Mudanças entre as edições de "Biogeografia de uma cidade mineira"

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(Capítulo XVIII - Miscelânea)
(Capítulo XVIII - Miscelânea)
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por¬que movida por geradores alimentados à lenha. Era de fato a lavoura predominante do município. Por isso mesmo, constituía a fonte  
 
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fundamental de sua renda, de sua economia e de sua prosperidade.
 
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A pouco e pouco, no entanto, os extensos cafezais foram abatidos, abandonados e substituídos por pastagens em
 
A pouco e pouco, no entanto, os extensos cafezais foram abatidos, abandonados e substituídos por pastagens em
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A erradicação dos cafezais se deve, por certo, a reta-Ihação das terras de cultura, tornando, dessarte, Cambuí um dos municípios de maior  
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A erradicação dos cafezais se deve, por certo, a retaliação das terras de cultura, tornando, dessarte, Cambuí um dos municípios de maior  
 
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Edição das 06h03min de 13 de dezembro de 2015

Levindo Furquim Lambert

levindo_0.jpg

À memória de 
Ney Lambert
filho queridíssimo, nascido em Cambuí, tão cedo arrebatado 
pela morte ao amor de sua família, à amizade de seus colegas, 
ao apreço de seus concidadãos, à confiança de seus clientes. 

Índice

Cambuí é história

Oiliam José, da Academia Mineira de Letras

A história local ou regional, porque mais próxima, tanto no espaço como no tempo, de quem a escreve, oferece a esse vantagens que lhe tornam menos penosa a pesquisa e mais rápida a conceituação dos fatos, na medida em que esses deixaram rastros em documentos ou se fixaram na tradição bem apreendida e razoavelmente conservada e transmitida. Contudo, a perspectiva para a análise desses fatos se torna, no caso, mais sujeita a imprecisões, desvios ou distorções. Daí o muito que a história local ou regional acaba exigindo de quem a ela se entrega com o ânimo consciente de manter-se fiel aos acontecimentos e de interpretá-los, como necessidade inelutável, à luz da boa e segura exegese. É, respeitada a relatividade e a natureza das coisas, mais fácil ser um historiador nacional ou internacional, que triunfar no limitado mas árduo campo da história de uma região, cidade ou entidade social, econômica ou política.

Porque ciente dessas verdades e buscando concretizá-las nos homens, coisas e acontecimentos de sua terra natal, Cambuí, Levindo Lambert conseguiu superar as dificuldades indicadas e oferecer a Minas um trabalho histórico bem estruturado e, mais seguramente ainda, concluído. Para tanto, buscou os arquivos e os autores, examinou-lhes os documentos e as obras e os sintetizou com segurança; ouviu a tradição e expurgou-a daquilo que poderia torná-la inaceitável; respeitou a justa medida entre a narração e a crítica dos fatos; e valeu-se de uma linguagem clara, direta, e elegante, infelizmente nem sempre amada por nós historiadores, para nos conduzir até o passado de uma terra, cujos fatos e figuras interessam quer a Minas, quer a $ão Paulo. E, para isso, não teve pressa. Preferiu antes aproveitar a insubstituível vantagem do decurso do tempo e de uma experiência pessoal e profissional que o situa entre os mais respeitáveis valores humanos e culturais do Estado, desde que iniciou seus estudos primários em Cambuí concluiu seus estudos de farmácia e direito, leu e anotou milhares de textos e obras e, já no plano estadual, fez política, presidiu sindicato, lecionou em colégios e faculdades, dirigiu conservatório de música, ocupou altos cargos de chefia e conduziu com eficiência a Secretaria da Educação, que é teste dos mais difíceis e perigosos para o homem público. E ainda escreveu contos, estudou Machado de Assis e focalizou interessantes aspectos da obra desse surpreendente romancista, fez-se teatrólogo e, com aquela serenidade e dedicação de quem sabe o que quer e quer o que sabe, pertence ao Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais e à Comissão Mineira de Folclore.

Biogeografia de uma cidade mineira surge, pelo que se vê, para ficar, para colher louvores e inserir a rica e movimentada história de Cambuí no contexto maior da História de Minas e da História de São Paulo. Sim, de ambos os estados, porque a terra cambuiense se fez e cresceu exatamente nos antigos sítios do Sapucaí e sentiu de perto, ora com temor e angústia, ora com tranqüilidade e renovada esperança, os lances da disputa de divisas que, ao longo de dois séculos, preocupou mineiros e paulistas.

O plano do trabalho de Levindo Lambert, abrangendo a terra e o homem, a política partidária e o governo, a justiça e a religião, o ensino e a educação, as comunicações e as tradições e costumes, corresponde, pois, ao que de sensato e produtivo se poderia estabelecer para o roteiro histórico de uma comunidade, municipal ou regional. Une quantidade à qualidade, varia a perspectiva dos fatos e analisa e sintetiza os dados recolhidos, correlacionando-os, dando-lhes seqüência e unidade, tornando-os história e numa visão mais ampla, colocando-os em condições de servirem, doravante, como indispensável contribuição para aquilo que pode representar o julgamento do que a terra cambuiense fez para si, para o Sul de Minas, para nosso Estado e até para o Brasil. Biogeografia de uma cidade mineira pertence, agora, efetivamente ao patrimônio da Historiografia Mineira. Pode. o crítico discutir essa ou aquela conclusão do autor e até impugná-las com êxito, o que é natural em trabalho dessa natureza. Mas o livro de Levindo Lambert pertence merecidamente à Historiografia das Gerais. E em condições de refletir o que é a boa e saudável pesquisa histórica municipal, aquela que se faz com os dados de um município, mas acaba, irresistivelmente, servindo ao Estado e ao País, na medida em que esses expressam o sentir e o viver de suas comunidades de base, aquelas que, desde as metrópoles até os sertões, concretizam a autêntica maneira de ser brasileiro.

Preliminarmente

Dois capítulos desta obra modesta e despretensiosa reclamam palavras explicativas.

O primeiro, que tem o título "Como nasce uma cidade" e subtítulo "Área Contestada", procura situar o povoado nascente na região disputada por paulistas e mineiros, já que a decisão de limites, consolidando a demarcação Rubim, só se efetivou em 1936.

Até então, as perlengas entre os dois Estados, constantes e irritantes, às vezes, criavam um ambiente de certo constrangimento não só nos escalões superiores da administração e da política, como, por igual, nas populações lindeiras.

Enfim, a margem esquerda do Sapucaí, a despeito da linha divisória estabelecida pelo preposto de Bobadela, era ainda permanente motivo de contestações em vários de seus pontos.

