denominada Tenente Coronel Fonseca no Bairro da Serra,
A segunda denominada Capitão Soares na Fazenda do Bom Sucesso,
A terceira denominada Coronel Lambert no Bairro da Roseta.
Art. 2º - O ensino será o mesmo estatuído no Regulamento Escolar da Lei nº 10.
Art. 3º - As cadeiras serão postas em concurso e não aparecendo opositores às mesmas serão estas mantidas por pessoas habilitada à 
juízo da Câmara, independente de prestar exame, os quais exercerão esse cargo interinamente."

E dentro desse diploma legal, são nomeados Domingos Cláudio Afonso, em 3 de janeiro de 1896, para as cadeiras de Portão e Rio do Peixe, e José Laudelino, em 4 de abril de 1898, para o Bairro dos Vazes.

Enquanto o governo provincial primava, na ocasião, em negar à população rural os benefícios do ensino — a municipalidade incipiente, mal nascia, estabelecia regime avançado no atendimento ao grande problema. E somente depois de trinta e tantos anos — em 1927 — o Estado toma a si, no governo Antônio Carlos, o encargo de instruir a população rural.

Foram então instaladas, em 1927, escolas públicas nos seguintes bairros:

Vazes - Professora Maria da Silveira Lambert, S. Sebastião dos Campos - Professoras Maria Vitorino de Souza e Magnólia de Melo.

Portão — Professora Ana Bueno,

Água Comprida - Professora Lázara Pereira Coutinho,

Lambert - Professora Eugênia Lambert,

Bom Sucesso - Professora Maria da Conceição Ferreira,

S. Domingos - Professoras Benedita Carvalho e Edith Magalhães,

Cachoeira - Professora Syria Guimarães,

Nunes - Professora Amélia Lambert,

Serra do Cabral - Professora Floripes Nascimento Bueno,

Braço-das-Antas - Professora Maria do Espírito Santo Duarte,

Vargem-dos-Ilhéus - Professora Maria da Conceição Moraes,

Cemitério - Professora Agueda de Moraes,

Boa Vereda -Professora Maria José de Assis, e

Brandões - Professora Sebastiana de Andrade.

Todas essas escolas foram mantidas pelo Governo Estadual e fiscalizadas pelo Diretor do Grupo Escolar da cidade.

Coroando essa bela obra, o Governo Federal, tempos depois, fez construir prédios típicos em Água Comprida, Rio-do-Peixe, Serra do Cabral e Vazes. Mas mirabite dictu — são todas essas escolas suprimidas em conseqüência dos transtornos financeiros criados pela Revolução de 1930...

O interregno de ausência de escola pública estadual foi longo, só preenchida a grave lacuna pela interferência oportuna da Prefeitura Municipal, que instalou, por verbas próprias, escolas em vários bairros do município.

O registro de escolas rurais na Secretaria de Estado da Educação acusa, em 1972, as seguintes escolas primárias instaladas em bairros do Município de Cambuí:

Mantidas pelo Estado:

  1. Água Comprida - Professoras Maria José Marques, Conceição Almeida e Maria do Carmo Dias.
  2. Rio-do-Peixe - Professoras Benedita Doleste Almeida, Terezinha Sônia de Jesus, Olinda de Almeida e Mariana Aparecida do Nascimento.

Mantidas pela Prefeitura Municipal:

  1. Vazes - Professora Ivalquíria Aparecida Bueno Lambert
  2. Anhumas - Professoras Rosana Aparecida Bueno e Benedita Cândida Brandão
  3. Congonhal — Professoras Ana Silvério Almeida e Benedita Doleste Almeida
  4. Lopes — Professoras Terezinha Resende de Souza e Ana Maria Tavares
  5. Portão — Professoras Nair Marques Ferreira e Aparecida Clorado da Silva
  6. Vargem-dos-Ilhéos - Professoras Cacilda Aparecida de Souza e Bernardina Gonçalves de Souza
  7. Bom Sucesso - Professora Ana Almeida Borges
  8. Braço-das-Antas - Professora Ana Maria de Faria
  9. Cachoeirinha — Professora Maria Antonia do Prado
  10. Caxambu - Professora Benedita Rosa de Jesus
  11. Fonsecas - Professora Rosa Maria Bertolaccini
  12. Lambert - Professora Aracy Clorado da Silva
  13. Manoel - Professora lolanda da Silveira Ferreira
  14. Mata - Professora Conceição dos Santos Almeida
  15. Meia Légua - Professora Luzia Moraes
  16. Nunes-de-Baixo - Professora Marlene Aparecida Marques
  17. Nunes-de-Cima —- Professora Sebastiana de Jesus Barroso
  18. Pessegueiros —- Professora Conceição Dias da Silva
  19. Rosas I -Professora Nilta Marques Lambert
  20. Rosas II -- Professora Rosa Maria da Silva Marques
  21. São Manoel - Professora Carmelina Aparecida Lambcrt
  22. Serro — Professora Rosa Sabino Dias.

Distrito de Senador Amaral (sede): Escolas Combinadas :

Adail Bueno (diretora), Professoras Maria da Conceição Cor-rietta, Salete Cândida de Resende, Dulcineia Santana Veiga Resende, Benedita Aparecida de Faria, Aracy de Oliveira Rodrigues, e na função de Servente, Maria José de Souza. Escola* Rurais Distritais, mantidas pela Prefeitura:

  1. Serra do Cabral - Professoras Olivia Cabral Moreira e Nair Maria da Fonseca
  2. Ponte Segura - Professoras Maria José da Silva e Ovidia Maria da Silva
  3. Três Saltos - Professora Inês Marculina das Chagas

Observação: As Escolas Combinadas da Sede do Distrito de Senador Amaral, mantidas pelo Estado, funcionam em prédio próprio, construído pelo Prefeito José Francisco do Nascimento.

O Minas Gerais, de 19 de novembro de 1965 publicou a criação de Escola Infantil Combinada na Cidade de Cambuí, não sendo, porém, instalada por falta de acomodações próprias, embora provida do melhor mobiliário especializado.

Ensino secundário e ensino particular

Foi quase nula a intervenção oficial, antes da República, em favor do Ensino Secundário. As populações do interior da província, notadamente, estavam privadas de institutos de grau médio, destinados à educação e à cultura dos adolescentes.

Em Cambuí chegou a funcionar, no entanto, em 1884, um colégio objetivando a instrução primária e secundária, sob a direção do Professor José Villa Maria, que prestou relevantes serviços à mocidade de então.

Proclamada a República, instalou-se na cidade um externato dirigido pelo notável educador José Guilherme Cristiano, de pouca duração, pois seu dirigente foi atraído por Bragança, ocde se fez estimado por seus predicados pessoais e pela obra desenvolvida em beneficio do ensino e da cultura.

Em 1905, o Padre Agostinho Martell cria um externa-to em Cambuí, fazendo funcionar o 1º ano equivalente ao curso ginasial. São Professores: José Alexandre de Moraes, de Português; Dr. Caetano Ferreira Pinto Malheiros, de Geo¬grafia e História; Maximiano José de Brito Lambert, de Aritmética; Dr. Carlos Cavalcanti, de Francês; e Padre Agostinho Martell, de Religião e Moral e Cívica. Com o falecimento do Dr. Malheiros, grande animador do estabelecimento, o Padre Martell desloca-se para o interior de S. Paulo, e o novel educandário encerra suas atividades.

Na primeira década desde século, a Professora Analia de Brito Lambert mantinha superlotada classe de ensino primário particular, desenvolvendo aí excelente ensino, cumpridas as exigências do programa oficial fixado por Lei da Câmara Municipal.

Mas é somente em 30 de janeiro de 1956, pela Lei Estadual nº 1.439, que, por iniciativa do Deputado Milton Salles, é criado o Colégio Estadual de Cambuí, com a denominação de Antônio Felipe de Salles, dada pelo Decreto nº 5.101, de 6 de dezembro de 1968.

Abriam-se para a população local e seus vizinhos perspectivas novas e alvissareiras no tocante ao desenvolvimento da cultura c das possibilidades que o ensino de segundo grau oferecia aos pretendentes a cursos universitários. Por igual, incorporava-se ao novo instituto curso especializado para a formação de professores de ensino primário, aspiração acalentada principalmente pelos estudantes do sexo feminino .

Sua direção, seu corpo docente e seus servidores administrativos, em 1972, são os seguintes:

Dr. Ayrton Lívio  Salomon,  diretor;
Dr. João  Carlos Figueiredo, vice-diretor;
Ruth Aparecida  de  Oliveira,  secretária;
Prof.ª Anísia Medeiros Ferrer, bibliotecária;
Prof. Waldomiro Ferreira da Silva, bibliotecário;
Tito Eiras, inspetor-de-alunos;
Terezinha Capozzoli, inspetora-de-alunos;
Terezinha Lagatta, inspetora-de-alunos;
Niva D'Onofrio Marques, inspetora-de-alunos;
Geraldo Salles, porteiro;
Hélio Lúcio da Silva, servente;
Rosa Fróis, servente;
Maria José Figueiredo, servente; e
Luiza Maria  de Jesus, servente.

Professores:

Maria José Alvarenga, Matemática; Áureo Faria Macedo, Matemática; Lázara Pereira, Matemática; Alcindo Santos, Matemática; Benedito de Carvalho Lopes, Português; José Pereira, Português; Sebastiana Pereira, Português; Vera Lúcia Meyer, Desenho; Lázara Stella Pereira, Desenho; Celina Aparecida Toledo, Desenho; Alcides Del Agnolo, Inglês; Pedro Carlos Junqueira Ferraz, Geografia; Maria Rita Vilela Figueiredo, Inglês; Alair Pereira Borges, Francês; Anunziata Isabel Marques, Geografia; Maria Antônia de Souza, Ciências; Maria do Carmo Lambert Duarte, Ciências; Neusa Nascimento, História; Neila do Carmo Fanuchi, Educação Moral e Cívica; Neusa Aparecida Finamor, Educação Moral e Cívica; José Aparecido Mello, Química; José Moraes, Física; Antônio Marmo, Física; Francisco Mendonça, Biologia; Maria Paula B. de Oliveira, Biologia; Maria Virgínia Lambert, Didática; Carmelina Aparecida Lambert, Psicologia, Sociologia e Filosofia; Olga Andrade Cruz, Educação Musical; Fernando Leão Jório, Educação Física; Henrique Pereira de Moraes, Educação Física; e Maria Edna de Moraes Marques, Educação Física.

Diretores do Estabelecimento por ordem cronológica:

Dr. Pedro Carlos Junqueira Ferraz        1960
Prof. Wanderley Meyer		               1961
Dr. Ayrton Lívio  Salomon	               1962

Primeiros professores:

Dr. Pedro Carlos Junqueira Ferraz, Dr. Nilton Dias Fróis, Prof.ª Anísia Medeiros Ferrer, Dr. João Carlos Figueiredo, Dr. Benedito Carvalho Lopes, Prof. Wanderley Meyer, Prof. José Pereira e Prof.ª Heloísa Moraes.

Dados demonstrativo* da evolução do estabelecimento:

Alunos matriculados em 1968	  	68
Idem em 1972		                      940

Observação: Em virtude do grande aumento de matrículas, a CARPE está, em 1972, realizando substancial acréscimo de salas, possibilitando matrículas superiores a 500 alunos novos.

Inspeção e assistência técnica escolar

Cambuí é sede de Inspetoria Seccional de Ensino Primário Estadual, a cargo da Dra. Antônia Diva Ferraz de Araújo, compreendendo os municípios de Cambuí (sede), Camanducaia, Córrego do Bom Jesus, Bom Repouso, Estiva, Itapeva, Extrema, Toledo e Munhoz.

A inspeção às escolas rurais estaduais é feita pela Prof." Maria Aparecida Carvalho Ferraz, designada pela Secretaria de Estado da Educação. E a inspeção às escolas rurais mantidas pela Prefeitura cabe à Profª Dulce Aparecida Ramos.

A chefia do ensino primário municipal está entregue a Cláudio do Nascimento Magalhães, que acumula ainda as funções de encarregado da Carteira do Trabalho e NAOF da Prefeitura.

Os prédios escolares das zonas rural e urbana foram, em grande parte, construídos pelos seguintes Prefeitos:

  1. por Álvaro de Moraes Navarro, o do bairro Água Branca;
  2. por Aristeu Bueno, ampliação e reconstrução do das Escolas Combinadas de Senador Amaral;
  3. por Braz Meyer, os dos bairros Caxambu, Ponte Segura II, Rosas I e Rosas III;
  4. por Benedito Carvalho, os dos bairros Fonseca, Serro e Três Saltos;
  5. por Luiz Evangelista Rangel Padilha, o do bairro Bom Sucesso;
  6. por José Francisco Nascimento, os dos bairros Braço das Antas, Cachoeirinha, Congonhal, Lambert, Tônico Manoel, Meia Légua, Nunes de Baixo, Pessegueiros, Ponte Segura I, Portão, São Miguel e Vargem dos Ilhéos, além do prédio do Grupo Escolar Dr. Carlos Cavalcante, da cidade;
  7. o prédio das Escolas Combinadas de Senador Amaral foi, inicialmente, construído por José Francisco do Nascimento mas reconstruído pelo Prefeito Aristeu Bueno, e o prédio do bairro das Anhumas também adquirido por José Francisco do Nascimento foi reconstruído pelo Prefeito Braz Meyer. O prédio do bairro dos Lopes foi construído pelo Prefeito José Francisco do Nascimento e reconstruído pelo Prefeito Benedito Carvalho;
  8. os prédios dos bairros Vazes, Água Comprida, Serra do Cabral e Rio do Peixe foram construídos pelo Prefeito José Francisco do Nascimento em convênio com o governo federal.

Os pioneiros

Os primeiros cambuienses a alcançarem a conclusão de curso superior ou especializado, foram os seguintes:

  1. Belas-Artes: Inês Moraes
  2. Biblioteconomia: Neyde Lambert Oréfice
  3. Ciências Econômicas: João Moreira Salles
  4. Direito: Antônio Lambert
  5. Engenharia: Nib Lambert
  6. Farmácia: Levindo Furquim Lambert
  7. Filosofia: Neusa Maria Lambert de Morales
  8. Medicina: Ney Lambert
  9. Música: João Lambert Ribeiro
  10. Normalista: Maximiano José de Brito Lambert
  11. Odontologia: Sylvio Lambert de Brito
  12. Ortóptica: Neyde Lambert Oréfice
  13. Pedagogia: Márcia Moraes
  14. Química: Francisco da Silveira Lambert
  15. Sacerdócio: Monsenhor Aristeu Lopes
  16. Veterinária: Sylvio Lambert de Brito

Capítulo VIII - Instituições religiosas e filantrópicas

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Igreja Católica

A igreja construída pelo Capitão Soares e pelo Capitão Moraes viveu até 1914, simples, modesta, desataviada, pobre, oferecendo guarida aos fiéis, que eram a totalidade da população do município.

Era constituída de dois corpos estruturais. O primeiro, de menor extensão e menor altura, se destinava às práticas litúrgicas propriamente ditas: altar-mor e mesa eucarística, e o corpo maior abrigava a multidão de fiéis para o exercício religioso. Púlpitos de cada lado, no entravamento dos dois corpos. Longas sacadas laterais ainda ofereciam localização aos assistentes, e, ao fundo, no pavimento das sacadas, o "coro" local, destinado às vozes e orquestra.

Num terceiro corpo do edifício, lado direito, baixo e simples, excrescência arquitetônica, se instalava a sacristia. À frente desse corpo uma tumba, na qual — sabia-se — achavam-se os restos mortais do Capitão Soares, fundador da cidade e construtor da igreja.

Ao lado do templo, e com ele articulado, erguia-se um arremedo de torre, desajeitado e inestético, em que se instalavam dois grandes sinos, de tonalidades sonoras bem combinadas.

Tudo muito simples e modesto.

Ao ser a igreja demolida, em 1914, foi também aberto o jazigo, e o ossário retirado e atirado em vala comum, no atual cemitério, sem uma lápide qualquer ou qualquer indicação dos despojes veneráveis retirados da matriz. Ninguém os localiza hoje.

Essa omissão indesculpável cabe, por inteiro, aos dirigentes locais da época, que não souberam prestar ao fundador da cidade a homenagem que lhe era devida.

Essa igreja recebeu, em 1906, o primeiro harmônio que a cidade teve, adquirido pelo Padre Alberto Nunes de Melo Brigagão, que era também excelente musicista.

Demolido o velho templo, que serviu satisfatoriamente à religiosidade de muitas gerações, construído que foi em 1811, nova igreja foi então levantada 110 mesmo local, sob a orientação de João Felipe, arquiteto competente, de reputado bom-gosto, e de seus irmãos Emílio, Rodolfo e Ângelo. Estrutura arquitetônica também modesta, mas dotada de requisitos, internos e externos, de conforto e certa beleza, que a punham de boa aparência. Tinha no centro de sua fachada uma torre bem lançada, ostentando relógio de regulares proporções.

Não contente ainda com esse templo, o povo da cidade promoveu, algumas dezenas de anos após, a sua reconstrução, dessa vez obedecendo a uma linha estrutural elegante, mantendo a torre central, em cujo zimbório se instala excelente relógio de grandes dimensões, visível a longa distância. Larga escadaria, dando acesso ao templo, imprime-lhe imponência majestosa.

Recentemente, um outro templo, de regulares proporções, foi construído ao lado do Hospital Ana Moreira Salles, obra creditada à larga folha de serviços locais do ex-Prefeito José Francisco do Nascimento. Foi também benfeitor dessa arrojada obra Cândido de Brito Lambert (Candoca), que doou o terreno e colaborou efetivamente na sua construção. Interna e externamente, o novo templo, dedicado a São Benedito, é uma bela demonstração de fé.

* * *

É longa a relação dos párocos que, além dos já lembrados em capítulo anterior, exerceram munus sacerdotais na cidade, após o falecimento do Padre José da Silva Figueiredo Caramuru, ocorrido em 8 de junho de 1905, paroquiato iniciado em 1871, a saber: Pe. José Gomes da Conceição (1905), Pe. Agostinho Martell (1906), Pé. Alberto Nunes de Melo Brigagão (1907), Pe. Isidoro Guilmein (1908), Pe. Melchíades Augusto de Matos (1909), Pe. Oscar Sampaio de Maria Auxiliadora (1910), Pe. Waldomiro Braz do Amaral (1910), Pé. Edmundo Augusto de Castro (1910), Pe. Saturnino de Paula Conceição (1911), Frei Marcelino Dorelli (1913), Frei Mauro de São José (1914), Frei Brocardo Colonnelli (1918), Frei Nicolau de São José (1920), Frei Anselmo da Beata Virgem (1922), Pe. Lauro de Castro (1922), Cônego Leopoldo Peyronne (19215), Pe. Joaquim de Oliveira Noronha (1927), Pe. Antônio Pascoal (1948), Pe. Vicente Marques Ribeiro (1950) e Pe. José Avelino Magalhães, estes últimos a serviço de cooperadores do titular, Pé. Antônio Pascoal, seguindo-se Pe. Jorge Nogueira, Pe. Antônio Noronha (de 1957 a 1959), Pe. Jair Ferreira, Cônego Paulo Hermógenes Monteiro e Cônego Foch Morais Teixeira, ora titular da paróquia, realizando devotada obra apostólica na cidade e fora dela.

São cambuienses de nascimento os seguintes sacerdotes: Monsenhor Aristeu Lopes, integrando a sede arqui-episcopal de Pouso Alegre, mas prestando excelentes serviços sacerdotais à paróquia de sua terra natal; Pe. Afonso Ligório Rosa, Pe. Afonso Carvalho e Pe. Vicente Marques. O atual Vigário de Cambuí exerce seu ministério, também, na Cidade de Córrego do Bom Jesus e na Vila de Senador Amaral. Há, espalhadas pelo município, dezesseis capelas.

Igreja Presbiteriana

Coube a dois evangelistas norte-americanos, cujos nomes se perderam na tempo, lançar a semente da Igreja Presbiteriana em Cambuí, por volta de 1908.

Iniciaram-na com uma prática evangélica realizada na casa de Salustiano Padilha, presentes aproximadamente dez pessoas. Foi o grão-de-mostarda de que falam os Evangelhos.

Dez anos mais tarde veio a Cambuí, para visita pastoral, o missionário Rev. Gastão Boyle, que, além de pregações, distribuía Bíblias e as interpretava para o povo. Deram-se, em conseqüência, as primeiras conversões: Salustiano Marques Padilha, Sabino Marques Padilha, José Carneiro da Silveira, Bento Lopes Pacífico e outros.

O vasto salão da casa residencial de Salustiano Marques Padilha era átrio sagrado que dava nascimento à nova Igreja na cidade. E não foram poucos os reveses, porque, como todas as idéias novas, veio a passar o credo evangélico, até mesmo a política interferindo e exercendo o enteio de suas perseguições. C,orno a história ensina, essas perseguições não bastaram para cortar cerce a árvore nascente: a palavra dos evangelizadores foi levada a Camanducaia e a vários bairros populosos do município, distendendo tentáculos para a conquista de adeptos c crentes, num dos quais, aliás, o Bairro "Sertão dos Lopes", pelo número vultoso de crentes, se instalou a sede dos trabalhos evangélicos, tempos depois, no entanto, transferida para Cambuí, cumprindo ordem do Concilio Superior de São Paulo.

Muitos foram os grandes pregadores que estiveram em Cambuí, entre os quais cabe citar: Rev. Gastão Boyle, Rev. Jorge Host, Rev. Noé Vey, Rev. Henrique de Camargo, Rev. João Paulo de Camargo, Rev. Avelino Boamorte, Rev. José Ferraz, Rev. Walério M. Silva, Rev. Marco Cerqueira Leite, Rev. Paulo Wilon, Rev. Benedito Manuel de Carvalho, Rev. Delfino José Corrêa, Rev. Humberto Xavier Lene César, Rev. Astrogildo de Oliveira Godoy, Rev. Josias Rosa, Rev. Elias Marques Ferreira e Rev. Osias Costa. Entre esses, fez-se notar como grande músico o Rev. Humberto Lene César.

A comunidade presbiteriana tem organização e personalidade jurídicas, possui dois templos amplos e bem mo-biliados, bem como salas-de-aulas c casa pastoral. Mantém em Cambuí uma escola dominical para o ensino religioso e para atividades da UMP (União dos Moços Presbiterianos) da Liga Juvenil para as crianças, da Sociedade Auxiliadora Feminina (SAF), bem como mantém ainda programa da União Presbiteriana de Homens (UPH) e cultos com palestras, pregações e estudos bíblicos.

Realiza assim, a Igreja Presbiteriana de Cambuí, uma fecunda obra de propagação da Fé Cristã.

Igreja Evangélica Assembléia de Deus

Teve sua fundação em 22 de janeiro de 1959, realizando cultos em praça pública e, posteriormente, cm sala alugada até 1963.

Em 12 de abril de 1963 instalou-se em sede própria, contando, então, grande número de irmãos, festejando solenemente o acontecimento.

Respeitadas as exigências do Código Civil Brasileiro (art. 18) e art. 141, § 1º, da Constituição Federal, exerce suas atividades congregacionistas também em Camanducaia e Estiva.

Iniciou-se modestamente, mas a pouco e pouco foi recebendo adeptos até que, na sede própria, dotada de todos os requisitos e exigências para cultos, inclusive piscina destinada aos cerimoniais de batismo, promove a divulgação evangélica e consolida sua situação, contando desde já com um pastor responsável, cinco presbíteros e quatro diáconos.

Funcionam suas atividades com o seguinte programa: aos domingos, culto matutino, das 7 às 8 horas; às 15 horas, escola dominical e, às 19 horas, culto público.

O pastor fundador da Igreja de Cambuí foi o Irmão Oscar Bedori, sendo ultimamente dirigida pelo Pastor Eu-elides Feliciano da Silva.

Examinando-se o seu desenvolvimento através do tempo, a partir de 1963, verifica-se que a Igreja Evangélica Assembléia de Deus vem alcançando sensível crescimento proselitista em Cambuí.

Hospital Ana Moreira Salles

Cambuí ufana-se por ostentar um dos mais completos — senão mesmo o mais completo — hospital do Sul de Minas, ou, ainda, do interior do Estado, incluindo-se as grandes cidades.

O Hospital Ana Moreira Salles é modelar não só na amplitude dimensional de suas instalações, como na obra que realiza. Nada lhe falta.

Sua história começa em 26 de setembro de 1944, quando se constitui a primeira mesa administrativa incumbida de tentar os passos iniciais em favor da obra, nela figurando .Tose Francisco do Nascimento, provedor; Dr. Vítor Machado, escrivão; Benedito Salles, tesoureiro; Dr. Murilo Gonçalves Torres, procurador; João Batista Duarte, mordomo; Dr. Milton Salomon Salles, Pé. Lúcio Remusat Reno, Álvaro de Moraes Navarro e Alcino Salomon, definidores. Constituía-se então a Irmandade da Santa Casa, que, nessa qualidade, recebia do Dr. José Guilherme Eiras seis alqueires de terra localizados no Bairro do Portão, além de cinqüenta cruzeiros novos em dinheiro. Abertos, assim, os fundos necessários ao começo da obra, João Moreira Salles entra com o donativo de seiscentos cruzeiros novos, possibilitando assim tornar realidade o sonho de seus idealiza-dores. Em 20 de maio de 1944 é adquirido o terreno e, em 27 de julho de 1952, é reorganizada a diretoria, que fica assim constituída: José Francisco do Nascimento, provedor; Benedito Delfino Machado, escrivão; Pé. José Arlindo Magalhães, tesoureiro; Waldomiro Bueno, procurador; João Batista Duarte, mordomo; Alcino de Oliveira Salomon, José Benedito Lopes, Álvaro de Moraes Navarro, definidores; José da Silveira Lambert, fiscal; e Armando Alves Franco, guarda-livros.

Em 29 de dezembro de 1956 a instituição, já em pleno funcionamento, recebe o impacto acalentador por parte de João Moreira Salles, que doa à Irmandade a Empresa Forca e Luz, para que sua renda complete e reforce o seu orçamento e dê impulso à obra.

Com a renúncia do Pé. Arlindo de Magalhães, é eleito provedor da Irmandade João Moreira Salles, que, por ausência, é representado, até 31 de janeiro de 1964, por José André de Moraes.

E, coroando todas essas iniciativas, a 29 de novembro de 1959, é assentada a primeira pedra da grande obra.

Com a renúncia de João Moreira Salles, volta a ser escolhido José Francisco do Nascimento provedor, que, dando andamento a seu elogiável programa de ação, faz assentar, em 13 de maio de 1967, a pedra fundamental da Igreja de São Benedito, junto à notável obra hospitalar, contando para isso com a colaboração eficaz de Cândido de Brito Lambert e sua família.

Finalmente, com grande solenidade, em 18 de fevereiro de 1968, é inaugurado o hospital, a que foi dado o nome de Ana Moreira Salles, em homenagem póstuma à mãe do grande benfeitor da instituição. Fez-se então pre¬sente toda a Família João Moreira Salles, com a exclusão do chefe generoso e amigo, então doente, que, lamentavelmente, veio a falecer dia 2 de março desse mesmo ano.

A diretoria da Irmandade, em 1972, constitui-se dos seguintes cidadãos: José Francisco do Nascimento, provedor; Dr. Halley Lopes Bello, escrivão; João Batista Duarte, tesoureiro; Dr. Ibraim Ferrer de Oliveira, procurador; Guilherme Fróis, mordomo; Ângelo Bernardo Faccio, Waldomiro Bueno e Benedito Carvalho, definidores.

É de justiça que, no final destas explicações, dê-se ênfase especial à atitude assumida pela Família João Mo-reira Salles, ao manter no mesmo ritmo a ajuda generosa prestada à instituição por seu grande benfeitor falecido.

Corpo Médico - Dr. Newmann Pereira Famichi, diretor-clínico; Dr. Olímpio Nogueira de Figueiredo, Dr. José Maria Ferreira, Dr. José Cláudio Carvalho Bastos e Dr. Francisco de Souza.

Direção Interna — Irmãs Claretianas.

