Editando Biogeografia de uma cidade mineira

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  ''À memória de''
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  À memória de  
  '''''Ney Lambert'''''
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  '''Ney Lambert'''
  ''filho queridíssimo, nascido em Cambuí, tão cedo arrebatado''
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  filho queridíssimo, nascido em Cambuí, tão cedo arrebatado  
  ''pela morte ao amor de sua família, à amizade de seus colegas,''
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  pela morte ao amor de sua família, à amizade de seus colegas,  
  ''ao apreço de seus concidadãos, à confiança de seus clientes.''
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  ao apreço de seus concidadãos, à confiança de seus clientes.  
  
 
== Cambuí é história ==
 
== Cambuí é história ==
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A história local ou regional, porque mais próxima, tanto no espaço como no tempo, de quem a escreve, oferece a esse vantagens que lhe tornam menos penosa a pesquisa e mais rápida a conceituação dos fatos, na medida em que esses deixaram rastros em documentos ou se fixaram na tradição bem apreendida e razoavelmente conservada e transmitida. Contudo, a perspectiva para a análise desses fatos se torna, no caso, mais sujeita a imprecisões, desvios ou distorções. Daí o muito que a história local ou regional acaba exigindo de quem a ela se entrega com o ânimo consciente de manter-se fiel aos acontecimentos e de interpretá-los, como necessidade inelutável, à luz da boa e segura exegese. É, respeitada a relatividade e a natureza das coisas, mais fácil ser um historiador nacional ou internacional, que triunfar no limitado mas árduo campo da história de uma região, cidade ou entidade social, econômica ou política.
 
A história local ou regional, porque mais próxima, tanto no espaço como no tempo, de quem a escreve, oferece a esse vantagens que lhe tornam menos penosa a pesquisa e mais rápida a conceituação dos fatos, na medida em que esses deixaram rastros em documentos ou se fixaram na tradição bem apreendida e razoavelmente conservada e transmitida. Contudo, a perspectiva para a análise desses fatos se torna, no caso, mais sujeita a imprecisões, desvios ou distorções. Daí o muito que a história local ou regional acaba exigindo de quem a ela se entrega com o ânimo consciente de manter-se fiel aos acontecimentos e de interpretá-los, como necessidade inelutável, à luz da boa e segura exegese. É, respeitada a relatividade e a natureza das coisas, mais fácil ser um historiador nacional ou internacional, que triunfar no limitado mas árduo campo da história de uma região, cidade ou entidade social, econômica ou política.
  
Porque ciente dessas verdades e buscando concretizá-las nos homens, coisas e acontecimentos de sua terra natal, Cambuí, Levindo Lambert conseguiu superar as dificuldades indicadas e oferecer a Minas um trabalho histórico bem estruturado e, mais seguramente ainda, concluído. Para tanto, buscou os arquivos e os autores, examinou-lhes os documentos e as obras e os sintetizou com segurança; ouviu a tradição e expurgou-a daquilo que poderia torná-la inaceitável; respeitou a justa medida entre a narração e a crítica dos fatos; e valeu-se de uma linguagem clara, direta, e elegante, infelizmente nem sempre amada por nós historiadores, para nos conduzir até o passado de uma terra, cujos fatos e figuras interessam quer a Minas, quer a São Paulo. E, para isso, não teve pressa. Preferiu antes aproveitar a insubstituível vantagem do decurso do tempo e de uma experiência pessoal e profissional que o situa entre os mais respeitáveis valores humanos e culturais do Estado, desde que iniciou seus estudos primários em Cambuí concluiu seus estudos de farmácia e direito, leu e anotou milhares de textos e obras e, já no plano estadual, fez política, presidiu sindicato, lecionou em colégios e faculdades, dirigiu conservatório de música, ocupou altos cargos de chefia e conduziu com eficiência a Secretaria da Educação, que é teste dos mais difíceis e perigosos para o homem público. E ainda escreveu contos, estudou Machado de Assis e focalizou interessantes aspectos da obra desse surpreendente romancista, fez-se teatrólogo e, com aquela serenidade e dedicação de quem sabe o que quer e quer o que sabe, pertence ao Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais e à Comissão Mineira de Folclore.
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Porque ciente dessas verdades e buscando concretizá-las nos homens, coisas e acontecimentos de sua terra natal, Cambuí, Levindo Lambert conseguiu superar as dificuldades indicadas e oferecer a Minas um trabalho histórico bem estruturado e, mais seguramente ainda, concluído. Para tanto, buscou os arquivos e os autores, examinou-lhes os documentos e as obras e os sintetizou com segurança; ouviu a tradição e expurgou-a daquilo que poderia torná-la inaceitável; respeitou a justa medida entre a narração e a crítica dos fatos; e valeu-se de uma linguagem clara, direta, e elegante, infelizmente nem sempre amada por nós historiadores, para nos conduzir até o passado de uma terra, cujos fatos e figuras interessam quer a Minas, quer a $ão Paulo. E, para isso, não teve pressa. Preferiu antes aproveitar a insubstituível vantagem do decurso do tempo e de uma experiência pessoal e profissional que o situa entre os mais respeitáveis valores humanos e culturais do Estado, desde que iniciou seus estudos primários em Cambuí concluiu seus estudos de farmácia e direito, leu e anotou milhares de textos e obras e, já no plano estadual, fez política, presidiu sindicato, lecionou em colégios e faculdades, dirigiu conservatório de música, ocupou altos cargos de chefia e conduziu com eficiência a Secretaria da Educação, que é teste dos mais difíceis e perigosos para o homem público. E ainda escreveu contos, estudou Machado de Assis e focalizou interessantes aspectos da obra desse surpreendente romancista, fez-se teatrólogo e, com aquela serenidade e dedicação de quem sabe o que quer e quer o que sabe, pertence ao Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais e à Comissão Mineira de Folclore.
  
 
'''Biogeografia de uma cidade mineira''' surge, pelo que se vê, para ficar, para colher louvores e inserir a rica e movimentada história de Cambuí no contexto maior da História de Minas e da História de São Paulo. Sim, de ambos os estados, porque a terra cambuiense se fez e cresceu exatamente nos antigos sítios do Sapucaí e sentiu de perto, ora com temor e angústia, ora com tranqüilidade e renovada esperança, os lances da disputa de divisas que, ao longo de dois séculos, preocupou mineiros e paulistas.
 
'''Biogeografia de uma cidade mineira''' surge, pelo que se vê, para ficar, para colher louvores e inserir a rica e movimentada história de Cambuí no contexto maior da História de Minas e da História de São Paulo. Sim, de ambos os estados, porque a terra cambuiense se fez e cresceu exatamente nos antigos sítios do Sapucaí e sentiu de perto, ora com temor e angústia, ora com tranqüilidade e renovada esperança, os lances da disputa de divisas que, ao longo de dois séculos, preocupou mineiros e paulistas.
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Dois capítulos desta obra modesta e despretensiosa reclamam palavras explicativas.
 
Dois capítulos desta obra modesta e despretensiosa reclamam palavras explicativas.
  
O primeiro, que tem o título ''' Como nasce uma cidade''' e subtítulo '''Área Contestada''', procura situar o povoado nascente na região disputada por paulistas e mineiros, já que a decisão de limites, consolidando a demarcação Rubim, só se efetivou em 1936.
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O primeiro, que tem o título "Como nasce uma cidade" e subtítulo "Área Contestada", procura situar o povoado nascente na região disputada por paulistas e mineiros, já que a decisão de limites, consolidando a demarcação Rubim, só se efetivou em 1936.
  
 
Até então, as perlengas entre os dois Estados, constantes e irritantes, às vezes, criavam um ambiente de certo constrangimento não só nos  
 
Até então, as perlengas entre os dois Estados, constantes e irritantes, às vezes, criavam um ambiente de certo constrangimento não só nos  
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E é só? Não. Estão faltando aqui os  versos de Camões:
 
E é só? Não. Estão faltando aqui os  versos de Camões:
  
  ''Cantando espalharei por toda parte''
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  ''"Cantando espalharei por toda parte  
  ''Se a tanto me ajudar o engenho e arte,''  
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  Se a tanto me ajudar o engenho e arte",''
  
 
possivelmente inspirado no brocardo latino:
 
possivelmente inspirado no brocardo latino:
  
  ''Feci quod potuit, faciant meliora potentes...''
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  ''"Feci quod potuit, faciant meliora potentes..."''
  
 
L.F.L.
 
L.F.L.
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== Capítulo I - Como nasce uma cidade ==
 
== Capítulo I - Como nasce uma cidade ==
  
=== Área contestada ===
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=== Área contestada ===
 