E Cambuí estava nessa área.

O segundo capítulo em causa tem relação estreita com o primeiro comentado. Refere-se, precisamente, aos pontos vulneráveis da linha Rubim, em que os atritos se aprofundavam, dilatando-se pelas circunvizinhanças e despertando animosidades inconciliáveis nas respectivas populações .

E Cambuí, por esse tempo, recebia o influxo da contenda, participando dela, porque cidade e município então satélites de Bragança, centro nevrálgico da liça. Não era e não é município limítrofe, mas seus interesses comerciais e econômicos se prendiam à região paulista sujeita à controvérsia.

Vem daí a inclusão desses capítulos na estrutura da obra.

E é só? Não. Estão faltando aqui os versos de Camões:

"Cantando espalharei por toda parte 
Se a tanto me ajudar o engenho e arte",

possivelmente inspirado no brocardo latino:

"Feci quod potuit, faciant meliora potentes..."

L.F.L.

Capítulo I - Como nasce uma cidade

Área contestada

Cambuí-Velho

Novo Cambuí

Capítulo II - Como vive uma cidade

A freguesia

Representação paroquial

Comércio Indústria

Guarda Nacional

Capítulo III - Como se governa uma cidade

Criação do município

Da administração municipal

Vereadores

Assembléia Municipal

Ainda a Guarda Nacional

Sede da Prefeitura Municipal

Prefeitura e Câmara Municipal

Capítulo IV - Como é exercida a justiça

Juízes de direito

Juízes municipais

Promotores de justiça

Adjuntos de promotores de justiça

Serventuários da justiça

Juízes de paz

Delegados de polícia

Fórum Paiva Júnior

Achegas históricas

Capítulo V - Organizações político-partidárias

Capítulo VI - Repartições fazendárias

1

Os órgãos arrecadadores federal e estadual, incumbidos de executar também os respectivos orçamentos, foram, de início, centralizados numa só repartição.

As transformações políticas que então se processaram no País, proclamada a República, ao mesmo tempo que, em Cambuí, se instalava o Município e se criava a comarca, imobilizaram, de algum modo e por algum tempo, os serviços pertinentes ao setor financeiro. Passado, porém, o impacto reformista, deu-se empenho em que cada setor tivesse executor e execução próprios.

Assim é que, em 27 de junho de 1892, João Batista Ribeiro e Silva toma posse e entra em exercício no cargo de Coletor, cumprindo-lhe arrecadar as rendas federais e esta-duais, conjuntamente. A acumulação de atribuições num só cargo perdura por certo tempo, até a primeira década do século, quando Antônio da Silveira Lambert recebe a exatoria e, logo depois, biparte-se a repartição, transferindo a Luiz de Paiva Carvalho a seção federal, permanecendo Antônio da Silveira Lambert na direção da Coletoria Estadual.

Dissociadas as repartições, para a Coletoria Federal é nomeado José Amâncio da Fonseca, no cargo de escrivão com exercício até 1923, exonerado a pedido. A partir de 22 de fevereiro de 1924 o cargo de escrivão é exercido por Antônio Anastácio de Moraes, que em 1949 é promovido a coletor em substituição a Luiz de Paiva Carvalho, aposentado por implemento de idade.

Em 1957, em virtude de aposentadoria do titular Antônio Anastácio de Moraes, é removido para Cambuí o coletor Esteliano Pereira dos Santos, que logo depois, transmite o cargo, mediante permuta, a João Simões de Carvalho.

Em 1964 processaram-se sérias modificações na organização fazendária federal, transferindo-se os coletores, hoje exatores, para a antiga Delegacia Regional de Arrecadação, agora também extinta com a criação da Secretaria da Receita Federal.

A exatoria de Cambuí foi anexada ao Posto de Arrecadação da Receita Federal em Pouso Alegre, subordinando-se, por fim, à Delegacia da Receita em Varginha.

Cessa aí, pois, a vida funcional da Coletoria Federal em Cambuí.

2

A Coletoria Estadual funcionou, sem solução de continuidade, desde 1892, quando é nomeado João Batista Ribeiro e Silva, e, a partir da primeira década do século, a cargo de Antônio da Silveira Lambert. A escrivania esteve a cargo de João de Oliveira, Antônio Ornelas e Herculano Afonso Duarte.

Com o falecimento do respectivo titular, em 1935, passa o cargo a Herculano Afonso Duarte e, tempos depois, a João Batista Duarte, tendo como escrivão Aristeu Bueno.

Aposentado o titular efetivo, é o escrivão Aristeu Bueno promovido a coletor. Sucede-o Ademar Cruz e, em seguida, Cândida do Nascimento Paiva, atualmente detentora do cargo.

Seguindo a mesma orientação adotada pelo Ministério da Fazenda, a Secretaria da Fazenda de Minas Gerais promoveu substanciais modificações nas sistemática fazendária estadual. Assim é que Cambuí é agora sede de uma das Unidades da Fazenda abrangendo os municípios de Bom Repouso, Camanducaia, Cambuí, Córrego do Bom Jesus, Estiva, Extrema, Itapeva, Munhoz e Toledo ,

Por sua vez, a unidade sediada em Cambuí se subordina à Administração Distrital da Fazenda (ADF) com sede em Pouso Alegre, sujeita, por igual, à Superintendência Regional da Fazenda em Varginha (SRF).

As hierarquias se confundem tanto quanto se exercem sob orientação quase idêntica, nos regimes federal e estadual.

3

Esta obra pouco pode divulgar sobre a evolução e a organização da exatoria municipal, dada a impossibilidade de conseguir do titular do momento a relação de seus antecessores na repartição, embora para isso se empenhasse até mesmo por intermédio de pessoas amigas.

Sabe-se de oitiva e por achegas históricas colhidas aqui e ali, que o primeiro cidadão nomeado para gerir a exatoria ao ser instalado o município foi Avelino Cândido de Brito, exonerado a pedido em 7 de abril de 1891, sendo nessa mesma data nomeado seu cunhado Joaquim Xavier de Salles, cujo exercício vai até 29 de maio de 1902, quando no cargo, agora com a denominação de Coletor Municipal, é empossado Francisco José Pereira dos Reis.

Em 15 de maio de 1906 volta Joaquim Xavier de Salles à exatoria, sucedido no correr dos tempos por vários cidadãos, à medida que a Câmara recebe também novo Presidente, já que o cargo é de confiança. Francisco Pedroso de Oliveira, João Sebastião de Salles Fanuchi, Armando Alves Franco, Herculano Duarte de Moraes, Luiz Evangelista Ran¬gel Padilha, entre outros, têm exercício temporário. No momento, chefia a Tesouraria da Prefeitura o servidor Herculano Duarte de Moraes.