Serviços e Convênios — Convênio com INPS e Funrural, Serviços de Raios X, farmácia, duas salas de curativos, banco de sangue, ambulatório, quatro enfermarias, quinze apartamentos, duas salas de operações, berçário, casa das irmãs (são seis irmãs), igreja, necrotério, PBX e gerador de emergência, sala de esterilização. Atende a todos os tipos de operações, clínica geral, obstetrícia e pediatria. Presta grandes serviços aos pobres, principalmente da zona rural, salientando-se que, ano passado, foram atendidos 3.095 indigentes, dos quais 489 pelo Dr. Newmann Fanuchi, 1.418 pelo Dr. José Maria Ferreira e 738 pelo Dr. Olímpio Nogueira de Figueiredo. Na seção de Maternidade foram feitos 209 partos de indigentes, num total de 290 partos. A farmácia do hospital, aviou 3.859 receitas. Para os serviços internos, além da colaboração de seis irmãs, há ainda 17 empregados.

Sem qualquer dúvida e sem excessos, pode-se afirmar que o Hospital Ana Moreira Salles supera muitos nosocô-rnios das grandes metrópoles do País. Não se pode deixar de reconhecer os serviços prestados por vários e operosos cidadãos locais, notadamentc por José Francisco do Nasci¬mento, não só na realização da grande obra como no seu amplo, notável e eficiente desenvolvimento.

O hospital recebeu recursos financeiros provenientes da distribuição de verbas assistenciais feitos por deputados federais e estaduais.

Posto de higiene

A instalação do Posto de Higiene é serviço público creditado à vitoriosa folha de benefícios prestados pelo Deputado Milton Salles. Está a cargo do Dr. Olímpio Nogueira de Figueiredo, médico-sanitarista, que conta com a colabo¬ração dos cirurgiões-dentistas Dr. Bruno Capozzolli, Dr. Rui Ferrer de Oliveira e Dr. José Barbosa e do servente Rui Lelis de Moraes.

Presta extensos serviços à população do município e circunvizinhanças, notadamente às classes pobres.

Em 1971 distribuiu medicações a 1.223 doentes e apli¬cou 287 injeções. Atendeu a 4.025 consultas. Foram imunizadas com vacinas tríplices 361 crianças e com vacinas Sabin 127 crianças.

A vacinação anti-variólica elevou-se a 88 pacientes, e contra febre tifóide receberam vacinação 6.277 indivíduos.

Foram feitos 258 exames de fezes.

Por sua vez, o serviço odontológico do Centro de Higiene registrou a entrada de 520 crianças e atendeu a 1.755 pacientes. Realizou 1.981 obmrações e 1.511 extrações e um total de 1.579 curativos. Estão matriculadas no posto 7.280 crianças.

O atendimento é feito, com interesse especial, por toda a equipe lotada no Posto de Higiene local.

Tábua itinerária

Distâncias de Cambuí a vários centros urbanos:

                                      km
1 - a Belo Horizonte                           421
2 - a São Paulo                                  151
3 - a Pouso Alegre (via Estiva )           59
4 - a Paraisópolis (via Consolação)     36
5 - a Camanducaia                              21
6 - a Bom Repouso                             24
7 - a Córrego do Bom Jesus                 7
8 - a Distrito de Senador Amaral        18

Capítulo IX - Serviços de utilidade pública

Água

O problema de abastecimento de água foi resolvido logo após a instalação da cidade. O manancial aproveitado situava-se em terreno de propriedade de José Luiz Padilha (Zeca Rangel), canalizado para uma caixa de captação nos altos da Chácara de João Batista Ribeiro e Silva.

O volume de água, no entanto, reclamado pela população, foi, a pouco e pouco, se tornando insuficiente quer para atender ao crescimento demográfico da cidade, quer porque o débito do manancial foi sendo também desviado nas suas nascentes para outros fins. A carência se tornou, afinal de contas, insustentável.

Várias fontes e nascentes foram então estudadas para o devido suprimento à população e outras tantas tentativas no sentido de duplicar o abastecimento foram, por igual, feitas.

O então Prefeito, José Francisco do Nascimento, depois de reformar o serviço de água em 1942, chegou a substituir, em 1952, todo o sistema adutor, obra feita sob a supervisão do engenheiro Aristóteles de Resende Alvim, ao mesmo tempo que, com a ajuda prestigiosa do Deputado Milton Salles, alcançava também o apoio do DNOS, visando à reforma geral do abastecimento urbano. Nesse caso o DNOS realizaria todo o serviço com verbas do Governo Federal, incluindo-se na obra a respectiva distribuição local.

Dando execução a um alentado programa de realizações nesse sentido, em 1965 esse mesmo operoso Prefeito, ainda com a colaboração do Deputado Milton Salles, conseguiu canalizar a água do Rio do Peixe, a 1.150 m de altitude, empregando sete quilômetros de tubos adutores de oito polegadas. Construiu, para isso, caixa de captação à montante da cachoeira que fornece energia à usina elétrica da cidade. A água distribuída era, porém, sem qualquer trata¬mento, embora abundante.

Se, por um lado, as necessidades prementes reclama¬das pela população no tocante à presença do precioso líquido nas torneiras domésticas — o problema da sua higienização desafiava ainda a tenacidade dos administradores. E estes nem sempre encaravam a questão pelo mesmo prisma. Verificou-se isso no fim do mandato de José Francisco do Nascimento: seu sucessor estabeleceu perspectivas diferentes para o problema e, em conseqüência, em 1969 o Governo Federal esquivou-se de participar do empreendimento.

À vista disso, o Prefeito Luiz Evangelista Rangel Padilha resolveu enfrentar a questão contando apenas com verbas da própria Prefeitura: a água do Rio do Peixe, vinda por gravidade, é levada a grandes reservatórios situados no antigamente chamado "Morro do João Correia", a cavaleiro da cidade. Sofre e recebe aí tratamento adequado, segundo processos modernos de decantação e cloração, em condições de atender às exigências higiênicas da população, que, por essa forma, recebe água excelente e pura.

A iniciativa do Prefeito José Francisco do Nascimento teve, afinal de contas, êxito integral, alcançado por seu sucessor na Prefeitura. A vazão de oferta à população é de 38 litros por segundo. É preciso que se acentue que todo esse trabalho magnífico foi projetado tecnicamente — estudos, plantas e orçamentos — pelo DNOS.

Cambuí está servido, pois, de um dos melhores abastecimentos de água do Sul de Minas. É seu fiscal, na cidade, Geraldo Roque.

Luz

Conquanto bem situada, topografia interessante e atraente, a Cidade de Cambuí conservava ainda o arcabouço de sua construção remota. As ruas não tinham sequer sarjeta destinada ao escoamento pluvial.

Por isso mesmo a erosão causada pelas chuvas abria sulcos profundos em vários sentidos da via pública, pois a enxurrada não tinha saída regular e, por causa disso, abria crateras e valetas na pista escorregadia, excetuada a rua principal, em que o calçamento com grandes lajes poliédricas, tendo ao centro alguma concavidade, dava rumo às águas pluviais.

Em conseqüência, o trânsito noturno exigia cuidados especiais e atenção desdobrada, com o risco constante de perigos diversos.

A administração pública procurou solução, de início, com a fixação de grandes lampiões a querosene nas esquinas principais de várias ruas e praças. O encarregado — João Pedreiro — ao anoitecer ia, carregando escada, a cada esquina, acendendo o lampião, e a certa hora da noite retomava o itinerário para apagar os morrões acesos.

Isso, nos princípios do século. Durou algum tempo. Mas cedeu às dificuldades de combustível e da pequena produtividade iluminativa. Por esse tempo, porém, as ruas começaram a receber sarjetas e abaulamento cascalhado, tornando-se, então, o trânsito noturno menos perigoso, mesmo às escuras.

E a escuridão foi dominada parcialmente. O bom êxito alcançado pelo cinema, movido por gerador a gasolina, sugeria à municipalidade a aquisição de gerador potente para a iluminação pública, particular e urbana. E isso foi feito. Com algum êxito.

A luz era dada aos usuários e logradouros até às 23 horas. A essa hora, três avisos intervalados, pisca-pisca, preveniam a população de que ia apagar-se a luz. Entravam em cena, então, velas, lampiões e lamparinas, se as palestras e as necessidades domésticas se prolongavam.

Esse sistema perdurou até 1924, quando, então, o Coronel Antônio Pimenta de Pádua, residente em São Sebastião do Paraíso, instalou usina hidrelétrica no Rio do Peixe, na estrada que ligava a cidade ao Distrito de Bom Retiro, servindo à cidade e espichando-se até Córrego e Estiva.

De início, a usina serviu satisfatoriamente, embora o seu lançamento ao longo dos dois distritos urbanos exaurisse a pouco e pouco sua capacidade produtiva. Com o passar dos anos, por isso mesmo, foi ela definhando gradativamente, a ponto de se ver forçada a interromper seu uso em Córrego e Estiva. E seu desgaste foi se aprofundando cada vez mais, quando João Moreira Salles, o grande filho de Cambuí, adquiriu a empresa e lhe deu substanciais reforços.

Durou pouco, no entanto, essa melhoria, quer porque a descarga do rio gerador ressentia-se dia a dia, quer porque, ainda, a demanda usuária exigia cada vez mais energia.

A luz, na cidade, chegou a tal ponto de amorteci-mento que sua população, lamentavelmente revoltada, depredou suas instalações, quebrando-lhe os postes e arrancando-lhe os fios condutores.

Esse ato impensado produziu efeitos negativos, porque a cidade viveu longa temporada inteiramente às escuras. É certo que a empresa fez voltar a iluminação por meio de algumas reformas e melhoramentos, reconstruída também a maquinaria da usina. Houve então sensível melhoria nos seus serviços.

Por fim, Moreira Salles preferiu doar a usina ao hospital que então se fundava na cidade, alimentando-lhe o funcionamento com as rendas provindas de seu uso.

Embora a Usina do Rio do Peixe, de maneira pobre e escassa, continue a alimentar a iluminação pública — a cidade é agora abastecida pela Empresa Elétrica Bragantina, depois de ter sido reformada e ampliada a rede de distribuição urbana e domiciliaria.

Está, pois, a cidade, não só bem iluminada como em condições de oferecer energia às indústrias que se vão criando ou ampliando.

Na Praça Coronel Justiniano é empregada iluminação a mercúrio, o que a torna ainda mais sugestiva e bela.

Está a cargo de Geraldo Ribeiro Filho a fiscalização e a instalação da luz na cidade.

Esgoto e lixo

O serviço de esgoto se entrosa, nas pequenas cidades, com a limpeza pública, quer o lixo provenha de detritos atirados nos logradouros, quer se origine de cuidados domésticos.

A disposição topográfica da cidade possibilita perfeito e fácil escoamento das águas poluídas e caseiras, porque localizada em pequena colina, águas vertentes para ambos os lados da urbs, em toda a sua extensão, os dejetos encontram vazamento lado a ladu da lombada, recebidos a poucos passos por pequenos regatos.

Por isso mesmo não foi difícil à Prefeitura espalhar rede de esgotos por todas as vias públicas e dar-lhes escoa¬douro regular.

A limpeza pública, por sua vez, é administrada pela Prefeitura por meio de veículo adaptado às exigências colimadas e em atividade que se faz presente diariamente por todas as ruas da cidade. Daí porque as ruas e demais logradouros públicos se acham constantemente limpos, sem necessidade do refrão: "Povo limpo faz a sua cidade limpa". Para isso concorre o interesse de João Furtado do Nascimento, encarregado da limpeza pública.

Matadouro

A instalação do matadouro é obra creditada à folha de serviços prestados ao município pelo Prefeito José Francisco do Nascimento.

Obra modesta na sua estrutura, mas grande na sua significação, já que foi afastado o abate de gado sem obediência às prescrições higiênicas e sem o exame prévio, in natura, técnico-científico do animal em causa.

Localizado em local inicialmente afastado das vias públicas, vê-se agora enrodilhado numa teia de ruas e praças, nos subúrbios da cidade, cumprindo suas finalidades. Seu magarefe não cursou escola especializada,mas é dotado de grande experiência e apreciável intuição para o exercício do delicado mister, utilizando nas suas práticas de material adequado. Está instalado em construção especial¬mente levantada para isso.

É encarregado dos serviços do matadouro Francisco Marques da Silva.

Mercado

O Mercado Municipal teve seu funcionamento inicia¬do onde hoje está a casa comercial de Alceu Bueno, esquina das Ruas João Moreira Salles e Governador Valladares, mas abrindo, outrora, seus portões para esta rua. Abrigava sofrível soma de produtores, e o pátio que se lhe ficava ao lado, em sentido paralelo com a Rua Governador Valladares, acolhia os roceiros que tinham a vender ou a comprar. Por causa disso, o pátio fronteiriço se atulhava de animais descarga e de sela, à espera de seus donos.

Nos primeiros tempos do século, o Presidente da Câmara, Sr. Silvério Bento da Silva, transferiu o mercado para o prédio em que funciona o Cinema Cambuí, adquirido pela edilidade. Chegou logo à conclusão, porém, de que esse serviço público não se ajustava no logradouro em que se situava, cm plena Praça Coronel Justiniano, a mais movimentada da localidade e, por isso, permutou-o com Ricardo José Pereira, que, por sua vez, lhe transmitiu o prédio em cujo local hoje funciona, na Praça Prof. Maximiano Lambert. A barganha representou manta passada à Câmara Municipal, mas, sem dúvida alguma, constituiu solução de um problema crucial, de vez que sua localização era incompatível com o bem-estar da cidade.

Esse prédio foi posteriormente reformado e reconstruído pelo Prefeito José Francisco do Nascimento, que lhe deu na ocasião as disposições internas atualmente em uso.

O mercado de hoje atende satisfatoriamente aos interesses populares, pois que oferece boa acolhida aos seus usuários. Nele se encontram não só os produtos da terra como outros provindos de importação direta.

Sem dúvida alguma, a cidade está regularmente provida nesse particular, nos termos da demanda que é proporcional à população.

É responsável pelo Mercado — Messias José de Araújo.

Cadeia

De começo, a cadeia pública estava bastante mal localizada, na via principal da cidade, Rua Moreira Salles, onde hoje se vê o nº 180.

Nas proximidades do Mercado, além de oferecer à vista um espetáculo pouco agradável, ainda possibilitava uma movimentação aparatosa, às vezes incompatível com o logradouro público.

Daí a deliberação da Câmara Municipal, em sessão de 2 de junho de 1892, no sentido da transferência dos seus serviços para outro local de menor destaque. A mudança foi feita, mas para pior: instalou-se a cadeia no prédio de dois pavimentos, já demolido, onde hoje se situa uma farmácia, esquina da Rua Moreira Salles com Capitão Soares. Melhor adaptada, é certo, porque no prédio anterior, exíguo, pequeno e mal dividido, as acomodações eram por demais deficientes. Na instalação nova que então se fizera localizavam-se, no pavimento térreo, duas celas amplas e a casa da guarda, e no pavimento superior o gabinete do delegado e a sala do escrivão.

Esse prédio adaptado, também profundamente mal localizado, porque — já se disse — na rua principal da cidade, causava aos forasteiros e a iodos os habitantes da cidade penosa impressão, desagradável à vista.

Recentemente, no entanto, foi a cadeia construída nos subúrbios da cidade, afastada do convívio da população e da vista de viajantes e visitantes. Conquanto ainda padeça de algumas deficiências e falhas, atende às exigências dos serviços que lhe são pertinentes. Foram carcereiros João Aureliano Padilha, Francisco Rangel Padilha, Geraldo Evangelista de Salles e Geraldo Salles.

Cemitérios

Noticia o notável historiador mineiro, Dr. José Guimarães, que em 1813 havia cemitério no Bairro da Roseta. Conquanto injustificado esse fato, por se tratar de área muito pouco povoada, sabe-se, 110 entanto, que logo após a ereção da Capela de Nossa Senhora do Monte do Carmo, no chamado agora Cambuí-Velho, providenciaram seus funda-dores a legalização canônica do cemitério, que, na data de 12 de março de 1814, é alcançada através de Provisão expedida pelo Vigário-Geral da Diocese de São Paulo, permitindo então "sepultar defuntos fiéis no mesmo cemitério".

Sua mudança, mais tarde, para o arraial novo, foi autorizada pelo Bispo de São Paulo, mediante Provisão de 23 de outubro de 1867, sob o vicariato do Pé. João Borges Soares de Figueiredo.

O novo cemitério, nos fundos da Igreja-Matriz, ocupava toda a área em que hoje se acha a sede provisória da Prefeitura Municipal, na Praça Professor Maximiano Lambert. Ruas foram abertas lateralmente e, quando de sua remoção para o local onde hoje se acha, nos começos deste século, permaneceu ali um elevado de cerca de dois metros, terreno baldio, só retirado em 1908, graças ao empenho do Pe. Isidoro Gulmin, que, em pessoa, comandou o respectivo desmonte e fez o nivelamento do local, tal qual se acha hoje. Astutamente, e porque era dotado de grande poder de aliciamento, convocou "mutirões" de moradores dos bairros vizinhos da cidade, fornecendo a Câmara Municipal apenas o "rancho" aos trabalhadores graciosos. E o desmonte foi feito.

Essa elevação formava, pelo lado da Avenida Tiradentes (antigamente Cruz do Rosário), barranco alto, em que se instalava um jirau destinado à serragem de grossos toros de madeira: um serrador em cima c outro em baixo movimentavam enorme serra, subindo e descendo, desfazendo em tábuas alentados troncos de árvores. Jesuíno dos Reis, Virgílio Rufino e Vicente Rodeiro eram excelentes serradores.

A remoção do cemitério para o local onde se acha foi feita nos primeiros dias deste século. Está sob os cuidados e a fiscalização de Atílio Francisco dos Santos.

Volte-se ainda à informação do autorizado linhagista Dr. José Guimarães, relativa à existência de cemitério no Bairro da Roseta, em 1813.

A população dessa área, hoje, não difere da dos de-mais bairros e não foge ao índice demográfico estabelecido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas, segundo dados colhidos pelo citado historiador mineiro, os batizados de residentes naquele bairro, comparados com os de outros, indicavam ali uma alta densidade populacional para o tempo.

Assim é que, enquanto na "Parada" de Cambuí, de 1787 a 1799, registravam-se, na sede da paróquia, cerca de (três) batizados apenas, no Bairro da Roseta, nesse mesmo período, elevavam-se a 46 (quarenta e seis) batizados.

Infere-se, pois, que houve acentuado desfalque populacional a partir de então, no referido bairro, possivelmente devido à implantação do regime latifundiário ali verificada, dando causa à dispersão de seus moradores, repetindo o êxodo ocorrido no Cambuí-Velho, hoje sem qualquer sinal de sua existência pregressa.

É explicável, por isso mesmo, a existência de cemitério nessa área, como assinala o perspicaz historiador ouro-finense.

Capítulo X - Corografia do município

Dados geográficos

1 - Área: 370 km2. 
2 - População em 1970:
 a) urbana: 5.665
 b) rural: 9.580
 c) suburbana: 583
 Total do município: 15.828
3 — Densidade geográfica: 42,57 km2.
4 — Porcentagem da população urbana: 39,26.
5 — Altitude: 950 m (Martius e  Spix  registraram  a  altitude  de 840 e 847 m, respectivamente).
6 — Coordenadas geográficas:  22"36'50"  de latitude Sul  e 46"03'40" de longitude W.
7 — Zona fisiográfica do Estado:   Sul.
8 — Micro-Região:  202  (segundo o IBGE).
9 — Temperaturas: máxima 29º e mínima 7°.
10 — Distâncias:
 a) da cidade a Belo Horizonte: 421 km
 b) da cidade a São Paulo: 151 km

Orografia

É relativamente acidentada a área rural do município, sem que, entretanto, tenha a assinalar-lhe grandes altitudes.

O Pico de São Domingos, alcançando 2.056 metros, mar-cava os limites dos Municípios de Camanducaia,Paraisópolis e Cambuí, que se confundiam, os três, na grande escarpa . Com o desmembramento de Córrego-do-Bom-Jesus, perdeu Cambuí esse marco esplêndido e belo na paisagem orográfica da região. São agora os seguintes enrugamentos em evidência, separados pelo Rio Itaim: à margem direita, as Serras do Taboão (1.250 m), da Bocaina (1.800 m), do Funil (1.150 m), dos Criminosos (1.250 m), do Sertãozinho (1.150 m) e do Caçador (1.200 m). À margem esquerda, as Serras do Canguava (1.050 m), do Cabral, dos Rodrigues (1.550 m), do Mergulho (1.150 m), do Bom Retiro (1.708 m) e dos Três Saltos (1.600 m). A sede do Distrito de Senador Amaral, antigo São Sebastião dos Campos, está a 1.600 metros de altitude, localizada em plateau magnífico, desfrutando clima tipo europeu e oferecendo perspectivas excelentes à fruticultura e à exploração de tubérculos. É o maior produtor de batatas do Brasil. Já em 1874, Bernardo Saturnino da Veiga ("Almanah Sul-Mineiro") reclamava para aí a instalação de um sanatório.

Hidrografia

O principal rio do Município é o Itaim, que nasce ao pé do penhasco de S. Domingos, escorrendo em sentido sul--norte em busca do Mandu, tributário do Sapucaí. Pelo leste, nenhum afluente de importância, mas simples ribeirões, dada a posição da área apertada pelo sistema orográfico que o ladeia por essa margem. Pelo oeste, assinalem-se o Rio das Antas, banhando a cidade; o Rio do Peixe e o Congonhal. O Rio do Peixe fornece potencial eletro-energético para a cidade. No Distrito de Senador Amaral, o Rio Corrente, o Ribeirão dos Três Irmãos e o Ribeirão dos Dois Irmãos, o Ponte Segura e pequenos tributários do Mogi-Guaçu.

Ecologia

São 27 os municípios, entre os quais o de Cambuí, que integram a Micro Região 202, segundo o IBGE. "Compreende o rebordo interior da Mantiqueira, cujos terrenos cristalinos são drenados pelos Rios Jaguari, Sapucaí e Verde, que entalham fortemente a região serrana. As altitudes médias de 900 metros propiciam temperaturas amenas, que se associam a uma alta pluviosidade, constituindo fatores favoráveis ao desenvolvimento da fruticultura e da pequena lavoura variada." "As fazendas têm o caráter misto, dedicando-se à agricultura e à pecuária leiteira." Por isso mesmo, nesta região desenvolvem-se culturas como a dos tubérculos e o tomate, estando aí os maiores produtores de batatas do Brasil: Cambuí e Bom Repouso. "Os índices de pastagens naturais e artificiais são em quase todos os municípios de 32 a 62%, ao passo que as terras aproveitadas na agricultura variam entre 21 e 32% . "A maior parte dos municípios da micro-região apresenta densidade de população rural em torno de 6 a 10 habitantes por km2, densidade esta que é um pouco mais elevada entre 11 e 15 habitantes por km2 em alguns municípios, entre os quais o de Cambuí.

As ligações da região são com S. Paulo através da Rodovia "Fernão Dias". São, no Município, 3.650 propriedades rurais, em vias de maior esfacelamento minifundiário.

Limites intermunicipais

1 - Com o Município de. Bueno Brandão:

Começa no divisor de águas dos Rios Cachoeira ou Cachoeirinha e Corrente, no ponto fronteiro à cabeceira do córrego que passa da fazenda do Domiciano; continua pelo divisor da vertente da margem direita do córrego que passa na fazenda Velha de Dona Antônia até a foz do Córrego dos Dois Irmãos, no Ribeirão Ponte Segura, formadores do Rio Cachoeira ou Cachoeirinha; sobe pelo Córrego dos Dois Irmãos até a cachoeira pouco abaixo da foz do Córrego da Invernada.

2 - Com o Município de Bom Repouso:

Começa no Córrego dos Dois Irmãos, na cachoeira pouco abaixo da foz do Córrego da Invernada ou do Poço; daí alcança o divisor da margem direita do córrego e segue pelo divisor de águas entre os Córregos da Ponte Segura e Invernada ou do Poço, contorna as cabeceiras do Córrego da Ponte Segura, passando pela Serra do Bom Retiro até a Serrinha de-frontando a cabeceira do Córrego Mangabeiras; segue pelo divisor de águas entre os Ribeirões das Três Barras e Corisco de um lado e dos Três Irmãos de outro lado, passando pelo Morro do Cavado e Serra Boa Vista até o alto do Macuco.

3 - Com o Município de Estiva:

Começa no divisor de águas entre o Ribeirão dos Três Irmãos e Córrego do Corisco, no alto do Macuco, daí segue pelo espigão entre os Córregos do Pinhal e dos Lopes, passando pela Serra da Seara, até a Serra do Varjão; descendo a Serra do Varjão, atravessa o Ri-beirão dos Três Irmãos, no ponto a igual distância da Capela e da sede da fazenda de João Borges Filho e, subindo o espigão fronteiro, atravessa-o, atingindo a cabeceira do Córrego Congonhal, pelo qual desce até a sua foz no Rio Itaim, pelo qual continua numa pequena extensão até a foz do Córrego da Mata Virgem; subindo por este último córrego até suas nascentes, no alto da Batalha; daí, pela linha de cumeada e pela Serra do Sertãozinho até atingir o divisor de águas dos Rios Itaim e Capivari, no ponto fronteiro às cabeceiras do Córrego da Grota Funda e do Caçador.

4 - Com o Município de Consolação:

Começa no divisor dos Rios Capivari e Itaim, defrontando as cabeceiras dos Córregos Caçador e Grota Funda; segue por este divisor de águas até a estrada de automóvel Cambuí—Paraisópolis.

5 - Com o Município de Córrego do Bom Jesus:

Começa no divisor de águas dos Rios Capivari e Itaim, na estrada de automóvel Cambuí—Paraisópolis; segue por esta estrada atravessando os Córregos da Mombaça e Anhumas, e passando junto da sede da fazenda de Anhumas até a ponte do Rio Itaim; sobe pelo Rio Itaim e Ribeirão São Domingos até a Cachoeira de São Domingos a um quilômetro a montante do lugar denominado Lagoa.

6 — Com o Município de Camanducaia:

Começa no Ribeirão São Domingos, na Cachoeira São Domingos, a um e meio quilômetro a montante do lugar denominado Meia Légua; deixando o ribeirão, sobe o espigão até ao alto situado cerca de um quilômetro da Faisqueira, no divisor de águas dos Rios Peixe e Itaim, de um lado, c Camanducaia de outro lado, seguindo pelo referido divisor, passando pela garganta do Canguava e pela Serrinha até o entroncamento com o divisa dos Rios Corrente e Camanducaia .

7 - Com o Município de Munhoz:

Começa no divisor de águas dos Rios Camanducaia e Itaim, no entroncamento com o divisor de águas dos Rios Corrente e Camanducaia; segue por aquele divisor passando pela Lagoa Grande e pelo espigão atinge o Ribeirão da Correntinha, na cachoeira próxima da fazenda de Joaquim Marques; daí atinge o alto do espigão fronteiro e, por ele, alcança a confluência dos dois braços do Córrego Três Saltos, um que passa junto à Capela do Serro e outro banha o bairro denominado Três Saltos; daí sobe o espigão até atingir o alto do divisor dos Rios Cachoeira ou Cachoeirinha e Corrente, no ponto fronteiro à nascente do córrego que passa na fazenda do Domiciano.

Limites interdistritais

Entre os Distritos de Cambuí (sede) e Senador Amaral:

Começa na Serra da Boa Vista, no ponto fronteiro à nascente do Córrego do Corisco e segue pelo divisor da margem esquerda do Córrego Caxambu; passando pelo alto da Mata até atingir a confluência do Córre¬go Caxambu no Ribeirão dos Três Irmãos; desde este ribeirão até a foz pouco abaixo de um seu afluente da margem direita; daí sobe o espigão fronteiro e, depois, desce em rumo à foz do Córrego Bento Borges, pró¬xima à fazenda do mesmo nome, no Rio do Peixe; transpõe o rio, atinge o divisor entre este rio e seu afluente, que passa no Mato Dentro; prossegue por este divisor até alcançar os limites com o Município de Camanducaia.

Sínteses econômicas

1 — Porcentagem da exploração agrícola: arroz 30%, batata 15%, café 2%, feijão 10%, fumo 0,5%, laranja 0,5%, milho 42%.
2 — Porcentagem da exploração pecuária: bovinocultura de corte 15%, bovinocultura de leite 80%, suinocultura 5%.
3 — Atividades importantes: lavoura 30% e pecuária 70%.