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Não foi difícil ao paulista alcançar desde logo os sertões do Goitacás na ânsia desmedida de apoderar-se das minas de ouro c das jazidas
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de esmeraldas, cuja abundância enchia de coragem e pertinácia o ânimo dos primeiros colonizadores portugueses.
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O pastoreio do gado ou a exploração da cana-de-açúcar, que Anchieta trouxera para aclimatação nas terras virgens do novo inundo, saciavam
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a sede laboriosa do pau¬lista, mas a notícia dos ricos veios de ouro descobertos nessas terras açularam a gula do ádvena, na certeza de
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riqueza farta e poderio onipotente.
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Iniciava-se então a penetração em diversas direções, enfrentando a hostilidade e a bravura do íncola, proprietário da terra. Ela se faz
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pelo curso dos rios navegáveis ou, quando não é assim, por via xerográfica, acompanhando as aberturas deixadas nas matas pelos nativos.
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Coube, sem dúvidas, aos romanos a iniciativa de, por meio de estradas pavimentadas, promover a interligação de várias regiões da Europa,
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com o intuito de alcançar dominação política e encarecimento econômico. Diz Vidal de La Blache, a esse propósito, que "a estrada romana é
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sobretudo uma obra de imperialismo, um instrumento de domínio que aperta em suas garras todo um feixe de países diversos e afastados.
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Ela ficou associada à história intima e viva. Foi por ela que caminharam, com as mercadorias, os peregrinos e os exércitos, todos os
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ruídos do mundo, as ideias e as lendas. Assim o povo não deixou de lhe assinalar o nome, ele a personificou, e escolheu para isso no seu
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vocabulário o que encontrou de ilustre:  César, Trajano, Brunehilde, Carlos Magno etc."
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Essa, guardadas as devidas proporções, a estrada aberta pelo sertanista de Piratininga, nas pegadas dos primitivos habitantes da terra.
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O sentido de orientação, que caracteriza o indígena, lhe mostrava ainda a direção exata na abertura apisoada por ínvios rincões e matas
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entrançadas. A muralha alcantilada da Mantiqueira era vencida pelos dois flancos, quer ladeando as águas do Paraíba e transpondo as
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gargantas da serra por Guaratinguetá, Lorena ou Taubaté, quer abrindo passagem por Atibaia até alcançar a região cobiçada, vencendo
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distâncias através de matarias densas e planícies forradas de vegetação arbustiva indevassada.
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O centro de atração se assentava na região do Rio Verde, nas Gerais, ante as descobertas do malsinado metal. Não se verificava fluxo
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permanente ou êxodo compacto, mas rumas de sertanistas inveterados, aventureiros e sonhadores, em magotes ou grupos amorfos,
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intermitentes, marchando em procura do sertão incógnito.
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As trilhas e veredas percorridas pelo indígena — já se disse — não ofereciam dificuldades excessivas ao sertanista, porque desbravadas,
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amputada a galha ri a ciliar e marcada a direção exata pelo chão aberto em sulcos longitudinais, indicativo de trânsito permanente de
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seus habitantes naturais. O Morro do Lopo e o pico granítico do São Domingos, visíveis de muitas dezenas de léguas, serviam de balizas
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para a direção da investida e para orientação do regresso ao ponto de partida. A caminhada estreita, no começo, devassava região
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levemente acidentada, ora constituída de matagais exuberantes ora referta de horizontes intermitentes, porque interrompidos aqui-e-ali
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por espigões de variada altitude.
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De Atibaia às margens do Sapucaí nenhum grande rio a embaraçar o trânsito livre, nem mesmo oferecendo caudal volumoso para o emprego de
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canoas ou balsas, e os que se punham na trilha assim aberta eram transpostos, ora pelos vaus de fácil travessia, ora, facilitando a
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carga, nos peraus ligando margem-a-margem por longos troncos de árvores abatidas ali mesmo, formando pinguelas. A partir de Canguava
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(Carigoaba ou Carigainboava), relevo de certa altitude, o horizonte abria-se em calha larga, divortium acquaram de lado-a-lado,
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constituído de cristas elevadas em contra fortes da Mantiqueira, cobertas nos seus flancos orientais e ocidentais por florestas densas.
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Na planura achatada da calha, apertada entre as vertentes de um c outro contraforte, escorria a bacia hidrográfica do Itaim, cujas
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nascentes, no sopé do São Domingos, iam, a pouco e pouco, recebendo o fluxo de afluentes peque¬nos, riachos e ribeiros, córregos e
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ribeirões, engrossando-lhe o débito hidrográfico até se lançar mansamente no Mandu, que, por sua vez, defluía suas águas no Sapucaí, para
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onde convergia, ao cabo de contas, as arrancadas invasoras dos paulistas. Campanha-do-Rio-Verde, outrora arraial de Santo Antônio,
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atraía então a ambição dos sertanistas ambiciosos e sonhadores.
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Esse o caminho perlustrado pelos pesquisadores, a partir de 1560, precisamente quando Braz Cubas transpôs pela primeira vez a
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Mantiqueira e galgou as cabeceiras do São Francisco, estrada, por igual, seguida pelos chamados "fura--matos" do século XVII para fixarem
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a espinha dorsal da civilização mineira", no dizer de Cassiano Ricardo ("Marcha para o Oeste", 1° vol. pág. 251).
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Ao longo desse roteiro, a partir de Atibaia, até atingir o núcleo centripetante do promissor movimento, um verdadeiro rosário de
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centros de povoamento se ia formando e distendendo tentáculos pelos arredores. Assim é que Simão de Toledo Piza assentou os fundamentos
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do Arraial de Toledo, munido de carta cie sesmaria expedida pelo Governador de São Paulo, e em 1762, Cláudio Fürquim de Almeida, também
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ganhava sesmaria na Fazenda de Pouso Alegre, hoje Itapeva, dada ainda pela Capitania de São Paulo.
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Ainda na mesma rota, surge Camanducaia, aglomerado urbano algo desenvolvido, prosperando para desempenhar papel importante na história da
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civilização mineira. É freguesia por alvará de 1798.
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Daí por diante, Estiva, Pouso Alegre, São Gonçalo do Sapucaí, Santana vão recebendo sempre influxos políticos e administrativos por
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parte dos Governadores de São Paulo, os quais por sua vez, impunham ordem e lei na região, ao mesmo tempo que os Bispos da mesma
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Capitania designavam párocos e autorizavam a construção de capelas, igrejas e cemitérios, em toda a área banhada pelo Sapucaí e seus
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afluentes da margem esquerda. Era o afã da procura do ouro, repetição histórica das conquistas medievais na chamada "civilização
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ocidental". Gregos e romanos, principalmente, tiveram na exploração de metais diversos, a fonte que alimentou as invasões e o domínio
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geopolítico da época.
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De qualquer forma, pois, Campanha se impunha, dentro e fora da Capitania das Gerais, como centro irradiador de elevada cultura e, por
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força de suas riquezas auríferas, polo magnético do forasteirismo nacional.
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Campanha conquistara posição de relevo nas letras brasileiras e sua gente se sentia ciosa de seu amor à cultura e às instituições
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pátrias. Por isso mesmo, quando Francisco Martins Lustoza e Veríssimo João de Carvalho tentaram implantar ali a posse e a jurisdição de
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São Paulo, foram ambos expulsos da cidade e do município. Lustoza, tabelião em Cruzes-do-Mogy, deixa as altas propinas do cartório e,
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intrépido, corajoso, atrevido, perlonga, em seguida, a vasta região banhada pela margem esquerda do Rio Sapucaí, em busca de ouro. Acha-o
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cm Santana, arraial que ele funda em fins de 1745 e aí recebe e cumpre ordens do Governador de São Paulo, em nome do qual toma posse das
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ricas lavras descobertas.
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Recebe Louzada o importante título de "Guarda-Mor", que Dom Luiz de Mascarenhas lhe dá em recompensa. A oferta do sertanista é valiosa...
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Já em abril de 1700 o povo
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da Vila de São Paulo e os oficiais de sua Câmara pleiteavam do Capitão-General Artur de Sá Miranda, então Governador da Repartição do
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Sul, levasse ele à consideração de Sua Majestade "que o território das Minas dos Cataguases, bem como suas matas e campos lavrados
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pertencem a eles, paulistas, porque os descobriram e conquistaram à custa de suas vidas e fazendas, sem depender da Coroa, e que seria
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grande injustiça conceder-se aquelas tenras e minas aos moradores de fora. Pretendiam que essa reclamação fundava-se no que dispõe a
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Carta Regia de 18 de março de 1694, acerca de favores e mercês concedidos aos que descobrissem jazidas de ouro e prata." ("Efemérides
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Mineiras", vol. II, pág. 87).
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Esse o espírito que presidia a orientação de Lustoza: — descobrira ele nova mina — logo, o manancial áureo era dele e, pois, dos
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paulistas. Investe-se na função de Guarda-Mor e dá a Veríssimo João de Carvalho, seu comparsa de jornada, as atribuições de Intendente
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das Minas, posse em 30 de outubro de 1746 (Pompeu Rossi, Revista do Arquivo Público de São Paulo, nº XXII).
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Carta Regia de 22 de fevereiro de 1720 separava a Capitania de Minas Gerais da de São Paulo, e outra Carta Regia (23 de fevereiro de
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1731) mandava que a Capitania de São Paulo se alargasse até Caxambu, a fim de ser atendida reclamação das gentes de Guaratinguetá, o que
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de fato é tentado, mas obstado pelos vereadores de São João Del Rei, que destroem o marco ali posto por ordem do Governador de São Paulo.
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Mas São Paulo, no entanto, impõe-se. É seu o domínio absoluto da margem esquerda do Sapucaí. De todo o extremo Sul de Minas. . .
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Os feitos de Louzada chegam à Capital de Minas, e o Governador Gomes Freire de Andrade, Conde de Bobadela, reage.
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A Câmara de Rio das Mortes recebe ordem de expulsar os forasteiros de Sant’Ana do Sapucaí. O cumprimento
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da ordem mobiliza autoridades e força expedicionária. Chegam à beira do grande rio, mas não conseguem transpô-lo.  Pedem canoas a
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Louzada, que nega atendimento. E reage. Resistência violenta e drástica.
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Na impossibilidade de vencer a reação e alcançar a margem dominada pelo caudilho, a forca expedicionária regressa ao seu ponto de
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partida.
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Lustoza mantém-se firme no arraial. Transmite de imediato a notícia ao Governador de São Paulo, que, por sua vez, retruca (8 de junho de
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1746), recomendando-lhe oponha viva resistência se nova tentativa vier da parte de São João Del rei. Afirma "que irá pessoalmente ao
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reduto de Lustoza, caso sobrevenha novo ataque, para que, venci¬dos os invasores, traga preso para São Paulo o Ouvidor de Rio das
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Mortes."
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Diante dessa atitude, Gomes Freire de Andrade vacila. Tenta contemporizar a situação, mas, ao cabo de contas, vencida a dúvida, prepara
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novo ataque, levando dessa vez numeroso contingente militar e copioso material bélico.
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Constrói alentada frota de canoas.
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Lustoza, avisado de antemão, ataca os invasores de surpresa e destrói desde logo a pequena "invencível arma¬da." Põe a pique canoas,
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aprisiona outras e destrói a macha¬do ainda outras.
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O Guarda-Mor detém a operação, e os atacantes se retiram para Campanha do Rio Verde, sem alcançar qualquer êxito na refrega.
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Lustoza vence. Impõe-se como ditador, apoiado decididamente pelo Governador de São Paulo. E toda margem esquerda do Rio Sapucaí mantém-se
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sob a jurisdição paulista.
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Mas dá-se o inesperado. O panorama se transforma repentinamente. Em virtude dos atritos entre mineiros e paulistas, disputando ambos
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largo trato do Sul da Província das Gerais, Carta Regia de 9 de maio de 1748 confere a
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Gomes Freire de Andrade atribuições para administrar São Paulo e a Capitania de Minas Gerais. A Capitania paulista é suprimida e
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transformada em comarca. . .
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Lustoza, astuto, vê fugir-lhe das mãos o bastão de comando, porque justamente aquele que fora por ele desacatado ia assumir o poder e
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exercer, por isso mesmo, uma autoridade incontrastável sobre as minas descobertas e o arraial por ele fundado.
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E é o que se dá. O Conde de Bobadela recebe ordem regia e poderes para estabelecer, era definitivo, os limites das duas capitanias.
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Transfere-os imediatamente (27 de maio de 1749) ao Ouvidor da Comarca de Rio das Mortes,  Dr. Tomaz Rubim de Barros Barreto, que se
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apresta na execução do mandato. A linha divisória seria o cume da Mantiqueira, o Morro do Lopo e a Serra de Mogi-Guaçu até topar o Rio
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Grande. Nesse caso, assim satisfeita a linde, Sant'Ana, Ouro Fino e todo o Sul de Minas se reintegrava na Capitania das Gerais. O auto de
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demarcação é lavrado e publicado em 18 de setembro de 1749, em Sant’Ana do Sapu¬caí, para onde se transporta o Ouvidor e. sua comitiva,
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dessa vez sem qualquer embaraço da parte do Guarda-Mor, que lhe não opõe embargo ao uso de suar, canoas no Sapucaí.
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Lustoza, no entanto, presente no ato em que era lida a decisão de Rubim, tenta tumultuar a reunião, desacatando a autoridade e
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protestando contra a decisão ali solenizada. Investe acremente contra o representante do Governador de Minas Gerais, acusando-o de
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ultrapassar os limites das atribuições que lhe foram conferidas.
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Ninguém lhe cria dificuldade à palavra livre e solta. A ata é assinada. Cessava a arrogância do caudilho, que se retira para Ouro Fino,
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onde já havia descoberto jazida aurífera e onde lançara os alicerces de urna Igreja. Todavia, por pouco tempo se detém no arraial.
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Receoso das represálias de Gomes Freire de Andrade, que ele tanto ofendera, transfere-se para o Paraná.
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Cessava também, cm definitivo, a posse paulista sobre a margem esquerda do Sapucaí. E todo o Sul de Minas, constituído,  até  então, 
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área  de  fricção  geopolítica, integra¬va-se na órbita provincial das Gerais,  definitivamente.
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No decorrer do tempo notam-se manifestações contraditórias e esporádicas em torno do impasse criado entre as duas capitanias lindeiras.
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Enquanto São Paulo procurava espichar suas fronteiras para alcançar, mann militari, a rica região agrícola e aurífera do Sul de Minas, a
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Capitania das Gerais teimava em lhe não ceder um palmo sequer de seu território. Enquanto isso se dava — repete-se — a população da área
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contestada procurava incorporar-se ao território paulista.
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Assim é que, segundo se lê em Amadeu de Queiroz ("Revista do Arquivo Municipal de São Paulo", 1937) as populações dos Municípios de
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Extrema, Camundacaia, Cambuí, Paraisópolis, Itajubá, Santa Rita do Sapucaí, Pouso Alegre, Ouro Fino e Jacutinga, em 1857, pleitearam à
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Assembleia Geral uma lei que os anexasse ao território paulista, dando-se-lhes por divisa com Minas Gerais o Ria Sapucaí-Guaçu. Comenta
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esse memorial o seguinte:
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"Não é somente o temor de uma nova divisão da Província que dá origem ao pedido de anexação da comarca  (Comarca do Sapucaí)  é a
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pró¬pria  conveniência  que  o  leva  a  dar esse  passo. Colocado nas proximidades da Capital de São Pau¬lo, a cujo bispado pertence,
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fazendo exclusivamente suas exportações pelos portos dessa Província, com a qual sempre manteve relações comerciais e religiosas;
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acabrunhados com pesados tributos sem o menor benefício público, distando cerca de no¬venta léguas de sua Capital, cujo governo apenas se
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faz sentir em suas medidas de exação; as afeições populares e outras razões, que são inúteis lembrar a essa Assembleia, são poderoso
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motivo que levam a Comarca do Sapucaí para a união com São Paulo, como as forças de atração e gravidade impelem o satélite para o centro
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do planeta" (pág. 187) .
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+
Posteriormente, em 1862, o Deputado Evaristo da Veiga apresenta à Câmara dos Deputados projeto de lei criando a Província "Minas do
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Sul", com a Capital em Campanha, e, em 1864, idêntico projeto é apresentado pelo Deputado Dr. Olímpio Valadão, secundado, em 1868, pelo
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Deputado Aurélio Lobo, este dando à nova Província a denominação de "Província do Sapucaí" ("Efemérides Mineiras", 3º vol. pág. 84).
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No entanto, ao revés, Carta Regia de 24 de julho de 1711, ao Governador Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho recomendava-lhe não
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admitisse paulistas cm postos de infantaria paga "para se não entregarem as armas a uns homens dos quais não havia toda a confiança".
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Contraditoriamente ainda, em 1715, outra ordem regia determinava que nos cargos públicos da Capitania tivessem preferência os paulistas
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aos nascidos em Portugal ("Efemérides Mineiras", 3º vol. pág. 145).
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De qualquer modo, no entanto, findas as controvérsias fronteiriças entre paulistas e mineiros, a larga faixa apertada entre o Sapucaí e a
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linha divisória fixada por Rubim, onde se desenvolvem as Cidades de Pouso Alegre, Ouro Fino, Alfenas, São Sebastião do Paraíso, Poços de
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Caldas, Guaxupé, Cambuí, Camanducaia e outras, submetia-se, em caráter definitivo e decisivo, ao governo e à política de Minas Gerais.
+
  