A relação é incompleta pelos motivos expostos e a que aí figura não obedece ordem cronológica. Enfim..., fiat volantas tua!

ICM

"A Secretaria de Estado da Fazenda, pela Resolução n.9 271, de 3 de janeiro de 1973, fixou definitivamente os índices percentuais para os municípios, na arrecadação do ICM para 1973. Para o cálculo dos índices foi somada a produção dos 722 municípios e chegou-se à produção anual de todo o Estado. Depois, a produção de cada município foi multiplicada por 100 e o resultado foi dividido pelo total da produção do Estado, obtendo-se o seu índice." (Do Estado de Minas, de 9 de janeiro de 1973) .

Os índices alcançados pelo município de Cambuí são os seguintes em 1973:

Código: 106

Valor agregado fiscal: Cr$ 1,00 : 3.767,318

Índices percentuais: 0.096,125

Capítulo VII - Da educação e ensino

O ensino primário

O ensino primário pela municipalidade

O primeiro grupo escolar de Cambuí

O segundo grupo escolar da cidade

O terceiro grupo escolar da cidade

O ensino rural

O ensino secundário e o ensino particular

Inspecção e assistência técnica escolar

Pioneiros

Capítulo VIII - Instituições religiosas e filantrópicas

Igreja Católica

Igreja Presbiteriana

Igreja Evangélica Assembléia de Deus

Hospital Ana Moreira Salles

Posto de higiene

Tábua itinerária

Capítulo IX - Serviços de utilidade pública

Água

O problema de abastecimento de água foi resolvido logo após a instalação da cidade. O manancial aproveitado situava-se em terreno de propriedade de José Luiz Padilha (Zeca Rangel), canalizado para uma caixa de captação nos altos da Chácara de João Batista Ribeiro e Silva.

O volume de água, no entanto, reclamado pela população, foi, a pouco e pouco, se tornando insuficiente quer para atender ao crescimento demográfico da cidade, quer porque o débito do manancial foi sendo também desviado nas suas nascentes para outros fins. A carência se tornou, afinal de contas, insustentável.

Várias fontes e nascentes foram então estudadas para o devido suprimento à população e outras tantas tentativas no sentido de duplicar o abastecimento foram, por igual, feitas.

O então Prefeito, José Francisco do Nascimento, depois de reformar o serviço de água em 1942, chegou a substituir, em 1952, todo o sistema adutor, obra feita sob a supervisão do engenheiro Aristóteles de Resende Alvim, ao mesmo tempo que, com a ajuda prestigiosa do Deputado Milton Salles, alcançava também o apoio do DNOS, visando à reforma geral do abastecimento urbano. Nesse caso o DNOS realizaria todo o serviço com verbas do Governo Federal, incluindo-se na obra a respectiva distribuição local.

Dando execução a um alentado programa de realizações nesse sentido, em 1965 esse mesmo operoso Prefeito, ainda com a colaboração do Deputado Milton Salles, conseguiu canalizar a água do Rio do Peixe, a 1.150 m de altitude, empregando sete quilômetros de tubos adutores de oito polegadas. Construiu, para isso, caixa de captação à montante da cachoeira que fornece energia à usina elétrica da cidade. A água distribuída era, porém, sem qualquer trata¬mento, embora abundante.

Se, por um lado, as necessidades prementes reclama¬das pela população no tocante à presença do precioso líquido nas torneiras domésticas — o problema da sua higienização desafiava ainda a tenacidade dos administradores. E estes nem sempre encaravam a questão pelo mesmo prisma. Verificou-se isso no fim do mandato de José Francisco do Nascimento: seu sucessor estabeleceu perspectivas diferentes para o problema e, em conseqüência, em 1969 o Governo Federal esquivou-se de participar do empreendimento.

À vista disso, o Prefeito Luiz Evangelista Rangel Padilha resolveu enfrentar a questão contando apenas com verbas da própria Prefeitura: a água do Rio do Peixe, vinda por gravidade, é levada a grandes reservatórios situados no antigamente chamado "Morro do João Correia", a cavaleiro da cidade. Sofre e recebe aí tratamento adequado, segundo processos modernos de decantação e cloração, em condições de atender às exigências higiênicas da população, que, por essa forma, recebe água excelente e pura.

A iniciativa do Prefeito José Francisco do Nascimento teve, afinal de contas, êxito integral, alcançado por seu sucessor na Prefeitura. A vazão de oferta à população é de 38 litros por segundo. É preciso que se acentue que todo esse trabalho magnífico foi projetado tecnicamente — estudos, plantas e orçamentos — pelo DNOS.

Cambuí está servido, pois, de um dos melhores abastecimentos de água do Sul de Minas. É seu fiscal, na cidade, Geraldo Roque.

Luz

Conquanto bem situada, topografia interessante e atraente, a Cidade de Cambuí conservava ainda o arcabouço de sua construção remota. As ruas não tinham sequer sarjeta destinada ao escoamento pluvial.

Por isso mesmo a erosão causada pelas chuvas abria sulcos profundos em vários sentidos da via pública, pois a enxurrada não tinha saída regular e, por causa disso, abria crateras e valetas na pista escorregadia, excetuada a rua principal, em que o calçamento com grandes lajes poliédricas, tendo ao centro alguma concavidade, dava rumo às águas pluviais.

Em conseqüência, o trânsito noturno exigia cuidados especiais e atenção desdobrada, com o risco constante de perigos diversos.

A administração pública procurou solução, de início, com a fixação de grandes lampiões a querosene nas esquinas principais de várias ruas e praças. O encarregado — João Pedreiro — ao anoitecer ia, carregando escada, a cada esquina, acendendo o lampião, e a certa hora da noite retomava o itinerário para apagar os morrões acesos.

Isso, nos princípios do século. Durou algum tempo. Mas cedeu às dificuldades de combustível e da pequena produtividade iluminativa. Por esse tempo, porém, as ruas começaram a receber sarjetas e abaulamento cascalhado, tornando-se, então, o trânsito noturno menos perigoso, mesmo às escuras.

E a escuridão foi dominada parcialmente. O bom êxito alcançado pelo cinema, movido por gerador a gasolina, sugeria à municipalidade a aquisição de gerador potente para a iluminação pública, particular e urbana. E isso foi feito. Com algum êxito.