Atividades agropecuárias

O escritório da Associação de Crédito e Assistência Rural (ACAR) vem desenvolvendo intenso trabalho de orientação agropecuária, bem como estudando tecnicamente as condições ecológicas do município, de maneira a possibilitar melhor aproveitamento e maior desenvolvimento da economia rural. Vem dando prioridade a tudo quanto se refere à exploração da batata, que, por isso mesmo, alcançou índices de relevância nacional.

A preferência dos agricultores tem repousado na batata das águas, com a colheita total de 1.015.000 sacas de 60 kg, usadas para isso as variedades Bintje holandesa, Bintje sueca e Rodosa. A batata das secas, importada da Holanda, serve para o aproveitamento de sementes. O preço por saca varia de Cr$ 15,00 a Cr$ 80,00.

Outros produtos agrícolas estão sendo explorados sob os cuidados técnicos da ACAR, nos termos do quadro abaixo:

Cultura                    Área plantada ha       Rendimento ha         Produção 
Feijão das águas                     130 	                           12	                     1.560
Feijão da seca                         250	                           11	                     2.750
Milho 		                      2.300	                           20	                   46.000
Café  		                         320	                           40	                   12.000
Arroz (ano de 71)                  1.800 ha	                 740 kg/ha	   51.000
Observação: A produção do arroz é considerada como o produto em casca.

Promove a ACAR orientação técnica à pecuária de corte e ao desenvolvimento da criação de suínos e aves, ao mesmo tempo que intensifica experimentos com batata, arroz e milho, tanto por meio de ensaios de adubação como por ensaios de variedades.

Segundo os técnicos da ACAR, a fruticultura oferece grandes possibilidades, dadas as ótimas condições climáticas do município para a exploração de frutos próprios de climas temperados, tais como: caqui, pêssego, maçã, figo, ameixa, uva etc.

A ação desenvolvida pela ACAR torna promissor o desenvolvimento econômico dos produtos agropecuários do município.

OBSERVAÇÃO: Antes de passar a outro item deste capítulo, cabe comentar que em 1874 havia em Cambuí 39 comerciantes, ao passo que em 1972, quase um século depois — são 98 firmas que exploram o comércio local. Ainda em 1874 são 29 latifundiários e em 1972 essas propriedades se desdobram em 3.650 minifúndios. São 4 estabelecimentos industriais em 1874, mas 8 em 1972.

Não há proporção no desdobramento das atividades econômicas verificadas dentro de um século. Pode-se talvez explicar o fenômeno analisando-se as facilidades de comunicações no intercâmbio comercial entre a comuna e os grandes centros fornecedores. Os comerciantes locais ou o simples consumidor se locomovem prontamente para a venda de seus produtos ou para a compra de bens necessários ao consumo pessoal ou local, deixando de fazê-lo na cidade. Daí a desproporção apontada supra.

Aspectos sociais

A cidade possui, em síntese ligeira: rede de esgoto, rede de abastecimento de água e rede de energia elétrica, empresa telefônica urbana e interurbana, Agência Postal-Telegráfica, Escritório da ACAR, Inspetoria Secional do Ensino Primário, Agência do INPS, Agência do MEC, Agência de Estatística, Delegacia Militar de Recrutamento, Clube Literário e Recreativo, Clube de Campo, Liga Esportiva filiada à Federação, Serviço Estadual de Radiotelegrafia, Sociedades Filantrópicas (2), Hospital "Ana Moreira Salles, Estádio Municipal, Posto Agropecuário, Unidade Sanitária Estadual, empresas de ônibus, duas empresas de transporte rodoviário, 6 médicos, 6 dentistas, 6 advogados, engenheiro-construtor, templos da Igreja Católica, da Igreja Presbiteriana, da Assembléia de Deus e da Congregação Cristã do Brasil, Loja Maçônica. Conta ainda a cidade com três estabelecimentos bancários, inclusive Caixa Econômica Esta¬dual .

O pico de São Domingos

O Pico de São Domingos não mais pertence ao Município de Cambuí. Levou-o Córrego de Bom Jesus ao emancipar-se. Mas nunca deixará de moldurar a paisagem orográfica do município, porque Deus o fez, de fato, a cavaleiro da cidade, voltado para as suas ruas alinhadas, suas praças e avenidas, plantadas mesmo nas suas bases graníticas. Alteia-se sobranceiro e imponente a mais de dois mil metros na crista da cordilheira, e suas escarpas cinzentas lembram que:

"O São Domingos ao longe
Parece o crânio de um monge
De  grisalha cabeleira.
É sentinela garrida
Da minha terra querida,
Da bela terra mineira."

como o descreveu alguém que nasceu junto dele.

É constituído, no seu ápice, de dois blocos distintos, nitidamente ligados entre si, de maneira que, ao ser visto à distância, dá a aparência de um só monólito, ladeado por uma crista pontiaguda.

O seu acesso é feito pelo flanco norte, frente à cidade, sem grandes dificuldades. Não oferece perigo a sua escalada alpinística: uma brecha um tanto íngreme dá passagem ao topo do maciço, que surpreendentemente é constituído de um plateau mais ou menus amplo, proporcionando área enrugada e áspera, capaz de comportar bem a presença de centenas de excursionistas.

Dessa meseta se divisa o mais belo panorama que a vista do homem pode desfrutar. Como se um compasso gigantesco marcasse aí o centro geográfico de uma tela imensa e o girasse em círculo exato — o panorama retrata a indiscutível redondeza da terra. Uma sucessão interminável de serras c colinas, dispostas — ora em sentido concêntrico, ora infletindo umas e outras sobre enrugamentos díspares, dão a impressão de um oceano estático, azul, grandioso, em que as ondas se encrespam e se desfazem, se alteiam e se desmancham, erguem-se de novo e se estratificam de encontro à muralha de mataria espessa ou de ramificações estreitas do sistema orográfico. Por todos os lados pontilham, ao longe, aglomerados urbanos, esbranquiçados, indicando a vida humana em plena atividade, presos uns aos outros por longa fita de prata rebrilhando ao sol, risco que se vai entrecruzando aqui e ali, ao receberem o influxo de outros que se juntam e prosseguem deliberadamente para a fímbria longínqua do horizonte, rascunhando na paisagem uma teia caprichosa e inconsútil. O colorido é multifário, embora em tonalidades e matizes que variam do azul ferrete ao azul esmaecido, indicando a floresta densa, a gleba avermelhada e adusta, o campo de vegetação escassa, a área de cultura intensiva, a pastagem esverdeada apascentando o gado ou a terra arroteada pelo arado ou pela enxada. São 2.056 metros de altitude que os compêndios de geografia escolar omitem, inclusive o douto Aroldo de Azevedo, que nunca lhe assinalou a grandeza ciclópica. Lá está, bem fincada, uma possante antena repetidora de transmissão televisionada e radiofônica, e ali, em 1905, o Padre Agostinho Martell plantou uma cruz de madeira, oficiando missa solene perante considerável número de excursionistas.


O Pico de São Domingos / Pedra de São Domingos nunca pertenceu a Cambuí, como acreditava Levindo Lambert, nem mesmo quando o 
Córrego do Bom Jesus não era emancipado politicamente de Cambuí. O maciço maior da pedra, como avistamos de Cambuí, está 
circunscrito em área pertencente ao município de Camanducaia, e sempre foi assim, conforme se depreende de escritura 
pública lavrada naquele município. Já no seu lado leste, por onde a estrada chega, tem como marco divisando com a pedra maior, 
o que ficou conhecido como pedra menor ou pedra "fia", sendo as vertentes de um lado para Camanducaia e do outro Paraisópolis, 
sede da comarca de Gonçalves, cuja área está circunscrita neste município, sendo fato corroborado pela escritura 
publica registrada naquela comarca. (Túlio José Borges Pereira)

Distrito de senador Amaral

O Distrito de Senador Amaral, antigo São Sebastião dos Campos, foi elevado a Vila pela Lei n.º 1.039, de 12 de dezembro de 1953. Localizado num altiplano de l.600 m, desfruta de clima seco, temperaturas constantemente moderadas e amenas, horizontes largos e verdejantes. Conta, no momento, mais de 2.000 habitantes, pois que no último recenseamento alcançava l.783 habitantes na sede . Suas condições mesológicas, bem como a liberdade de suas terras, em que a batata o colocou em primeiro plano da produção nacional, vem atraindo forasteiros, agricultores e comerciantes vindos de toda a região, dando-lhe, por isso, inusitado movimento e impressionante prosperidade.

Sua área é de 138 km² e sua sede é dotada de luz elétrica fornecida pela Empresa Elétrica Bragantina S.A., de água encanada e esgoto domiciliário em andamento progressivo. Tem serviço regular de correio e duas linhas de ônibus ligando à sede do município e ao Arraial de Ponte Segura.

Uma queda d'água de regulares proporções, dentro da urbs, proporciona espetáculo agradável à vista.

O distrito é representado na Câmara Municipal por Waldomiro Silvério Rodrigues. A fiscalização distrital está a cargo de Benedito Wilson de Rezende. Possui excelente farmácia.

Escolas Combinadas:

Funciona na sede distrital, em prédio construído pela Prefeitura Municipal, Escolas Combinadas, mantidas pelo Estado, sob a direção da Professora Adail Bueno, mantendo oito classes regidas pelas Professoras Maria da Conceição Veiga Cometa, Salete Cândida de Rezende Freitas, Dulcinéa Santana Veiga de Rezende, Benedita Aparecida de Faria e Araci de Oliveira Rodrigues. É Servente Maria José de Souza. Fora da sede, na Serra do Cabra!, funcionam classes a cargo das Professoras Olívia Cabral e Nair Maria da Fon¬seca, mantidas pelo Estado. No Arraial de Ponte Segura estão duas classes mantidas pela Prefeitura e a cargo das Professoras Maria José Góis e Ovídea Maria da Silva, e no Bairro de Três Saltos, no mesmo distrito, funciona a classe da professora Inês Herculina das Chagas, nomeada pela Prefeitura.

O Distrito de Senador Amaral oferece grandes perspectivas ao desenvolvimento da fruticultura.

O rio das Antas

Não é de mais que se repita aqui a decadência do Rio das Antas. Merece ele página especial pela importância que teve na vida da cidade. Seu esvaziamento se deve à devastação das matas nas suas cabeceiras. Seus afluentes vão, a pouco e pouco, se esgotando sem que os moradores ribeirinhos tomem conta do seu definhamento e dos prejuízos que seu desgaste traz.

Era outrora caudaloso e, nas chuvas demoradas, turbulento e bravo. Uma ponte extensa, toda coberta de folhas de zinco, ligava a cidade às Chácaras do Zeca Correia e do Tota, abrindo passagem para Estiva e Vazes. As aberturas laterais não ofereciam vau à travessia livre de pedestres ou animais, salvo se a nado.

Canoas de pescadores subiam e desciam enfrentando-lhe a correnteza ou acompanhando-lhe o débito volumoso.

Hoje, no entanto, não passa de um córrego obscuro e pobre que se transpõe num salto...

Desenrolava-se antigamente sinuoso pela várzea que o leva até sua foz no Itaim. As chuvas persistentes inundavam-lhe as margens e criavam ali um lagamar imenso, piscoso e belo.

Hoje, não se dá isso. O Deputado Ulisses Escobar, representante de Camanducaia na Assembléia Legislativa do Estado, quando no exercício de Secretário de Estado da Viação, mandou para ali uma draga, deu ao rio retificação acertada e pôs fim às inundações periódicas. Ao mesmo tempo, ensejou a exploração rizícola das suas terras fecundas.

Na época própria, o vargedo extenso que margeia a Fernão Dias cobre-se de amarelo farfalhante, oferecendo à vista dos passageiros uma paisagem animadora e sugestiva.

Capítulo XI - Meios de comunicação

Correio

O serviço do correio — e porque é meio de comunicação entre os povos — andou tardo e capenga pela vida afora, só agora, felizmente, conquistando foros de repartição modelar no sistema burocrático brasileiro. Talvez porque lhe faltasse, nos primeiros tempos, o dínamo propulsor de suas atividades interioranas, que é, na verdade, o veículo que o transporta, alcançou a pouco e pouco a confiança e o reconhecimento de seus usuários.

Em 1871, um estafela, de Campanha a Camanducaia, visitava, a cavalo, Cambuí nos dias 1, 10, 16, 22 e 28 de cada mês, partindo da vila dia seguinte. Faz até lembrar Sísifo da lenda...

Na vila, um cidadão prestante, querido de todos - Francisco Xavier de Salles - dava-se ao trabalho de recolher e expedir a correspondência que vinha ou que ia por postalista ambulante.

Falecendo o estimado cidadão em 9 de junho de 1880, a incumbência transitou daqui para acolá, sem eira nem beira, graças aos Simãos Cirineus que pululavam, naqueles tempos longínquos, nas cidadelas do interior. E só em 31 de outubro de 1896, afinal de contas, é oficialmente criada a Agência do Correio na cidade.

Mas — pasme-se! — logo depois é suprimida, embora Maria da Conceição Vale houvesse alcançado sua nomeação para o cargo...

Com a nomeação de Gabriela Corrêa de Brito, em 19 de agosto de 1901, a repartição é reaberta, e sua titular teve exercício até 18 de junho de 1901, quando é para o cargo nomeada Francisca Amélia Furquim Lambert, permanecendo esta em exercício até 19 de abril de 1910. José Emídio da Silva é nomeado em 19 de abril de 1910 e só é substituído por Maria Amália de Brito em 11 de junho de 1916. A partir de 14 de setembro de 1916 é Luiz Hortense Vargas detentor do cargo, deixando a repartição em 29 de dezembro de 1917 para Joaquim de Paiva Cardoso, que a recebe mediante inventário pelo fato de exercer no momento o cargo eletivo de Juiz de Paz. Por portaria de 22 de dezembro de 1917 é Olímpia de Paiva que assume as responsabilidades da repartição, que, aliás, em 31 de dezembro de 1919 volta à responsabilidade de Joaquim de Paiva Cardoso, até que, por nomeação a recebeu Lindolfo Pedroso de Oliveira, posse em 6 de março de 1920. Foi exonerado por Portaria de 16 de dezembro de 1921. Logo depois é nomeada, 16 de janeiro de 1925, Josina Bueno com exercício até 10 de julho de 1928, data em que assume as funções Dolores Ferrer de Oliveira. Seu exercício vai até 11 de julho de 1936, data em que transmite a repartição a seu esposo Lindolfo Pedroso de Oliveira, cujo exercício agora vai até 20 de maio de 1959. Por Portaria n.º 662, de 20 de junho de 1959 é designado Geraldo do Nascimento Lambert, que prolonga seu exercício até 19 de julho de 1969, dia em que o cargo é preenchido por Cassiano Salles, ora em exercício.

Desde 1959 a Agência Postal se conjuga com o serviço telegráfico do Estado, sob uma só chefia. Note-se que em 1934 Maria Amália de Souza ocupa transitoriamente a chefia da repartição postal da cidade.

Os serviços gerais de correios e telégrafos vêm recebendo impulsos renovadores nestes últimos tempos, quer quanto ao dinamismo de sua expedição diária, quer no que toca à presteza e exatidão de sua entrega domiciliaria. A distribuição da correspondência domiciliar está a cargo de Cassiano Salles e os serviços do telégrafo sob controle de Geraldo do Nascimento Lambert.

Telefone

Há duas fases distintas na história do telefone em Cambuí.

Na primeira, a linha de comunicações vinha de Bragança Paulista passando por Extrema e Jaguari. Obra magnífica do pioneiro Sebastião Pires Ribeiro, de Ouro Fino, ligada posteriormente à que foi outrora a Companhia Telefônica Bragantina.

Instalava-se no sobrado hoje pertencente à família João Lopes, Rua Moreira Sales. Por volta de 1912 assumiu sua direção na Cidade João Francisco de Paula, que, por causa de suas funções, ganhou o apelido de João do Telefone. Era seu auxiliar imediato Lázaro Silva.

Não se sabe porque, suprimiu-se pouco tempo de-pois de sua instalação, arrancadas pela Empresa suas linhas metálicas e conduzida para a respectiva sede sua aparelhagem. Em conseqüência, João do Telefone foi transferido para Joanópolis.

A segunda fase, a atual, é obra de toda a população da cidade, que se cotizou e organizou a Empresa, em princípio de caráter meramente urbano, mas posteriormente ligada à rede telefônica geral do País. A cidade toda se acha aparelhada, espichando-se suas linhas a Córrego do Bom Jesus e em interligação com Estiva e Bom Repouso.

É um serviço que se vem impondo pela exatidão de sua funcionalidade comunicativa. É responsável por ele Terezinha de Jesus Carvalho, sendo Waldemir de Oliveira, presidente da empresa.

Telégrafo

O telégrafo teve inauguração em 1918, transmitindo, porém, mensagens por via telefônica até Paraisópolis, de onde eram reexpedidas por meio de sinais Morse. Sua inauguração foi festiva, ocasião em que falou o então Promotor de Justiça, Dr. Brotero Antônio do Pilar Cobra.

A despeito de ser o seu processo, no ato inaugural, um arremedo de telégrafo, prestou esse sistema relevantes serviços à comunidade local e a seus vizinhos.

Posteriormente, instalou-se, no mesmo prédio da Agência Postal, funcionando a partir de então por meio de aparelho Morse, a cargo de servidor especializado, subordinando-se o serviço à Agência Postal local. Nessas condições, presta excelentes serviços à cidade e às localidades vizinhas.

Televisão

É razoável que se registre- aqui a implantação dos meios de recepção televisionada em Cambuí. Inicialmente, dado o vultoso número de aparelhos televisores instalados, foi organizada uma empresa que, acertadamente, plantou nas alturas do Pico de São Domingos (2.056 m) uma possante antena receptora, capaz mesmo de receber irradiações províncias de estações longínquas.

Fracassada, tempos depois, a inteligente iniciativa, o "ponto de escuta" passou à Empresa de Transportes Cometa, poderosa e de abrangentes ligações interestaduais, que dele se serve para a constante interligação de seus inúmeros ônibus em trânsito rodoviário.

Mas, recentemente, beneficiando de pronto os inúmeros usuários da cidade e da circunvizinhança, foi instalada uma antena no chamado antigamente "Morro do Maneco Moreira", hoje de propriedade de Benedito Carvalho, de onde se descortina toda a cidade e seus arrabaldes.

Essa antena receptora está agora sob a supervisão da Prefeitura Municipal. Quase todos os canais teletransmitidos de São Paulo são colhidos satisfatoriamente em Cambuí.

Merece aplauso, pôr sem dúvida, o patrocínio da administração municipal nesse sentido.

Instrumento de divulgação com capacidade ampliativa bem superior à imprensa falada ou escrita — exerce ação decisiva na orientação coletiva, porque dispensa desde logo a análise pormenorizada dos textos ou dos leit-motiv e põe em funcionamento, ao mesmo tempo, os sentidos da vista e da audição. Na ação audiovisual da televisão, a massa encontra a satisfação pronta tanto para a sua curiosidade íntima como para a sua formação cultural.

Nem se exigiriam esses comentários, tão reconhecidos e repisados os efeitos positivos da televisão como meio de comunicação de massa.

Capítulo XII - A problemática das comunicações interestaduais

Estradas

O problema da intercomunicação dos municípios sul-mineiros com a capital de São Paulo para onde converge todo o comércio da região e de onde provêm os produtos industrializados de que ela necessita, constituía a preocuparão dos governantes municipais e de toda a população limítrofe. Já em 1854 (Revista do Arquivo Público Municipal de São Paulo, 1937), as populações da região sul-mineira pleiteavam sua anexação a São Paulo sob o fundamento de que todo o seu comércio era feito com a capital paulista. Daí a obsessão com que enfrentaram óbices e entraves opostos pelos administradores federais e estaduais na solução do problema.

O jornal O Progresso, de Cambuí, publicava, em 13 de maio de 1928, os seguintes comentários:

"Jaguari, Extrema e Cambuí vêm de longos anos trabalhando junto aos poderes do Estado para que esta região do extremo sul de Minas
seja beneficiada por estrada de ferro ou de rodagem.
O nosso colega O Tempo, de Jaguari, por anos consecutivos, com uma perseverança patriótica e ativa, digna de encômios, 
não se cansa de abordar o palpitante problema.
As Câmaras Municipais, por sua vez, já foram incorporadas a Belo Horizonte pedir ao então Presidente Mello Vianna as 
boas graças do Estado, para que se resolvesse a questão rodoviária do extremo sul. E todo o sul de Minas se rejubilou 
com a promessa então feita, de que seria efetiva¬da a ligação férrea Paraisópolis à estação dê Vargem.
Mais tarde, tendo falhado essa promessa, as mesmas Câmaras Municipais, por procurador idôneo, foram à presença do 
Sr. Presidente da República, pedindo solução para o angustioso problema.	
Agora, finalmente, sentimo-nos tocados por uma esperança benfazeja: o Governo Ao Estado, por intermédio da 
Secretaria da Agricultura, resolveu mandar estudar a ligação Belo Horizonte-São Paulo, cuja linha-tronco passaria 
por Jaguari, Extrema e Cambuí. Esse ato do Governo foi auspiciosamente comentado pela imprensa, que — sem qualquer voz 
discordante — via nele a melhor solução do problema.
Pois bem, Ouro Fino discordou dessa ligação, e entrou a telegrafar pedindo primazia para o seu município. Não contente 
com isso, a Gazeta de Ouro Fino, órgão oficial da política ouro-finense, vem de encetar campanha de 
pretensões egoísticas, querendo à viva força fazer com que a linha-tronco passe por aquele município, porque 
é tal e tal sua produção cafeeira, porque é tal e tal sua riqueza."

E depois de comentar com certa ironia as alegações bombásticas referentes ao alto progresso alcançado por Ouro Fino, continua o articulista convocando os políticos ouro-finenses a cerrar fileiras em torno da pretensão de Jaguari, Extrema c Cambuí, até então municípios postos à margem das cogitações e dos interesses do governo estadual. E encerra seus comentários depois de lembrar que Ouro Fino já estava aquinhoado por estrada de ferro, clamando por justiça em favor de uma rica e abandonada zona do Estado.

Em 17 de setembro de 1933, um cronista escrevia para a cidade de Bragança (SP) estes comentários:

"Um jornal do Sul de Minas vem de fazer longa reportagem a favor da ligação férrea de Bandeirantes (SP) e Pouso Alegre, 
na Estrada de Ferro Sul de Minas.
É uma campanha cediça nos anais da região. Pode-se mesmo dizer que os municípios contidos na referida zona esgotaram 
todos os recursos em prol desse melhoramento.
O Município,  jornal que se editava em Cambuí, número de 6 de setembro de 1904, dá a notícia da exploração 
que o Engenheiro Dr. Costa Trevões estava fazendo no sentido de estabelecer a ligação ferroviária entre Bragança (SPR) 
e a Rede Sapucaí.
Nessa mesma ocasião fundava-se em Cambuí uma associação denominada "Sociedade Agrícola e Industrial" destinada, 
entre outros fins, a fazer "a propaganda em prol da estrada de ferro que deverá passar por esta cidade", tal como 
expressava o jornal cambuiense A Propaganda, de 22 de setembro de 1904.
A Associação ficou no discurso do Promotor de Justiça e no lema Improbus labor oimia vincit —  eloquentemente 
proposto pelo vigário..."

E o mesmo jornal continua tecendo argumentos e comentando projetos do Governo do Estado, em favor da desenvolvimento cada vez maior da rede ferroviária do Estado, acrescentando:

"Ao assumir a Presidência do Estado, o Sr. Raul Soares designou comissão de engenheiros, da qual fazia parte 
o atual Presidente do Estado, Dr. Olegário Maciel, com o fim de estudar o plano ferroviário a aludida comissão 
apresentou o seu relatório: foram meticulosamente estabelecidas todas as ligações ferroviárias do Estado, exceto a 
que dizia respeito ao extremo Sul de Minas (Cambuí, Camanducaia e Extrema) . Diante desse inominável "esquecimento", 
dirigimos uma Carta Aberta (ver Imparcial, de Pouso Alegre, nº 121) ao Presidente do Estado (junho de 1923) 
estranhando não consignar aquele plano a ligação Pouso Alegre-Vargem.
Mais tarde, em 1927, os Presidentes das Câmaras de Extrema, Camanducaia e Cambuí vêm a Belo Horizonte entender-se 
com o Presidente do Estado sobre o mesmo desiderato, defendendo a velha aspiração dos municípios sulinos. E O Tempo, 
de Camanducaia (nº de setembro de 1927) publicava, logo em seguida, violento artigo analisando as promessas 
vãs dos governos e lembrando a conveniência de se unirem, por uma qualificação eleitoral intensificada, no sentido 
de fazerem, peso na balança eleitoral.
E indo ficou em demagogia..."

E o cronista de Belo Horizonte para o jornal paulista conclui seus comentários conclamando todos os municípios localizados na área abandonada para uma ação conjunta, cm que, além dos elementos de caráter político se unam representantes de todas as classes sociais, homens da inteligência, do comércio, da indústria, da lavoura, para, em conjunto, alcançarem o objetivo colimado.

E outro jornal de Cambuí mesmo, O Expositor Municipal, de 1º de outubro de 1933, a propósito da reportagem acima transcrita, acrescenta:

"Esse artigo é um esforço ingente, incomensurável, que se vem fazendo, de longa data, nos municípios abandonados 
— Cambuí, Camanducaia e Extrema — em prol de tão útil campanha. Tal-vez mesmo seja utopia a ligação ferroviária 
desta malfadada tríade de fecundos e ubérrimos rincões mineiros, mas, mesmo assim, tem sido, está sendo, há de ser 
o belo sonho acalentado e acariciado por todos os habitantes destas plagas."

Mais recentemente, é a A Montanha, de 25 de abril de 1948, de Cambuí que escreve:

"Vem causando relativa impressão o movimento separatista do Triângulo Mineiro. Quer a gente daquele rincão, 
tout court, o seu desmembra-mento de Minas e a constituição de um novo listado — o Estado do Triângulo.
Se o movimento é de grande envergadura, não sei. Negam-lhe importância, uns; emprestam-lhe seriedade, outros.
De qualquer modo, o que nenhuma dúvida resta é que os benefícios do governo devem ser distribuídos equitativamente 
por todas as comunas, coibido o privilégio criado em favor da zona feliz que deu à luz o governante do momento...
Mais acertado, sob o ponto de vista administrativo ou mesmo político, seria que os municípios limítrofes de São Paulo 
recebessem maior ajuda. E se explica: é que em São Paulo a vida municipal é muito mais confortável. As cidades 
paulistas oferecem mais interesses, quer nas possibilidades de progresso e conforto propriamente ditos, quer no 
tocante aos problemas da luta pela vida. Exercem, por isso mesmo, um constante atrativo aos mineiros da fronteira, 
em virtude do que a emigração para a Canaan paulista toma quase as proporções de um êxodo permanente. Daí o fato
de se lembrar a necessidade de melhor proteção aos municípios limítrofes com o grande Estado bandeirante."

Pois bem, esse problema permaneceu na tenda das discussões por muitos lustros, só alcançando solução com a advento da estrada asfaltada superiormente denominada Fernão Dias, pois ela recobre, em toda a sua extensão, as pegadas ali feitas pelo impávido desbravador de nossos sertões.

Com a abertura da grande rodovia, cessaram as discussões e as queixas em torno do isolamento a que estava relegada larga faixa do sul do Estado.

Veja-se que o lançamento direciona! da grande via acompanha rigorosamente a trilha aberta pelo indígena, lembrando assim o que assinala Buarque de Holanda (Caminhos e Fronteiras, pág. 23) que, por igual, acompanha Orville Derby ao afirmar que os sertanistas "apenas seguiam caminhos já existentes pelos quais se comunicavam entre si os índios de diversas tribos relacionadas, ou grupos da mesma tribo. "E Buarque de Holanda acrescenta, com acerto, que ainda hoje, o traçado de muitas estradas de, ferro parece concordar, no essencial, com os velhos caminhos dos índios e bandeirantes, sinal de que sua localização não era caprichosa (obr. cit., pág. 23).

Também Cassiano Ricardo (Marcha para o Oeste, pág. 251) diz: "São os caminhos preexistentes, abertos pelos índios — as picadas — ou pela natureza — os rios e principalmente os que ele mesmo abriu, que explicam a ubiquidade do bandeirante pelo Brasil inteiro." Ligando as duas grandes capitais — São Paulo-Belo Horizonte — a Fernão Dias abriu perspectivas novas para todas as cidades plantadas às suas margens. Por ela, enfim, partindo de Atibaia em 1674, transitou o intrépido bandeirante em seu roteiro em busca das minas do Sapucaí, segundo informa Capistrano de Abreu (Os Caminhos Antigos e Povoadores do Brasil, pág. 69).