 
=== Cambuí-Velho ===
 
=== Cambuí-Velho ===
 
Ao longo da trilha aberta pelos bugres e mais tarde perlongada por bandeirantes, sertanistas e aventureiros, instalaram-se os paulistas
 
com cartas de sesmaria uns, por conta própria sem alvarás ou determinações superiores outros, abrindo fazendas de criar e de plantações
 
várias, lançando as bases de um povoamento em crescente progresso. A primeira sesmaria foi concedida ao paulista Cláudio Furquim de
 
Almeida, cm 1762, ramo de pujante família destinada a fecunda interveniência na vida pública e cultural da província. Essa sesmaria, por
 
ser ponto de parada regular dos itinerantes indo e vindo entre uma e outra capitania, foi denominada ''Pouso Alegre'', tempos depois
 
chamada ''Itapeva''. A três léguas além de Camanducaia surgia um ponto de parada e arranchamento à margem da picada cm direção a Estiva e
 
Pouso Alegre. É Cambuí.
 
 
O topônimo explica a origem tupi-guarani da localidade.  Segundo Nelson de Sena ('"Armário de Minas Gerais", vol. 6º)  significa "rio do
 
leite".  Camby-y, rio de água cor de leite, explica Alfredo de Carvalho. Para o Professor Salvador Pires Pontes  ("Nomes Indígenas na
 
Geografia de Mi¬nas Gerais", pág.  139)  Cambuí ou Caámboy quer dizer "a planta ou folha que se desprende".  Ao encontro dessas
 
opiniões, Joaquim Ribeiro Costa ("Toponímia  de Minas Gerais", pág.  186)  registra  e.  palavra  indígena nas variações  dadas por
 
Nelson do Sena e Salvador Pires Pontes.  Também Teodoro Sampaio ("O Tupi na Geografia Nacional") endossa as mesmas  interpretações, 
 
como  sendo  "a  planta  ou  a  folha que se desprende  (mirtacea)."
 
 
É de se presumir que a cor leitosa expressa pelo étimo tenha origem nos atritos da água corrente: com as margens do chamado Rio das
 
Antas, revestidas de rocha argilosa, tabatinga, que assim lhe emprestava o colorido leitoso, se é que ó tiveram suas águas mansas.
 
 
Por outro lado, a montante do Rio das Antas, tributário do Itaim, extensas várzeas eram povoadas de árvore; de pequeno porte por todos
 
chamadas "Cambuí" (''eugenia tendia'', família das myrlaceas) tronco liso, enxadrezado, brilhante, galharia enfezada.
 
 
A água do rio ou a proliferação do arbusto cederam, por certo, seus predicados físicos ao topônimo.
 
 
A região a pouco e pouco se povoava. Espalhavam-se já pequenas lavouras e algumas propriedades bastante desenvolvidas na criação de gado
 
e agricultura, cujos proprietários, alguns de espírito arejado e ideias avançadas. Entre esses, sobressaiam-se, pela capacidade de
 
iniciativas e do comando, o Capitão Francisco Soares de Figueiredo, vindo de Campanha, e o Capitão Joaquim José de Moraes, nascido cm Pitangui. Partiu desses homens bem orientados a ideia da construção de uma Capela na parada denominada “Cambuí” coisa de meia légua à esquerda da estrada que ligava a Pouso Alegre, no sopé do Pico de São Domingos.
 
 
Para que o intento lograsse o colimado efeito, o Capitão Joaquim José de Moraes e sua mulher, Dona Isabel Pinheiro Cardozo, adquiriram
 
terras de Inácio de Souza e sua mulher, mediante escritura de mão feita pelo Capitão Francisco Soares de Figueiredo, doando-as, cm
 
seguida, a Nossa Senhora do Monte do Carmo, escritura pública posteriormente lavrada em Campanha aos 25 de maio de 1813, por meio de
 
procuração passada em Camanducaia na data de 12 de maio desse mesmo ano.
 
 
O autorizado o eminente historiador Dr. José Guimarães e o Cônego João Aristides de Oliveira, aos quais se segue neste passo, transcrevem
 
o seguinte trecho da aludida escritura:
 
 
"huma sorte de Terras que se compõem de Mattas virgem o Capoeira citos na paragem denominada Camboy as quais Terras possuem por compra
 
que. da:-; mesmas fizeram de Ignacio de Souza e sua mulher Maria de Jesus e partem para o Poente com Salvador Cardoxo principiando do
 
Ribeiram Maior e sobem por um corguinho asima em q. tem hurna Caxoeirinha e dahi a Cortar Rumo direito em te hum Morro alto pela banda da
 
Esquerda e tornando outra vez a barra segue pelo Ribeiram maior asima athé as suas cabeceiras divizando com Jozé Rodrigues cujas Terras
 
na forma divizada que as possuem livre c desembargadas muito de suas livres vontades e tem constrangimento de pessoa alguma faciam doação
 
como de facto doado tinham de hoje para todo o sempre a NoSa Senhora do Monte do Carmo de Camboy deste termo para nas referidas terras
 
edificarem sua Capela e Patrimônio e sustentação dos seus guizamentos".
 
 
Esse, pois o patrimônio doado para que nele se construíssem a igreja e o arraial. Como a feitura de igreja ou, mesmo, sua reconstrução,
 
dependiam de autorização regia e canônica, nos termos da ordem de 2 de abril de 1739, foram tomadas providências nesse sentido c, antes
 
mesmo que. essas fossem satisfeitas, erigiu-se a Capela, entre maio e novembro de 1813, no topo de uma encosta, ladeada por armamentos
 
íngremes e desajeitados.
 
 
Feita de adobes, argamassada de capim e sapé, que lhe garantiam paredes compactas, mas pouco resistentes, a obra estava destinada a vida
 
efêmera, porque em breve desgastada pelas intempéries. Exigia-se-lhe, no entanto, legalização canônica.
 
 
Para tanto, visitou-a propositadamente o Capelão Padre Joaquim Conrado de Oliveira, com poderes especiais para isso.
 
 
O Capitão Joaquim José de Moraes apresentou documentação idônea de pública-forma da doação, ao mesmo tempo que requeria ao Juiz de Fora
 
de Campanha, que, pelo juiz de vintena do Arraial de Pouso Alegre, fossem dados poderes ao Capitão Francisco Soares de Figueiredo para
 
requerer o que conviesse a bem da nova Capela. Na data de 19 de novembro de 1813 essa petição recebeu o seguinte despacho:
 
 
"Autode poçe - Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jezus Cristo de Mil e oitoSentos e treze aos vinte três dias do mês de Nbro. Nesta
 
paraje adominada a Chamada Camboi Freguezia de Camanducaia termo de Vila de Campanha da prinçeza e Minas Comarca do Rio das mortes Aonde
 
Francisco Ignacio de Freitas juiz da vintena sendo ahi com¬pareceu prezente como procurador e zelador competente da Capela de NoSa
 
Senhora do monte do Carmo Capitam Francisco Soares de Figueiredo e sua M. digo e ahi emtimou aclespaxo do dotor Juiz de Jora José Joaquim
 
Carneiro de Miranda e Costa Desembargador de S.A.R. o Prinsepe Regente de NoSo Senhor Que Deos Ge.  em vertude do mesmo despaxo dei
 
pose Nopatrimonio da dita Senhora como Zelador da Capela e sitei aos ComFrontantes João Ferra, dos Santos Joaquim Rodrigues da Sá.  e
 
Alexo Corrêa.  Lemes e todos levaram A bem e aSsistiram ao Auto de pose e eu Fui com os suprimentos e duas testemunhas ao diante
 
Nomeadas e aSinadas .na  dita paraje  e Publi¬quei Cavando terra Cortando Ramos atirando para o ar Guirtando com voz alta clara
 
inteligível dia claro SolFora e ahi lhe dei Pose atoai Real Judicial Corporal Real a Provação (?) e como não hove em¬baraço Faço este
 
Auto de pose como Zellador da Senhora do monte do Carmo e pelo que Faso este em  prezença  das  testemunhas Manuel  Fortunato Thomas
 
Francisco da Sá.  e eu Francisco Ignº de Freitas juis de vintena que em verdade dos despa¬xo posto na petição Retro o escrevi,  (a) 
 
Francº Soares de Figueiredo.  Como testemunha q. este vi Fazer e aSino Manuel Fortunato como testemunha q. este vi Fazer e aSino Thomas
 
Francisco da Silva - Francisco Ignacio de Freitas Juis de vintena."
 
 
Investido das delicadas funções de zelador do patrimônio, não descansou ainda o Capitão Soares, que, acompanha¬do do Capitão Joaquim
 
José de Moraes, em todas as diligências e instâncias, promoveu, pessoalmente, em São Paulo, a satisfação das exigências canônicas para a
 
ereção da Capela. Peticionou então ao Bispo Diocesano, D. Mateus de Abreu Pereira, que, na data de 23 de dezembro de 1813, determinou a
 
expedição da respectiva provisão. Ao mesmo tempo, como a obra só podia ter andamento mediante prévia visita de autoridade eclesiástica
 
competente, D. Mateus designou, por provisão de 24 de dezembro de 1813, o Padre Joaquim Conrado de Oliveira, Capelão, para a desejada
 
missão, embora a esse tempo a obra já estivesse concluída. Isso feito, voltaram o Capitão Soares e o Capitão Moraes a requerer a benção
 
da Capela e a permissão para a instalação de cemitério próprio, ressalvados os direitos paroquiais — o que lhes é deferido por despacho
 
do mesmo dia e ano. Ainda na mesma data, peticionou o Capitão Soares fosse autorizada a ereção da pia batismal na Capela, alcançando do
 
antístite alvará de atendimento e atestação a posteriori por parte do Padre Joaquim Conrado, em 22 de fevereiro de 1814, acrescentando
 
este, ainda, haver ele próprio, a priori, escolhido o local em que se erguera a Capela.
 