A luz era dada aos usuários e logradouros até às 23 horas. A essa hora, três avisos intervalados, pisca-pisca, preveniam a população de que ia apagar-se a luz. Entravam em cena, então, velas, lampiões e lamparinas, se as palestras e as necessidades domésticas se prolongavam.

Esse sistema perdurou até 1924, quando, então, o Coronel Antônio Pimenta de Pádua, residente em São Sebastião do Paraíso, instalou usina hidrelétrica no Rio do Peixe, na estrada que ligava a cidade ao Distrito de Bom Retiro, servindo à cidade e espichando-se até Córrego e Estiva.

De início, a usina serviu satisfatoriamente, embora o seu lançamento ao longo dos dois distritos urbanos exaurisse a pouco e pouco sua capacidade produtiva. Com o passar dos anos, por isso mesmo, foi ela definhando gradativamente, a ponto de se ver forçada a interromper seu uso em Córrego e Estiva. E seu desgaste foi se aprofundando cada vez mais, quando João Moreira Salles, o grande filho de Cambuí, adquiriu a empresa e lhe deu substanciais reforços.

Durou pouco, no entanto, essa melhoria, quer porque a descarga do rio gerador ressentia-se dia a dia, quer porque, ainda, a demanda usuária exigia cada vez mais energia.

A luz, na cidade, chegou a tal ponto de amorteci-mento que sua população, lamentavelmente revoltada, de¬predou suas instalações, quebrando-lhe os postes e arrancando-lhe os fios condutores.

Esse ato impensado produziu efeitos negativos, porque a cidade viveu longa temporada inteiramente às escuras. É certo que a empresa fez voltar a iluminação por meio de algumas reformas e melhoramentos, reconstruída também a maquinaria da usina. Houve então sensível melhoria nos seus serviços.

Por fim, Moreira Salles preferiu doar a usina ao hospital que então se fundava na cidade, alimentando-lhe o funcionamento com as rendas provindas de seu uso.

Embora a Usina do Rio do Peixe, de maneira pobre e escassa, continue a alimentar a iluminação pública — a cidade é agora abastecida pela Empresa Elétrica Bragantina, depois de ter sido reformada e ampliada a rede de distribuição urbana e domiciliaria.

Está, pois, a cidade, não só bem iluminada como em condições de oferecer energia às indústrias que se vão cri¬ando ou ampliando.

Na Praça Coronel Justiniano é empregada iluminação a mercúrio, o que a torna ainda mais sugestiva e bela.

Está a cargo de Geraldo Ribeiro Filho a fiscalização e a instalação da luz na cidade.

Esgoto e lixo

O serviço de esgoto se entrosa, nas pequenas cidades, com a limpeza pública, quer o lixo provenha de detritos atirados nos logradouros, quer se origine de cuidados domésticos.

A disposição topográfica da cidade possibilita perfeito e fácil escoamento das águas poluídas e caseiras, porque localizada em pequena colina, águas vertentes para ambos os lados da urbs, em toda a sua extensão, os dejetos encontram vazamento lado a ladu da lombada, recebidos a poucos passos por pequenos regatos.

Por isso mesmo não foi difícil à Prefeitura espalhar rede de esgotos por todas as vias públicas e dar-lhes escoa¬douro regular.

A limpeza pública, por sua vez, é administrada pela Prefeitura por meio de veículo adaptado às exigências colimadas e em atividade que se faz presente diariamente por todas as ruas da cidade. Daí porque as ruas e demais logradouros públicos se acham constantemente limpos, sem necessidade do refrão: "Povo limpo faz a sua cidade limpa". Para isso concorre o interesse de João Furtado do Nascimento, encarregado da limpeza pública.

Matadouro

A instalação do matadouro é obra creditada à folha de serviços prestados ao município pelo Prefeito José Francisco do Nascimento.

Obra modesta na sua estrutura, mas grande na sua significação, já que foi afastado o abate de gado sem obediência às prescrições higiênicas e sem o exame prévio, in natura, técnico-científico do animal em causa.


Localizado em local inicialmente afastado das vias públicas, vê-se agora enrodilhado numa teia de ruas e praças, nos subúrbios da cidade, cumprindo suas finalidades. Seu magarefe não cursou escola especializada,mas é dotado de grande experiência e apreciável intuição para o exercício do delicado mister, utilizando nas suas práticas de material adequado. Está instalado em construção especial¬mente levantada para isso.

É encarregado dos serviços do matadouro Francisco Marques da Silva.

Mercado

O Mercado Municipal teve seu funcionamento inicia¬do onde hoje está a casa comercial de Alceu Bueno, esquina das Ruas João Moreira Salles e Governador Valladares, mas abrindo, outrora, seus portões para esta rua. Abrigava sofrível soma de produtores, e o pátio que se lhe ficava ao lado, em sentido paralelo com a Rua Governador Valladares, acolhia os roceiros que tinham a vender ou a comprar. Por causa disso, o pátio fronteiriço se atulhava de animais descarga e de sela, à espera de seus donos.

Nos primeiros tempos do século, o Presidente da Câmara, Sr. Silvério Bento da Silva, transferiu o mercado para o prédio em que funciona o Cinema Cambuí, adquirido pela edilidade. Chegou logo à conclusão, porém, de que esse serviço público não se ajustava no logradouro em que se situava, cm plena Praça Coronel Justiniano, a mais movimentada da localidade e, por isso, permutou-o com Ricardo José Pereira, que, por sua vez, lhe transmitiu o prédio em cujo local hoje funciona, na Praça Prof. Maximiano Lambert. A barganha representou manta passada à Câmara Municipal, mas, sem dúvida alguma, constituiu solução de um problema crucial, de vez que sua localização era incompatível com o bem-estar da cidade.

Esse prédio foi posteriormente reformado e reconstruído pelo Prefeito José Francisco do Nascimento, que lhe deu na ocasião as disposições internas atualmente em uso.

O mercado de hoje atende satisfatoriamente aos interesses populares, pois que oferece boa acolhida aos seus usuários. Nele se encontram não só os produtos da terra como outros provindos de importação direta.

Sem dúvida alguma, a cidade está regularmente provida nesse particular, nos termos da demanda que é proporcional à população.

É responsável pelo Mercado — Messias José de Araújo.

Cadeia

De começo, a cadeia pública estava bastante mal localizada, na via principal da cidade, Rua Moreira Salles, onde hoje se vê o nº 180.