Limites interestaduais

A solução da pendência de limites entre Minas e São Paulo não alcançou, de pronto, efeito na longa linha traçada pela demarcação Rubim. No correr dos tempos surgiram interpretações diversas em alguns pontos da linde, criando pequenos focos de atritos interestaduais. Um dos pontos mais controvertidos e, por isso mesmo, dos mais sérios, deu-se no local por São Paulo designado "Bandeirantes" e por Minas chamado "Vargem", entre os Municípios de Extrema (MG) e Bragança Paulista. Dualidade de topônimos para o mesmo local.

Os serviços de fiscalização e de arrecadação de impostos, principalmente, encontravam ali o clímax da controvérsia: se o fiscal vinha de São Paulo, o contribuinte alegava suas condições de "mineiro", e se, ao revés, o arrecadador se dizia mineiro, o devedor se proclamava morador em terras de São Paulo. A dupla territorialidade estadual se entrechocava quando os interesses econômico-financeiros se fazia sentir. E ninguém ali pagava impostos estaduais c municipais.

Criada a diocese de Bragança, o respectivo titular nomeou de pronto, pároco para o Arraial de Bandeirantes, recebendo, porém, de imediato, protesto do Bispo de Pouso Alegre, que ali tinha uma de suas paróquias.

A Estrada de Ferro Bragantina, por seu turno, a fim de garantir a posse paulista na estreita faixa contestada, espichou seus trilhos partindo de Bragança, até o ponto exato em que São Paulo entendia estar sua linha divisória, construindo aí a estação ferroviária "Bandeirantes".

Os jornais da região, por motivo de suas afinidades políticas e sentimentais, entraram na perlenga. Em Camanducaia, pelo O Tempo, Plínio Gayer protestava corajosamente e, por igual, O Progresso, de Cambuí, dirigido por Levindo Lambert, reagia contra a intromissão paulista.

O clima não era bom...Mas tudo ia, a pouco e pouco, amainando ante as perspectivas apontadas por comissão de alto nível designada para solucionar o litígio.

* * *

A questão, porém, não se encerra aí.

O Estado de Minas, de 30 de janeiro de 1934, publicava vibrante, editorial comentando a situação do mo-mento, em que o extremo sul do Estado reclamava contra a situação de abandono por parte do governo estadual:

"Noticia-se — diz o articulista - que a população de Vargem, território contestado por Minas e São Paulo, vem de enviar 
representação à Constituinte pedindo a solução para a controvérsia suscitada naquele local entre os dois Estados.
Um jornal paulista, comentando o fato, diz que "os habitantes daquele lugar, em hipótese alguma desejam submeter-se à jurisdição 
mineira." E terminando, assevera o mesmo jornal, que o memorial em apreço propõe plebiscito para a solução definitiva do caso. 
Quem  conhece a zona fronteiriça prevê, desde logo, que, aceita por quem de direito, a fórmula plebiscitaria, o resultado, 
não pode haver a menor dúvida, será favor de São Paulo."

E o articulista critica a maneira como a administração estadual mineira enfrenta os problemas pertinentes às questões sócio-econômicas da região. E acrescenta em seguida:

"A população de Vargem, território que a ad-ministração mineira batizou com o nome de "Palmeiras", se nega a 
submeter-se à jurisdição mineira. Terá razão?"

Sim e não, responde o próprio articulista.

Atribuíam-se motivos de natureza geográfica para a opção dos moradores de Vargem (ou Palmeiras) em favor de São Paulo, mas encontram razões históricas e sentimentais para justificar a permanência mineira no arraial, e acrescenta:

"Já se disse que os municípios de Extrema, Camanducaia e Cambuí constituem o apêndice de Minas Gerais. Acertada expressão, 
essa: apêndice, coisa inútil, pedaço que os cirurgiões decepam sem nenhum dano para o paciente e o atiram aos cães famintos. 
Apêndice, acertada expressão aplicada aos três municípios sulinos, que vão sendo, de verdade, coisa inútil no organismo 
administrativo de nosso querido Estado."

E encerrando com palavras repassadas de revolta e tristeza, diz ainda o articulista:

"Urge que Minas Gerais adote política de proteção às localidades situadas nas divisas paulistas. Provê-las de recursos 
financeiros, de meios de comunicações, de obras e edifícios públicos e maiores facilidades na ação administrativa, de forma 
a prender o indivíduo ao meio e a despertar nas respectivas populações a gratidão, o amor, a admiração, o reconhecimento 
e o orgulho pelo Estado e por seus governantes  - é o caminho para a conquista das simpatias de uma região que é, 
diga-se o que se disser, genuinamente mineira."

Palavras proféticas. Nos últimos anos, os governos estaduais têm proporcionado à região uma política de desenvolvimento gradativo, sob todos os aspectos, consolidando a simpatia popular pelo Estado.

O Apêndice Mineiro

Cambuí, Camanducaia e Extrema receberam o epíteto pejorativo do Apêndice Mineiro.

Infelizmente — diz um comentarista pela Cidade de Bragança, de 21 de julho de 1938:

"Estou agora compreendendo os motivos porque os governos estaduais têm entregue à própria sorte os três municípios 
do Sul do Estado: Cambuí, Camanducaia e Extrema.
Depois de uma longa jornada pela imprensa em que debati com denodo e fé esse problema culminante para a minha terra, 
experimento agora aquela estranha sensação, que a inteligência do Padre Vieira teve que se render para entender as 
intrincadas regras do vetusto latim..."

E depois de comentar a posição geográfica dos municípios em relação a São Paulo, diz:

"Alimentei por muito tempo a esperança de que Minas Gerais acolhesse um dia os anseios e aspirações daquela 
pequena região do Estado, fazendo deslizar por suas colinas luxuriantes as locomotivas condutoras de progresso 
e de riqueza, ou, então, abrisse por seus vales magníficos amplas e largas rodovias.
Todavia, chego à conclusão de que jamais os habitantes de minha terra ouvirão o silvo agudo das máquinas possantes 
jamais terão o concurso oficial na abertura de artérias destinadas à condução de nossas riquezas."

E acrescenta com certa ênfase:

"Cambuí, Camanducaia e Extrema são tributários de São Paulo. O seu comércio, embora incida sobre eles pesados 
tributos de fronteira, é feito com Bragança e mesmo com a grande metrópole paulista."

E depois de enfatizar o desinteresse da administração mineira, no tocante a esse recanto rico e ameno do Estado, conclui com certa tristeza :

"Se é verdade que tudo é Brasil, na expressão corriqueira da literatura unitária, também é certo que, se Minas Gerais 
proporcionar melhores meios de transporte à malsinada região extremo-sul, abrirá, inquestionavelmente, maiores fontes 
econômicas ao já poderoso Estado de São Paulo. Se tudo é Brasil - que impede São Paulo procurar resolver então esse 
problema relevante para seu próprio interesse?"

Não foi necessária a interferência paulista em coisas de interesse mineiro, porque um mineiro na Presidência da República abriu a cobiçada estrada. Nem, tão pouco, encontrou ressonância o cepticismo incongruente e desajustado do comentarista, porque Minas Gerais, no seu self-government, soube dar solução acertada e oportuna ao grave problema de suas ligações viárias.

* * *

No rastro desses acontecimentos e comentários, faz-se lembrar que o Dr. José Guilherme Eiras, prestigioso causídico então residente em São Paulo, reuniu em interessante plaqueta uma série de seus artigos publicados no Correio Paulistano, conceituado diário de São Paulo. Um comentarista mineiro, por sua vez, sob a epígrafe "Os Limites de Minas e São Paulo", em O Diário (BH) de 9 de setembro de 1935, teceu considerações elevadas em torno do opúsculo, analisando-lhe os argumentos e apreciando-lhe os objetivos, condenando, no entanto, o plebiscito lembrado pelo eminente advogado para a decisão da controvérsia.

Muito antes do Dr. José Guilherme Eiras, um batalhador incansável pela redenção do chamado "apêndice mineiro", o Sr. Mineiro Júnior publicava no "O Imparcial", de Pouso Alegre, em junho de 1923, extensa e bem lançada "carta-aberta" ao Dr. Raul Soares, então Presidente do Estado, pleiteando com vigor e razões concludentes a ligação Paraisópolis (RMV) à Estação de Vargem ou Bandeirantes (SPR).

Embora já se houvesse versado esse assunto em outro capítulo desta obra, repita-se que o Governo de então havia constituído comissão de engenheiros, entre os quais o Sr. Olegário Maciel, incumbida de oferecer-lhe estudo integral de todas as estradas por que Minas ansiava. E do relatório extenso em que figuravam até mesmo sub-estradas, vias hipotéticas, destinadas a futuro remoto, não constava a estrada destinada a favorecer o rincão de Cambuí, Camanducaia e Extrema. Mineiro Júnior, então, protesta com veemência e calor, acusando a comissão de agir sob influências políticas, desprezando os interesses regionais das respectivas populações. E tudo ficou assim...

A "carta-aberta" redundou inócua, mas, com ou sem a interferência da política, tudo se resolveu a contento. Tudo se resolveu a contento, porque tudo pode ser mudado, menos a geografia.

* * *

E, para bem demonstrar a profunda alteração que se processou nos serviços de transporte na Região Extremo--Sul do Estado, transcreve-se, para efeito também de encerramento deste item, a impressão deixada por alguém, no jornal Cidade de Bragança, de 23 de julho de 1937, a propósito de viagem então feita :

Santa Rita dos Pastéis

Um dos divertimentos preferidos pelos que visitavam o Parque de Diversões da Feira Permanente de Amostras, de Belo Horizonte, 
era, sem dúvida, a pitoresca jardineira denominada Santa Rita dos Pastéis. Com os eixos propositadamente entortados, 
proporcionava a seus passageiros, pagando dez tostões a corrida, solavancos capazes de arrancar vísceras e amassar ossos e músculos.
Pois bem, fui experimentar Santa Rita dos Pastéis no percurso de Estiva a Cambuí. A jardineira que faz o serviço de transporte de 
Pouso Alegre a Cambuí, passando pela Vila de Estiva, não tem, é claro, as características da que desopilava o fígado dos alegres 
visitantes da Feira de Amostras. Ao contrário, até: presta relevantes serviços e atende bem às necessidades sociais.
Mas, Santa Rita dos Pastéis toma, entre Estiva e Cambuí, um caráter diferente: não são os eixos propositadamente entortados, 
não é o  veículo em si mesmo que põe em pandarecos os bofes da gente. É a estrada esburacada e imprópria que nos mói as carnes 
e a alma. Porque também a alma, ao término da viagem, se sente conturbada e doente à vista do espetáculo triste que se suportou."

O reverso da medalha agora impressiona: aí está a Fernão Dias magnífica, esplêndida, perfeita, larga, linda, ligando as duas capitais e as terras que o desbravador ligou com o tacão de suas botas e o suor de seu rosto. ..

Solução de limites

A pendência de limites entre Minas e São Paulo, de que trata este capítulo, aberta desde mesmo que se traçou a Linha Rubim, só foi definitivamente solucionada em 28 de setembro de 1936, quando comissão de alto nível, constituída de paulistas e mineiros, deu a questão por encerrada, fixando então suas raias atuais.

Assinaram a ata demarcatória, por São Paulo: Dr. Francisco Antônio de Almeida Morato, Dr. João Pedro Cardoso e Dr. Aristides Bueno; e Dr. Milton Soares Campos, Dr. Benedito Quintino dos Santos e Dr. Temístocles Corrêa Barcelos, por Minas Gerais.

Esse acordo interestadual, encerrando a secular pendência, foi aprovada pelo Decreto nº 7.932, de 20 de setembro de 1936, por parte do Governo de São Paulo, ad referendam da respectiva Assembléia Legislativa, que o aprovou pela Lei nº 2.694, de 3 de novembro de 1936, e pelo Decreto nº 673, de 20 de outubro de 1936, baixado pelo Governo de Minas Gerais, também ad referendam da Assembléia Legislativa, que, por igual, o deu por firme e valioso, pela Lei nº 115, de 3 de novembro de 19,36.

A homologação desses importantes arestos foi feita pela Lei Federal nº 375, de 7 de janeiro de 1937.

Por fim, os trabalhos demarcatórios, consolidando o ajuste, foram encerrados através dos Decretos nº 8.468, do Governo de São Paulo, e nº 944, do Estado de Minas Gerais, ambos datados de 11 de agosto de 1937. Per omnia secula...

Capítulo XIII - Difusão cultural

Imprensa

O primeiro jornal de que se tem notícia, editado em Cambuí, veio a lume nos primeiros tempos deste século. Denominava-se "O Itahim", étimo tomado ao principal rio do município, nascido ao pé da Pedra de São Domingos. Bem lançado, bem redigido e, sobretudo, orientado com elegância e independência. Redatoriava-o o Coronel Lázaro Silva, que, ao mesmo tempo, advogava e dirigia hotel. Gerente: Clementino Azevedo. O exemplar de 16 de junho de 1901, nº 18, publica veemente editorial de crítica a Cesário Alvim, que renunciara a Presidência do Estado, medrosamente, só porque em Campanha houve uma tentativa de rebelião popular, prontamente debelada. A crítica e causticante e severa, e o articulista assume atitude corajosa e altiva diante do impasse. Vale a pena transcrever, desse mesmo número, o seu interessantíssimo

Expediente

Publica-se aos domingos.

São nossos correspondentes:

Rio de Janeiro: M..J.  Gonçalves Pereira - Rua de São Bento nº 11, Monsenhor João Evangelista Braga
Inhaúma. - A. J.  Souza Botafogo 
Pernambuco: Alfredo   Câmara  -  Administração-Geral  dos   Correios .
Minas: Dr. Alfredo  Pinto – Bello Horizonte.
Jaguary: Major  Bazilio   Ribeiro  de   Sá.
São  Paulo: Dr.  Antônio Braga - Largo 7 de Setembro n.9 7.
São Bento do Sapucahy: Professor J.   Badaró.
São José dos Campos: Manuel  Teixeira   de  Souza.
Extrangeiro:
França: Dr.   F.   Germain,  engenheiro - Paris.
Itália:  Dr.   A.   Emiliani, médico - Montegiorgio.
Ilha de Malta: Cav.   Giuseppe Miller - Malta.
Japão: J.F.   Collaço  -  Chinese  -  Bank  Yokohama.
China: Álvaro  Antônio  Álvares  -  Hong-Kong.
Beytouth, Syria:  Gregoire Audi.
Ilha de Cuba:  Biagio Torrielli - Cônsul  em  Havana.

Como se vê, o pequeno hebdomadário cambuiense varava o mundo e espalhava-se vitoriosamente por todos os quadrantes da terra. Aos mais longínquos países de lín-guas estranhas: China, Japão, Malta, Síria, onde os jornaleiros por certo apregoavam pelas ruas: "O Itahim! O Itahim! Chegou O Itahim!"

Está isso na primeira página do jornal nº 18, de 16 de junho de 1901...

O prelo pertencia a seus dirigentes, motivo porque, transferindo-se o Coronel Lázaro Silva, cm razão de desaven¬ça política com os dirigentes de Cambuí, instalou a máquina impressora em Jaguari, onde, aliás, veio a ocupar posição de destaque, clcgendo-se Presidente da Câmara.

"O Itahim" teve o condão de despertar o interesse da cidade por um jornal que lhe acompanhasse os passos e levasse aos quatro ventos a onda de progresso que a ia impulsionar. Providenciou-se a aquisição de prelo, o que foi feito mediante "ação entre amigos" e, em consequência, instalada a oficina no prédio em que hoje funciona o Clube Recreativo, em salas próximas à casa do Tabelião Benedito Salles.

Nesse mesmo local se instalou também a primeira mesa de bilhar que a cidade teve. Ali se reuniam elementos de prol da sociedade cambuiense para o novo "passa tempo" de boa qualidade.

A tipografia era dirigida por João Batista Corrêa, cuja habilidade o fez aperfeiçoar-se logo na técnica da composição. Tinha por auxiliar Achiles Frederighi.

Nasceu então, ali, o jornal "O Município", redatoriado por José Alexandre de Moraes, uma cultura bem de¬senvolvida, revestida de grande modéstia. No exemplar de 6 de setembro de 1904 lançou vibrante editorial defendendo i ligação ferroviária Pouso Alegre a Bragança.

Era realmente um semanário bem feito. Conteúdo e continente. A sua apresentação gráfica excelente, como excelentes eram seus editoriais.

Cessadas as atividades de "O Município", outro jornal, A Propaganda", veio a defender as aspirações e os anseios de progresso da comunidade local. Era dirigido pelo Dr. Drauzio Vilhena de Alcântara e assessorado também por José Alexandre de Moraes, em 1908, de curta duração.

Depois desses bem feitos periódicos há um hiato pro-longado sem qualquer publicação jornalística, até que, em 1922, por ocasião da grave luta política travada no município, surgem dois jornais combativos: "O Rebate", saído em primeiro lugar, defendendo a posição do partido situa¬cionista, e "O Democrata", publicação iniciada em seguida, dando apoio às ideias deflagradas pela oposição. Terça¬ram armas por algum tempo, atacando-se reciprocamente. Jornais de cunho partidário, trazendo, cada qual, interesses diferentes, tiveram resultados negativos no desenvolvimento da campanha que defendiam.

Cessada a pugna com a vitória do situacionismo, extinguiram-se também os dois defensores partidários. E não foi sem tempo. . .

Mais tarde, em 1929, surge "O Progresso", dirigido por Levindo Lambert, tendo Waldir Lambert na orientação administrativa e no trabalho gráfico. Durou pouco. Prestou bons serviços, defendendo as ligações rodoviárias interestaduais na Região do Sul de Minas.

Em 1930 é a vez da "Gazeta de Cambuí". Vai até 1931. São vários os seus redatores, entre os quais o Dr. I.ívio César, o Dr. Guttemberg Fernandes e Levindo Lambert. Em sua última fase é redatoriado pelo Dr. Halley Lopes Bello, que lhe empresta grande brilho e o orienta superiormente.

O Dr. José Ferreira da Silva Júnior funda "O Expositor Municipal", bem impresso e de bom conteúdo lite¬rário .

Encerrada essa fase de publicações periódicas, o Deputado Milton Salles, cm 1949, findo o ciclo ditatorial

cm que viveu o País, põe a lume o "A Montanha", destinado a uma bela posição no cenário jornalístico do Estado. Jornal bem feito. Intérprete da União Democrática Nacional. Teve vida curta, mas semeou boa semente na seara oposicionista do Estado.

Recentemente um grupa de jovens fez publicar o "Atalaia", que chegou a expedir poucos exemplares, sem jeito de prosseguimento efetivo — o que foi deveras lamentável. Tratava-se de uma publicação embebida de boas intenções e fundamentada no interesse de divulgar a marcha do progresso na cidade e de fazer cultura no sentido mo¬derno e eficiente da palavra.

Conserva-se ainda a lembrança de um pequeno jornal, "A Flecha", de cunho humorístico, de que era redator Levy de Laert, pseudônimo de Levindo Lambert, tendo como gerente Xandó, apelido de Alexandre de Salles Fanuchi, de saudosa memória. Viveu pouco. Morreu cedo...

Bibliotecas

Há na cidade três boas bibliotecas: a "José Alexandre de Moraes", da Prefeitura, com 2.301 volumes; a do Clube Recreativo "Rui Barbosa", com 968 volumes e a do Colégio Estadual, somando já 3.600 obras especializadas, denominada "Dr. Halley Lopes Bello".

A biblioteca da Prefeitura, aberta ao público, padece a falta de classificação adequada, obedecendo apenas a uma catalogação empírica. Mas a do Clube Recreativo mantém classificação decimal, Sistema Dewey, instalada em sala adrede preparada para o mister, bem equipada e simpática. A biblioteca do Colégio Estadual — a melhor da cidade — é privativa do estabelecimento e suas obras se completam em torno das disciplinas em que se desdobra o currículo escolar.

A frequência das bibliotecas públicas é compensadora e satisfatória.

Cinema

Lá pelos anos de 1912 ou 1911.5 é que se instalou o cinema na cidade. Funcionava no prédio onde hoje se acha o mercado, que, por sua vez, em virtude de tremenda manta passada pelo Sr. Ricardo José Pereira à Câmara Municipal, quando presidente o Sr. Silvério Bento da Silva, funcionava onde hoje está o cinema, na Praça da Matriz.

A inauguração do cinema foi um acontecimento de grande repercussão em Cambuí e seus arredores. Instalara--o uma empresa de que era presidente o saudoso farmacêutico José Luiz Tavares da Silveira.

Os trabalhos técnicos foram feitos pela inteligência biilhante de João Batista Corrêa, mais tarde substituído pelo também inteligente Lázaro Silva.

Não havia luz elétrica na cidade. Um gerador a gasolina produzia tanto a energia necessária como a luz in-terna e externa. A Banda de Música do Zeca Pedro rompia um dobrado nos confins da Rua Coronel Lambert e marchava para o cinema, arrastando já um punhado de assistentes. A igreja se esvaziava e Frei Marcelino Dorelli, carmelita descalço, pregava zangado:

- Calígula tinha um cavalo chamado Incitatus. Elegeu o cavalo Senador de Roma e lhe dava banquetes, comidaria fina e bebidas gostosas. Mas o cavalo relinchava e pateava desesperado quando via um feixe de alfafa.

E concluía, cheio de humor:

- O povo de Cambuí é como o cavalo de Calígula: deixa a igreja para procurar o cinema.

Não adiantava a arenga do frade ingênuo e bom. O povo largava a reza e acompanhava a banda de música, a caminho do cinema...

A projeção era feita por trás da tela, e o Abel Guimarães se incumbia de, em cada intervalo de filmes, molhá-la intensamente. E é justamente por causa do Abel Guimarães, um português fino c astuto, que surgem agora estas notas ligeiras. Porque o Abel Guimarães pode ser considerado precursor do cinema falado. Ficava ele por trás da tela, de martelo em punho, bigorna e outros petrechos ruidosos e sonoros, para, no momento exato, produzir o som ou o ruído que o drama ou a comédia representavam. Às vezes o estampido da garrucha do Abel não coincidia com a detonação do drama, mas a valsa langorosa do Cornélio desviava a atenção dos espectadores. E tudo ia bem, afinal de contas, magnificamente bem mesmo, lá pelos bancos compridos que enchiam a pequena sala, toda às escuras...Tontollini arrancava grossas gargalhadas, Teda Bara deitava olhares cobiçosos, e o Abel teria lançado seu nome na história, se se previsse a extensão que a técnica, a ciência e a arte fariam ao cinema moderno...

Atualmente a Empresa de Wanderley Meyer atende perfeitamente às exigências de seus usuários. Além de proporcionar-lhes conforto interno, poltronas amplas e distintas, preocupa-se em exibir filmes de longa-metragem e de alta qualidade.

Não contente, a empresa constrói agora uma nova sala de exibições dotada de todos os requisitos modernos de beleza e conforto. Oferece sessões diárias, às 20 horas, e aos sábados e domingos três sessões intervaladas.

Teatro

De longa data foram bem cultivados em Cambuí o gosto e a técnica teatrais. A arte dramática tinha aí apaixonados cultores. Fundara-se o Grêmio Artur Azevedo.

Não havia prédio próprio, e os amadores da arte serviam-se de um pavilhão outrora existente mais ou menos onde está boje a casa nº 358, da Rua Coronel Lambert. Era propriedade do Major João Correia da Silva. Tudo simples. Piso de terra socada. Palco improvisado ao fundo.

Cada assistente levava consigo, na noite da representação, cadeira, tamborete ou banco em que se aboletava e que reconduzia para sua casa logo que encerrasse a peca. A criançada assistia o espetáculo gostosamente espalhada pelo chão...

O grande animador do teatro era João José Pereira o João Pedreiro, como era conhecido. Quase analfabeto, mas dotado de memória prodigiosa, linha, como quase todos os portugueses, pendor razoável para a interpretação de personagens importantes nos dramalhões sentimentais da época. Seus filhos Nico Pedreiro e Aquilino tomavam parte. Os demais comparsas João Tota, Lindolfo Sales, Zé Fidélis, Zeca Pedro, Anália Lambert, João Gato, serviam sofrivelmente na comparsaria da peça. Silvino José Ferreira vinha de Jaguari para completar o elenco. E nessas idas-e-vindas acabou casando-se com Aquilina.

Tempos depois, já em prédio próprio, onde está hoje. o cinema, construído por Ricardo José Pereira e passado por barganha à Câmara Municipal, que ali pretendia insta¬lar mercado, foram levadas algumas pecas representadas por Alfredo da Costa Magalhães, Antônio Omelas e João Pedreiro, três bons portugueses, e outros. O dramalhão "Ghigi" foi encenado ali.

Bem mais tarde, em 7 de setembro de 1918, Levindo Lambert interpreta o personagem principal do drama "Artur, o Jogador", e Chiquito Fanuchi e Quincas Duarte fazem-se admirar por suas boas qualidades de cômicos em comédia levada a efeito no final do espetáculo.

Há, depois, um hiato demorado nos bastidores modestos do palco e, em 1925, vai à cena a Revista Musicada Cambuí por dentro e por fora, de autoria, letra e música de Levindo Lambert, sobre costumes locais. A peça foi as¬sim levada, personagens e quadros:

Nhô Belarmino - Alfredo Magalhães;
Trancoso - Duílio   Capossoli .

Quadros:

I — "As Árvores" — Edith Magalhães, Ana Salles, Josephina Magalhães, Floripes Nascimento e Arminda Silva.
II - "O Ford" — Sálvio Magalhães. Coro: Alice Fanuchi, Filomena Silva, Olinda Magalhães e Maria Joana Eiras.
III - "As Estradas" — Efigênia Lambert, Mariinha Lambert e Benedita Carvalho.
IV - "O  Trabalho" - Francisco  Capossoli.  Coro:  Maria Joana  Eiras, Alice Fanuchi  e  Olinda  Magalhães.
V - "Câmara  Municipal"  - Edith  Magalhães.
VI - "Capitão Soares" — Antenor  Ramos.
VII - "Gratidão" - - Filomena  Silva.
VIII -  "Os Cacoetes" - José de Barros Duarte, Francisco Capossoli,  Antenor Ramos e  Duílio   Capossoli.
IX - "Os Piraquaras" - Mariinha    Lambert, Benedito Moraes  e Duílio Frederighi.
X - "O Poeta" - Mariinha Lambert.
XI - "O Amor" - Nenete Lambert e Tereza Nascimento. 
XII - "A  Serenata" - Francisco Capossoli.
XIII - "A   Pinga" - Edith  Magalhães, Efigênia Lambert, Ana Salles, Alice Fanuchi e Antenor Ramos.
XIV - "A   Saudade" - Filomena   Silva.
XV —   "Hino a Cambuí" — por todo o elenco.
Segunda parte:
"Uma   Troça   de   Estudantes" —  comédia.
Personagens:
Nhô Jucá (caipira): Antenor  liamos; 
Augusto: José de  Barros Duarte;
Luiz: Duílio Capossoli; 
Alfredo: Benedito Moraes; 
Curiós: José Nascimento  (estudantes).

A parte musical ficou sob a regência do escultor italiano Agostinho Odísio e a orquestra se constituiu dos seguintes músicos: João de Salles Fanuchi, Elias Fanuchi, Coniélio Lambcrt, Zico do Tota, José dos Heis, José Hilário e João Lagata.

Na reprise foi oferecido ao autor, festivamente, seu busto em tamanho natural, esculpido pelo artista italiano Agostinho Odísio.