 
O funcionamento regular dos atos religiosos dependiam, no entanto, de alfaias e espécies sacras, empregadas nos ofícios litúrgicos, em
 
razão do que, após juramento prestado em 12 de fevereiro de 1814, na casa do Padre Joaquim Conrado de Oliveira, em Cambuí, o Escrivão
 
Manuel Silvério Monteiro lavra termo de visita em que relaciona a existência de duas casulas de damasco (roxa e verde, branca e
 
vermelha) bem como cálice, e patena, além de três alvas, uma bretanha e duas de linho. Completando essas providências, o Capitão Soares e
 
o Capitão Moraes, ainda em São Paulo, alegando em memorial ao Bispo Diocesano estar a Capela ereta, visitada e benta, com patrimônio
 
constituído, em cumprimento de exigência regia, requeriam a faculdade para pia batismal e cemitério. Em março de 1814, D. Mateus
 
encaminha o pedido ao Vigário-Geral, que, por sua vez, passa o processo à alçada do Procurador da Mura. Emitido parecer favorável em 9 de
 
março de 1814, foi então expedida provisão autorizativa para a celebração de todos os atos litúrgicos.
 
 
Encerrava-se assim a tramitação regular do processo na Cúria Diocesana. Diante disso, foi publicado edital, agora na própria Capela,
 
convocando, sob juramento, os peritos Alferes Vicente Ferreira da Cunha c José Martins de Figueiredo, Escrivão Manuel Silvério Monteiro,
 
para inquirirem o Sargento de Ordenança Thomaz Francisco da Silva e Antônio Lopes Pinheiro, bem como os doadores, a fim de se proceder a
 
avaliação das terras doadas (valiam mais de 120$000) -— tudo sob a presidência do referido Capelão Padre Joaquim Conrado de Oliveira e
 
presença do Juiz-Geral da  diocese,  Cônego  Joaquim José Mariano,  na  data de  8 março de 1814, em São Paulo.
 
 
Esse processo foi julgado "válido, e, por igual, firme e valioso o patrimônio, constituído da referida sorte de terras, para o título
 
dele  poder  ser erigida e conservada a capela".
 
 
Rematando as providências do estilo, o Vigário-Geral da Diocese, Cônego Joaquim José Mariano, expediu provisão concedendo "faculdade para
 
que na mencionada Capela se pudesse celebrar Missa c todos os ofícios sacros, bem como batizar na respectiva Pia e sepultar os defuntos
 
fiéis 110 mesmo cemitério".
 
 
Todavia, a situação era irregular.
 
 
Já se disse que Carta-Régia determinava de maneira conclusiva que a construção de Igreja exigia, sempre, autorização superior. A Capela
 
de Cambuí estava concluída sem ter tido, a priori, atendimento à exigência real.
 
 
E isso foi feito de maneira completa e decisiva. Os dois grandes benfeitores da Igreja e do arraial, Capitão Soares e Capitão Moraes,
 
obtiveram Provisão do próprio D.  João VI, então Príncipe Regente, nesse sentido e assim dizendo:
 
 
"Dom João por graça de Deos Príncipe Regente de Portugal, e dos Algarves, d'aquem e d'alem Mar, em África Senhor de Guine && e do
 
Mestrado Cavalleria, e Ordem de Nofso Senhor Jesus Christo Faço Saber, que Attendendo a Presentar-Me os Cappitaens Francisco Soares de
 
Figueiredo e Joaquim José de Moraes, Comandante aquelle do Districto de São Domingos, e este do Rio do Pexe do Rispado de São Paulo,
 
que tendo os Suppricantes Erigido huma Ermida na paragem de Cambui com licença do Ordinário sendo o orago Nofsa Senhora do Monte do
 
Carmo. Me pedião a Graça de Minha Real approvação. O que visto e Resposta do Procurador Geral das Ordens, Hey por bem Fazer Mercê a
 
Supplicantes de lhe Approvar a Ereção da mencionada Capella de Nofsa Senhora do Monte do Carmo, Revalidado-lhe com esta minha Real
 
Approvação a nulidade com que se acha Erecta, e esta se cumprirá sendo pafsado pela Chancellaria da Ordem. O Príncipe Regente Nofso
 
Senhor e mandou pellos Ministros abaixo afsignados do Seu Conselho, e Deputados do Tribunal da Mesa da Consciência e Ordem. Faustino
 
Maria de Lima Fonseca Gutierres a fez no Rio de Janeiro aos doze de Novembro de mil oito centos e doze. Desta mil e seis centos réis, e
 
afsignaturas três mil e duzentos réis. Joaquim Joze de Magalhães Coutinho c a subscreveu." (Duas assinaturas ilegíveis) .
 
 
Esse importante documento, altamente histórico, segundo o notável historiador e linhagista mineiro, Dr. José Guimarães, encontra-se nos
 
arquivos da Cúria Arquidiocesana de Pouso Alegre.
 
 
http://s20.postimg.org/yr2kgliql/bio1b_0.jpg
 
 
''Fac-símile do alvará em que Dom João VI, então Príncipe Regente, aprova a ereção da Capela do Cambuí-Velho, relíquia histórica pertencente à Cúria Arquidiocesana de Pouso Alegre, sentindo pesquisa do eminente historiador ourofinense, Dr. José Guimarães.''
 
 
Concluía-se, finalmente, o processo para que a Capela exercesse suas funções e os fiéis cumprissem suas obrigações religiosas.
 
 
Daí por diante, passaram a exercer ''munus'' eclesiásticos na Capela os seguintes sacerdotes:
 
 
Padre Joaquim Conrado de Oliveira, de 1813 a 1817;
 
Padre Manuel Alves Teixeira, de 1818 a 1821;
 
Padre João da  Silva  Brito,  em 1824;
 
Padre Manuel Alves Teixeira, de 1825  a 1827 e
 
Padre Joaquim Manuel de Toledo, de 1828 a 1834.
 
 
<nowiki>* * *</nowiki>
 
 
A 29 de setembro de 1814 era sepultada na nave do templo Dona Quitéria Maria Rodrigues, cunhada do Capitão Soares, e a 18 de fevereiro de
 
1815 o mesmo acontecia com a esposa do Capitão Soares, irmã de Dona Quitéria, Dona Leonor Francisca de Jesus.
 
 
Enfrentando aclives e declives, subindo e descendo, contorcendo-se em rampas íngremes e cheias de anfractuosidades solapadas pelas
 
chuvas, o arraial crescia a pouco e pouco, auspiciosamente. Em setembro de 1815 recebia a primeira visita pastoral feita pelo Cônego
 
Antônio Paes de Andrade, secretariada pelo Padre Francisco de Paula, e, em setembro de 1818, ali estava o visitador Antônio Marques
 
Rodrigues, que, em Camanducaia deixava escrita recomendação expressa no sentido da reparação, ou mesmo reedificação, da Capela de Cambuí,
 
tal o seu desgaste provocado pelas intempéries e em razão ainda do péssimo material em¬pregado na sua construção.
 
 
O mesmo acontecia com o arraial em relação às demais construções: casas de taipa e adobe, casebres de barro e pau-a-pique, cafuas
 
trepadas pelos morros acima e taperas cercadas de bambus pelas encostas abaixo. Arruavam-se essas habitações de maneira tortuosa e sem
 
qualquer respeito a exigências urbanísticas. Não as justificavam as disposições assimétricas de outros arraiais mineiros — Ouro Preto,
 
Mariana, Sabará, Congonhas, Caetés e mesmo Ouro Fino e Santana do Sapucaí — porque essas povoações eram as "catas", a procura do ouro à
 
beira irregular dos regatos, que impunham direção às ruas e disposição incorreta às casas.
 
 
O Arraial de Camboy não oferecia perspectiva aurífera. Só poderiam enriquecê-lo a pecuária e a agricultura. Por isso mesmo, a
 
recomendação escrita feita pelo Visitador Antônio Paes de Andrade constituía o "ponto-de-partida" para um movimento de grande envergadura
 
e larga amplitude: a construção de outra Capela e a mudança do arraial para lugar aprazível e adrede escolhido.
 
 
E foi o que se deu.
 
  
 
=== Novo Cambuí ===
 
=== Novo Cambuí ===
 
Respeitando Carta Regia de 2 de abril de 1739, que vedava construção de igrejas e capelas sem autorização de autoridades competentes, em
 
agosto de 1834, foi dirigido o seguinte memorial à Cúria Diocesana de São Paulo:
 
 
"Dizem os habitantes da Capela de Nossa Senhora do Carmo de Cambuhy, filial da Freguezia de Camanducaia, q. achando-se a dita Capela
 
situada no cume d'hum monte onde he bastante difícil hirem os Spps. cumprir com os seus deveres religiozo e mmo. pr. estar a dita
 
Capela danificada, e dezejando pr. isso mudarem pá. hum terreno plaino mto. mais espaçozo, e onde se pode divisar não só a desencia do
 
templo como o aformoziamento da povoação, e como não podem fazer sem licença de V. Excia., portanto P. A. V. Excia. se sirva conceder aos
 
Supps. a dita licença. E. R. Mcê".
 
 
Subscrevem  essa petição os  seguintes  moradores  do arraial:
 
 
"Manuel Marques de Oliveira, Antônio José da Silva, Jacinto José da Fonseca, Francisco José de Macedo, Tomaz Garcia dos Santos, Vicente
 
Marques de Oliveira, Salvador Rodrigues Gonçalves, Antônio Soares Guimarães, José Inácio Froes, Antônio Francisco Mendes, Joaquim
 
Pereira Lima, Joaquim Inácio Simões, Antônio Silvério Pereira, Antônio Rodrigues Matos, José Martins Bastos, Manuel Martins de Almeida,
 
Manuel Lopes Pinheiro, José Lopes Pacífico, João Paulo Lopes Pinheiro, Manuel Ferraz da Cunha, João Lourenço de Souza, Salvador da Veiga,
 
Lourenço Dias, Vicente Ferreira de Abreu, Mateus José da Rosa, José Domingues, Manuel Afonso dos Santos, João Clemente Gomes de
 
Oliveira, Joaquim Inácio Lopes, Possidônio Pires Machado, Manuel Bueno de Moraes, Manuel Inácio Froes, Francisco Nunes Pinheiro, José da
 
Cunha Vasconcelos, Henrique da Cunha Vasconcelos, João Lopes Corrêa, Jerônimo Pedro Gonçalves, Joaquim Antônio de Afonseca, Francis¬co de
 
Souza Vieira, Tristão Leite Ferreira de Melo, Benedito Soares Leite, Félix da Costa Pinheiro, Manuel Joaquim de Moraes, João Francisco do
 
Prado, José Gabriel da Silva e José Mariano da Silva."
 
 
Sobreleva notar — diz o Dr. José Guimarães, comentando esse documento — que quarenta e cinco pessoas assinam o memorial de próprio
 
punho, demonstração viva do alto grau de alfabetização que, nos afastados anos de 1834, já haviam alcançado os habitantes da área
 
compreendida entre São Domingos e Rio do Peixe.
 
 
<nowiki>* * *</nowiki>
 
 
Neste ponto, abra-se um parêntesis e registre-se que o Dr. José Guimarães, tantas vezes citado nesta obra, prende-se a Cambuí por laços
 
de casamento, genro de José Roberto de Moraes, um cambuiense radicado em Ouro Fino, mas amoravelmente apegado à terra natal. Veio daí o
 
interesse que o levou a penetrar fundamente nos alicerces históricos da cidade.
 
 
De posse do memorial supra referido, a Cúria Diocesana de São Paulo ouviu o Padre Manuel Alves de Toledo, Vigário de Camanducaia, para em
 
23 de outubro de 1834, concordar com a mudança pleiteada, já que havia manifestação crítica da parte do Visitador Diocesano,
 
desfavorável inteiramente à Igreja e ao arraial, dadas as condições precárias de que se revestiam.
 