Nas proximidades do Mercado, além de oferecer à vista um espetáculo pouco agradável, ainda possibilitava uma movimentação aparatosa, às vezes incompatível com o logradouro público.

Daí a deliberação da Câmara Municipal, em sessão de 2 de junho de 1892, no sentido da transferência dos seus serviços para outro local de menor destaque. A mudança foi feita, mas para pior: instalou-se a cadeia no prédio de dois pavimentos, já demolido, onde hoje se situa uma farmácia, esquina da Rua Moreira Salles com Capitão Soares. Melhor adaptada, é certo, porque no prédio anterior, exíguo, pequeno e mal dividido, as acomodações eram por demais deficientes. Na instalação nova que então se fizera localizavam-se, no pavimento térreo, duas celas amplas e a casa da guarda, e no pavimento superior o gabinete do delegado e a sala do escrivão.

Esse prédio adaptado, também profundamente mal localizado, porque — já se disse — na rua principal da cidade, causava aos forasteiros e a iodos os habitantes da cidade penosa impressão, desagradável à vista.

Recentemente, no entanto, foi a cadeia construída nos subúrbios da cidade, afastada do convívio da população e da vista de viajantes e visitantes. Conquanto ainda padeça de algumas deficiências e falhas, atende às exigências dos serviços que lhe são pertinentes. Foram carcereiros João Aureliano Padilha, Francisco Rangel Padilha, Geraldo Evangelista de Salles e Geraldo Salles.

Cemitérios

Noticia o notável historiador mineiro, Dr. José Guimarães, que em 1813 havia cemitério no Bairro da Roseta. Conquanto injustificado esse fato, por se tratar de área muito pouco povoada, sabe-se, 110 entanto, que logo após a ereção da Capela de Nossa Senhora do Monte do Carmo, no chamado agora Cambuí-Velho, providenciaram seus funda-dores a legalização canônica do cemitério, que, na data de 12 de março de 1814, é alcançada através de Provisão expedida pelo Vigário-Geral da Diocese de São Paulo, permitindo então "sepultar defuntos fiéis no mesmo cemitério".

Sua mudança, mais tarde, para o arraial novo, foi autorizada pelo Bispo de São Paulo, mediante Provisão de 23 de outubro de 1867, sob o vicariato do Pé. João Borges Soares de Figueiredo.

O novo cemitério, nos fundos da Igreja-Matriz, ocupava toda a área em que hoje se acha a sede provisória da Prefeitura Municipal, na Praça Professor Maximiano Lambert. Ruas foram abertas lateralmente e, quando de sua remoção para o local onde hoje se acha, nos começos deste século, permaneceu ali um elevado de cerca de dois metros, terreno baldio, só retirado em 1908, graças ao empenho do Pe. Isidoro Gulmin, que, em pessoa, comandou o respectivo desmonte e fez o nivelamento do local, tal qual se acha hoje. Astutamente, e porque era dotado de grande poder de aliciamento, convocou "mutirões" de moradores dos bairros vizinhos da cidade, fornecendo a Câmara Municipal apenas o "rancho" aos trabalhadores graciosos. E o desmonte foi feito.

Essa elevação formava, pelo lado da Avenida Tiradentes (antigamente Cruz do Rosário), barranco alto, em que se instalava um jirau destinado à serragem de grossos toros de madeira: um serrador em cima c outro em baixo movimentavam enorme serra, subindo e descendo, desfazendo em tábuas alentados troncos de árvores. Jesuíno dos Reis, Virgílio Rufino e Vicente Rodeiro eram excelentes serradores.

A remoção do cemitério para o local onde se acha foi feita nos primeiros dias deste século. Está sob os cuidados e a fiscalização de Atílio Francisco dos Santos.

Volte-se ainda à informação do autorizado linhagista Dr. José Guimarães, relativa à existência de cemitério no Bairro da Roseta, em 1813.

A população dessa área, hoje, não difere da dos de-mais bairros e não foge ao índice demográfico estabelecido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas, segundo dados colhidos pelo citado historiador mineiro, os batizados de residentes naquele bairro, comparados com os de outros, indicavam ali uma alta densidade populacional para o tempo.

Assim é que, enquanto na "Parada" de Cambuí, de 1787 a 1799, registravam-se, na sede da paróquia, cerca de (três) batizados apenas, no Bairro da Roseta, nesse mesmo período, elevavam-se a 46 (quarenta e seis) batizados.

Infere-se, pois, que houve acentuado desfalque populacional a partir de então, no referido bairro, possivelmente devido à implantação do regime latifundiário ali verificada, dando causa à dispersão de seus moradores, repetindo o êxodo ocorrido no Cambuí-Velho, hoje sem qualquer sinal de sua existência pregressa.

É explicável, por isso mesmo, a existência de cemitério nessa área, como assinala o perspicaz historiador ouro-finense.

Capítulo X - Corografia do município

Dados geográficos

Orografia

Hidrografia

Ecologia

Limites intermunicipais

Limites interdistritais

Sínteses econômicas

Atividades agropecuárias

Aspectos sociais

O pico de São Domingos

Distrito de senador Amaral

O rio das Antas

Capítulo XI - Meios de comunicação

Correio

O serviço do correio — e porque é meio de comunicação entre os povos — andou tardo e capenga pela vida afora, só agora, felizmente, conquistando foros de repartição modelar no sistema burocrático brasileiro. Talvez porque lhe faltasse, nos primeiros tempos, o dínamo propulsor de suas atividades interioranas, que é, na verdade, o veículo que o transporta, alcançou a pouco e pouco a confiança e o reconhecimento de seus usuários.

Em 1871, um estafela, de Campanha a Camanducaia, visitava, a cavalo, Cambuí nos dias 1, 10, 16, 22 e 28 de cada mês, partindo da vila dia seguinte. Faz até lembrar Sísifo da lenda...

Na vila, um cidadão prestante, querido de todos - Francisco Xavier de Salles - dava-se ao trabalho de recolher e expedir a correspondência que vinha ou que ia por postalista ambulante.

Falecendo o estimado cidadão em 9 de junho de 1880, a incumbência transitou daqui para acolá, sem eira nem beira, graças aos Simãos Cirineus que pululavam, naqueles tempos longínquos, nas cidadelas do interior. E só em 31 de outubro de 1896, afinal de contas, é oficialmente criada a Agência do Correio na cidade.

Mas — pasme-se! — logo depois é suprimida, embora Maria da Conceição Vale houvesse alcançado sua nomeação para o cargo...