Dois anos mais tarde, em 1927, o mesmo autor encenou nova revista teatral musicada: Cambuí etc. e tal, com os seguintes personagens e quadros:

Cel. Manduca (fazendeiro) - José  Nascimento
Nhá Vevá, sua mulher - Edith  Magalhães
Tolentino - Duílio Capossoli
Chofer - Antônio  Salles Oliveira
Transeunte I - Conceição Moisés
Transeunte II - Aparecida Salles
Leiteiro - João Nascimento
Melindrosa - Maria Nascimento
Almofadinha - Donana Salles
Dona Língua - Maria  Joana  Eiras
Menina A -  Aparecida Moraes
Menina B - Conceição Lambert
Menino I - Nenete Lambert
Bilheteiro - Waldyr Lambert
Bilheteiro II -João Nascimento

Quadros:

I - "Alvorada" — solo de Alice Fanuchi e coral feminino.
II - "Jardim" — solo de Antônio Salles Oliveira e coro de vozes femininas.
III - "Transeuntes" — solo de Ana Salles.
IV - "Mercado" —  solo  de  Francisco  Capossoli   e  coral feminino.
V - "Os  Distritos"  — Bom  Retiro,  por  Antônio  Salles Oliveira; Córrego, por Tereza Nascimento e Cidade, por Filhinha Oliveira.
VI - "O Leiteiro" — solo por João Nascimento.
VII - "Almofadinha" — por Ana  Salles.
VIII - "Amor  na  Roça"  —  dueto  por  Filomena   Silva    e Efigênia Lambert.
IX - "Dona língua" — por Maria Joana Eiras.
X - "O Jogo" — solo por Déa Moraes e coral feminino.
XI - "As Rifas" - meninos João Nascimento, Waldir Lambert, Aparecida Salles, Conceição Lambert e Tereza Nascimento.
XII — "A Caridade" — solo de Alice Fanuchi e coro de Déa Moraes, Benedita Carvalho, Maria Joana Eiras e Clarisse Moraes.
XIII - "Hino de  Cambuí" — coro misto.

Na primeira parte do programa:

  1. "O Meu Sertão" — coral por Alice Fanuchi, Edith Magalhães, Maria Nascimento, Efigênia Lambert, Ana Salles e Filomena Silva.
  2. "As Borboletas" — pelas meninas Filhinha Oliveira, Aparecida Salles, Mércia Moraes e Carmen Venturelli.
  3. "A Sertaneja" — por Efigênia Lambert, Clarisse Moraes, Déa Moraes e Filomena Silva.
  4. "Saudade do Meu Sertão" — solo por Edith Magalhães.
  5. "Vivo Feliz" - solo por Maria Nascimento.
  6. "Canção da Mocidade" - dueto por Benedita Carvalho e Ana Salles e coral misto.

Coube ao autor da peça reger a parte musical, orquestra constituída dos mesmos elementos da revista anteriormente encenada.

Estiveram presentes neste festival o Jazz-Band de Estiva e a Banda de Música de Vargem-do-Paiol, bairro do distrito da cidade.

Cabe aqui encarecer a colaboração prestada, sempre, desde os primeiros tempos das apresentações da Rua Cel. Lambert nº 358, por Antônio da Silveira Lambert (Toniquinho Coletor), na qualidade de "ponto".

O teatro decaiu em Cambuí, a partir dessa última apresentação, como, aliás, por todas as cidades do interior, com o advento do cinema e, por último, da televisão.

Nos últimos tempos, entretanto, Sérgio Cardoso, o grande intérprete de "Antônio Maria", tão cedo arrebatado pela morte, frequentando assiduamente Cambuí, preparou um grupo de moços e encenou duas peças clássicas: Júlio César, de Shakespeare, e "Armadilha Para Um Homem Só", de Robert Thomas. A apresentação teve o patrocínio do Teatro do Estudante Cambuiense (TECA). A municipalidade conferiu por sua vez a Sérgio Cardoso, o título de "Cidadão Cambuiense".

Bandas de música

Madrugaram na inteligência do cambuiense o pendor e o gosto devotados à música.

Entre 1870 e 1880 floresceram na freguesia duas excelentes bandas de música, alimentadas pelas duas maiores famílias da localidade: Lambert e Quintino.

Da banda dos Lamberts conserva-se, ainda hoje, nítida fotografia em que figuram, entre outros, Antônio Luiz de Brito Lambert (Tota), Maximiano José de Brito Lambert, que veio a ser professor primário de muitas gerações, Francisco Antônio de Brito Lambert (Chico de Brito). Olegário de Brito Lambert e Francisco Crisóstomo da Silveira, casado na mesma família. Os demais figurantes da histórica fotografia não são reconhecidos mesmo por cambuienses de avançada idade.

Da banda de música dos Quintinos pouco se sabe, lembrando-se apenas que era requintista o Cel. Justiniano Quintino da Fonseca, tempos depois querido e acatado chefe da política local.

Extintas essas corporações, veio, bem mais tarde, para a cidade, o Maestro Marceliano Braga, que pôde organizar uma banda de música da qual, aliás, faziam parte Cornélio Lambert, Bastico Moraes, João Tota, Alvico, José Figueiredo, João Astolfo, Lindolfo Salles, João Batista Corrêa e muitos outros que, com o passar dos tempos, permaneceram na ribalta, integrando a banda reorganizada pelo maestro José Pedro Vieira da Silva, após a retirada de Marceliano Braga para Varginha.

Zeca Pedro, membro de uma família de bons musicistas, natural de Paraisópolis, prestou grandes serviços a Cambuí, que lhe deve ainda seus melhores músicos. Era artista de notáveis qualidades, dotado de uma intuição musical verdadeiramente invulgar e de capacidade rara na execução de vários instrumentos. Se Zeca Pedro tivesse vivido em meios cultos e se posto em contato com a música acadêmica, sem nenhuma dúvida seria um de nossos grandes virtuosos. Formou ele uma plêiade de músicos aos quais possibilitou conhecimentos e técnicas capazes de prosseguirem, na sua ausência, a tarefa da divulgação musical.

Foram seus discípulos: João Lambert Ribeiro, posteriormente Catedrático da Escola Nacional de Música; José dos Reis, regente e compositor; Zé Hilário, Sílvio Lambert, Chiquito Fanuchi, Aquiles e Pilado Frederighi, Palazio Padilha, Benjamim de Paiva, Levindo Lambert, Maximiano Lambert e outros. A banda que então organizou ficou assim constituída: José Figueiredo e João Astolfo, baixos; Cornélio, clarineta; Bastico Moraes, requinta; João Tota, bom-bardino; Chiquito Moraes, pistão; João Grilo, sax mi-bemol; Palazio, Zé Hilário, Chiquito Fanuchi, Sílvio Lambert e Pílade, sax si-bemol; Aquiles, pistão; João Lagata, bumbo; e Zé Fidélis, rufo.

Essa banda, denominada "Carlos Gomes", foi, a pouco e pouco, perdendo e ganhando elementos, até que João Lambert Ribeiro fundou a sua banda, abrindo-se então uma competição musical verdadeiramente notável. Dê-se a palavra, neste ponto, ao jornalista José dos Reis, autodidata de fino quilate, também musicista, compositor e regente, que, sob a epígrafe "Sapos e Curiangos", assim se expressa, em artigo publicado na "Gazeta de Cambuí", de 3 de outubro de 1948:

"Não estou bem certo, mas parece-me que foi em 1911 ou 1912 que o jovem Joãozinho Ribeiro organizou a Corporação Musical "12 de Outubro", sob sua competente batuta. Organizada a banda nova, outro jovem, Levindo Lambert, reorganizou a banda velha com elementos da antiga corporação regida pelo competente professor-de-música, Maestro José Pedro Vieira da Silva, na ocasião residente em Inconfidentes, de Ouro Fino."

A banda de Joãozinbo Ribeiro era composta dos seguintes músicos: Aquiles Frederighi, pistão; Avelino Modesto, requinta; Joãozinho Ribeiro, Elias Fanuchi e Pílade Frederighi. clarinetas; João Telefone, trombone cantabile; Palazio, bombardino; Chiquitão, baixo; Afonso Guimarães, 1º si-bemol; Nico Quirino, 2º si-bemol; Antônio Casemiro, 1º si-bemol; Chiquitinho, 2º si-bemol, depois pistão; José da Elisa, 1º mi-bemol; Benedito Maria, bumbeiro; José Cecília, prateleiro; e João Fanuchi, rufeiro, depois bombardino e, por último, compositor.

Da banda velha faziam parte os seguintes elementos: João Tota, requinta; Cornélio, Totônio Marques, Zorico e Benjamim Paiva, clarinetas; José Hilário, trombone-de-canto; Levindo Lambert, bombardino; Zé dos Reis, Alvico e Maximianinho, pistão; Zé Figueiredo e João Astolfo, baixos; Dudu e Waldomiro Lambert, 1º si-bemol; Laudelino Pedreiro, João do Neco, Zequinha do Astolfo e Deodato, 2º si-" bemol; João Grilo, 1º mi-bemol; João Lagala, 2º mi-bemol; Nico Zorico, 3º mi-bemol; José Israel, bumbeiro; José da Chica, prateleiro; e" Horário do Neco, rufeiro.

Logo que Joãozinho iniciou os ensaios de sua filarmônica em casa de seu velho genitor, Cap. João Ribeiro, de saudosa memória, onde atualmente reside o Sr. Candoca, o pessoal da outra banda apelida os músicos da banda nova de "sapos", pelo fato de ensaiarem à beira do brejo. Em represália, os rapazes do Joãozinho apelidam os moços da banda velha de "curiangos", pássaro de olhos reluzentes e que é encontrado à noite voando pelas estradas, à frente dos viajantes.

Surgiu daí forte animosidade entre os com¬ponentes das corporações. Se uma tocava o "Silvino Rodrigues", a outra parodiava-o e o batizava de "Tira-Prosa". A outra parodiava a mesma música e crismava-a de "Cala-a-Boca", como quem diz: comigo ninguém pode. Mas a música que ambas tocavam com gosto, entusiasmo e imponência, era o dobrado "Quinze", cujo arranjo, harmonia e melodia encantavam e prendiam a atenção da gente. Ambas uniformizadas, disciplinadas e bem ensaiadas, sempre faziam "bonito" onde quer que tocassem. Os dois jovens de 1912 tiveram as respectivas situações totalmente mudadas: Levindo Lambert é Diretor do Conservatório de Música de Minas Gerais e Joãozinho Ribeiro é Catedrático de Violino da Escola Nacional de Música do Rio de Janeiro”

Não completou o saudoso articulista o posfácio dos acontecimentos. É que o aperfeiçoamento e a competição dessas duas bandas despertaram as preferências populares, ficando a cidade dividida em duas facções, apoiando ou repelindo uma e outra.

Os ânimos se exaltaram tremendamente. Velhas amizades se desfizeram.

E, para evitar maiores consequências, o Dr. Carlos Cavalcanti, Juiz de Direito da comarca, convocou elementos representativos da cidade para uma reunião a realizar-se no salão nobre da Câmara Municipal. Abertos os trabalhos, expôs a situação, dando-lhe colorido realista e dramático, ressaltando ao mesmo tempo os perigos que se delineavam para a paz cambuiense, caso persistisse a divisão da população em duas facções distintas, apoiando "sapos" e "curiangos". Sugeriu, por fim, que uma das bandas encerrasse suas atividades, decidindo-se que a mais antiga, com direi-los adquiridos, se mantivesse ativa.

Por essa forma, morreu a Banda "12 de Outubro", a dos "sapos", regida por João Lambert Ribeiro.

Aconteceu, porém, que, encerrada a emulação, a banda remanescente perdeu seu interesse e declinou em qualidade...

Por outro lado - como foi dito por José dos Reis - João Lambert Ribeiro matriculou-se no Conservatório de São Paulo e, depois de concluído o respectivo curso, disputou, por concurso, a Cátedra de Violino na Escola Nacional de Música do Rio de Janeiro, logrando êxito; e Levindo Lambert, por igual, seguiu para Pouso Alegre e Ouro Fino, formando-se em Farmácia e, posteriormente, em Direito, pela Universidade de Minas Gerais, sendo nomeado Professor-Catedrático de Dicção do Conservatório de Música da Universidade Federal de Minas Gerais, cuja diretoria também exerceu por muitos anos.

* * *

Passada essa fase, nova etapa se abre para a música local. Tempos depois, em que o recesso das corporações concorreu para a sua decadência, Levindo Lambert, quando estudante de Farmácia, organizou uma banda-mirim, constituída de meninos e rapazolas. Muitos desses elementos aperfeiçoaram suas técnicas e qualidades, persistindo no ofício e mantendo-se, até hoje, em atividade.

Outra fase, no entanto, se abriu para a música em Cambuí, quando, em 1922, deflagrou-se apaixonada luta política, em cujo desdobrar fatos desabonadores para os foros de civilização de seu povo vieram perturbar a tranquilidade local. Nessa ocasião, o Partido Democrata, que fazia oposição à política dominante, organizou banda de música para seus festejos e propaganda.

Foi a Banda "Santa Cecília", que teve a duração das rosas de Malherbe...Regia-a Levindo Lambert.

Encerrada a luta, de duração curta, também ela se dissolveu, indo seu instrumental a constituir o acervo inicial da Banda "Santa Terezinha", organizada por José Francisco do Nascimento, grande lidador e grande músico, a quem a cidade e seu povo muito devem nesse e em outros setores de sua atividade e de seu bem-estar.

Essa banda ficou assim constituída : Isaú Dias Marques, Antônio Padilha de Moraes (Sancré), João Batista do Nascimento, Benedito Salles, João Batista Salles (João Ros-cão), Geraldo Salles (Ganzela), Lázaro Teixeira de Carva-iho (Fio do Neco), José Moacir Lambert, Geraldo Cipriano (Tatita), José Lambert (Zico do Tota), Waldir Lambert, Geraldo Lagata, José Francisco do Nascimento, Sebastião Moraes (Tião), José Ferreira da Silva (Dê do Adolfo) e Adolfo Bento da Silva (Picuma).

A regência de José Nascimento, a partir de então, foi frutuosa, não só pelos atributos artísticos que exortam a personalidade do grande cambuiense, como também pelo prestígio que seu cargo (Prefeito) emprestava à corporação. Substituiu-o na direção da banda Ismael de Paiva, que recebeu de seu sogro, José Nascimento, o mesmo espírito desportivo de amor à música e de desprendimento por resultados financeiros.

Atualmente, a Banda "Santa Terezinha", com a colaboração do grande pistonista Altino de Souza Bom, vem procurando melhorar cada vez mais suas condições técnicas e artísticas, realizando retreta, aos domingos, na Praça Gel. Justiniano. Concorre sobremodo para a difusão cultural de seu povo e para o maior encantamento das tardes domingueiras de Cambuí.

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Sentados, da esquerda para a direita: José dos Reis, Maximiano Lambert, José Hilário Lambert, advogado Paiva Júnior (diretor), João Lambert, Osório Marques, Antônio Leopoldo Marques e Benjamin de Paiva Cardoso. Em pé, da esquerda para a direita: Horácio Teixeira de Carvalho, José Figueiredo, João Batista Duarte, João Lagatta, Florduardo Lambert, Waldomiro Lambert, Adelino Carvalho, Antônio Marques, João Astolfo de Moraes, José Brasilino e José Miguel Padilha. No centro, em pé, Levindo Lambert, regente (1914).

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Sentados, da esquerda para a direita: Francisco Pereira Lambert, Elias Fanuchi Lombardi, Avelino Caetano, Francisco de Salles Famiehi, Pilade Frederighi, Palazio Pudilha, João de Salles Fanuchi e "não identificado". Em pé, da esquerda para a direita: "não identificado", Joaquim Salomão, Justiniano Padilha, Osório Guimarães, Antônio Casemiro, "não identificado" e José Bernardino. O maestro João Lambert Ribeiro, regente, não figura na fotografia.

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Sentados, da esquerda para a direita: José Lambert, Waldyr Lambert, Geraldo Lagarta, José Francisco do Nascimento (regente), Sebastião Moraes, José Ferreira da Silva e Adolfo Bento da Silva. Em pé, da esquerda para a direita: Isaú Dias Marques, Antônio Padilha de Moraes, João Batista do Nascimento, Benedito Salles, João Batista Salles, Geraldo Salles (Ganzela), Lázaro Teixeira de Carvalho, José Moacir Lambert e Geraldo Cupriano de Moraes.

Capítulo XIV - Personalidades ilustres

Parlamentares

Teve atuação eficiente e distinta a representação de Cambuí no parlamento mineiro. Além de se conduzirem de maneira digna e nobre, os Deputados Milton Salles, Halley Lopes Bello e Benedito Salles, fizeram jus ao reconhecimento de seus conterrâneos e amigos, cujo bem- estar tiveram em alta conta no exercício dos respectivos mandatos.

Milton Salles se destaca pela constante renovação de seu munus e pela firmeza de suas atitudes, assim como pela coragem e desassombro de seus pronunciamentos, sempre visando aos altos interesses da democracia e do regime, tan¬to quanto pela sinceridade de seus propósitos. Por sua iniciativa foi criado o Colégio Estadual "Antônio Felipe de Salles", ao qual propôs a anexação, posteriormente, do Curso de Formação de Professores de 1." grau, aspiração marcante da ju-ventude feminina do Município. Também por sua iniciativa criou-se o Grupo Escolar "Jucá Pinto". Colaborando com o Prefeito José Francisco do Nasimento, alcançou do governo do Estado a construção do Fórum, obra que, por si só, recomenda à posteridade e à gratidão de seus conterrâneos, os seus realizadores, desde que se lembre de como atuavam em Cambuí os serviços da justiça.

Ainda por sua iniciativa, o município se beneficiou dos seguintes melhoramentos:

a) Caixa Econômica Estadual;
b) abertura do escritório da Associação de Crédito e Assistência  Rural (ACAR);
c) instalação doo serviço rádiotelegráfico do Estado;
d) instalação do Posto de Saúde bem equipado;
e) assistência  dentária nos grupos  escolares;
f) verbas vultosas para o serviço de águas, supervisão do DNOS;
g) emancipação  dos  distritos de  Córrego do BomJesus e Bom Repouso;
h) criação do Grupo Escolar "Professor Maximiano Lambert" em Córrego do Bom-Jesus.

No momento, é justo que se lhe atribua boa parcela da pacificação política do município, outrora agitado por extremas lutas, cabendo também a José Francisco do Nascimento e ao Deputado Cristóvam Chiaradia iguais quinhões.

No que tange ao Deputado Halley Lopes Bello, porque desenvolvida em dois períodos legislativos apenas, teve atuação exercida nas várias comissões parlamentares em que se integrou e, pela tribuna, na defesa e no estudo de problemas relacionados com a educação.

Escondido por modéstia equilibrada, é portador de uma brilhante cultura jurídica e de iguais predicados tribunícios, motivos porque se fez bem notado entre seus pares.

Já Benedito Salles, conquanto de temperamento discreto, não se fez omisso, promovendo várias medidas de caráter social, em benefício da região que. representava e da comunidade de seu nascimento.

Propôs a criação do Grupo Escolar "João Lopes", logrando êxito. Destinou verbas especiais a instituições filantrópicas e assistenciais, entre, as quais o Hospital Ana Moreira Salles.

Cambuí fez-se, pois, representar de maneira condigna e operosa no parlamento estadual.

João Moreira Salles

Desde, os primeiros tempos da vida social, administrativa e política de Cambuí, a família Xavier de Salles ocupa posição de relevo tios seus quadros mais altos e de maior gabarito.

Elevada a freguesia, em 1850, já por esse tempo José Xavier de Salles é escrivão de paz e, cumulativamente, embora de maneira oficiosa, porque não criada ainda a repartição, desempenha esse estimado paroquiam) as funções de encarregado do serviço postal. Estimado paroquiano - re-pete-se - porque o seu falecimento, em 9 de junho de 1880, abriu um vácuo profundo no panorama humano da freguesia, segundo escreve Bernardo Saturnino da Veiga em sua preciosa obra "Almanak Sul Mineiro", de 1884.

Proclamada a República e criado o município, ainda em 1889, e instalada a comarca em 1892, é o capitão Antônio Felipe de Salles nomeado Promotor-de-Justiça por ato do governo estadual. E em 7 de abril de 1891, em conseqüência do afastamento, a pedido, de Avelino Cândido de Brito, é Joaquim Xavier de Salles seu substituto no cargo de Procurador-da-Câmara Municipal. Para escrivão de paz do Distrito de Bom Jesus do Córrego é nomeado Américo Antero de Salles, tempos depois sucedido por Sebastião Faustino de Salles, pai do deputado Milton Salles e sogro do suplente de deputado Benedito Salles. Na sede, com o correr dos tempos, Antônio Felipe de Salles Sobrinho, depois de ocupar o cargo de Avaliador Judicial, é tabelião do 1º ofício e seu filho Benedito Salles seu sucessor, que, recentemente, ao aposentar-se, é sucedido por seu filho Antônio Felipe de Salles Neto. Ainda na sede, Francisco de Salles Fanuchi ocupa o cargo de Escrivão do Registro Civil, sendo sucedido por seu filho Sebastião Rangel Fanuchi.

No entrosamento e na sucessão funcional que se vem fazendo, tem-se por objetivo fixar-se a posição do clã Xavier de Salles na vida pública e social cambuiense, pondo em destaque, daqui por diante, a figura e a obra respeitáveis de João Moreira Salles, personalidade que dilatou o seu nome. além das fronteiras domésticas e municipais para impôr-se como um dos magnatas da política econômica nacional.

Seus pais - José Amâncio de Salles e Ana Moreira Salles — fugindo ao standard da família, eram fazendeiros

no bairro do Portão, gleba ocupada por eles próprios e cultivada também por filhos e genros.

João desde cedo mostrou-se disposto a enfrentar os aclives da luta cotidiana, e, menino ainda, pondo-se à frente de um carrinho puxado por carneiros, conduzia produtos da fazenda para a cidade, trazendo de retorno aquilo que a fazenda necessitava para seu custeio.

Nesse ir-e-vir, Adriano Colli, seu padrinho de batismo, arguto e sagaz, descobre no afilhado inatas qualidades de comerciante e predicados naturais de delicadeza e finura de trato. Traz o jovem para a sua casa varejista como caixeiro, a principal da cidade, e o prepara para as atividades comerciais .

Nesse trabalho diuturno, João Moreira Salles revela então tino raro no transacionamento dos negócios e nas relações entre comprador e vendedor. Distingue-se pela amenidade de comunicação e pela agudeza no exame das perspectivas econômicas em jogo. É dotado daquele, "faro" que os antigos qualificavam o instinto de penetração analítica das coisas. E de tal forma se porta João Moreira Salles que Adriano Colli, decidindo visitar a Itália, sua pátria, e lá permanecer por largo tempo, não vacila em deixar nas mãos do jovem afilhado e caixeiro a direção de sua importante casa comercial, entregando-lhe a responsabilidade de vultosos capitais e de transações especulativas de elevado teor. Por muitos meses sua fortuna e seus bens giraram nas mãos de João Moreira Salles, moço quase imberbe, nascido nas grotas ásperas do bairro do Portão.

Ao regressar, Adriano Colli encontrou tudo não só em perfeita ordem, mas seus negócios assinalados com as perspectivas de maiores lucros.

Diante disso, resolve o abastado comerciante dar a seu afilhado outras possibilidades de vida: encaminha-o à casa Araújo Costa & Cia., altos comerciantes atacadistas de S. Paulo, onde o jovem exerceria atividades experimentais no trato de negociações de grande vulto, e, ao mesmo tempo, frequentaria instituto especializado, destinado a prepará-lo para a carreira que a intuição lhe destinara.

O professor Maximiano José de Brito Lambert prepara o moço para os exames de admissão, que ele vence e supera, matriculando-se na renomada Escola "Álvares Penteado", pioneira do ensino comercial no Brasil.

Vencido galhardamente o currículo escolar, Moreira Salles cola grau e volta a Cambuí, porque seu padrinho, resolvendo retornar definitivamente à sua pátria, põe-lhe nas mãos, em sociedade com seu sobrinho Luiz Ciambelli, a grande e conceituada casa comercial por ele fundada. Logo depois contrai casamento com dona Lucrécia Vilhena de Alcântara, pertencente a uma das mais distintas famílias do Sul-de-Minas, professora do grupo escolar local.

A sociedade comercial, com a denominação de "Casa Ideal", no entanto, vive pouco tempo — não porque os seus sócios quebrassem de qualquer forma a harmonia e a confiança recíprocas, mas porque, ambos, antevendo mais amplos horizontes, entenderam dar ao ajuste dissolução amigável e promissora. Luiz Ciambelli estabelece-se em Bragança e João Moreira Salles em Guaranésia, de onde ,aliás, pouco depois se transfere para Mococa. Nessa cidade paulista dá os primeiros passos no comércio do café, que lhe iria, em seguida, ensejar-lhe a caminhada vitoriosa que o levou à culminâncias das finanças nacionais. Araújo Costa & Cia. até aí davam-lhe o apoio que ele, incipiente ou neófito, no perigoso campo da comercialização do maior produto brasileiro no mercado internacional, poderia necessitar. Não foi preciso orientação de ninguém. Marchou sozinho.

Transferiu-se então para Poços de Caldas, onde, depois de fazer-se correspondente de vários Bancos, funda a Casa Bancária "Moreira Salles", que, alcançando o êxito colunado, absorve a Casa Bancária de Botelhos, de Pedro de Perna, o Banco de Mococa e o Banco Machadense, nascendo então o Banco "Moreira Salles". Depois de espalhar sucursais e agências por vários estados do Brasil funde-se com o Banco Agrícola e Mercantil do Rio Grande do Sul, tornando-se, daí por diante, um dos mais poderosos institutos de crédito cia rede bancária brasileira.

Moreira Salles já é, então, nome respeitado nos meios comerciais e financeiros, impondo-se como figura de proa na estrutura econômico- financeira do Brasil. É nome nacional.

Dando arras a seu inato instinto comercial, alarga, ao mesmo tempo, as suas negociações cafeeiras e toma de pronto a Fraca de Santos, fulcro poderoso da política cafeeira do país. E aí Presidente da Comissária-Exportadora e Importadora União S/A. de Brasil, Warrant Cia. de Comércio e Participação, dos Armazéns-Gerais União Paulista S/A. do Sindicato do Comércio Atacadista de Café do Estado de S. Paulo, Membro do Conselho da Associação Comercial de S. Paulo, Conselheiro da Refinaria e Exploração de Petróleo e Presidente do Rotary Clube de Santos. Ocupando posição de relevo na vida comercial de Santos, S. Paulo e Poços de Caldas, Moreira Salles não se deixa envenenar pelo luxo ou pela ostentação, porque, simples, modesto, desprendido, tal qual o foi nos primórdios de sua vida, empenhou-se em várias campanhas de benemerência, quer em favor da redenção da criança pobre, quer no terreno das aspirações nacionais, doando avião à campanha nacional de aviação, quer ainda na instalação de um dos maiores hospitais do país, que é o de sua cidade natal.

Recebeu o título de Comendador Oficial da República Italiana e, por último, após a fusão de vários Bancos, o importante cargo de Presidente do Conselho de Administração da União dos Bancos Brasileiros.

Nas suas viagens à Europa nunca deixou de visitar Castelnuovo di Garfagnana (Itália), onde nasceu e morreu Adriano Colli, pondo-se em contacto, sempre, com seus parentes, já que seu grande amigo e benfeitor não deixou descendentes.

Sobrepondo-se, porém, a todos os títulos e galardões, cabe, nesta obra destinada a dar notícia do que foi, do que é e do que poderá ser Cambuí, cabe aqui destacar a posição de João Moreira Salles nos quadros humanos e sociais da cidade em que nasceu e à qual deu o melhor de seus esforços. O Hospital Ana Moreira Salles, cuja denominação foi dada pelo consenso unânime da população local, é obra que exaltará por todo o sempre o nome e a figura do "caipira" de Cambuí, como escreve o Diário de São Paulo, de 2 de março de 1968, para que, não só os coevos mas os pósteros, saibam prestar-lhe, na saudade e na gratidão, as homenagens que ele merece.

A Câmara Municipal de Cambuí deu o nome de "João Moreira Salles" à rua principal da cidade — tributo modesto àquele que tanto elevou sua terra no concerto geral de sua pátria.

Sobre Moreira Salles escreveu Theófilo de Andrade, o grande articulista dos Diários Associados, no Diário de São Paulo, de 7 de março de 1968:

"Mesmo depois de atingida a culminância, no mundo dos negócios, João Moreira Salles continuou, todavia, a ser o mesmo homem 
simples dos  primeiros dias, sem mudar seus hábitos, fiel às suas origens de capiau das montanhas. Os seus hábitos eram 
morigerados. A sua vida  simples como a de um frade. Tinha a pachorra de engraxar os próprios sapatos, o que o fazia diariamente 
mesmo viajando  pelo estrangeiro. Cito estes fatos para mostrar a simplicidade e a contenção de hábitos de um grande capitão 
dos negócios a quem o  êxito na vida não modificou nada e que, dentro das quatro paredes de sua casa, continuou a ser o mineiro 
de Cambuí, o montanhas  austero que representou papel de destaque em determinada fase da evolução de nossa terra."