 
<nowiki>* * *</nowiki>
 
 
Foi então escolhido o local na área denominada "Campo Largo", constituído de pequena colina ladeada por encostas ligeiras, em cujo
 
dorso se espalmava achatamento bastante amplo para que nele se assentasse a praça principal do povoado. Descortinava-se dali, livres e
 
desembaraça¬dos, largos horizontes tapizados pela bacia hidrográfica do Itaim, formando a calha perlongada por indígenas e bandeirantes,
 
rumo ao vale aurífero do Rio Verde. Lado a lado, extensas cordilheiras formavam a moldura do majestoso quadro em que o perfil granítico
 
do São Domingos, alteado no cimo da serra, a mais de dois mil metros de altitude, ocupava a posição de sentinela vigilante a orientar o
 
viajor em direção à terra prometida. E o desbravador que regressasse aos pagos domésticos, trazendo no gibão de couro cru e colheita do
 
metal cobiçado, batendo as alparcatas enrijecidas no pó ardente das trilhas e devesas, defrontava desde logo, de longa distância, aquela
 
massa escarpada, a cavaleiro do arraial, oferecendo-lhe abrigo e indicando-lhe roteiros certos. Parece mesmo que a mão de Deus pincelou
 
na tela da natureza um dos seus mais belos quadros paisagísticos.
 
 
Quando as chuvas, intensas e extensas, se prolongavam por dias e semanas, a várzea aberta nas margens do Itaim e de seus tributários, se
 
transformavam em imenso lagamar pontilhado, aqui-e-ali, de moitas de gabirobeiras, araticuns, pitangueiras, tarumãs e touceiras de
 
capituvas agrestes. Aves aquáticas sobrevoavam a extensão líquida dando vida e movimento à paisagem. O Rio das Antas, ao pé da colina,
 
deslizava ora mansamente, sem pressa, tortuoso, pelo vargedo à fora, ora transbordante e violento, carregando nas suas águas fecundas a
 
certeza de boas searas e messes fartas.
 
 
<nowiki>* * *</nowiki>
 
 
Escolhido, pois, o local, foi posta mão-a-obra. O Capitão Soares comandava a surtida. Espírito forte, combativo, empreendedor
 
intimorato, enfrentou as dificuldades e as venceu. Por outro lado, os moradores vizinhos, sob o império de uma vontade férrea — genius
 
loci — irmanaram-se e prestaram ao grande chefe a colaboração necessária, ajusta¬dos ainda no apoio dado pelos próprios habitantes do
 
arraial condenado.
 
 
Em pouco, o novo templo se erguia, imponente, desta vez construído e revestido de material capaz de enfrentar a ação dos elementos e do
 
tempo.  Cada qual trouxe o seu quinhão. O próprio Capitão Soares cansou suas mãos já calejadas na ereção da Igreja.
 
 
Terminada a obra, procedeu-se a transladação das imagens e alfaias para o templo que ia ser na história o marco e a prova da tenacidade
 
indômita de um povo. O transporte se fez festivamente, carregadas as relíquias por carros de bois acompanhados pelo povo entoando hinos
 
e preces (Minas Gerais, de 4 de outubro de 1930) .
 
 
E deu-se então fato curioso, pouco encontradiço no desdobrar da história: abandonava-se um povoado, seu templo, suas casas, suas ruas,
 
suas vivendas, suas taperas, suas cafuas, deixando-o ao sabor do tempo, do sol e da chuva, da mataria agreste, dos animais daninhos, a
 
destruir-se lentamente, arremedo de uma Cartago inocente ou a repetição de um novo êxodo.
 
 
Inaugurado o novo templo, ali compareceu o visitador diocesano, Padre Senador José Bento, que tanto relevo teve na vida pública do
 
Império, lançando no livro do Tombo a seguinte Provisão,  aliás, datada de Pouso Alegre:
 
 
"José Bento Ferreira de Mello, senador do Império e visitador ordinário das freguezias do bispado de São Paulo, na província de Minas
 
Geraes, etc . Aos que esta minha provisão virem saúde e Benção em o Senhor. Faço saber que attendendo ao que me representarão os Povos da
 
Capella de Cambuhy, da freguezia de Camanducaia, Hey por bem, pela presente declarar curada a dita Capella de Cambuhy, e independente da
 
dita freguezia de Camanducaia. Será esta registrada nos livros do Tombo da dita freguezia e Capella curada. Dada nesta villa de Pouso
 
Alegre sob meu signal e sello das minhas armas, aos quinze de outubro de mil oitocentos e trinta e quatro. E eu, José Bento, digo José
 
Francisco Pereira Filho, secretário da visita, que o escrevi, (a) José Bento Ferreira de Mello. Estava o sello pendente (a) Pereira
 
Filho. Provisão porque vossa senhoria ha por bem declarar cura¬da a Capella de Cambuhy, da freguezia de Camanducaia, a favor dos Povos
 
supra declarados. Para Vossa Senhoria ver. Registrada no livro e folhas. Pouso Alegre, quinze de outubro de mil oitocentos e trinta e
 
quatro. Numero trinta, Pagou oitenta reis de sello. (a) Pereira Filho Ferreira Mello.”
 
 
O Visitador Diocesano foi recebido festivamente, não só pelos atributos pessoais de senador do Império, como pelo sagrado "munus" de que
 
estava revestido, realizando então obra evangélica de acendrado devotamento: crismas, batizados, casamentos, confissões e comunhões, com
 
devoção e sinceridade da parte do povo.
 
 
A colheita pastoral foi, sem dúvida, opima.
 
 
Também, o povoado crescera e se derramara pelas ruas, encostas e arredores. O armamento se fizera simetricamente, obedecendo a plano algo
 
técnico: de cada canto da Praça nasciam ruas retas que desciam a encosta e alcançavam outra rua paralela às encostas, no sentido
 
longitudinal. Ao centro, frente ao templo, a rua principal, calçada por largas lajes poliédricas, leito côncavo para o perfeito
 
escoamento pluvial. De cada lado da rua principal partiam ainda armamentos regulares em direção às vias longitudinais, ladeando a
 
Praça.
 
 
Antecipando-se a Camberra, (Austrália) e a Belo Horizonte, Goiânia e Brasília, nascia o Arraial de Cambuí, em 1834, sem a intervenção de
 
engenheiros urbanistas, obedecendo apenas a critérios inteligentes no estudo e no aproveitamento de sua topografia e de suas condições
 
mesológicas.
 
 
<nowiki>* * *</nowiki>
 
 
Dezesseis anos após esses acontecimentos, durante os quais o arraial adquiria substâncias condições de vida e desenvolvimento, é criada a Freguesia de Cambuí pela Lei Provincial nº 571, de 1º de junho de 1850, desmembrada da Paróquia de Camanducaia.
 
 
Logo depois é nomeado o Padre Feliciano José Teixeira seu primeiro pároco. Deixa de ser Curato para ser Paróquia.
 
 
De 1834 a 1850, período em que Cambuí foi simplesmente Curato, exerceram as funções de juízes de paz as seguintes pessoas:
 
 
Jacinto José da Fonseca (1838 a 1844),
 
Ricardo Pereira Coutinho (novembro de 1838),
 
Joaquim Ignacio Simoins (1839 a 1845),
 
Lourenço Dias Portela (1839 a 1840),
 
João Tavares da Cunha (1842 a 1844),
 
Manoel Marques de Oliveira (1843 a 1844) e
 
José da Cunha Vasconcelos (1843)
 
 
Leis então vigentes conferiam a esses servidores atribuições judicantes, limitadas a pequenas demandas e controvérsias locais.
 
  
 
== Capítulo II - Como vive uma cidade==
 
== Capítulo II - Como vive uma cidade==
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  "O Dr. Alexandre Joaquim de Sequeira, Presidente da Província de Minas Gerais. Faço saber a todos os seus Habitantes  
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  "O Dr. Alexandre Joaquim de Sequeira, Presidente da Província de Minas Gerais. Faço saber a todos os seus Habitantes que a Assembléia  
que a Assembléia Legislativa Decretou e eu Sanciono a Lei seguinte:
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Legislativa Decretou e eu Sanciono a Lei seguinte:
 
  Art. 1.º - Ficão elevados à Parochia:
 
  Art. 1.º - Ficão elevados à Parochia:
 
  § 7º - o Curato de Cambuhy, do Município de Jaguary, comprehendendo o de Capivary do mesmo município.
 
  § 7º - o Curato de Cambuhy, do Município de Jaguary, comprehendendo o de Capivary do mesmo município.
 
  Art. 2.º — Os habitantes das Parochias creadas pelo artigo antecedente ficão obrigados à construir e paramentar à sua custa as  
 
  Art. 2.º — Os habitantes das Parochias creadas pelo artigo antecedente ficão obrigados à construir e paramentar à sua custa as  
respectivas Matrizes".
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respectivas Matrizes".
  
 
Começava então para o arraial uma fase de vida social e normal, com representação eletiva , ao sabor das necessida¬des religiosas da sua  
 
Começava então para o arraial uma fase de vida social e normal, com representação eletiva , ao sabor das necessida¬des religiosas da sua  
Linha 553: Linha 89:
 
Atuaram então nesta nova fase os seguintes sacerdotes:
 
Atuaram então nesta nova fase os seguintes sacerdotes:
  
#Padre Feliciano José Teixeira, de 1850 a 1854;
+
#Padre Felidano José Teixeira, de 1850 a 1854;
 +
 
 
#Frei Manuel de São Vicente Ferreira, de 1854 a 1855;
 
#Frei Manuel de São Vicente Ferreira, de 1854 a 1855;
#Padre Antônio Sanches de Lemos, de 1855 a 1858;
+
 
#Padre João Martins de Brito, de 1859 a 1864;
+
Padre Antônio Sanches de Lemos, de 1855 a 1858;
#Padre João Borges de Figueiredo, de 1864 a 1868, e
+
 
#Padre José da Silva Figueiredo Caramuru, de 1871  a 1905.
+
Padre João Martins de Brito, de 1859 a 1864;
 +
 
 +
Padre João Borges de Figueiredo, de 1864 a 1868, e
 +
 
 +
Padre José da Silva Figueiredo Caramuru, de 1871  a 1905.
  
 
A nova freguesia subordinava-se agora, desmembrada da paróquia de Jaguari, diretamente à Cúria Diocesana de S. Paulo.
 
A nova freguesia subordinava-se agora, desmembrada da paróquia de Jaguari, diretamente à Cúria Diocesana de S. Paulo.
  
=== Representação paroquial ===
+
2 — REPRESENTAÇÃO PAROQUIAL
  
 
Constituída em freguesia, cabia a Cambuí eleger seus representantes na Câmara Municipal de Jaguari, que, aliás, já convocara elementos do  
 
Constituída em freguesia, cabia a Cambuí eleger seus representantes na Câmara Municipal de Jaguari, que, aliás, já convocara elementos do  
 
Curato para a integrarem, tais como Antônio Marques de Oliveira (1842), Joaquim Inácio Simões (1845) e coronel Francisco Cândido de Brito  
 
Curato para a integrarem, tais como Antônio Marques de Oliveira (1842), Joaquim Inácio Simões (1845) e coronel Francisco Cândido de Brito  
Lambert (1849), antes mesmo de competir ao arraial o eleger vereadores próprios.
+
Lambert (1849), antes mesmo de competir ao arraial o eleger verea¬dores próprios.
  
 
Consolidando a elevação de Curato a Freguesia, foram escolhidos representantes de Cambuí à Câmara Municipal de Jaguari os seguintes  
 
Consolidando a elevação de Curato a Freguesia, foram escolhidos representantes de Cambuí à Câmara Municipal de Jaguari os seguintes  
 
vereadores:
 
vereadores:
  
em 1849 — Joaquim Inácio Simões,
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em 1849 — Joaquim Inácio Simões,
em 1853 — Coronel Francisco Cândido de Brito Lambert,
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em 1857 — Elias Carlos de Carvalho,
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em 1861 — Coronel Francisco Cândido de Brito Lambert,
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em 1865 — Bento Luiz Ferreira de Brito,
+
em 1869 — Coronel Francisco Cândido de Brito Lambert,
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em 1878 -- Antônio Marques de Figueiredo,
+
em 1883 — Justiniano Quintino da Fonseca,
+
em 1886 — Fernando Carlos Pereira Guimarães.
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Esses representantes alternavam-se nas sucessivas legislaturas, numa das quais (1867) o Coronel Francisco Cândido de Brito Lambert foi  
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em 1853 — Coronel Francisco Cândido de Brito Lambert,
escolhido Presidente da Câmara, comprovando seu alto prestígio, porque, residindo em Cambuí, se elegera chefe da edilidade em Jaguari.  
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Foram também eleitos suplentes à vereança os cambuienses Joaquim José da Fonseca, Joaquim Quintino da Fonseca, José Vicente da Silva  
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em 1857 — Elias Carlos de Carvalho,
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em 1861 — Coi^onel Francisco Cândido de Brito Lambert,
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em 1865 — Bento Luiz Ferreira de Brito,
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em 1869 — Coronel Francisco Cândido de Brito Lambert,
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em 1878 -- Antônio Marques de Figueiredo,
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em 1883 — Justiniano Quintino da Fonseca,
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em 1886 — Fernando Carlos Pereira Guimarães.
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Esses representantes alternavam-se nas sucessivas le-gislaturas, numa das quais (1867) o Coronel Francisco Cândido de Brito Lambert foi  
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escolhido Presidente da Câmara, com-provando seu alto prestígio, porque, residindo em Cambuí, se elegera chefe da edilidade em Jaguari.  
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Foram também eleitos suplentes à vereança os cambuiennses Joaquim José da Fonseca, Joaquim Quintino da Fonseca, José Vicente da Silva  
 
Leite, Antônio Cândido Duarte e Carlos Zacarias de Almeida.
 