Com a nomeação de Gabriela Corrêa de Brito, em 19 de agosto de 1901, a repartição é reaberta, e sua titular teve exercício até 18 de junho de 1901, quando é para o cargo nomeada Francisca Amélia Furquim Lambert, permanecendo esta em exercício até 19 de abril de 1910. José Emídio da Silva é nomeado em 19 de abril de 1910 c só é substituído por Maria Amália de Brito em 11 de junho de 1916. A partir de 14 de setembro de 1916 é Luiz Hortense Vargas detentor do cargo, deixando a repartição em 29 de dezembro de 1917 para Joaquim de Paiva Cardoso, que a recebe mediante inventário pelo fato de exercer no momento o cargo eletivo de Juiz de Paz. Por portaria de 22 de dezembro de 1917 é Olímpia de Paiva que assume as responsabilidades da repartição, que, aliás, em 31 de dezembro de 1919 volta à responsabilidade de Joaquim de Paiva Cardoso, até que, por nomeação a recebeu Lindolfo Pedroso de Oliveira, posse em 6 de março de 1920. Foi exonerado por Portaria de 16 de dezembro de 1921. Logo depois é nomeada, 16 de janeiro de 1925, Josina Bueno com exercício até 10 de julho de 1928, data em que assume as funções Dolores Ferrer de Oliveira. Seu exercício vai até 11 de julho de 1936, data em que transmite a repartição a seu esposo Lindolfo Pedroso de Oliveira, cujo exercício agora vai até 20 de maio de 1959. Por Portaria n." 662, de 20 de junho de 1959 é designado Geraldo do Nascimento Lambert, que prolonga seu exercício até 19 de julho de 1969, dia em que o cargo é preenchido por Cassiano Salles, ora em exercício.

Desde 1959 a Agência Postal se conjuga com o serviço telegráfico do Estado, sob uma só chefia. Note-se que em 1934 Maria Amália de Sou/a ocupa transitoriamente a chefia da repartição postal da cidade.

Os serviços gerais de correios e telégrafos vêm recebendo impulsos renovadores nestes últimos tempos, quer quanto ao dinamismo de sua expedição diária, quer no que toca à presteza e exatidão de sua entrega domiciliaria. A distribuição da correspondência domiciliar está a cargo de Cassiano Salles e os serviços do telégrafo sob controle de Geraldo do Nascimento Lambert.

Telefone

Há duas fases distintas na história do telefone em Cambuí.

Na primeira, a linha de comunicações vinha de Bragança Paulista passando por Extrema e Jaguari. Obra magnífica do pioneiro Sebastião Pires Ribeiro, de Ouro Fino, ligada posteriormente à que foi outrora a Companhia Telefônica Bragantina.

Instalava-se no sobrado hoje pertencente à família João Lopes, Rua Moreira Sales. Por volta de 1912 assumiu sua direção na Cidade João Francisco de Paula, que, por causa de suas funções, ganhou o apelido de João do Telefone. Era seu auxiliar imediato Lázaro Silva.

Não se sabe porque, suprimiu-se pouco tempo de-pois de sua instalação, arrancadas pela Empresa suas linhas metálicas e conduzida para a respectiva sede sua aparelhagem. Em conseqüência, João do Telefone foi transferido para Joanópolis.

A segunda fase, a atual, é obra de toda a população da cidade, que se cotizou e organizou a Empresa, em princípio de caráter meramente urbano, mas posteriormente ligada à rede telefônica geral do País. A cidade toda se acha aparelhada, espichando-se suas linhas a Córrego do Bom Jesus e em interligação com Estiva e Bom Repouso.

É um serviço que se vem impondo pela exatidão de sua funcionalidade comunicativa. É responsável por ele Terezinha de Jesus Carvalho, sendo Waldemir de Oliveira, presidente da empresa.

Telégrafo

O telégrafo teve inauguração em 1918, transmitindo, porém, mensagens por via telefônica até Paraisópolis, de onde eram reexpedidas por meio de sinais Morse. Sua inauguração foi festiva, ocasião em que falou o então Promotor de Justiça, Dr. Brotero Antônio do Pilar Cobra.

A despeito de ser o seu processo, no ato inaugural, um arremedo de telégrafo, prestou esse sistema relevantes serviços à comunidade local e a seus vizinhos.

Posteriormente, instalou-se, no mesmo prédio da Agência Postal, funcionando a partir de então por meio de aparelho Morse, a cargo de servidor especializado, subordinando-se o serviço à Agência Postal local. Nessas condições, presta excelentes serviços à cidade e às localidades vizinhas.

Televisão

É razoável que se registre- aqui a implantação dos meios de recepção televisionada em Cambuí. Inicialmente, dado o vultoso número de aparelhos televisores instalados, foi organizada uma empresa que, acertadamente, plantou nas alturas do Pico de São Domingos (2.056 m) uma possante antena receptora, capaz mesmo de receber irradiações províncias de estações longínquas.

Fracassada, tempos depois, a inteligente iniciativa, o "ponto de escuta" passou à Empresa de Transportes "Cometa", poderosa e de abrangentes ligações interestaduais, que dele se serve para a constante interligação de seus inúmeros ônibus em trânsito rodoviário.

Mas, recentemente, beneficiando de pronto os inúmeros usuários da cidade e da circunvizinhança, foi instalada uma antena no chamado antigamente "Morro do Maneco Moreira", hoje de propriedade de Benedito Carvalho, de onde se descortina toda a cidade e seus arrabaldes.

Essa antena receptora está agora sob a supervisão da Prefeitura Municipal. Quase todos os canais teletransmitidos de São Paulo são colhidos satisfatoriamente em Cambuí.

Merece aplauso, pôr sem dúvida, o patrocínio da administração municipal nesse sentido.

Instrumento de divulgação com capacidade ampliativa bem superior à imprensa falada ou escrita — exerce ação decisiva na orientação coletiva, porque dispensa desde logo a análise pormenorizada dos textos ou dos leit-motiv e põe em funcionamento, ao mesmo tempo, os sentidos da vista e da audição. Na ação audiovisual da televisão, a massa encontra a satisfação pronta tanto para a sua curiosidade íntima como para a sua formação cultural.

Nem se exigiriam esses comentários, tão reconhecidos e repisados os efeitos positivos da televisão como meio de comunicação de massa.