Esse, o julgamento que dele faz um dos mais completos colunistas do jornalismo patrício e um dos mais altos ex-poentes da cultura nacional.

João Moreira Salles era casado com a professora Lucrécia de Alcântara Moreira Salles. São seus filhos: a senhora Elza Salles Ribeiro Vallim, o Embaixador Walter Moreira Salles, e os senhores Hélio Moreira Salles e João Carlos Moreira Salles.

Nasceu em 18 de fevereiro de 1888, em Cambuí, e faleceu em 2 de marco de 1968, em S. Paulo, sendo sepultado em sua cidade natal, cumprida por sua família sua última vontade. A população local, comovida, prestou a seu grande amigo e benfeitor sentidas homenagens.

João Batista Corrêa

São dois artistas diferentes, é claro: - Antônio Francisco Lisboa manejou o escopro, o pincel, a goiva, o formão, o estilete e todo o instrumental de que a escultura e as artes plásticas utilizam. Seu nome atravessou o tempo e as fronteiras. É figura exaltada em todos os continentes onde a arte barroca criou escola.

É o Aleijadinho glória nacional.

Não se quer um paralelo entre a genialidade de um e a fecundidade artística de outro:

João Batista Corrêa também pôs em prática os mesmos petrechos e, guardadas as devidas proporções, impôs-se, no meio em que vivia e fora dele como artista consumado: escultor, entalhador, pintor, desenhista, retratista e, com raras perfeições, artífice e artesão, versando todas as peculiaridades artísticas e desconhecidas.

Autodidata, senhor absoluto de uma capacidade analítica incontrastável, dentro da habilidade técnica manual, poderia alcançar renome na história da arte brasileira não fora ele modesto e introvertido, alheio à publicidade e à exteriorização.

Encerrado cuidadosamente em seu atelier, sem que ninguém sequer vislumbrasse sua atividade diurna e diuturna, esculpiu em madeira-de-lei uma imagem do Coração de Jesus, tamanho natural, revestindo-a, cm seguida, de pintura adequada, perfeita e bela. Obra verdadeiramente admirável, digna de figurar nos certames e exposições de arte de qualquer centro culto do país.

Benta pelo Padre Alberto Nunes Brigagão, foi depois procissionalmente levado à Igreja Matriz, onde se expôs durante algum tempo, após o que o artista, talvez pai odiando Apeles, preferiu reconduzi-la ao atelier e de lá não a retirar jamais. Modelou e fundiu em cimento o busto do Governador Benedito Valadares, imitação perfeitíssima de bronze, que, por incrível que pareça, tornou o mesmo destino da imagem do Coração de Jesus: não logrou permanência no logradouro público após sua inauguração festiva.

Concebeu e desenhou esplêndido e belo altar destinado ao Sacratíssimo Sacramento, entalhou-o em madeira-de-lei, e o entregou à Igreja Matriz da cidade, dessa vez mantendo-o à admiração pública, o mesmo acontecendo com o imponente púlpito, obra de arte que se conservou até a reforma total do templo principal da cidade.

Não foi somente, porém, na área privilegiada da arte e de todas as suas nuanças que João Batista Corrêa pôs em equação a criatividade de seu fecundo espírito. Exerceu a Promotoria da Justiça da Comarca, interinamente, por várias vezes; governou a cidade como seu Prefeito; desempenhou as funções de Escrivão das Execuções Criminais e representou, no município, o Departamento Nacional do Café, além de outras atividades de caráter social.

Mas, sobretudo — repita-se — João Batista Corrêa impôs-se na admiração dos coetâncos como artista e artífice consumados, não lhe escapando à técnica e à inteligência nenhum setor em que deixasse de pôr à prova sua capacidade admirável de criar e realizar. Seu nome e sua arte — já está dito — teriam amplitude nacional não fosse seu temperamento esquivo e ensimesmado.

É mesmo no território da arte, do artificismo, do artesanato, da habilidade manual, que João Batista Corrêa se destaca no cenário artístico e cultural de Cambuí e alhures.

Seu pai, Major João Corrêa da Silva, português, nascido na Ilha Graciosa (Açores), emigrou aos 13 anos de idade, vindo para Ubatuba (SP) e aí permaneceu por dois anos. Transferindo-se para Cambuí, consorciou-se em 1866 com Maximiana Adelina de Brito, filha do Coronel Francisco Cândido de Brito Lambert, de cujo enlace nasceram ainda: Gabriela, casada com José Alexandre de Moraes, falecidos; José Corrêa da Conceição, casado com Ana Moreira Salles Corrêa, também falecidos.

João Batista Corrêa é casado com Maria do Espírito Santo Lambert Corrêa, residentes em S. Paulo.

O Major João Corrêa da Silva ocupou vários cargos de importância na organização político-administrativa do município, inclusive o de Intendente por ocasião da instalação da cidade, e, posteriormente, o de juiz-de-paz e vereador especial.

João Marinho

O artesanato de João Marinho pede registro especial na história da técnica e das artes em Cambuí.

Não era ele um artesão comum enfeitando a paisagem humana capaz e inteligente de seu tempo. Mas um autêntico artista-raro, pela habilidade e bom gosto com que confeccionava chicotes, relhos, rebenques, rabos-de-tatu, cabeções para arreamento de montarias etc.

Sua matéria-prima era constituída de fios recolhidos de clinas e caudas-de-cavalos, cuidadosamente cardados e, em seguida, entrançados, obedecendo a esmerado desenho artístico, quer no entrosamento das mechas e filaças, quer na escolha das suas cores.

Lembre-se que, por esse tempo, sem automóveis, imperava o transporte por meio de montarias bem ajaezadas,cuja apresentação, além dos requisitos de conforto e segurança, se impunha por apuros de elegância: botas longas, esporas e estribos de prata, chapeirão à cabeça, pala dobrada e preso à garupa entre a sela c o rabicho.

Tais petrechos eram exigência da época. Daí porque a perícia artesanal de. João Marinho, toda ela dedicada às peças das arreaduras e à indumentária do cavaleiro, constituía uma das mais belas manifestações da criação folclórica.

Casas especialistas de Rio de Janeiro e São Paulo, que comerciavam com artefatos desse gênero, arreamentos para montarias, disputavam a aquisição e o privilégio de os distribuir a seus fregueses, conquanto lutassem bravamente com a inércia do artesão, que era, como quase todos os representantes dessa classe, indiferente, modesto e - por que não dizer? - preguiçoso...

Na Exposição Nacional de 1908, realizada no Rio de Janeiro, comemorativa do centenário da abertura dos portos, as peças artesanais de João Marinho despertaram interesse e admiração.

Utilizando ainda da mesma técnica, mas empregando matéria-prima diferente, João Marinho produzia entrança¬dos de couro-cru, desdobrando-o em tiras de poucos milímetros e as transformando em torcilhões multicoloridos para rédeas, bridas, barrigueiras, cabeções de freios, cabrestos, rabichos, peitorais, loros, tudo empregado nas montarias de apurado gosto, além de "laços" resistentes para a domacão de animais xucros.

Todavia, o "hobby" de João Marinho consistia no seguinte: exibindo três cascas de nozes, colocava uma bolinha de cera sob uma das cascas, convidando o espectador a descobrir cm qual delas se escondia a pequena esfera. Dificilmente se acertava. É que João Marinho, dotado de extrema destreza digital ,escamoteava de tal jeito a pequenina peça que raramente era ela encontrada sob uma as cascas.

João Marinho morreu pobre, sem deixar discípulos.

Dr. Sílvio Lambert de Brito

Figura representativa da cultura cambuiense é, por sem dúvida, a do Dr. Sílvio Lambert de Brito, nascido a 29 de março de 1892, filho de Antônio Evaristo de Brito e de Hermelinda Lambert de Brito.

Concluídos os cursos de odontologia e de veterinária, logrou de pronto cátedra na Faculdade de Odontologia e, em seguida, a de professor na Escola de Medicina Veterinária. Durante os respectivos cursos, destacou-se entre seus colegas pela largueza de sua inteligência e pela abrangência de seus conhecimentos científicos.

Nas sessões do Centro Acadêmico "Afrânio Peixoto" impôs-se pela elevação de suas idéias e pela fluência de sua oratória inspirada e fácil. Por isso mesmo, na conclusão do curso odontológico foi eleito orador-da-turma, ocasião em que produziu excedente peça oratória, repassada de conhecimentos técnicos e de fina estrutura literária.

Herdando de seu Pai propensão para o jogo político, elegeu-se vereador e, posteriormente, Presidente da Câmara Municipal de Pouso Alegre, cujos mandatos dignificou.

Ocupou o cargo de Inspetor Sanitário Regional de Veterinária, nomeado pelo Ministério da Agricultura, nele se aposentando depois de prestar bons serviços à pecuária mineira.

Era casado com a professora Maria Luiza da Silva Brito, que lhe sobrevive, deixando os seguintes filhos: Hélio, coronel de exército, falecido; Izete, professora, lotada no Ministério do Trabalho; Walter, universitário de Direito; Mariângela, professora e universitária em Brasília; Neyde, professora e universitária em Florianópolis; e Ney, universitário de direito em Brasília.

Faleceu o Dr. Sílvio Lambert de Brito em 13 de agosto de 1963, no Rio de Janeiro (G. B.)

Dr. Ney Lambert

Uma vida longa torna-se curta, inócua e descolorida se na sucessão de seus dias e anos nada se destaque em favor da humanidade.

Ao revés uma existência pouco dilatada projeta-se sobremaneira na história da civilização quando dela derivam realizações e atitudes capazes de atuarem no meio social e na cultura como fatores de integração e desenvolvimento.

O Dr. Ney Lambert, médico, cardiologista, impôs-se na sociedade e nos meios médicos e assistenciais pela cultura, pela modéstia, pela dignidade de sua ação social e profissional, pelo desprendimento, pelo espírito humanitário.

O estudante - Seu curso secundário foi feito no antigo Ginásio Mineiro, cujas tradições se incorporam hoje na vida c na história do atual Colégio Estadual. Concluiu-o em dezembro de 1940.

Na solenidade de entrega dos respectivos certifica-dos, profunda e respeitosa impressão causou à enorme assistência, sessão presidida pelo então Secretário da Educação, Dr. Cristiano Machado, quando, dentre os diplomandos, um braço se levantou bem alto, sozinho, em saudação integralista ao ser entoado o Hino Nacional. Era o jovem Ney Lambert, que, desde cedo, demonstrava sua fé cívica e firmeza de suas convicções ideológicas, diante mesmo de altas autoridades federais e estaduais contrárias àquele movimento.

Discreto, indiferente à atoarda que posteriormente agitou a nação — o jovem estudante manteve-se silencioso, vencidos os primeiros arroubos de seu entusiasmo cívico pela política, mas firme e consciente em seus ideais.

Aprovado em concurso vestibular, matriculou-se na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, curso concluído em 1945 já como Assistente do Professor Rivadávia Gusmão, catedrático de técnica operatória. Durante todo o seu curso universitário, exerceu ele as funções de bibliotecário do Conservatório Mineiro de Música, órgão por ele organizado sob a orientação de seu pai, então Diretor do estabelecimento.

Vida profissional - Iniciou atividades profissionais em Santa Bárbara, de onde se afastou para assumir em Belo Horizonte o cargo de médico do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários (IAPC), nomeado interinamente pelo então Ministro do Trabalho, Dr. Octacílio Negrão de Lima. Logo após, no entanto, a fim de se garantir na instituição previdenciária, inscreveu-se em concurso e, dentre muitas dezenas de candidatos, logrou excelente classificação, efetivando-se, por isso mesmo, no cargo ocupado interinamente.

No desdobrar de suas funções, recebeu a incumbência ministerial de chefiar o órgão a que pertencia, permanecendo nela por vários anos e das quais se afastou a pedido .

Ao mesmo tempo em que exercia suas funções no IAPC, recebia também a nomeação de Assistente da Faculdade de Medicina, passando, posteriormente, ao cargo de Professor Adjunto, no exercício da Chefia do Departamento de Biome-tria da mesma Faculdade.

Mas não ficaram nisso suas atividades médicas: fez em São Paulo curso intensivo de aperfeiçoamento em Cardiologia, simpósio organizado pela Sociedade Médica de S. Paulo, recebendo o respectivo certificado dia 9 de fevereiro de 1952.

Extintos os antigos Institutos de Aposentadorias e criado, por unificação, o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), foi o Dr. Ney Lambert designado Chefe do Serviço Médico Hospitalar de Belo Horizonte, sem se ausentar, no entanto, de sua clínica especializada.

O desportista — Desde muito jovem o Dr. Ncy Lambert dedicou-se com grande entusiasmo a práticas desportistas. Alcançou, por isso mesmo, troféus, taças, medalhas, diplomas e menções honrosas, vencendo competições de alta relevância em vários setores do esporte mineiro.

Na Olimpíada Universitária Brasileira de 1910 sagrou-se Vice-Campeão Nacional de Xadrez e, posteriormente, trouxe para Minas Gerais a láurea da vitória de Xadrez e Bridge disputados em Recife, Salvador, Belo Horizonte, São Paulo e Porto Alegre.

Merece especial destaque a pugna enxadrística travada 110 salão nobre da Associação dos Empregados do Comércio em junho de 1939, competição a que concorreram 25 enxadristas, logrando o jovem Ney Lambert empatar com o campeão mundial, o russo Alekhine.

Ao comentar o notável feito do jovem enxadrista mineiro, assim se pronunciou a imprensa da Capital:

"Às 22:40 acentua-se a vantagem do jovem Ney Lambert que conta com duas torres, um cavalo e quatro peões, contra uma dama 
e cinco peões.  Os "sapos" que rodeiam o taboleiro do jovem mineiro estão entusiasmados com a sua boa posição. Já há quem 
preveja a sua vitória. Aumentam os comentários em torno do taboleiro de Ney. Os entendidos afirmam que está ganha a partida."

E após anotar a retirada de vários disputantes do torneio, acrescenta a imprensa :

"Alekhine pára 3 minutos sobre o tabuleiro do rapaz para fazer um lance. A assistência, acostumada à sua rapidez, fica 
entusiasmada. Mais uma volta, às 22:35 o Campeão do Mundo aceita o empate proposto por Ney Lambert, um amador de 19 anos.
A assistência saúda o feito do rapaz mineiro — registra o comentarista — com uma vibrante salva de palmas."

Interpelado pelo jornalista, explicou Ney Lambert:

"Eu podia fazer uma dama e aumentar a minha vantagem, forçar um triunfo. Entretanto, a técnica formidável do meu adversário
poderia  transformar em derrota a mínima distração de minha parte, distração, aliás, muito possível dada a minha excitação 
e os comentários de todos os lados."

Esse belo triunfo serviu de incentivo ao enxadrista mineiro, que nesse sentido, alcançou em várias capitais brasileiras, como representante de seu Estado, esplêndidas vitórias e significativos troféus. Suas férias no serviço público e nas lides profissionais privadas ele as passava à beira do S. Francisco ou do Araguaia, em caçadas c pescarias, esportes também de seu especial agrado.

Dados biográficos - Nasceu o Dr. Ney Lambert dia 14 de maio de 1919, em Cambuí, filho de Levindo Furquim Lambert e. de Aurora Lambert.

Do seu consórcio com a professora Augusta Herbster de Gusmão Lambert são seus filhos Helvécio, Marcos e Júnia.

Faleceu o Dr. Ney Lambert, repentinamente, dia 15 de agosto de 1970, vitimado por distúrbio cardíaco.

A Assembléia Legislativa do Estado, as Câmaras Municipais de Belo Horizonte e Cambuí, o Juizado do Trabalho de Uberaba, o Conselho Estadual de Educação e outras instituições lançaram em ata votos de pesar pelo desaparecimento de quem muito fez pela comunidade mineira.

Dr. José Guilherme Eiras

O nome e a personalidade do Dr. José Guilherme Eiras sobressaem, sem qualquer dúvida, na paisagem humana de Cambuí.

Oriundo de família desprovida de recursos econômicos e financeiros, começou sua vida lavrando a terra, apegado ao cabo do guatambu, mãos calejadas no amanho cotidiano, suando e cansando na pequena gleba que seus pais possuíam no Bairro do Portão.

Aos dez anos de idade, ainda analfabeto, veio para a cidade, acompanhando seus genitores, que se desfizeram do acanhado trato de terra possuída a duras penas. Passou a freqüentar a escola primária regida pelo Professor Maximiano Lambert, galgando desde logo as primeiras colocações entre seus colegas de classe. Justamente por isso, pouco tempo levou para assumir, na escola, o posto de "decurião", que, naquele tempo, auxiliava o Mestre na alfabetização dos alunos novos.

Mas, não ficaram aí as atividades do jovem Eiras: passou a aprender o ofício de seleiro, já que, por esse tempo, a demanda de artefactos de montarias era um imperativo constante. À noite, aprendia música e integrava a filarmônica local.

A sua ambição e o seu grande descortinio, porém, não lhe davam persistência no artesanato, motivo porque deixou Cambuí e empregou-se em Bragança, importante cidade paulista, aí exercendo variadas atividades burocráticas e comerciais, sempre melhorando, no entanto, nas condições econômicas.

Voltou à terra natal para assumir o cargo de Procurador da Câmara Municipal, depois de vencer difícil concurso como candidato a Tabelião.

Dados os seus predicados morais, foi nomeado Tenente-Secretário da Guarda Nacional, distinção essa que não impediu de tomar, por inteiro, rumo diferente em sua vida: mudou-se para São Paulo, renunciando as funções de Vereador à Câmara Municipal.

Na grande Capital paulista enfrentou sérias dificuldades, vencendo-as brilhantemente. Submeteu-se a concurso nos Correios, alcançando classificação e nomeação, sendo então, em conseqüência, depois de várias promoções, encarregado de gerir a Tesouraria da respectiva repartição na Agência da Luz.

Daí por diante, a vida de José Guilherme Eiras constitui uma constante progressão triunfal, tanto na área da economia e das finanças como na arte da direção política. Elegeu-se Juiz de Paz do Jardim América e passou a integrar todas as associações e entidades de caráter político e social de seu bairro e circunvizinhanças. Cursou ginásio noturno e submeteu-se a exame vestibular na Faculdade de Direito, cujo curso concluiu com êxito e galhardia. Abriu banca de advocacia e conquistou renome e confiança nos meios forenses.

Ao mesmo tempo que assim agia, desenvolvia cuidadoso esforço em favor da educação e da cultura de seus irmãos, cuja transferência para S. Paulo promoveu. Colaborou eficientemente no Correio Paulistano, importante diário da grande metrópole paulista, e deu publicidade a várias plaquetas defendendo a interligação ferroviária de Minas e São Paulo.

Visitando freqüentemente sua terra natal, dava, por isso, apoio financeiro a suas instituições culturais e filantrópicas, tendo mesmo, iniciado a coleta de numerário para a construção do Hospital Ana Moreira Salles. Prestigiou os grupos escolares locais oferecendo-lhes material escolar, livros e bolsas a estudantes pobres. Tem seu nome, por isso mesmo, a biblioteca do primeiro grupo escolar da cidade.

Era filho de Manuel Antônio Eiras, português de nascimento, e de Maria Cabral Eiras, nascido em Cambuí, no Bairro do Portão, dia 25 de junho de 1877, falecendo em São Paulo. Do seu consórcio com Dona Nhazinha Eiras deixou seis filhos.

Capítulo XV - Tradições e costumes

Folclore

O município de Cambuí, incrustado em zona que recebeu de perto o batismo bandeirante nos primórdios da descoberta o, por isso mesmo, sentiu também de perto os percalços da luta desbravadora, não guardou sequer reminiscências folclóricas ponderáveis da era sertaneja.

Não há folclore a registrar. Nem mesmo se justifica a ausência de atividades dessa natureza, já que Cambuí se adia entre vários núcleos em que o passado e a tradição conservam sinais evidentes em suas manifestações populares.

O quadro célebre O Batuque, talvez inspirado por Martins e Spix, nas suas andanças pelas Gerais, foi, ao que, parece, aproveitado nas alturas de Estiva, a dezoito quilômetros de Cambuí. E Camanducaia e Bom Retiro (hoje Bom Repouso) centralizavam movimentação intensa nesse mesmo sentido.

No distrito de Bom Repouso conservou-se latente um agrupamento que, vez por outra, vinha a Cambuí para sua exibição dramático-coreográfica nos Congados. Nada mais que isso.

Catiras, cateretês, dança de S. Gonçalo, em certos bairros mais afastados, ainda movimentam os festejos, principalmente nos casamentos de roceiros. Como se observa por toda a parte, a viola cabocla é o instrumento de eleição, cujos arpejos ou rudes melodias, os pés roceiros acompanham em ritmo estrondejante.

Uma ou outra manifestação folclórica, ainda, por esta ou aquela maneira, continua a tradição talvez bem afastada na história, mas sem laivos de expressão nitidamente popular. Vejam-se, por exemplo, as comemorações antoninas, em que fogueiras à porta das residências criavam variados motivos destinados a se perpetuarem indefinidamente. Tanto isso é certo que um cronista de Belo Horizonte escrevia em julho de 1948:

"Estão agora em minha retina as fagulhas luminosas de nossas fogueiras de S. Antônio, S. João e S. Pedro. Cá estão elas 
trazendo uma ruma de recordações de velhos tempos, em que as ruas do pequenino Cambuí se pontilhavam de labaredas, os 
céus se cobriam de balões e o ar pal¬pitava com o estrondo de bombas e foguetes. Um padre carmelita, descrevendo, com 
certo exagero, os nossos costumes, publicava por esse tempo em revista italiana:
 — Senza panne, si; ma senza bombe no...
Cá estão, enfim, as fogueiras de seu Tota, de seu Adriano, do Nico Alexandre, regadas a quentão gostoso e a rezas 
e modinhas! E com as minhas saudades, eu passaria a convidar ao caro Prefeito da cidade para, num requinte de amor 
ao passado, promover a volta dos velhos costumes, das tradições que tanta poesia davam, naqueles tempos, à vida 
da gente. Não faltam violões e seresteiros. Não morreram ainda os sonhos da mocidade nem, por igual, se apagou o 
fogo da Fé no coração dos homens.
Pois bem, que Cambuí espalhe os seus "quentões", tire as suas "sortes", cante as suas modinhas, dance as suas 
quadrilhas, reze as suas rezas, retornem, enfim, um pouco ao passado, para que os moços de hoje fiquem conhecendo 
os costumes ingênuos dos moços de ontem...(A Montanha)

Fogueiras intensas e inúmeras esquentavam de fato o ambiente e o corpo enregelado da gente, nas noites frígidas de junho, ao mesmo tempo que os "quentões", feitos de aguardente, caramelo e gengibre, tudo fervendo em velhas chaleiras de ferro fundido, davam inspiração e vigor físico aos seresteiros. Chico Raimundo — o Castanho, de que tan¬to protestava — ufanava-se de transpor o braseiro das fogueiras de pés descalços...E o fazia, de verdade, saltitante e alegre... Dia seguinte, ]á estava ele rachando lenha ou agarrado às patas dos cavalos para a aplicação de ferraduras...

Carnaval e entrudo

Na primeira década deste século e mesmo no primeiro quinquênio da segunda, o carnaval era muito animado e interessante.

Verificava-se o predomínio da "máscara", como por toda a parte. Com voz de falseie, vinha a pergunta:

- Você me conhece?

Grupos de mascarados enchiam a cidade e muitos desses em cavalos bem ajaezados. Lindolfo Sales, a caráter, imitava Paulino Frederighi, então fiscal da água e das ruas, que tinha um dos dedos da mão anquilosado. E imitava bem. Por sua vez, José Bueno (Zé Fogueteiro) retratava com perfeição Paiva Júnior, estimado advogado e pessoa queridíssima na cidade.

O travestimento era generalizado, porque, de modo geral, as mulheres não participavam dos grupos fantasiados.

No último dia (terça-feira), à noite, vinha o Zé Pereira: um bombo e uma multidão de acompanhantes, choramingando de porta em porta, pedindo "coisas" de comer, carregando, ao mesmo tempo, um simulacro de esquife:

"Zé Pereira morreu 
Que será de eu. . ."

O barulho era de convencer os recalcitrantes, e pães, biscoitos, doces, conservas, latarias, tudo vinha para as ces¬tas e balaios, que os foliões carregavam para a casa adrede escolhida para as suas comezainas.

Mas, o que mais exaltava os folguedos do carnaval na primeira década do século era precisamente o entrado. Pas¬sasse alguém por uma janela e lá vinha bacia de água a ensopá-lo. Se parasse ou reclamasse, mãos femininas (desta feita entravam as mulheres) vinham de anil em punho, borrando de azul o rosto e as roupas do passeante.

Se o indivíduo, prevenido, passasse ao longe, vinha--Ihe um "limão-de-cheiro", que consistia num recipiente feito de cera (não era difícil a feitura) e cheio de água levemente perfumada.

Às vezes, o limão-de-cheiro era aplicado em abraço, no pescoço da vítima. Meninos e empregados de algumas casas sentavam-se à porta trazendo bandejas de limão-de-chei¬ro para serem vendidos.

A feitura obedecia a processos técnicos de fácil manejo: usado o limão comum (fruto) como forma, era mergulhado em cera derretida e, posteriormente, quando frio, partido ao meio e de novo unido para reservatório de água. Ou-Iro processo consistia em utilizar-se o "papo" de galinha cheio de água e, em seguida, mergulhado em cera derretida. Depois de frio, esvasiava-sc. o conteúdo e se reenchia o re- ccptáculo de água levemente aromatizada.

A Praça da Matriz era então despida de qualquer arborização, ajardinamento ou de embelezamento artificial. Pasto de cabritos e galináceos e mesmo de vacas leiteiras, simplesmente .

No centro, um chafariz que fornecia água aos vizinhos não providos do precioso líquido. A Praça, então, tornava-se campo de batalha para o entrado: o chafariz fornecia a mu¬nição necessára para as competições hídricas.. .

Tudo isso - já era, como hoje se diz.

Carros-de-bois

A obra realizada pelos carros-de-bois na distribuição da riqueza e no desenvolvimento do progresso local merece página à parte na história da civilização mineira.

Esse veículo canhestro, rude e simples, faz jus a monumento em praça pública, tal qual recebeu o "automóvel" na Via Dutra.

Um jornal de Jaguarí recenseou os carros-de-bois de Gambuí alcançando cifra superior a quatrocentos (sic) em trânsito constante pela estrada ligando a Bragança. O chiar estridente de seus eixos propositadamente preparados para o atrito por meio de palhas de milho fixadas nos cocões, chegava a exigir a suspensão momentânea dos trabalhos do júri local, quando a onda carreteira repontava, tendo à fren¬te seus candieiros, em demanda de Estiva, Gapivari e bairros próximos, carregada de mercadorias.

Era então uma ruma interminável de carros, cada qual arrastando seis, sete, oito ou mais juntas de bois, que, presas à canga por canzis resistentes, inclusive junto as do coice, que se ligava ainda ao cabeçalho -- desusava mansamente por horas seguidas, modorrenta, irritante, frente ao Fórum, ferindo os ouvidos da gente e perturbando o sossego da urbs.

A Câmara Municipal chegou a legislar sobre isso: determinou que os candieiros, à entrada da cidade, untassem os eixos, a cheda e os cocões com cebo ou sabão, para evitar o atrito estridente e enervante.

Os jornais já citados acusavam os carros de Cambuí nos estragos tremendos produzidos nas estradas, e os responsabilizavam pelos ônus causados aos municípios respon-sáveis por sua conservação. Os sulcos profundos abertos no leito da via tortuosa eram fendas futuras no regime das chu¬vas.

Mas, embora postos no banco dos réus, persistiam os carros na faina destemerosa de conduzir produtos da terra e reconduzir aos pagos aquilo de que necessitava o progresso local.

Foi, por isso, grande - muito grande mesmo - a obra realizada por esse veículo rudimentar, antes do advento do caminhão e do automóvel. Cabe-lhe a glória pioneira de ter carriado a riqueza e a redistribuído por uma vasta área em torno da cidade.