Leite, Antônio Cândido Duarte e Carlos Zacarias de Almeida.
  
''Juízes-de-Paz:''
+
Juízes-de-Paz:
  
No período de 1850 a 1880 estiveram no exercício das altas funções de Juiz-de-paz os seguintes paroquianos: Joaquim Quintino da Fonseca,  
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No Período de 1850 a 1880 estiveram no exercício das altas funções de Juiz-dc-paz os seguintes paroquianos: Joa¬quim Quintino da Fonseca,  
Zeferino José de Brito Lambert, José Quintino da Fonseca, João Lopes Pacífico, Alexandre José de Moraes e Bernardino Gomes Moreira, em  
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Zeferino José de Brito Lambert, José Quintino da Fonseca, João Lopes Pacífico, Alexandre José de Moraes e Bcrnardino Gomes Moreira, em  
períodos e mandatos diferentes e alternados.
+
períodos c mandatos diferentes e alternados.
  
 
Os demais cargos pertinentes à organização paroquial estavam assim distribuídos:
 
Os demais cargos pertinentes à organização paroquial estavam assim distribuídos:
  
''Escrivães:'' Francisco Xavier de Sales, que exercia, cumulativamente as funções de Agente do Correio, embora a repartição ainda não  
+
Escrivães: Francisco Xavier de Sales, que exercia, cumulati-vamente as funções de Agente do Correio, embora a re-partição ainda não  
 
estivesse criada legalmente, Vicente Marques Pereira, Antônio Marques de Figueiredo e Francisco de Paula Souza.
 
estivesse criada legalmente, Vicente Marques Pereira, Antônio Marques de Figueiredo e Francisco de Paula Souza.
  
''Delegado-de-Polícia'' e ''Delegado-de-Instrução'': Antônio José de Brito Lambert.
+
Delegado-de-Polícia e Ddeyado-de-Instrução: Antônio José de Brito Lambert.
  
''Párocos:'' Padres José da Silva Figueiredo Caramuru e João Soares de Figueiredo.
+
Párocos: Padres José da Silva Figueiredo Caramuru e João Soares de Figueiredo.
  
''Fiscais Distritais:'' João Pinto de Lima, acumulando as funções de Alinhador.
+
Fiscais Distritais: João Pinto de Lima, acumulando as fun¬ções de Alinhador.
  
''Oficiais-de-Justiça'': Joaquim Antônio de Souza, João Evangelista da Silva e João Aureliano de Lima.
+
Oficiais-de-Justiça: Joaquim Antônio de Souza, João Evan-gelista da Silva e João Aureliano de Lima.
  
''Diretores de Obras da Igreja:'' Francisco Cândido de Brito Lambert, José Quintino da Fonseca e Joaquim Quintino da Fonseca.
+
Diretores de Obras da Igreja: Francisco Cândido de Brito Lamber t, José Quintino da Fonseca e Joaquim Quin¬tino da Fonseca.
  
''Sacristão:'' Rogério do Nascimento Gama.
+
Sacristão: Rogério do Nascimento Gama.
  
''Zeladores da Igreja:'' Cândida Maria de Moraes e Eulalia Rosa dos Santos.
+
Zeladores da Igreja: Cândida Maria de Moraes e Eulalia Rosa dos Santos.
  
''Corporações Musicais'': duas, a dos Quintinos, de que era diretor o Capitão José Quintino da Fonseca, e a dos Lamberts, tendo por diretor o Capitão Antônio José de Brito Lambert.
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Corporações Musicais: duas, a dos Quintinos, de que era diretor o Capitão José Quintino da Fonseca, c a dos Lamberts, tendo por diretor o  
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Capitão Antônio José de Brito Lambert.
  
''Mestres de Música:'' Justiniano Quintino da Fonseca e Manuel José Teixeira.
+
Mestres de Música: Justiniano Quintino da Fonseca c Manuel José Teixeira.
  
''Suplentes de Delegado:'' Aiíeres José Vicente da Silva Leite, Tenente Antônio Marques de Figueiredo e Antônio Cândido Duarte Júnior.
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Suplentes de Delegado: Aiíeres José Vicente da Silva Leite, Tenente Antônio Marques de Figueiredo e Antônio Cândido Duarte Júnior.
  
''Colégio Eleitoral:'' Cambuí pertencia ao distrito sediado em Campanha e integrava o colégio eleitoral da Província, com sede em  
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Colégio Eleitoral: Cambuí pertencia ao 5." distrito sediado cm Campanha e integrava o 7." colégio eleitoral da Província, com sede em  
Jaguari. Eram eleitores no colégio eleitoral: José Quintino da Fonseca Sobrinho, Antônio Cândido Duarte Júnior, Francisco Silvério  
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Jaguari. Kram eleitores no colégio eleitoral: José Quintino da Fonseca Sobrinho, Antônio Cândido Duarte Júnior, Francisco Silvério  
Pereira, José Manoel da Silva, Domiciano Quintino da Fonseca, Carlos Henriques de Oliveira, Alexandre José de Moraes e Terluliano  
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Pereii^a, José Manoel da Silva, Domiciano Quintino da Fonseca, Carlos Henriques de Oliveira, Alexandre José de Moraes e Terluliano  
 
Quintino da Fonseca.
 
Quintino da Fonseca.
  
=== Comércio e indústria ===
+
3  __  COMÉRCIO  E  INDÚSTRIA
  
''Negociantes de Fazendas'' (17) :
+
Negociantes de Fazendas (17) :
  
Alexandre José de Moraes, Bernardino Furtado do Nascimento, Antônio Cândido Duarte Júnior, Bernardino Gomes Moreira, Fernando Carlos  
+
Alexandre José de Moraes, Bernardino Furtado do Nascimento, Antônio Cândido Duarte Júnior, Bernar¬dino Gomes Moreira, Fernando Carlos  
Pereira Guimarães, Inocêncio Gonçalves Barbosa, João Corrêa da Silva, João Lopes Pacífico, José Teodoro Pereira, José Antônio Eiras,  
+
Pereira Gui-marães, Inocêncio Gonçalves Barbosa, João Corrêa da Silva, João Lopes Pacífico, José Teodoro Pereira, José Antônio Eiras,  
José Lopes Pacífico, José Nunes Rodrigues, Justiniano Quintino da Fonseca, Justino Alves de Toledo, Manuel José Teixeira de Carvalho, Tertuliano Quintino da Fonseca e Zeferino José de Brito Lambert.
+
José Lopes Pacífico, José Nunes Rodri-
  
''Negociantes de Molhados e Gêneros da Terra'' (22) :
+
  
Adão Antônio, Antônio José de Brito Lambert, Bernardino Gomes Moreira, Bernardino Furtado do Nasci-mento, Clara Francisca de Andrade,  
+
gues, Justiniano Quintino da Fonseca, Justino Alves de Toledo, Manuel José Teixeira de Carvalho, Tertu-liano Quintino da Fonseca e
Francisco de Paula Souza, Francisco José de Azevedo, Hermenegilda Lima de Jesus, João Ursolino de Almeida, João Lopes Pacífico, João  
+
Zeferino José de Brito Lambert.
Lemos da Silva, José Belisário da Fonseca, José Lopes Pacífico, José Antônio Eiras, José Teodoro Pereira, José Rosa dos Santos, Justino  
+
 
Alves de Toledo, Joana Maria de Jesus, Maria das Dores do Nascimento, Manuel Gomide e Pedro Rodrigues da Silva.
+
Negociantes de Molhados e Gêneros da Terra (22) :
''
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Engenhos de Cana'' (4) :
+
Adão Antônio, Antônio José de Brito Lambert, Ber-nardino Gomes Moreira, Bernardino Furtado do Nasci-mento, Clara Franeisca de Andrade,  
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Francisco de Paula Souza, Francisco José de Azevedo, Hermenegilda Lima de Jesus, João Ursolino de Almeida, João Lopes Pa-cífico, João  
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Lemos da Silva, José Belisario da Fonseca, José Lopes Pacífico, José Antônio Eiras, José Teodoro Pereira, José Rosa dos Santos, Justino  
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Alves de Toledo, Joana Maria de Jesus, Maria das Dores do Nasci-mento, Manuel Gomide e Pedro Rodrigues da Silva.
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Engenhos de Cana (4) :
  
Antônio Rodrigues Gonçalves, Antônio José de Brito Lambert, Joaquim Bueno de Moraes e Joaquim Quintino da Fonseca.
+
Antônio Rodrigues Gonçalves, Antônio José de Brito Lambert, Joaquim Bueno de Moraes e Joaquim Quin¬tino da Fonseca.
  
''Depósito de Sal, Açúcar, Café etc.'' (1) :
+
Depósito de Sal, Açúcar, Café etc.  (1) :
  
 
Francisco Cândido de Brito Lambert.
 
Francisco Cândido de Brito Lambert.
  
''Fazendeiros'' (29) :
+
Fazendeiros  (29) :
  
 
Ana Margarida Ferreira, Antônio Ferreira de Carvalho, Antônio de Oliveira e Silva, Antônio Xavier de Resende, Bento Luiz Ferreira de  
 
Ana Margarida Ferreira, Antônio Ferreira de Carvalho, Antônio de Oliveira e Silva, Antônio Xavier de Resende, Bento Luiz Ferreira de  
 
Brito, Cândido Gabriel de Brito Lambert, Carlos Marques cie Oliveira, Cirino Marques de Oliveira, Francisco Cândido de Brito Lambert,  
 
Brito, Cândido Gabriel de Brito Lambert, Carlos Marques cie Oliveira, Cirino Marques de Oliveira, Francisco Cândido de Brito Lambert,  
 
Fran¬cisco Marques de Oliveira, Francisco Pereira dos Reis, Francisco Silvério Pereira, Francisco Teodoro Lopes, Inácio Ferreira da Rosa,  
 
Fran¬cisco Marques de Oliveira, Francisco Pereira dos Reis, Francisco Silvério Pereira, Francisco Teodoro Lopes, Inácio Ferreira da Rosa,  
Joaquim Francisco Lopes, Joaquim José cia Silva, Joaquim Mariano Froes, Joaquim Quintino da Fonseca, Joaquim Vicente Pereira, José César  
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Joaquim Francisco Lopes, Joaquim José cia Silva, Joaquim Mariano Froes, Joa-quim Quintino da Fonseca, Joaquim Vicente Pereira, José César  
 
de Oliveira, José Cabral da Fonseca, José Rodrigues Froes, José Vicente da Silva Leite, José Rodrigues de Resende, José Rodrigues  
 
de Oliveira, José Cabral da Fonseca, José Rodrigues Froes, José Vicente da Silva Leite, José Rodrigues de Resende, José Rodrigues  
Gonçalves, Manuel Rueno de Moraes, Manuel Pereira da Fonseca, Mariano José Pereira e Rangel Antônio Padilha.
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Gonçalves, Ma-nuel Rueno de Moraes, Manuel Pereira da Fonseca, Mariano José Pereira e Rangel Antônio Padilha.
  