Capítulo XII - A problemática das comunicações interestaduais

Estradas

Limites interestaduais

O Apêndice Mineiro

Solução de limites

Capítulo XIII - Difusão cultural

Imprensa

Bibliotecas

Cinema

Teatro

Bandas de música

Capítulo XIV - Personalidades ilustres

Parlamentares

João Moreira Salles

João Batista Corrêa

João Marinho

Dr. Sílvio Lambert de Brito

Dr. Ney Lambert

Dr. José Guilherme Eiras

Capítulo XV - Tradições e costumes

Folclore

Carnaval e entrudo

Carros de bois

Tropas de burros

Semana Santa

Festas religiosas

Senhor Fora

Mês de maio

Festa do Córrego

Massacres e matanças

Capítulo XVI - Acontecimentos históricos

Uma revolta popular

A gripe espanhola

As revoluções de 30 e 32

Aspectos sociais

Capítulo XVII - Associações recreativas

Clubes sociais

Clube de campo

Liga esportiva

Capítulo XVIII - Miscelânea

A partir dos fins do século passado, três máquinas de beneficiar café e arroz foram instaladas, gradativamente, na cidade.

A primeira iniciativa coube à família Dardis, localizada a indústria nos altos da Avenida Tiradentes, outrora Cruz do Rosário. Essa aparelhagem foi algum tempo de¬pois transferida ao Major Higino de Oliveira César, que a manteve em franca atividade durante largo período.

A segunda maquinaria foi inaugurada pelo Dr. Carlos Cavalcanti, que a instalou na Praça da Matriz, boje Praça Coronel Justiniano, correspondendo aos atuais números 418 e 122. Viveu pouco ali, sob o comando de José Emídio da Silva, porque alienada a industriais de fora do município.

A terceira máquina de beneficiamento de café e arroz, por fim, foi propriedade de Francisco José Pereira dos Reis (Chico Rico), então alto comerciante na praça. Pô-la em funcionamento em prédio próprio construído na esqui¬na das ruas Coronel Lambert e Capitão Soares. Tempos depois essa indústria passou à propriedade de David Herculano Bueno.

A existência e o funcionamento dessa aparelhagem para o beneficiamento de café na área urbana de Cambuí constituíam o gráfico vivo de sua pujante produção cafeeira nas duas primeiras décadas do século. Não seria à toa que seus proprietários mantinham a maquinaria barulhenta, por¬que movida por geradores alimentados à lenha. Era de fato a lavoura predominante do município. Por isso mesmo, constituía a fonte fundamental de sua renda, de sua economia e de sua prosperidade.

A pouco e pouco, no entanto, os extensos cafezais foram abatidos, abandonados e substituídos por pastagens em

que predominava a criação de gado leiteiro. As máquinas de beneficiamento da rubiácea foram desmontadas e condu-zidas para fora do município.

A erradicação dos cafezais se deve, por certo, a retaliação das terras de cultura, tornando, dessarte, Cambuí um dos municípios de maior densidade demográfica do Estado.


***


Observa-se, no momento, fenômeno interessante na composição de elementos estrangeiros na sociedade local. Nos primeiros tempos era relativamente grande a colônia italiana: José Durdis, Paulino Frederigbi, João Bianco, Ni-colau Ambrósio, Severo \7enturelli, Luiz Federighi, José Va-nugli, Adriano Colli, Luiz Ciambclli, Miguel Lombardi, Afon¬so Picarelli, Alfredo e Francisco Fanucci, José Lagata, Sa¬muel Ghimenti, Carlos Capozzoli, Filotete Dolla Nina, Davi Bucieri, Alfredo Luxardo, Gustavo Grcco, Roque Zerbini, Gio-vanni Fauce, Francisco Falpo, Vicente Siecola, Adão Antô¬nio, Benedito Barsotti, Anselmo Tognoli, Luigi da Zia Ita¬liana, Raphael De Rosi, Otorino Visconti, Dr. Francisco Risi Baldi, Padre Antônio Pascoal, Dr. Spitalli, Francisco Spi-neda, Luiz Garbclini, Agostinho Caporalli e muitas outras famílias que o registro social omite. Presentemente, poucos são os remanescentes de famílias italianas ainda vivendo na cidade.



O primeiro gramofone que se fez ouvir em Cambuí foi adquirido por Antônio Alexandre de Moraes. O interes¬sante era que a gravação anunciava em altos brados: "Casa Edison — Rio de Janeiro", logo que dizia o nome da peca a ser rodada.


O primeiro dentista com gabinete aberto em Cambuí chamava-se Carlos Gucrillon, de nacionalidade francesa, pés-sima pronúncia portuguesa, instalado na esquina das ruas Lopes Trovão e Saldanha Marinho.



Procópio Brandão, que ocupou vários cargos de con-fiança após a instalação do município, foi uma figura deve¬ras interessante na paisagem humana do tempo. Depois de cursar seminário católico e de alcançar certo grau de cul¬tura humanística, veio para Cambuí, onde constituiu família. Exerceu as funções de saeristão e se fez conhecido por sua "mania" de tomar livros emprestados para constituir magní¬fica biblioteca — realmente conseguida. Bibliófilo invete¬rado.

Livro que lhe fosse às mãos de suas mãos não saía . . .



O primeiro automóvel a entrar na cidade foi condu¬zido por Nicolino Nacarato, um dos pioneiros em organizações telefônicas no Brasil. É de se notar que, na primeira década do século, quando isso se deu, esse automóvel teve itinerá¬rio até hoje não usado: — veio de Ouro Fino via Bom Reti¬ro, descendo a serrania íngreme que ligava esse distrito à sede do município... Uma vitória corajosa!


O primeiro aparelho de rádio recepção que se viu na cidade foi adquirido por João Felipe, então gerente cia Com-panhia Força e Luz. As irradiações eram, na realidade, ba-rulhentas e pouco audíveis. Marca Telefunken.



A primeira máquina de escrever a ser usada foi adqui¬rida por João Moreira Salles para a sua casa comercial deno¬minada "Casa Ideal", sucessora de Adriano Colli.


A primeira mulher cambuiense a ocupar cargo ele-tivo foi Maria Nascimento Lambert de Oliveira, que se ele¬geu vereadora à Câmara Municipal e foi desde logo escolhi¬da Secretária da Mesa. Teve atuação brilhante.




O primeiro piano que se fez ouvir na cidade foi tra¬zido por José Eufrásio de Toledo, que o passou por venda a Antônio Luiz de Brito Lambert.



A primeira máquina de costura conhecida em Cam-buí foi adquirida pelo Alfaiate Dominguinhos, que residia na Rua Luiz Gama, antigamente chamada Rua da Palha.


A variante asfaltada que liga a "Fernão Dias" às ruas da cidade foi mandada abrir pelo deputado Ulisses Escobar, então Secretário de Estado da Viação.