Aliás, segundo se lê em Buarque de Holanda (Caminhos e Fronteiras, pág. 23) os veículos à tração promoveram o alargamento das estradas antes simples carreador de animais e trânsito de pedestres, ensejando o aperfeiçoamento do transporte e das comunicações.

Foi o que se deu com os carros-de-bois.

Tropas-de-burros

Merece igual tratamento o serviço desenvolvido pelas tropas-de-burros na importação de artefatos e artigos indus-trializados e exportação de produto da terra, necessários à captação da prosperidade da região.

De início, demandavam Pindamonhagada, estação de embarque e desembarque, galgando a Mantiqueira em várias etapas. Eram de/oito léguas, "serra-acima", como ao tempo se dizia, Via Capivarí, S. José do Paraíso, S. Bento do Sapucaí, Alto da Serra e Pinda. Uma boa estirada! O grande mercado era Rio de Janeiro.

Posteriormente, tornou-se Bragança o maior empório da região a promover o intercâmbio comercial com o extremo sul do Estado. As doze léguas eram vencidas em poucas etapas, dada a ausência de serras tortuosas e íngremes. E S. Paulo era o foco de atração.

Cada tropa, em geral, constiuía-se de 10 a 12 burros ou mulas, tendo à frente a madrinha, testa enfeitada de fitas coloridas, levava um cincerro badalando em cada movimento .

No lombo amarrava-se a cangalha e nesta a carga pro-tegida por mantas de couro-cru, desafiando a violência dos aguaceiros.

A passo tardo, abria caminho através de lamaçais e atoleiros, e vencia três léguas por dia. Acostava-se em ran¬chos à beira da estrada, sob a cobertura de telha vã, apoiada em várias estacas ou esteios, quase ao relento. E ali, à clari¬dade da lua, cantando velhas e dolentes toadas sertanejas, os tropeiros varavam à noite, muita vez insones, dormindo ou¬tras vezes sobre couros e baixeiros.

A carga, constituída, comumente, de sacos de farinha de trigo, sal, açúcar escuro ou caixas de querozene, era bem amarrada na cangaliia por correias de couro-cru.

Prestaram grandes e relevantes serviços ao progresso e ao desenvolvimento da região. Tal qual os carros-de-bois, merecem monumento.

Entre 1851 e 1860, a qualificação de toda a população masculina, feita pela Guarda Nacional, registrava a ativida¬de de 61 tropeiros, isto é, proprietários de tropas-de-burros destinadas ao transporte de produtos de importação e expor¬tação locais. Nesse número não se incluíam os "arrieiros", encarregados dos aprestos e movimentação das tropas. Os carros-de-bois, por esse tempo, ainda não ocupavam lugar no intercâmbio comercial, dada a ausência de estradas largas e próprias.

Semana Santa

Não se vai lembrar aqui a dramatização litúrgica da Semana Santa, que era aquela ainda hoje desenrolada nas regiões longínquas, onde a faina da renovação não destruiu os alicerces da religião cristã nem apagou a chama da Fé. Não se vai lembrar, porque, ainda, é a mesma de todas as localidades brasileiras em que a religião católica impera decisivamente.

O drama do Calvário foi sempre durante uma semana, até a segunda década deste século, revestido de compunção,

respeito, tristeza e solenidades que bem interpretavam a religiosidade de que se desfalca a sociedade de nossos dias. O silêncio, o luto, a sobriedade eram um imperativo de todas os lares austeros, onde nenhuma voz se levantava nem a gula se fazia sentir. As mesas e iguarias se impunham pela simplicidade e pelo jejum. Os sinos das igrejas silenciavam e as "matracas" convidavam os fiéis para os cerimoniais religiosos.

Era, de fato, ambiente de recolhimento moral e íntimo, até que, no sábado dito da "aleluia", ao meio-dia, os sinos bimbalhavam festiva e ruidosamente, e a Banda de Música deflagrava um dobrado alegre e retumbante. Iniciavam-se então as comezainas, e a população agora dissipava o melhor dos seus folguedos, comendo e bebericando. Jovens janotas e moçoilas de vestidos multicoloridos mudavam o panorama citadino. Encerrava-se o drama da Morte e iniciava-se o mistério da Ressurreição.

Hoje, na maioria das cidades brasileiras não há mais isso.

Festas religiosas

A padroeira é Nossa Senhora do Carmo, mas a festa religiosa de maior importância e mais movimento era a de 20 de janeiro, consagrada a São Sebastião.

Desde o início das novenas realizavam-se à porta da Igreja-Matriz os leilões de prendas oferecidas pelos fiéis para o custeio das despesas da festa. A Banda de Música, às 18 horas, subia estridentemente (mais comumente "subia" mesmo) e se punha no coreto valetudinário ereto à frente da igreja, tendo de lado a barraca coberta de pano destinada à guarda das prendas e iguarias. E o leilão ia vibrante, cercado de arrematantes e curiosos, até o último "toque" dos sinos, quando então se encerravam os pregões e os assistentes procuravam a Igreja para as suas orações.

A festa de Nossa Senhora do Carmo, padroeira, dia 16 de julho, não tinha a vibração da de S. Sebastião, mas, por isso mesmo, provocava mais contrição e mais fé.

Essas festas — a de S. Sebastião e a de Nossa Senhora do Carmo — se encerravam sempre com a procissão de andores percorrendo as ruas principais da cidade, em que cada imagem artisticamente enfeitada era carregada pelos fiéis. Os andores eram preparados em casas particulares e recolhidos festivamente na véspera da festa, para a solenidade procissional do dia seguinte.

No encerramento dos festejos, quando a procissão entrava na Igreja, processava-se um espetáculo verdadeiramente edificante e estarrecedor. Minguei Velho (Miguel Lombardi) punha em cena seus altos conhecimentos de pirotécnica italiana. Atiçando fogo às baterias, os ares se agitavam tremendamente e o estampido dos petardos era audível a dezenas de quilômetros de distância. Uma batalha campal de detonações e de poderio percussor capazes de mais ensurdecer um surdo...

Muitas vezes a arte de Miguel Velho se provava em torneios de fogos coloridos e estrondejantes, geralmente à véspera da festa, quando castelos medievais, armados ao lado da Igreja, entravam em tiroteio esfuziante contra barcos e navios de guerra, frente a frente.

Miguel Velho, amplas barbas brancas espalhadas pelo peito, e seu estado maior - José Miguel, seu filho, e Elias Fanuchi, seu neto - comandavam a pugna temerária e belicosa.

Lá se foram esses tempos. . .

Registre-se neste passo o que o jornal cambuiense A Montanha, de 18 de julho de 1948 publicava:

Furiosa

Seu Maneco é regente da Banda, 
Vai na frente, lampeiro e catita... 
Os seus passos só marcam compassos 
Que a charanga não segue nem fita...
  As mocinhas repontam bonitas 
  Enfeitadas à porta e à janela. 
  Bombardino, trombone, pistão, 
  Soltam brilhos de cor amarela. . .
O Totonio ao passar pela casa 
Do  Compadre  Tonim  Coletor, 
Clarineta retira da boca 
Pra dizer: "Como vai o Senhor?"
  (Mas o Mestre não gosta
  De esperar a resposta
  Do Compadre Tonim:	/
  Bum-tchim-bum-tchim-bum-tchim.)
Mal chegados à porta da Igreja 
Rompe o sino a tocar be-le-lem. . . 
E o pistão quer agora mostrar 
Quanta força no peito ele tem
  (Mas o baixo não deixa 
  E o Maestro se queixa 
  Desse grande chinfrim: 
  Bum-tchim-bum-tchim-bnm-tcliim)
É nessa hora que a coisa se esquenta 
E se espalha por todos os rincões. 
Zé Maneta também vai provar 
O barulho dos seus foguetões.
  O pistão passa então a tocar
  "Sobre as Ondas" --- a valsa velhinha:
  - Bum-tatá, bum-tatá, bum-tatá. . .
  - Como é boa esta nossa bandinha!
(Fala assim ao Vigário
O senhor boticário:
- Se não fosse esta idade...
- Ai meu Deus que saudade!)
   Arrastando as chinelas furadas
   Tônio Rosa inicia o leilão:
   - Quem dá mais? Um cartucho, senhores,
   Quem dá mais? quem dá mais? quanto  dão?
Finda a reza.  O leilão acabou-se 
Sai o povo em  conversas à-toa. 
Põe-se o Mestre defronte da Banda 
E um dobrado meloso ressoa.
  Vai então pela rua
  Sob as luxes da lua
  O dobrado sem  fim:
  Bum-tchiin, bum-tchim, bum-tchim. . .

Senhor Fora

Uma tradição que se esgotou ao perpassar dos anos foi a denominada "Senhor Fora".

Consistia na seguinte prática religiosa: o doente, quase em coma ou presumindo suas últimas horas, pedia confissão e comunhão, a qualquer hora do dia ou da noite. Duas, três, quatro horas da madrugada os sinos da Igreja Matriz bimbalhavam de maneira característica. A população levantava-se e formava-se na Igreja solene procissão, levando o pároco a hóstia consagrada. E ao bater de sinetas, a procissão se dirigia silenciosa e trôpega pelas ruas escuras da cidade, à luz de velas, até a residência do doente. Depois da confissão e da comunhão, a procissão, com o mesmo ritual, regressava à Matriz, onde era então entoado o "tantum ergo", após o que a multidão se dissolvia, e cada um regressava, estremunhado, ao seu leito caseiro.

Não existe mais essa prática.

Mês de maio

Outra tradição que a voragem do tempo e as transformações dos costumes consumiram, é a procissão, madrugada da à fora, pelas ruas da cidade, em dias de maio, mês dedicado ao culto da Maria Santíssima.

Acordava-se ao sol nascer com os cantos homílicos e as invocações a Nossa Senhora pelo terço rezado pelo povo alternado com o sacerdote e, em seguida, coro falado na ladainha de todos-os-santos. Antes de iniciar-se cada "mistério" do terço, o povo cantava, parada a procissão, e só rompia a marcha vagarosa quando se iniciava o Padre Nosso:

O Padre Nosso era cantado alternadamente, isto é, sacerdote e povo.

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Ao ingressar na Igreja, aos pés do altar, encerrava-se a procissão com a Salve Rainha, também cantada alternadamente:

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E a bela oração à Virgem era toda cantada assim, alternadamente, sacerdotes e acólitos, secundados pelo povo. A linha melódica simples e monótona assemelhava-se a uma melopéia oriental ou a um cânon em que intervalos de poucos tons se estruturavam, até o fim, de maneira sincrônica.

As modificações por que vem passando a sociedade moderna mataram, na igreja, essa homenagem poética à Virgem, não mais existindo as procissões madrugadeiras dos velhos tempos. Continua, no entanto, por todos os rincões brasileiros a coroação à Virgem feita por meninas escolhidas — uma para coroar a imagem da Virgem e outra para depositar-lhe um ramo de flores nas mãos - acompanhadas por um grupo de jovens vestidas de túnica branca e levando às costas asas também brancas, subiam pela rua afora até a Igreja, formando duas alas, acompanhadas pela Banda de Música.

Já não há nos tempos de agora esse significativo tributo de amor à Virgem Santíssima.

In omne tempus...

Festa do Córrego

Córrego, ou Senhor-Bom-Jesus-do-Córrego, ou, ainda, Córrego-do-Jesus, é município desde 1953. Divorciou-se de Cambuí. Partiu-se o elo que os prendia, mas a história de um se prende à de outro em fatos que os unirão para todo o sempre.

A festa do Córrego, como se dizia antigamente, não é descrita com o colorido que o folclore empresta às manifestações de caráter popular, mesmo porque ela tem cunho e sentido religiosos.

Repercutia no cenário sul-mineiro, abarcando mesmo larga faixa do território paulista, despertando, em particular, o interesse dos que cercavam o pequeno burgo vizinho de Cambuí.

Forasteiros, comerciantes, especuladores de todo o porte, bufarinheiros, jogadores inveterados, profissionais da batuta, representantes, enfim, de toda a fauna andeja, de todas as classes sociais, dispostos a dormirem ao relento, ao lado de uma fogueira crepitante, ou sob os beirais da Igreja do Senhor-Bom-Jesus — abriam caminho para o arraial. Cambai se esvaziava. Xinguem pelas ruas. Xinguem em casa. Muitas famílias da cidade possuíam - só para os dias das festas pequenas casas que; se atopetavam de parentes e familiares, dormindo no chão duro, sem colchão e sem travesseiros, somente para - o quê? - verem e ouvirem o que. se passava no arraial nos últimos dias que precediam 6 de agosto. Os que não tinham casa no arraial iam diariamente, vencidos seis quilômetros a pé, ou em carros-de-bois, por estradas íngremes e tortuosas, e ao divisarem, de longe, o pequeno amontoado de casas, em que consistia a vila, escutavam o sussurro cavernoso da multidão que se acotovelava por todos os seus cantos e recantos, como se fora o ressoar longínquo das ondas do mar na concha acústica dos caramujos.

Dia e noite, o pátio destinado ao buzos — jogo de azar manejado por uma espécie de dado de forma típica e oblonga, de constituição óssea — estava constantemente superlotado, e o ruído das pequenas pecas nos beirais de grandes mesas redondas e côncavas, cobria o vozear dos licitantes e jogadores contumazes. Perdia-se dinheiro a rodo...

Comerciantes turcos armavam barracas cobertas de sapé ou, mais comumente, de simples folhagem decepada nos subúrbios da arraial, e, lá dentro, bugigangas de toda espécie, quinquilharias, objetos simples e pobres, de latão ou folha-de-flandres, imitações de ouro e prata, misturavam-se a uma variada sorte de pendurucalhos rebrilhantes.

Nico Alexandre carregava seu opulento e variado Bazar do Leão.

De manhã e à tarde, o palhaço a cavalo, seguido de um punhado de moleques, anunciava o espetáculo:

Hoje tem espetáco? 
Tem sim sinhô...

E em seguida:

O paiaço que é?
É ladrão de muié...

A esse tempo a Banda de Música já esgotara o vasto repertório de dobrados afinados e melosos pelas ruelas do arraial, enquanto que os namorados, daqui e dalém-mar, trocavam olhares cobiçosos - porque àquele tempo outra coisa não podiam nem sabiam fazer...

Chico Paulino concorria para a barulheira com o ruído de seus dados.

Uma frota de troles, formada em Bragança e Pouso Alegre, despejava, de momento a momento, mais forasteiros, mais devotos, mais gente, atulhando a pequena praça de uma multidão curiosa e heterogênea, convocada para jogos de azar e divertimentos ao gosto da época.

Mas, tudo isso se desfez quando o Bispo de Pouso Alegre determinou a suspensão dos festejos no Santuário, desde que as autoridades policiais continuassem a permitir jogos-de-azar. A proibição foi cumprida, e a festa do Senhor-Bom-Jesus-do-Córrego passou para o capítulo das coisas do passado. Calendas gregas...

O Bispo Diocesano tinha razão: as devoções eram poucas. Os Frades Carmelitas bem que se esforçavam e desenvolviam excelente obra catequética . A imagem do Senhor-Bom-Jesus era uma obra de arte sacra. Viera de Portugal nos longes de mil e setecentos e tantos. Mas mesmo assim, a festa profana é que atraía e atuava e despertava a atenção e o interesse dos forasteiros.

Repita-se, na linguagem de hoje: já era...

* * *

O Suplemento Literário do Correio da Manhã (Rio), de 6 de fevereiro de 1911, publicou a seguinte página de autoria de Levindo Lambert:

Festa do Senhor Bom Jesus do Córrego

Madrugada.Invés do canto dos galos
A Banda do Geraldo rompe um  dobrado
Quente, barulhento, bonito e afinado,
Acordando o sol atrás do Pico de São Domingos,
Despertando a caboclada cheia de pinga,
Cheia de cinza,
Esparramada  ao lado da fogueira.
  E a Banda do Geraldo vai tocando o dobrado
  Quente, barulhento,
  Com berros de trombone e gritos de pistão,
  Um barulho dos diabos,
  Capaz de acordar Sua Majestade o Imperador do Japão,
  Do outro lado da terra. . .
Por isso mesmo,
O sol bota a cabeça de fora atrás do Pico de São Domingos,
E espia...
Depois, cheio de medo,
Vai devagarinho,
Devagarinho,
Levantando a loira cabeleira. .
  A caboclada,
  Cheia de pinga, cheia de cinza,
  Ao lado da fogueira quase apagada,
  Levanta-se de carreira
  Esfregando os olhos,
  Esfregando a cinza,
  Esfregando os bolsos,
  Ajeitando a lapiana no correião das calças,
  E de carreira vai alcançar a Banda do Geraldo.
  Antes de acabar o café gostoso da casa do festeiro    .
Depois,
O sol perde o medo da Banda do Geraldo:
- Vai subindo, vai  subindo,
Gostando de ver as moças bonitas
A porta da Igreja do Senhor Bom Jesus,
Vestidas de verde
De vermelho-escarlate   ,
De amarelo e de azul,
Conversando com os moços pacholas
Tocadores de violas no catira de São João.
  Depois,
  Cansado, satisfeito,
  Vai descendo, vai descendo,
  Acompanhando a procissão do Senhor Bom Jesus,
  Ouvindo o cântico dolente que os devotos cantam,
  O cântico que a Banda do Geraldo encobre de-repente
  Com o estrondo do bombo e o ruído dos pratos,
  Com os berros do trombone e os gritos do pistão. . .
E o sol, então,
Devoto do Senhor-Bom-Jesus,
Vai de-certo acordar as gentes que moram do outro lado da terra,
E contar como é boa, 
Como é bonita, 
Como é gostosa, 
A festa do Senhor-Bom-Jesus-do-Córrego...

Massacres e matanças

Está registrada em outro capítulo desta obra a cas-tração de cavalos praticada cm plena Praça da Matriz nos idos de 1905. A técnica exercitada pelo estimado Coronel Justiniano Quintino da Fonseca não oferecia repulsa aos olhos dos assistentes, homens e meninos, porque empregada com cuidados de higiene e assepsia e, ainda, certa perícia cirúrgica que bem comprovavam a competência do operador.

Já o mesmo não se dava na castração de touros, também em plena Praça Pública, por Francisco Amâncio Eiras. Conquanto sem derramamento de sangue, o processo empregado por Chico Eiras feria a sensibilidade de, todos os seus auxiliares e dos que se prestavam a assistir o terrível massacre do animal. Era o touro fortemente amarrado e "sugigado" por muitos auxiliares e, depois, ajeitados os seus testículos sobre uma prancha de madeira, passava então Chico Eiras a esmigalhar as glândulas seminais do boi, que urrava terrivelmente

Uma crueldade sem par. De arrepiar os cabelos...

A matança de porcos na via pública constituía, ainda, uma prática desfeita pela evolução da cidade.

Quase todos os comerciantes de gêneros-da-terra a adotavam, mas, particularmente, Adriano Colli, ao lado da Igreja-Matriz, se sobrepunha aos demais, porque mantendo, nos fundos de sua casa, na Rua da Palha (Rua Luiz Gama) uma vultosa engorda de suínos, que derramava sobre a cidade uma catadupa de bichos-de-pé (tunga penetrans), podia o comerciante sacrificar um exemplar diariamente, o que de fato fazia, atendendo assim sua vasta freguesia. O porco, adivinhando talvez seu destino trágico, enchia os ares de uma gritaria infernal, o que lhe não impedia de receber no coração certeira punhalada. Isso feito, era a vítima coberta da folhagem dura e resinosa do pinheiro, para destruir-lhe os pelos e cerdas. Em seguida, colocado em decúbito dorsal, era então aberto da laringe ao períneo, retiradas as vísceras (barrigada), separadas as bandas gordurosas (toucinho) e isolado o sua, da cauda à cabeça. E pronto...

Capítulo XVI - Acontecimentos históricos

Uma revolta popular

Foi uma verdadeira revolução branca. Dentro da ordem e do respeito a tudo. Todos os cidadãos em condições de votar vieram para as ruas. Um protesto veemente, corajoso e dramático contra a Lei já aprovada pela Câmara Legislativa do Estado, suprimindo a Comarca. Tudo bem planejado, porque as mais altas autoridades locais se omitiram propositadamente. Um ou outro elemento mais atrevido ou indisciplinado incorporou-se à massa frenética. Não fora — ao que parece — a tática e a inteligência de José de Almeida da Prata, advogado de grandes recursos tribunícios, talvez que o movimento se transformasse em sedição. Veja-se a ata da Assembléia Popular do dia:

"Aos nove dias do mez de agosto de mil novecentos e um, no Paço da Câmara Municipal, reunido parte do povo de Cambuhy, Córrego e Bom Retiro, com o fim de protestar contra a suppressão desta Comarca; pelo Capm. José Luiz Tavares da Silveira em breve alocução fez sentir o motivo da presente reunião e dirigindo-se ao povo, convidou-o a proclamar o Cidadão José de Almeida Prata para ser o interprete dos seus sentimentos, no assumpto que motivou a presente reunião. Acceitando a proclamação, subiu a tribuna, agradeceu ao povo a confiança que lhe inspira e de¬pois de diversas considerações sobre o assumpto terminou fallando que as medidas que o patriótico Governo de Minas procurava por em execução, pareciam-lhe ser de caracter provisório, obrigado pela situação afflictiva porque passa o nosso querido Estado, e que exigir do Governo sacrifícios, seria infrutífero para os nossos desejos, desde que esse sacrifício não seja correspondente com outro de nosso Município. E para isso convidava em nome do Povo à Gamara a fim de que esta levasse ao patriótico Governo que ella e o povo adherião ao plano talhado pelo município de Palmyra e que de muito boa vontade cediam ao Governo (caso fosse mantida a nossa Comarca) parte do imposto inter-vivos, ao Estado, e convidou o Cel. Presidente da Gamara Municipal, o Vice-Presidente e mais membros que se achavam presentes para tomarem este alvitre, os quais responderam que adheriam a idéia de muito boa vontade, fazendo algumas considerações de apllauso o Revmo. Vigário Figueiredo Caramuru se a presente a idéia do povo pacifica e ordeira, na reclamação de um direito estava convencido de que a Gamara Municipal se compromettera a ceder uma parte do imposto de transmissão de propriedade em favor do Estado para a manutenção da Comarca. A sua palavra authorizada mereceu applauso de todos. Em seguida o orador, por parte do Povo, mostrando-se satisfeito pelo feliz êxito de sua missão apre-sentou a redação do telegramma que devia ser passado ao Governo do Estado, da Imprensa e da Câmara Municipal de Palmyra. Terminou a reunião com calorozos vivas ao Exmos. Srs. Drs. Presidente do Estado, Secretário do Interior, Congresso Estadoal, Gamara Municipal, auctoridades constituídas da Comarca e Povo do Município de Palmyra, tocando o hymno Nacional a banda Musical regida pelo hábil Maestro Cidadão José Pedro Vieira da Silva que espontaneamente compareceu. E para constar lavrei a presente acta. Eu, Procopio Brandão official da Câmara Municipal a escrevi, (aa) José de Almeida Prata, Emiliano Quintino da Fonseca, José Luiz Tavares da Silveira, Paulino Frederico, Cândido Gabriel de Brito Lambert, Demetrio Ribeiro e Silva, escrivão; Ricardo José Pereira, tabelião; Raphaele de Rose, José Alexandre de Moraes, tabelião; João Aureliano Padilha, Francisco Dardis, João Corrêa da Silva, José Corrêa da Conceição, João Baptista Cor¬rêa, Manoel Augusto de Oliveira Breves, José Fidelis Nogueira, José Antônio Eiras, Eduardo das Chagas Pinto, Alacrino de Paula Eiras, Francisco Fanuchi, Miguel Lombardi, Luiz Dardis, Adriano Colli, José Gomes Moreira Sobrinho, Antônio Felipe de Salles Sobrinho, Alfredo da Costa Magalhães, Alfredo Luxardo, Carlos Capossoli, Benedito Bucno de Moraes, José Alfredo da Silva, Modesto Bueno de Moraes, Astolpho Hermogenes de Moraes, Alfredo de Brito, Affonso Guimarães, Fernando Carlos Pereira Guimarães, Domiciano Bernardes de Soiiza, Zeferino José Pinheiro, Cassiano Antunes de Nascimento, Joaquim Pereira da Silva, João Pedro Vieira da Silva, João Lambert, José Pedro Vieira da Silva, João Baptista de Moraes, João Baptista de Moraes Sobrinho, David Ricieri, Francisco Alexandre de Moraes, Cornelio Lambert, José Pedro da Silva, Carlos Guerillon, Quintino Antônio Padilha, Herculano Affonso Duarte, Américo Anthero de Salles, Alfredo Fanuchi, Elias Belisario dos Santos, José da Silva Figueiredo, Antônio Pereira Duarte, Francisco Marcondes Magalhães, José Ferreira de Brito, Olegário José de Brito Lambert, Barnardino Furtado do Nascimento, José Borges de Oliveira, João Bernardo Varella, Vicente Caetano de Araújo, Domingos Marques de Oliveira, Achiles Frederico, Alexandre José Eiras, Hermogenes José Coelho, João Baptista Duarte, Pilade Frederico, Isaac d'Alcântara Lambert, Adão Pereira Duarte, José Hilário de Brito Lambert, José Joaquim de Oliveira, Picarely Alfonso, Israel Antônio Padilha, Luiz Rosa Teixeira, Antônio Raimundo do Nascimento, Emygdio Alves de Toledo, Procopio Brandão (oficial da Câmara Municipal), Antônio José de Brito Lambert, Aniceto d'Alcantara Lambert, Justiniano Antônio Padilha Lambert, Palazio Padilha Lambert, Júlio LuxaMo, José Amancio de Salles, José Faustino de palies, José Tertnliano de Brito Lambert, João Ferreira da Silva, Adolpho Ferreira da Silva, José Bernardes da Fonseca, Carlos Rodrigues da Silva, João Lopes Pacifico, Lino Marques da Silva, Jesuino dos Reis de Souza, João Rodrigues de Deus, Silverio dos Reis de Souza, Francisco Vicente de Araújo, Gustavo Greco, João Evangelista de Salles, José Cândido de Almeida, Giovanni Fauce, Francisco Antônio da Silva, Francisco Falho, Vincente Siecola, Virgílio Rufino de Moraes, Basilio dos Reis de Souza, José Aureliano Lima, José Bueno Rodrigues, Benedicto Barsotti, Antônio Ribeiro da Silva, Sabino Marques Padilha, José Lopes Pacifico Sobrinho, José Mathilde de Souza, João Baptista Lopes, Antônio Lopes Sobrinho, João Francisco Pereira, Júlio José Rodrigues, Pedro Pereira da Silva, Salustiano Marques Padilha, Osório Rufino de Martins Barbosa, Maximiano José de Brito Lambert, Antônio Gregorio da Silva, Luiz de Zia Italiana, Francisco Antônio Pedro, José Antunes da Silva, José Pedro da Rosa, Jesuino Vicente Pereira, Domiciano Quintino da Fonseca, Antônio Luiz de Brito Lambert, Theodoro Ferreira da Silva, Joaquim Pedro da Silveira, Antônio Evaristo de Brito, José Torqnato Ramos, João Baptista de Almeida, Antônio Lopes Sobrinho e Joaquim Xavier de Salles."