''Conclusões:'' A lista é longa e fastidiosa, mas oferece margem a comentários que explicam e definem a evolução da freguesia e retratam as diferenças econômicas de lá para cá. A análise é elucidativa.
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Conclusões: A lista é longa e fastidiosa, mas oferece margem a comentários que explicam e definem a evolução da freguesia e retratam as  
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diferenças econômicas de lá para cá. A análise é elucidativa.
  
São 17 comerciantes de fazendas e 22 negociantes de molhados em 1874. É bem possível que em 1972 — quase um século depois — a cidade  
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São 17 comerciantes de fazendas c 22 negociantes de molhados em 1874. K bem possível que cm 1972 — quase um século depois — a cidade  
supere em pouco esse contingente de comerciantes urbanos. Mas se explica: o intercâmbio comercial, social e econômico entre Cambuí e os  
+
supere em pouco esse contin¬gente de comerciantes urbanos. Mas se explica: o intercâm¬bio comercial, social c econômico entre Cambai c os  
grandes centros era quase nulo, dadas as dificuldades de transportes e de meios de comunicações. Por isso mesmo, cada comerciante seria  
+
gran¬des centros era quase nulo, dadas as dificuldades de trans¬portes e de meios de comunicações. Por isso mesmo, cada comerciante seria  
 
forçado a uma estocagem vultosa para atender a demanda e, em conseqüência, como o capital a ser invertido devia de ser, por igual,  
 
forçado a uma estocagem vultosa para atender a demanda e, em conseqüência, como o capital a ser invertido devia de ser, por igual,  
 
vultoso — segue-se que se estratificavam estocagem e capital, distribuindo-se então uma coisa e outra por várias firmas locais.
 
vultoso — segue-se que se estratificavam estocagem e capital, distribuindo-se então uma coisa e outra por várias firmas locais.
  
É claro que, posteriormente, transporte fácil e constante para as metrópoles comerciais do país, a estocagem é renovada dia-a-dia,  
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É claro que, posteriormente, transporte fácil e cons¬tante para as metrópoles comerciais do país, a estocagem é renovada dia-a-dia,  
exigindo-se relativamente pequeno capital em giro. À margem dessa situação, comente-se que o comprador, em face da facilidade de  
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exigindo-se relativamente pequeno ca¬pital em giro. À margem dessa situação, comente-se que o comprador, cm face da facilidade de  
transporte, adquire — ''manu-sua'' — o que precisa diretamente nos mercados da metrópole, tornando despiciendos os depósitos internos da  
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transporte, adquire — manu-siia — o. que precisa diretamente nos mercados da metrópole, tornando despiciendos os depósitos internos da  
 
cidade.
 
cidade.
  
No que tange à distribuição territorial a situação é bem diferente. São, em toda a área, apenas 29 fazendeiros, o que explica a  
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No que tange LI distribuição territorial a situação é bem diferente. São, em toda a área, apenas 29 fazendeiros, o que explica a  
predominância de latifundiários em caráter intocável.  
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predominância de latifundiários em caráter intocável.
  
Atualmente, depois de amputado pela emancipação de Córrego do Bom Jesus e Bom Repouso, conta todo o município 3.650 minifúndios (IBRA),
+
em processo de deterioração, porque, produzindo ''quantum satis'' para as exigências caseiras, dia-a-dia mais se subdividem através de
+
inventários e partilhas. Recentemente, no entanto, determinaram autoridades fazendárias a estagnação dos atuais minifúndios, impedindo
+
novas retalhações da gleba, quer por alienação quer por partilha.
+
  
=== Guarda Nacional ===
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Atualmente, depois de amputado pela emancipação de Córrego-do-Rom-Jesus e Rom Repouso, conta todo o município 3.650 minifúndios (IRRA),
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cm processo de deteriorização, porque, produzindo qnantiim satis para as exigências caseiras, dia-a-dia mais se subdividem através de
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inventários e par¬tilhas. Recentemente, no entanto, determinaram autoridades fazendárias a estagnação dos atuais minifúndios, impedindo
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novas retalhações da gleba, quer por alienação quer por par¬tilha .
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4 — GUARDA NACIONAL
  
 
A criação da Guarda Nacional, em 18 de setembro de 1831, teve por fins a consolidação do regime e a defesa das instituições Jurídicas e  
 
A criação da Guarda Nacional, em 18 de setembro de 1831, teve por fins a consolidação do regime e a defesa das instituições Jurídicas e  
 
sociais do país. Eram distribuídas patentes de categoria variada a elementos de marcada ex-pressão política na comuna ou a cidadão de  
 
sociais do país. Eram distribuídas patentes de categoria variada a elementos de marcada ex-pressão política na comuna ou a cidadão de  
predicados morais altamente expressivos, dando-se-lhes posto de gabarito no quadro militar honorífico. Subordinavam-se ao Ministério da  
+
predicados morais altamente expressivos, dando-se-lhes posto de gaba¬rito no quadro militar honorífico. Subordinavam-se ao Minis¬tério da  
 
Justiça e suas nomeações se processavam diretamente pelo governo imperial ou pelos presidentes das províncias ou, ainda, por eleição  
 
Justiça e suas nomeações se processavam diretamente pelo governo imperial ou pelos presidentes das províncias ou, ainda, por eleição  
presididas por juízes-de-paz. Integravam-na homens livres de 21 a 60 anos, "agrupados em pequenas unidades de infantaria, cavalaria e  
+
presididas por juízes-de-paz. Inte¬gravam-na homens livres de 21 a 60 anos, "agrupados em pequenas unidades de infantaria, cavalaria e  
 
artilharia."
 
artilharia."
  
Transcreve-se a comemoração de 7 de setembro de 1869, publicação feita no jornal '''Gazeta de Cambuí''', de de julho de 1934:
+
Transcreve-se a comemoração de 7 de setembro de 1869, publicação feita no Jornal "Gazeta de Cambuí" de 1." de julho de 1934:
  
"Cambuí, a pequena mas rica freguesia pertencente a Camanducaia, ia comemorar a data da Independência do Brasil.
+
"Cambuí, a pequena mas rica freguesia per-tencente a Camanducáia, ia comemorar a data da Independência do Brasil.
O largo da Matriz, tapizado de grama verde, estava atulhado de gente. Foguetes subiam e espoucavam no ar, deixando
+
no céu azul o rastro branco de fumaça. Garotos vadios, de chapéus de palha na mão, corriam desabalados à cata das varas dos rojões.
+
À frente da Igreja, imponente, requintada-mente elegante, ia formar o 84." Batalhão da Guarda Nacional, sob o comando do
+
Tenente-Coronel Francisco Cândido de Brito Lambert. Ao lado do co¬mandante já se adiava o Estado-Maior, que tinha como
+
Quartel-Mestre, Antônio José de Souza Dantas; Cirurgião, João Bernardes de Souza Vasconcelos; Secretário, Manuel Xavier Simões
+
Angra; e porta-bandeira, Inácio José Ramalho.
+
Formava também aí a Primeira Companhia, que tinha como Capitão, Antônio José de Brito Lambert; como Tenente, Antônio José Guimarães
+
Júnior, e como Alferes, Urias Bueno de Moraes.
+
Moços garbosos (e eu me lembro bem do Corunau) compunham o resto da Companhia.
+
Ao lado, no largo do Rosário (altos da Avenida Tiradentes), formava a Segunda Companhia; Capitão José Rodrigues Fróes;
+
Tenente, Bento  Luiz Ferreira de Brito; e Alferes, Manuel Bino de Moraes.
+
E mais abaixo, na Rua Direita (Rua  João  Moreira  Salles.), impunha respeito a Terceira Companhia; Capitão, Joaquim Bino
+
de Moraes; Tenente, Francisco Antônio Vieira, e alferes, Francisco Silveira Pereira Simões.
+
Ao toque do clarim, a Segunda Companhia desce do Largo do Rosário, marchando cheia de garbo e entusiasmo, e a Terceira
+
Companhia sobe à Rua Direita. Quase ao mesmo tempo, as duas Companhias desembocam no largo da Matriz onde o Estado-Maior
+
e a Primeira Companhia esperavam aprumados e em forma.
+
Ali estavam também as demais pessoas gradas do lugar: os Juízes-de-Paz, Alferes Joaquim Quintino da Fonseca, que
+
também desempenhava o cargo de Sub-Delegado; Zeferino José de Brito Lambert, José Quintino da Fonseca e José Vicente
+
da Silva Leite. O escrivão Francisco Xavier de Salles tomava nota para as comunicações de praxe.
+
Defrontam-se os três grupos, prestando as continências do estilo. Foguetes em profusão. Repicar de sinos. Trombetear
+
agudo e vozes de comando.
+
— Viva Sua Majestade Imperial, Senhor Dom Pedro II!''
+
O Vigário, Padre José da Silva Figueiredo Caramuru, mal grado já tivesse no coração a chama republicana, tece
+
loas á monarquia imperante.
+
Terminado o discurso, o valente 84º Batalhão da Guarda Nacional desfila pelas ruas da freguesia, vivando a família
+
imperial e o chefe conservador, Coronel Francisco Cândido de Brito Lambert.
+
<nowiki>* * *</nowiki>
+
Lendo agora o Almanak Administrativo, Civil e Industrial da Província de Minas Gerais para 1869, sinto que vejo esse
+
passado tão remoto e feliz, em que o nosso povo se deliciava com a farda rebrilhante dos oficiais da Velha Guarda,
+
ouvindo, embevecido,  o som rouco do serpentão medieval do "Cirurgião" João Bernardes..."
+
  
<nowiki>* * *</nowiki>''
+
O largo da Matriz, tapizado de grama verde, estava atulhado de gente. Foguetes subiam e espoucavam no ar, deixando no céu azul o rastro
 +
branco de fumaça. Garotos vadios, de chapéus de palha na mão, corriam desabalados à cata das varas dos rojões.
  
Criada a Guarda Nacional de Cambuí, logo após sua elevação a freguesia, nas datas de 12 de março de 1851 e 2 de junho desse mesmo ano,  
+
À frente da Igreja, imponente, requintada-mente elegante, ia formar o 84." Batalhão da Guarda Nacional, sob o comando do Tenente-Coronel
foi nomeado o seu Conselho Qualificador constituído do Major Francisco Marques de Oliveira, Capitão José Quintino da Fonseca, Capitão
+
Fran¬cisco Cândido de Brito Lambert. Ao lado do co¬mandante já se adiava o Estado-Maior, que tinha como Quartel-Mestre, Antônio Tose de  
Antônio Cândido Duarte, Tenente Zeferino José de Brito Lamber t e Alferes José Rodrigues Fróes. Sua primeira reunião se deu dia 30 de julho de 1851.
+
Souza Dan¬tas; Cirurgião, João Bernardes de Souza Vascon¬celos; Secretário, Manuel Xavier Simões Angra; e porta-bandeira, Inácio José
 +
Ramalho.
  
A garbosa milícia depereceu por si mesma, sem que se lhe desse morte e sepultura. Foi, a pouco c pouco, per¬dendo brilho e vigor, quase
+
Formava também aí a Primeira Companhia, que tinha como Capitão, Antônio José de Brito Lambert; como Tenente, Antônio José Guimarães
no ostracismo, mas seus postos graduados continuam ainda figurando à testa dos prenomes importantes, servindo-lhes de epíteto lisonjeiro
+
Júnior, e como Alferes, Uri as Bueno de Moraes.
nas indicações sociais ou festivas... Se o indivíduo não é "doutor" é, por certo, "capitão" ou "coronel"...
+
  
Enfim, extinguia-se o paroquiato cambuiense na esperança de perspectivas cheias de entusiasmo no ''self-government'' daí por diante.
+
Moços garbosos (e eu me lembro bem do Corunau) compunham o resto da Companhia.
  
É que, por esse tempo, transitava na Assembléia Le-gislativa da Província projeto de lei elevando a freguesia de Cambuí à categoria de  
+
Ao lado, no largo do Rosário (l), formava a Segunda Companhia; Capitão José Rodrigues Fróes; Tenente, Bento Luiz Ferreira de Brito; c
Município.
+
alfcrcs, Manuel Bino de Moraes.
  