Amadeu de Queiroz, em seu livro "Senador José Ben¬to", pág. 15, cita o Alvará de 6 de setembro de 1810, que, por sua vez, dá denominação de "Campos Largo" à área em que nasce o Rio Itaim.

Na mudança de alfaias e bens da Igreja de Cambuí--Velho para a atual Matriz de Cambuí veio uma imagem cie São Francisco, relíquia histórica, que vim dos últimos Vigá¬rios da paróquia cedeu a um antiquário.

O Dr. José Guimarães, autorizado linhagista mineiro, diz que o topônimo "Cambuhy" aparece pela primeira vez em batizado realizado em Camanducaia na data de 13 de dezembro de 1789.

O primeiro defunto sepultado na nave principal da Igreja de Cambuí- Velho foi o de Dona Quitéria Maria Ro-drigues, cunhada do capitão Soares e bisavó do Bispo D . Joaquim Mamede da Silva Leite.


Está instalada na cidade a "Tecelagem N. S. do Car¬mo", de propriedade de Franciso» Luiz Cardoso e sediada na rua Um, n." 287 (Vila Maria) -- bairro que José Caixeta criou na cidade. Importante — não pela extensão da ma¬quinaria, mas pela perfeição e finura artesanais do produto, cuja divulgação se opera dentro c fora das fronteiras esta¬duais .

Faz-se sentir também a indústria da moagem de café com o produto denominado "NOSSO CAFÉ", da firma Nos¬so Café Indústria e Comércio Ltda . , com instalações na Rua Cel. Lambert n." 607. Grande faixa do Estado de S. Paulo, vizinha de Cambuí, serve-se do produto, cuja

matéria-prima é cuidadosamente selecionada . Daí a preferência que lhe é dada.



Há na cidade várias pequenas indústrias bem pro-missoras, tais como fábricas de farinhas de milho e de man-dioca, fubás, polvilhos etc. A produção não se limita aos âm-bitos locais, mas transpõe fronteiras municipais.

É de se observar que na relação nominal da Guarda Nacional, entre 1851 e 1860, encontram-se inscritos profissio-nais denominados "valeiros", hoje inexistentes na camada trabalhadcira. Tratava-se de indivíduos especializados na abertura de "valos", destinados a impedir a fuga de animais dos "pastos" e à vedação das respectivas propriedades ru¬rais. Consistiam em cavar um fosso no solo, de 3 ou 4 me¬tros de largura por outros tantos de profundidade, em senti¬do longitudinal, nas divisas das propriedades, impossibili¬tando, dessarte, o transvio dos animais.

O uso do arame farpado, hoje, substitui o "valo".

Foram poucos, em 1860, os "valeiros": Roque Antô¬nio da Silva e Antônio Rodrigues de Souza.

O Capitão Francisco Soares de Figueiredo, fundador de Cambuí, era, cm 1810, sócio de uma fazenda denominada "Posse das Antas", com Luiz Antônio Padilha, José Pedro da Silva, Jacinto Machado de Lima, Salvador Rodrigues, Ja¬cinto Paula de Oliveira e Barbosa Paula de Oliveira.

  • * *

A casa residencial do Capitão Soares, perfeitamente conservada, pertence hoje aos descendentes de João Alexan¬dre de Moraes, na Praça Coronel Justiniano.

Capítulo XIX - Minha terra

Levindo Lambert


Minha terra pequenina

Plantada numa colina

Nas faldas da Mantiqueira,

E qual a moça bonita

Toda enfeitada de fita

Numa tarde domingueira.


Uma Praça ajardinada

Bem de frente dominada

Por majestosa Matriz.

O doce toque dos sinos

São melodias e hinos

De um povo bom e feliz.


Pelas encostas — subidas

Que mais parecem descidas

Tão boas para se andar.

Por elas cantam serestas

Um noites de lua e festas

Conjugando o verbo amar...


Bem ao pé dessa colina

Serenamente se inclina

O piscoso Rio das Antas.

Banhei-me nas suas águas...

Mergulhei nelas as mágoas

Não sei se poucas e quantas...


Mais ao fundo, uma pedreira

Era do Maneco Moreira

Dos meus tempos de rapaz .

Lembra bem pano de fundo

Do anfiteatro do mundo,

De um mundo feito de paz.


O São Domingos, ao longe,

Parece o crânio de um monge

De grisalha cabeleira.

É sentinela garrida

Da minha terra querida,

Da bela terra mineira.


O viandante que passa

E sobe à esquerda da Praça

Depara logo um solar:

Amplos beirais para a rua,

Parede simples e nua,

Janelas largas para o ar.


Tem essa casa uma história

Cheia de luta e de glória,

- De um tempo que lá se vai.

Ali viveu um herói

(Como a saudade me dói!)

- Viveu ali o meu Pai...


Foi nessa casa vetusta

(Quanta saudade me custa!)

Que eu senti o que era amar. ..

Tive dos pais as carícias,

Dos meus irmãos as blandícias,

Que levei para o meu lar.


Mais abaixo, no entretanto,

(Sinto nos olhos o pranto!)

Uma casa havia outrora.

Nela nasceu minha amada...

Uma esperança alcançada

No descerrar de uma aurora...


Não mais existe essa casa,

Pois é o progresso que arrasa

O Passado e a Tradição.

Mas para mim ela existe,

Na retina me persiste,

Não me sai do coração...


Minha terra pequenina,

Plantada numa colina,

É o paraíso que eu vi.

Engalanada e altaneira,

Bela região sul-mineira,

O meu querido Cambuí.


Publicado pela Gazeta de Cambuí, de 30-11-1952.

Capítulo XX - Hino de Cambuí

Letra e música de Levindo Lambert


Cambuí, querida terra, idolatrada,

Pedaço mais querido do Sul de Minas,

És bela, és boa, és rica e abençoada,

E tens o encanto das regiões divinas.


Salve, Cambuí,

Terra querida !

A nossa vida

Será por ti !


O solo teu, fecundo, em farta messe,

Nos dá conforto e paz, nos dá riqueza,

E vigorosa e ardente a natureza

em frondes, flores, frutos se enriquece.


Os filhos teus são bons e laboriosos

E são assim na vida - honrando a ti -

O Pátria de nomes tão formosos:

- Brasil, Minas Gerais e Cambuí !

Referências:

Biogeografia de uma cidade mineira, Levindo Furquim Lambert, Imprensa Oficial de Minas Gerais, 302 páginas, 1973.

ACLAC, patrono Levindo Furquim Lambert