É longa a lista, mas registrem-se os nomes dos que participaram do movimento de protesto, não só porque atuaram e fizeram coro à grita paredista, como ainda para que a história os perpetue e os faca lembrados por todo o sempre. Não se sabe se o eco da agitação respeitosa mas enérgica feriu os tímpanos dos dirigentes estaduais, pois que a proposição legislativa, aprovada pela câmara baixa, não encontrou guarida por parte do Senado Estadual, que a rejeitou in limine. Em conseqüência, a população local se reuniu outro vez, agora para louvar aqueles que impugnaram o malsinado projeto. Leia-se a ata:

"Aos dez dias do mez de Setembro de mil novecentos e um as seis horas da tarde na sala da casa da Câmara Municipal desta Cidade de Canibuhy achando-se reunidos o Presidente da Câmara Coronel Justiniano Quintino da Fonseca e mais Vereadores bem corno grande número de populares convocados para a presente reunião popular; o sr. Presidente declarou aberta a sessão nomeando uma comissão composta dos Vereadores Silverio Bento da Silva, Hygino de Oliveira César e José Vanulhi a qual foi incumbida de convidar o Cel. João Corrêa da Silva, a fim de tomar posse e prestar juramento do estylo como Vereador Especial da Cidade ultimamente eleito, depois do que em¬possado tomou assento o dito Vereador e em seguida o sr. Presidente deu a palavra ao sr. Vice-Presidente Vigário Figueiredo Caramuru para ex¬por os fins da reunião popular e assim fazendo o dito orador em eloqüente alocução fez sentir ao numeroso auditório que o fim desta reunião era solemnizar o regozijo do Município de Cambuhy pelo facto de haver sido regeitado no Senado Mineiro o projeto da supressão da Comarca e terminando o orador levantou vivas a memória de Tiradentes e a República Brazileira e as autoridades judiciarias da Comarca. Em seguida o sr. Presidente convidou a uzar da palavra os circunstantes que o quizessem, em virtude do que o Dr. Pedro Guaracv, Juiz Substituto da Comarca tomou da palavra e cm inspirado improviso correspondeu a saudação levantada a magistratura local. Em acto subsequente orou o advogado José Prata, associando-se ao regozijo do povo Cambuyense e em acto subsequente o Exmo. Dr. Juiz de Direito Dr. Carlos Cavalcanti em caloroza e enthusiastica oração em nome da justiça enalteceu o trumpho que acabavam de obter as Comarcas ameaçadas de supressão c foi muito aplaudido quando levantou vivas ao patriotismo do Exmo. Dr. Presidente do Estado e ao Senado Mineiro. Seguiu-se com a palavra o Major José Eufrazio orando eloqüentemente sobre o mesmo assumpto. Em aeto continuo encerrada a sessão, todos os circunstantes em numeroso cortejo tendo a frente a banda de musica local, realizaram uma passeata cívica erguendo vivas e saudações em frente as rezidencias das autoridades locaes e pessoas gradas, especial-mente saudando a redação do O Município, em nome do qual orou o advogado José Prata, dirigindo-se todos de novo a sala da Câmara, onde muitos outros discursos f ora o proferidos, encerrando-se a reunião com brinde de honra eloqüentemente levantado pelo Dr. Juiz de Direito da Comarca em nome da liberdade synthetizada na me¬mória de Tiradentes, sendo o orador vivamente aplaudido em prolongadas palmas por parte do auditório que correspondeu enthusiasticamente os vivas levantados ao Exmo. Dr. Presidente do Es¬tado, Senado Mineiro e Estado de Minas. Eu, Prócopio Brandão, oficial da Câmara Municipal o escrevi, (aa) Justiniano Quintino da Fonseca, Presidente; Pé. José da Silva Figueiredo Caramuru, Vice-Presidente; Silverio Bento da Silva, Secretario; João Corrêa da Silva, José Vanulhi, Francisco Antônio de Brito Lambert, Hygino de Oliveira César, Vereadores; Carlos F. A. Cavti. d'Albuquerque, Pedro Leão de Sousa Guaracy, José Eufrazio de Toledo, Antônio de Paiva Cardoso, Francisco José Pereira dos Reis, Horacio Vieira Cortes, José Porfirio Marques, Octaviano Quintino da Fonseca, Sebastião Faustino de Salles e Francisco Pedroso de Oliveira, assinando ainda essa mesma ata todos aqueles que assinaram a que foi lavrada dia 9 de agosto de 1901."

E tudo, afinal de contas, se desfez gostosamente na paz e na tranqüilidade dos lares, ao som marcial da Banda de Música Carlos Gomes...

A gripe espanhola

A tremenda epidemia de gripe alcunhada "Espanhola", que assolou o mundo inteiro nos fins da primeira grande guerra, tomou de assalto, também, a população de Cambuí. Poucas as famílias que não lamentaram a perda de um ente querido, e a calamidade destruidora enveredou também — e mais intensamente ainda - pelos ínvios caminhos dos sítios e fazendas, pelos míseros casebres e choupanas tios roceiros, devastando-os impiedosamente.

Não havia médico na cidade, e os dois farmacêuticos então estabelecidos - Sidney Amaral Menezes e José de Barros Duarte — ficaram dentro em pouco reduzidos ao primeiro, já que o segundo foi logo posto à margem pelo ataque da moléstia. A situação se tornou deveras grave.

A Farmácia Amaral, a única, não dava vazão ao clamor dos doentes, e seu proprietário, ajudado pelo estudante, segundanista de Farmácia, Levindo Lambert, que adquiria ali por esse tempo prática de laboratório, enfrentou a situação. Os reclamos da população fizeram de Sidney apenas "médico", pois a movimentação do laboratório lhe era defesa. Dela se incumbira, sozinho, o estudante Levindo Lambert. Aviava as receitas, atendia ao balcão e cuidava da escrituração, enquanto que o titular tio estabelecimento perambulava de casa em casa, visitando os doentes e dando-lhes receitas.Por fim, também o farmacêutico Sidney Amaral Meneses é acometido da terrível moléstia. Lê vindo Lambert, nada experiente no exercício da "Clínica", ficou inteiramente só diante da multidão atropelada pela epidemia, atendendo a cidade flagelada pela calamidade. Fez-se "médico" e ia de casa em casa aplicando injeções e tomando a temperatura aos doentes. Entraram em cena o Eletralgol, então em voga, a cafeína, a esparteína, o óleo canforado - ampolas em uso naquela época. Os xaropes e poções, as cápsulas de aspirina e os sais de quinino, entraram em ação, manipulados a granel em garrafões e botijões ou em rumas de cápsulas. Os comprimidos de hoje ainda não saturavam o mercado farmacêutico.

Arlindo Caetano da Silva e Francisco de Salles Fanuchi se incumbiam da lavagem e assepsia de frascos e garrafas, enquanto que Levindo Lambert, nas quase vinte e quatro horas do dia, assumia o controle do laboratório e da "clínica". O Departamento de Saúde Pública do Estado despachou para Cambuí sais de quinino, aspirina, antipirina, cápsulas amiláceas, benzoato de sódio, para atender, tanto quanto possível, o surto gripai itinerante.

Os defuntos chegavam de momento-a-momento à porta da Igreja Matriz, e, nos desvãos das rocas, os cadáveres apodreciam. A devastação era maior pelos sítios e fazendas, porque sem remédios, sem higiene e sem víveres. Havia a imposição da beberagem.

Quando os farmacêuticos Sidney Amaral de Meneses e José de Barros Duarte se restabeleceram, a pandemia sim, porque foi mesmo e de fato "pandemia" — esgotara a avalanche de suas vítimas indefesas.

A proteção divina — Deus aliquis viderit — ou quem sabe - o velho brocardo "erva ruim geada não mata" — o certo é que Levindo Lambert, segundanista de Farmácia, passou incólume pela terrível hecatombe. E pôde receber da Câmara Municipal um voto de louvor e agradecimento.

Deo gratias!

As revoluções de 30 e 32

Cambuí, cidade quase de fronteira, devia de receber o impacto emocional das duas revoluções que abalaram o País c tiveram S. Paulo por centro irradiador.

Na de 1930, houve certa apreensão nas populações urbana e suburbana, em razão do noticiário referente a possível avanço das forças legalistas de S. Paulo, via Cambuí, em direção a Pouso Alegre, sede de um Regimento de Artilharia Montada. Chegou a haver, mesmo, o êxodo de. seus ha¬bitantes em busca de refúgio nos sítios e fazendas circunvizinhas. A cidade se esvaziou. Poucas as famílias que, aguardaram, embora intranquilas, o desenvolver dos acontecimentos .

Todavia, nada houve de anormal. Só boatos...

Na realidade, as péssimas estradas que, na ocasião, ligavam a capital paulista a Pouso Alegre não ensejavam uma estirada militar por essa região, a denominada "Apêndice Mineiro", constituída de Extrema, Camanducaia e Cambuí. A revolução triunfou sem que os cambuienses fossem em coisa alguma molestados.

Já na revolução constitucionalista de 1932 a situação não foi a mesma. Sendo S. Paulo o foco e o quartel general do movimento, era razoável que as forças legalistas pro¬movessem o cerco da capital, não só para um ataque decisivo como também para conter a irradiação tentacular de suas forças em busca de Minas, notadamente de Pouso Alegre, Três ("orações e Itajubá, sedes permanentes de regimentos e quartéis de forcas federais.

Diante disso, aquartelou-se em Cambuí o 9." Batalhão da Polícia Mineira sói) o comando do Coronel Otávio Diniz, ocupando o prédio do antigo Grupo Escolar, atualmente Clube Recreativo. Por sua vez, as forças constitucionalistas revolucionárias instalaram-se em Bragança e uma coluna avançada plantou-se em Bandeirantes (Vargem), divisa dos dois Estados. Entrou em ação o "salvo-conduto" de lado a lado, e Jaguari c Extrema se tornaram "terra-de-ninguém", porque apertados entre as duas forcas em choque.

O Coronel Otávio Diniz, logo que ocupou Cambuí, distribuiu colunas diversas em pontos estratégicos na direção de S. Paulo e requisitou, manu militari, veículos, animais de montaria e de carga, víveres etc., tomando ainda providências bélicas na defesa das fronteiras mineiras, bem como no sentido da repulsa às investidas das forças constitucionalistas, em perspectiva.

Não houve êxodo da população. Um pequeno avião teco-teco dos rebeldes paulistas chegou a sobrevoar a cidade, causando certo desassossego na população. Mas, feito o ba¬lanço da situação local, regressou a S. Paulo, sem qualquer atividade bélica.

Por fim, tudo se desfez tranquilamente por esse lado, já que os rebeldes, tentando conquistar Pouso Alegre, enveredaram pela via natural oferecida pelos trilhos da Rede Mineira de Viação, entrando por Jacutinga, Ouro Fino c Borda da Mata, até defrontarem a tropa do Regimento de. Pouso Alegre, nas proximidades da cidade.

Houve tiroteios e mortes.

E Cambuí voltou à calma em que vivia...

Aspectos sociais

Constituiria, sem dúvida alguma, página interessante de, sociologia se se detivessem em estudo pormenorizado sobre a vivência dos serviços artesanais e práticas de ofícios diversos nesse quase século e meio de vida orgânica de Cambuí. Talvez se encontrasse aí, em profundidade, a explicação para uma época cheia de pequenas e grandes transformações sociais. Basta, para isso, ater-se sobre a indicação das profissões exercidas pelos indivíduos inscritos na Guarda Nacional de Cambuí entre 1851 e 1861 em que vêem:

Profissões       1851 a 1861     1973
Carpinteiros          29           8
Ferreiros             13           2
Alfaiates              8           5
Sapateiros  	       7	   6 
Seleiros               3           1
Ourives                3          zero

Esse quadro, na sua simplicidade, revela, não a evolução da cidade, mas as transformações porque a indústria e a arte passaram em pouco mais de um século em todo o País. A fabricação em série e a distribuição a granel de produtos e artefatos que, ao tempo, constituíam trabalhos manuais (ferreiros, alfaiates, sapateiros etc.), solaparam a indústria doméstica. Até mesmo os modestos "pregos" que hoje se adquire em todos os tamanhos, formas e diâmetros, eram feitos a mão, um a um, por ferreiros. A libra esterlina, que era moeda corrente, em ouro, a geração atual não a conhece.

Justificava-se, pois, nesse período, a existência de ourives, dada a abundância de matéria-prima. E assim por diante...

Capítulo XVII - Associações recreativas

Clubes sociais

O primeiro clube da cidade não foi propriamente um clube — se se permite o eufemismo contraditório — mas um local em que pessoas gradas se encontravam para um "bate-papo" cordial e umas partidas de bilhar.

Funcionava num acréscimo então feito à casa onde hoje está o Clube Recreativo, ladeando a atual residência do tabelião Benedito Salles. Fora adquirida a mesa do bilhar e seus pertences mediante "ação entre amigos", processo muito em voga naquela época, e aqueles que se cotiza¬vam lá compareciam nas suas horas de lazer. Gente boa, afinal de contas.

Durou pouco tempo essa agradável convivência, e se desfez o ajuntamento, passando a mesa de bilhar à propriedade de outrem, nem se sabe por que processo foi feita a transferência.

Tempos depois, entre 1924 e 1929, fundou-se um clube recreativo em que a população teve participação ativa, principalmente nos festejos carnavalescos. Funcionava numa dependência da residência senhorial de João Alexandre de Moraes, na Praça Coronel Justiniano. O escol da sociedade reunia-se ali para palestras, horas dançantes e torneios esportivos (pingue-pongue) e jogos permitidos por lei.

Em 1930, Francisco Perrone Neto e Dario Lisboa, vindos de cidade vizinha, instalaram por conta própria uma casa cie diversões sociais onde hoje funcionam algumas seções da Câmara Municipal, esquina da rua Moreira Salles com a Praça Coronel Justiniano. Bem mobiliada e bem freqüentada, de início. Mas logo se desfez o engodo, porque também logo se viu que o interesse dos fundadores estava na prática de jogos de azar. E a cidade não gostou...

Tempos bem depois, porém, deu-se vida e saúde ao clube que ora presta bons serviços à sociedade cambuiense. Instalou-se, em caráter provisório, no antigo prédio do grupo escolar (Praça Coronel Justiniano), readaptado para atender às exigências de conforto e bom gosto da instituição. Como contribuição à vivência da entidade, o Prefeito José Francisco do Nascimento, por intermédio do Deputado Floriano Saretti, conseguiu da Assembléia Legislativa do Estado a publicação da Lei n." 1.024, de 9 de dezembro de 1953, assim redigida:

"Dispõe sobre permuta de imóveis na Cidade de Cambuí:
Art. l.9 —Fica o governo do Estado autorizado a permutar o imóvel de sua propriedade, situa¬do na Praça Coronel Justiniano,
na Cidade de Cambuí, onde funcionava o Grupo Escolar, com terreno medindo l.875 m2, de construção antiga, em mau estado de 
conservação,  de tijolos, coberto de telhas, assoalhado, com sete cômodos e instalações sanitárias externas, por outro, 
de propriedade do Município de  Cambuí, situado na vila de Bom Jesus do Córrego, e no qual funcionavam as Escolas Reunidas 
da referida vila, com terreno medindo 22.146 m2, de construção sólida, de tijolos, coberta de telha, assoalhado, 
com dez cômodos, inclusive duas instalações sanitárias, em bom estado.
Art. 2.9 — A permuta far-se-á sem ônus para o Estado."

Feita a transferência e passado o prédio à propriedade do município, este, por sua vez, o cedeu à organização social que mantinha o clube. Fez-se magnífica readaptação das peças internas do clube, provendo-o de biblioteca bem catalogada, bar otimamente provido, salão- de-festas, salas para reuniões íntimas etc., nas quais a sociedade local se reúne semanalmente para soirés dançantes ou sessões literárias. Uma boa orquestra concorre para dar brilho festivo e alegre à manifestação confraternizadora da cidade. É presidente do Clube Dircélio Antônio Marques.

Clube de campo

Acha-se em fase de acabamento excelente clube-de-campo sediado nas imediações da cidade, local aprazível, desfrutando belo panorama, dotado de todos os requisitos e exigências para entidades desse jaez: piscina olímpica e outras destinadas a crianças e adolescentes, sauna, praças de esportes diversos, salões para boites, etc.

É, sem favor, uma instituição que se impõe pelo apuro de sua construção e pelo acerto de suas instalações desportivas e recreativas, obra realizada sob a supervisão do Dr. João Carlos de Figueiredo, seu presidente.

Liga esportiva

A cidade teve sempre propensão para as disputas de futebol, tal qual sucede em todos os recantos do País.

Uma série de associações atléticas, na cidade e nos bairros promovem torneios movimentados e apaixonados.

Foi por isso organizada uma Liga Esportiva, sediada na praça principal da cidade, com instalações bem petrechadas, congregando associações congêneres de muitos bairros do município e das comunas circunvizinhas.

O "campo" de futebol já existente constitui projeto e perspectivas para um futuro estádio dotado de todos os requisitos reclamados pelos regulamentos e códigos desportivos do País.

Realizam-se regularmente disputas programadas pela Liga, despertando vivo interesse dos aficionados do jogo bretão.

A Liga é orientada e presidida por Hélio de Almeida Nascimento.

Capítulo XVIII - Miscelânea

A partir dos fins do século passado, três máquinas de beneficiar café e arroz foram instaladas, gradativamente, na cidade.

A primeira iniciativa coube à família Dardis, localizada a indústria nos altos da Avenida Tiradentes, outrora Cruz do Rosário. Essa aparelhagem foi algum tempo de¬pois transferida ao Major Higino de Oliveira César, que a manteve em franca atividade durante largo período.

A segunda maquinaria foi inaugurada pelo Dr. Carlos Cavalcanti, que a instalou na Praça da Matriz, boje Praça Coronel Justiniano, correspondendo aos atuais números 418 e 122. Viveu pouco ali, sob o comando de José Emídio da Silva, porque alienada a industriais de fora do município.

A terceira máquina de beneficiamento de café e arroz, por fim, foi propriedade de Francisco José Pereira dos Reis (Chico Rico), então alto comerciante na praça. Pô-la em funcionamento em prédio próprio construído na esqui¬na das ruas Coronel Lambert e Capitão Soares. Tempos depois essa indústria passou à propriedade de David Herculano Bueno.

A existência e o funcionamento dessa aparelhagem para o beneficiamento de café na área urbana de Cambuí constituíam o gráfico vivo de sua pujante produção cafeeira nas duas primeiras décadas do século. Não seria à toa que seus proprietários mantinham a maquinaria barulhenta, porque movida por geradores alimentados à lenha. Era de fato a lavoura predominante do município. Por isso mesmo, constituía a fonte fundamental de sua renda, de sua economia e de sua prosperidade.

A pouco e pouco, no entanto, os extensos cafezais foram abatidos, abandonados e substituídos por pastagens em que predominava a criação de gado leiteiro. As máquinas de beneficiamento da rubiácea foram desmontadas e conduzidas para fora do município.

A erradicação dos cafezais se deve, por certo, a retaliação das terras de cultura, tornando, dessarte, Cambuí um dos municípios de maior densidade demográfica do Estado.

* * *

Observa-se, no momento, fenômeno interessante na composição de elementos estrangeiros na sociedade local. Nos primeiros tempos era relativamente grande a colônia italiana: José Dardis, Paulino Frederighi, João Bianco, Nicolau Ambrósio, Severo Venturelli, Luiz Federighi, José Vanugli, Adriano Colli, Luiz Ciambelli, Miguel Lombardi, Afonso Picarelli, Alfredo e Francisco Fanucci, José Lagata, Samuel Ghimenti, Carlos Capozzoli, Filotete Dolla Nina, Davi Bucieri, Alfredo Luxardo, Gustavo Greco, Roque Zerbini, Giovanni Fauce, Francisco Falpo, Vicente Siecola, Adão Antônio, Benedito Barsotti, Anselmo Tognoli, Luigi da Zia Italiana, Raphael De Rosi, Otorino Visconti, Dr. Francisco Risi Baldi, Padre Antônio Pascoal, Dr. Spitalli, Francisco Spineda, Luiz Garbelini, Agostinho Caporalli e muitas outras famílias que o registro social omite. Presentemente, poucos são os remanescentes de famílias italianas ainda vivendo na cidade.

* * *

O primeiro gramofone que se fez ouvir em Cambuí foi adquirido por Antônio Alexandre de Moraes. O interessante era que a gravação anunciava em altos brados: "Casa Edison — Rio de Janeiro", logo que dizia o nome da peca a ser rodada.

***

O primeiro dentista com gabinete aberto em Cambuí chamava-se Carlos Guerillon, de nacionalidade francesa, péssima pronúncia portuguesa, instalado na esquina das ruas Lopes Trovão e Saldanha Marinho.

* * *

Procópio Brandão, que ocupou vários cargos de confiança após a instalação do município, foi uma figura deveras interessante na paisagem humana do tempo. Depois de cursar seminário católico e de alcançar certo grau de cultura humanística, veio para Cambuí, onde constituiu família. Exerceu as funções de sacristão e se fez conhecido por sua "mania" de tomar livros emprestados para constituir magnífica biblioteca — realmente conseguida. Bibliófilo inveterado.

Livro que lhe fosse às mãos de suas mãos não saía...

* * *

O primeiro automóvel a entrar na cidade foi conduzido por Nicolino Nacarato, um dos pioneiros em organizações telefônicas no Brasil. É de se notar que, na primeira década do século, quando isso se deu, esse automóvel teve itinerário até hoje não usado: — veio de Ouro Fino via Bom Retiro, descendo a serrania íngreme que ligava esse distrito à sede do município...Uma vitória corajosa!

* * *

O primeiro aparelho de rádio recepção que se viu na cidade foi adquirido por João Felipe, então gerente da Companhia Força e Luz. As irradiações eram, na realidade, barulhentas e pouco audíveis. Marca Telefunken.

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A primeira máquina de escrever a ser usada foi adquirida por João Moreira Salles para a sua casa comercial denominada "Casa Ideal", sucessora de Adriano Colli.

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A primeira mulher cambuiense a ocupar cargo eletivo foi Maria Nascimento Lambert de Oliveira, que se elegeu vereadora à Câmara Municipal e foi desde logo escolhi¬da Secretária da Mesa. Teve atuação brilhante.

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O primeiro piano que se fez ouvir na cidade foi trazido por José Eufrásio de Toledo, que o passou por venda a Antônio Luiz de Brito Lambert.

* * *

A primeira máquina de costura conhecida em Cambuí foi adquirida pelo Alfaiate Dominguinhos, que residia na Rua Luiz Gama, antigamente chamada Rua da Palha.

* * *

A variante asfaltada que liga a "Fernão Dias" às ruas da cidade foi mandada abrir pelo deputado Ulisses Escobar, então Secretário de Estado da Viação.

* * *

Amadeu de Queiroz, em seu livro "Senador José Bento", pág. 15, cita o Alvará de 6 de setembro de 1810, que, por sua vez, dá denominação de "Campos Largo" à área em que nasce o Rio Itaim.

* * *

Na mudança de alfaias e bens da Igreja de Cambuí-Velho para a atual Matriz de Cambuí veio uma imagem de São Francisco, relíquia histórica, que um dos últimos Vigários da paróquia cedeu a um antiquário.

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O Dr. José Guimarães, autorizado linhagista mineiro, diz que o topônimo "Cambuhy" aparece pela primeira vez em batizado realizado em Camanducaia na data de 13 de dezembro de 1789.

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O primeiro defunto sepultado na nave principal da Igreja de Cambuí- Velho foi o de Dona Quitéria Maria Rodrigues, cunhada do capitão Soares e bisavó do Bispo D. Joaquim Mamede da Silva Leite.

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Está instalada na cidade a "Tecelagem N. S. do Carmo", de propriedade de Francisco Luiz Cardoso e sediada na rua Um, n." 287 (Vila Maria)- bairro que José Caixeta criou na cidade. Importante — não pela extensão da maquinaria, mas pela perfeição e finura artesanais do produto, cuja divulgação se opera dentro c fora das fronteiras estaduais .

* * *

Faz-se sentir também a indústria da moagem de café com o produto denominado "NOSSO CAFÉ", da firma Nosso Café Indústria e Comércio Ltda., com instalações na Rua Cel. Lambert n." 607. Grande faixa do Estado de S. Paulo, vizinha de Cambuí, serve-se do produto, cuja matéria-prima é cuidadosamente selecionada . Daí a preferência que lhe é dada.

* * *

Há na cidade várias pequenas indústrias bem promissoras, tais como fábricas de farinhas de milho e de mandioca, fubás, polvilhos etc. A produção não se limita aos âmbitos locais, mas transpõe fronteiras municipais.

* * *

É de se observar que na relação nominal da Guarda Nacional, entre 1851 e 1860, encontram-se inscritos profissionais denominados "valeiros", hoje inexistentes na camada trabalhadeira. Tratava-se de indivíduos especializados na abertura de "valos", destinados a impedir a fuga de animais dos "pastos" e à vedação das respectivas propriedades rurais. Consistiam em cavar um fosso no solo, de 3 ou 4 metros de largura por outros tantos de profundidade, em sentido longitudinal, nas divisas das propriedades, impossibilitando, dessarte, o transvio dos animais.

O uso do arame farpado, hoje, substitui o "valo".

Foram poucos, em 1860, os "valeiros": Roque Antônio da Silva e Antônio Rodrigues de Souza.

* * *

O Capitão Francisco Soares de Figueiredo, fundador de Cambuí, era, cm 1810, sócio de uma fazenda denominada "Posse das Antas", com Luiz Antônio Padilha, José Pedro da Silva, Jacinto Machado de Lima, Salvador Rodrigues, Jacinto Paula de Oliveira e Barbosa Paula de Oliveira.

* * *

A casa residencial do Capitão Soares, perfeitamente conservada, pertence hoje aos descendentes de João Alexandre de Moraes, na Praça Coronel Justiniano.

* * *

Capítulo XIX - Minha terra

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Levindo Lambert

Minha  terra pequenina 
Plantada numa colina
Nas faldas da Mantiqueira, 
E qual a moça bonita 
Toda enfeitada de fita 
Numa tarde domingueira.
    Uma Praça  ajardinada 
    Bem de frente dominada 
    Por majestosa Matriz. 
    O doce toque dos sinos 
    São melodias e hinos 
    De um povo bom e feliz.
Pelas encostas — subidas 
Que mais parecem descidas 
Tão boas para se andar. 
Por elas cantam serestas 
Um noites de lua e festas 
Conjugando o verbo amar...
    Bem ao pé dessa colina 
    Serenamente se inclina 
    O piscoso Rio das Antas. 
    Banhei-me nas suas águas... 
    Mergulhei nelas as mágoas 
    Não sei se poucas e quantas...
Mais ao fundo, uma pedreira
Era do Maneco Moreira 
Dos meus tempos de rapaz . 
Lembra bem pano de fundo 
Do anfiteatro do mundo, 
De um mundo feito de paz.
    O São Domingos, ao longe,
    Parece o crânio de um monge
    De grisalha cabeleira.
    É sentinela garrida
    Da minha terra querida,
    Da bela terra mineira.
O viandante que passa 
E sobe à esquerda da Praça 
Depara logo um solar: 
Amplos beirais para a rua, 
Parede simples e nua, 
Janelas largas para o ar.
    Tem essa casa uma história 
    Cheia de luta e de glória,
    - De um tempo que lá se vai.
    Ali viveu um herói
    (Como a saudade me dói!)
    - Viveu ali o meu Pai...
Foi nessa casa vetusta 
(Quanta saudade me custa!) 
Que eu senti o que era amar. .. 
Tive dos pais as carícias, 
Dos meus irmãos as blandícias, 
Que levei para o meu lar.
    Mais abaixo, no entretanto, 
    (Sinto nos olhos o pranto!) 
    Uma casa havia outrora. 
    Nela nasceu minha  amada... 
    Uma  esperança alcançada 
    No descerrar de uma aurora...
Não mais existe essa casa, 
Pois é o progresso que arrasa
O Passado e a Tradição. 
Mas para mim ela existe, 
Na retina me persiste, 
Não me sai do coração...
    Minha terra pequenina, 
    Plantada numa colina, 
    É o paraíso que eu vi. 
    Engalanada e altaneira, 
    Bela região sul-mineira, 
    O meu querido Cambuí.

Publicado pela Gazeta de Cambuí, de 30-11-1952.

Capítulo XX - Hino de Cambuí

Letra e música de Levindo Lambert

Cambuí, querida terra, idolatrada,
Pedaço mais querido do Sul de Minas,
És bela, és boa, és rica e abençoada,
E tens o encanto das regiões divinas.
    Salve, Cambuí,
    Terra querida !
    A nossa vida
    Será por ti !
O solo teu, fecundo, em farta messe,
Nos dá conforto e paz, nos dá riqueza,
E vigorosa e ardente a natureza
Em frondes, flores, frutos se enriquece.
    Os filhos teus são bons e laboriosos
    - E são assim na vida - honrando a ti -
    O Pátria de nomes tão formosos:
    - Brasil, Minas Gerais e Cambuí !

(Oficializado pela Lei Municipal nº 542, de 15-01-1973).

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Referências:

Biogeografia de uma cidade mineira, Levindo Furquim Lambert, Imprensa Oficial de Minas Gerais, 302 páginas, 1973.

ACLAC, patrono Levindo Furquim Lambert

Edição para a Wikipédia: Luís Carlos Silva Eiras

Dedicatória

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Levindo reclama da revisão do livro impresso

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As palavras mais citadas no livro:

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