== Capítulo III - Como se governa uma cidade ==
+
E mais abaixo, na Rua Direita (2), impunha respeito a Terceira Companhia; Capitão, Joaquim Bino de Moraes; Tenente, Francisco Antônio
 +
Vieira, e alferes, Francisco Silveira Pereira Simões.
  
=== Criação do município ===
+
Ao toque do clarim, a Segunda Companhia desce do Largo do Rosário, marchando cheia de garbo e entusiasmo, e a Terceira Companhia sobe à
 +
Rua Direita. Quase ao mesmo tempo, as duas Companhias desembocam no largo da Matriz onde o Estado-Maior e a Primeira Companhia esperavam
 +
aprumados e em forma.
  
Encerrado o ciclo das atividades meramente paroquiais, inicia-se em seguida o roteiro das liberdades administrativas municipais, em consequência da Lei Provincial nº 3.712, de 27 de julho de 1889, assim sancionada:
+
Ali estavam também as demais pessoas gradas do lugar: os Juízes-de-Paz, Alferes Joaquim Quin-
  
O Dr. Barão de Ibituruma, Presidente da Província de Minas Geraes:
+
(1)    Altos  da   Avenida  Tiradentes. <2)    Bua João Moreira Salles.
Faço saber a todos os seus habitantes que a Assembléia Legislativa Provincial decretou,
+
e eu sancciono a lei seguinte:
+
Art. 1º - Ficam creados os seguintes municípios de Abre Campo, Cambuhy e Palmira.
+
  Art. 2º - Compor-se-hão os novos municípios das seguintes parochias:
+
  § 2º - O de Cambuhy: de Nossa Senhora do Carmo de Cambuhy, como sede e elevado a categoria de vila,
+
de São Sebastião e São Roque de Rom Retiro e da Capella do Senhor Rom Jesus do Córrego,
+
que fica elevada à categoria de Freguezia.
+
Art. 3º - O novo município de Cambuhy terá todos officos de justiça creados por lei geral.
+
  
Proclamava-se através desse diploma legal o ''self-govemment'' de Cambuí, às vésperas de outro acontecimento de sabor drástico na vida intestina do País, qual foi, na realidade, a implantação do regime republicano entre nós. Quatro meses depois transformavam-se por inteiro os quadros institucionais da nação e novo sistema político dava sentido e fisionomia diferentes às organizações administrativas.
+
  
Passado o impacto emocional ocasionado pelo novo regime, foi, pelo governo estadual, nomeado o Conselho de Intendência, órgão temporário destinado a legislar e administrar no interregno aberto entre a extinção da freguesia e o nascimento do município. A ata da sessão inaugural descreve a cerimônia então realizada:
+
tino da Fonseca, que também desempenhava o cargo de Sub-Delegado; Zeferino José de Brito Lambert, José Quintino da Fonseca e José Vicente
 +
da Silva Leite. O escrivão Francisco Xavier de Salles tomava nota para as comunicações de praxe.
  
"Aos 19 dias do mês de janeiro de 1890, às 3 horas da tarde, nesta vila de Nossa Senhora do Carmo de Cambuhy, termo do mesmo nome, comarca de Paraíso, Estado de Minas Geraes, na sala das sessões da Câmara Municipal, reuniram-se em sessão solene os cidadãos Intendentes — Antônio Ferreira de Oliveira, João Correia da Silva e Capitão Zeferino José de Brito Lambert, e, por motivo de ordem dos trabalhos, trataram imediatamente de eleger o seu presidente, recaindo a maioria dos votos no cidadão acima nomeado em último lugar, o qual assumiu a presidência e convidou para servir de secretário interino o abaixo assinado. Passou a ler o oficio do Exmo. Sr. Governador do Estado, o cidadão Dr. José Cesário Faria Alvim, datado de 10 do corrente, e declarou em presença de numeroso concurso de cidadãos que compareceram para assistir ao ato, que, em virtude de ordem expressa no mesmo oficio, a Intendência assumia o cargo que tão honrosamente lhe foi confiado por aquele Governador, e em ato continuo declarou empossada a Vila de Cambuí e instalado o respectivo termo que fora criado pela lei da extinta assembleia provincial nº 3.712, de 27 de julho do ano passado. Assim mais declaravam os intendentes, que prometiam sob sua palavra de honra, desempenhar bem e fielmente o seu cargo, tendo como objetivo o desenvolvimento e prosperidade morai e material do novo município, de acordo com as leis vigentes e com os interesses gerais da Nação Federal, guiando-se pelos moldes da nova e prometedora política atual. Pediu a palavra o cidadão Dr. José Moreira Brandão Castelo Branco Filho, juiz municipal de Jaguari, e manifestou em eloquentes palavras a satisfação que sentia por assistir a um ato que considerava de máxima importância para os habitantes do município que acaba de ser instalado ao qual desejava e augurava um brilhante futuro, louvando ao mesmo tempo ao Exmo. Governador do Estado pelo acerto na escolha dos intendentes. Em seguida, orou o Revmo. Vigário Caramuru externando o imenso júbilo de que se achava possuído por tão auspicioso fato, terminando por vivas ao mesmo Governador bem como ao Governador Geral dos Estados Federados. Pelo Presidente, foi ordenado ao Secretário que lavrasse uma ata do ocorrido na presente sessão e que da mesma fossem remeti¬das cópias aos cidadãos Governador do Estado, Dr. Juiz de Direito da Comarca, Dr. Juiz Municipal e Presidente da Câmara de Jaguari. Convidou a I
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Defrontam-se os três grupos, prestando as con¬tinências do estilo. Foguetes em profusão. Repicar de sinos. Trombetear agudo e vozes cie
intendência para reunir-se em sessão extraordinária no dia 23 do corrente. E encerrou os trabalhos declarando que com a intendência podiam assinar esta ata os cidadãos presentes que o desejassem. E para constar, lavro a presente, Eu, Antônio Evaristo de Brito, secretário interino a escrevi. (aa) O Presidente da Intendência Zeferino José de Brito Lambert. Os Intendentes Antônio Ferreira de Carvalho e João Corrêa da Silva. José Moreira Brandão Castelo Branco Filho, Juiz Municipal; Antônio de Almeida Gonçalves Prata, escrivão de órfãos; José Quintino da Fonseca, Antônio José de Brito Lambert, Justiniano Quintino da Fonseca, padre José da Silva Figueiredo Caramuru, Carlos Zacarias de Almeida, Fidelis Corrêa Marzagão, João Batista Ribeiro e Silva, João Ferreira da Silva, Maximiano José de Brito Lambert, José Quintino da Fonseca Sobrinho, Higino de Oliveira César, Aureliano Quintino da Fonseca, Paulino Frederico, Silvestre Pereira da Fonseca, Faustino José de Assis, Procópio Brandão, Justiniano Alves Pereira, Ricardo José Pereira, Adriano Colli, Inocêncio Quilici, Américo Corrêa Marzagão e Antônio Luiz de Brito Lambert."
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comando.
  
Logo nos primeiros dias de sua atividade, em sessão de 7 de abril de 1890, fundas modificações se processam na estrutura da Intendência: João Correia da Silva e Sebastião Marques de Oliveira são substituídos por Padre José da Silva Figueiredo Caramuru e Alferes Joaquim Quintino da Fonseca, exonerando-se o Capitão Zeferino José de Brito Lambert, que cede a curul presidencial ao Padre Caramuru, cabendo a Antônio Ferreira de Carvalho a Vice-Presidência. Em seguida, o novo órgão passa a organizar o quadro administrativo da comuna: Avelino Cândido de Brito é nomeado procurador; Quirino Antônio Padilha e João José Pereira, fiscais; Ananias Pereira Tomaz, alinhador; Joaquim Antônio Costa e Souza, porteiro; Procópio Brandão, amanuense.
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— Viva Sua Magestadc Imperial, Senhor Dom Pedro II!
  
Com a exoneração, a pedido, de Avelino Cândido de Brito, é indicado Procurador Joaquim Xavier de Salles.
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O Vigário, Padre José da Silva Figueiredo Caramnru, mal grado já tivesse no coração a chama republicana, tece loas á monarquia im-perante
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.
  
Continuando, o Conselho passa a legislar:
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Terminado o discurso, o valente 84.'-' Batalhão da Guarda Nacional desfila pelas ruas da fregue¬sia, vivando a família imperial e o chefe
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conser-vador, Coronel Francisco Cândido de Brito Lam¬bert.
  
* determina que os cães sejam açaimados pagando 2$OOO de imposto e que os desprovidos de açaimo paguem multa de 10$000;
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* os proprietários de casas são obrigados a limpar e caiar as respectivas fachadas sob pena de multa de 10$000;
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* cada  cabrito  ou  carneiro  vagando  pelas ruas 2$000;
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* para mascatear fazendas ou objetos de ouro ou prata imposto anual de 30$000, e não sendo do município 100$000;
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* para  a  exibição  de  realejos  e  outros  instrumentos 2$000;
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* exibição de macacos ou outros animais 2$000.
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Registrem-se essas deliberações, não pelo seu conteúdo estranho e pitoresco, mas como expressão de uma época e de contraste entre a mentalidade de 1892 e 1972. Faça-se um paralelo da maneira como se portava o meio social de há oitenta anos passados, daí se extraindo a fisionomia, os usos c costumes de um burgo que nascia cheio de promessas e aspirações progressistas.
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Lendo agora o Almanak Administrativo, Civil e Industrial da Província de Minas Gerais para 1869, sinto que vejo esse passado tão remoto e  
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feliz, em que o nosso povo se deliciava com a farda rebrilhante dos oficiais da Velha Guarda, ouvindo, embevecido, o som rouco do
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serpentão medieval do "Cirurgião" João Bernardes..."
  
Na realidade, várias deliberações de alta significação para o novo município são tomadas pelo Conselho de In¬tendência, que, de 19 de janeiro de 1890 a 5 de março de 1892, período de sua vigência, marca os primeiros passos da jovem comuna no sentido do desenvolvimento e da ordem.
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Criada a Guarda Nacional de Cambuí, logo após sua elevação a freguesia, nas datas de 12 de março de 1851 e 2 de junho desse mesmo ano,  
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foi nomeado o seu Conselho Qualificador constituído do Major Francisco Marques de Oliveira, Capitão José Quintino da Fonseca, Capitão
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Antônio
  
Em 5 de março de 1892 instala-se a primeira Câmara Municipal assim constituída:
 
  
Presidente - Antônio José de Brito Lambert,
 
Secretário - Antônio de Melo Afonso,
 
Vereadores -João Lopes Pacífico, Justiniano Quintino da Fonseca, José Luiz Tavares da Silveira e Joaquim Firmino Lopes.
 
  
O Vereador, eleito Presidente, Antônio José de Brito Lambert, não toma posse no momento, mas posteriormente, por estar investido das funções de Juiz Municipal, nomeado pelo Governador do Estado, entrando em exercício, em caráter interino, o suplente Adriano Colli.
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Cândido Duarte, Tenente Zeferino José de Brito Lamber t e Alferes José Rodrigues Fróes. Sua primeira reunião se deu dia 30 de julho de
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1851.
  
A situação da Câmara, a partir de então, é eficiente e fecunda. É que tinha a orientá-la uma equipe de cidadãos dotados de excepcionais requisitos e em condições de pô-la em alta posição entre sutis congêneres da região. Antônio Evaristo de Brito, escolhido Secretário da edilidade, e José Alexandre de Moraes, posteriormente vereador, tiveram a formação cultural em São Gonçalo do Sapucaí, no Liceu em
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A garbosa milícia depereceu por si mesma, sem que se lhe desse morte e sepultura. Foi, a pouco c pouco, per¬dendo brilho e vigor, quase
que, Lúcio de Mendonça, Raimundo Correia e, por vezes, Silvio de Almeida, aqueles eleitos para a Academia Brasileira de Letras e este figura destacada nos meios intelectuais de S. Paulo, exerciam proficiente-magistério. Antônio Evaristo de Brito, inteligência brilhante, forrada de também brilhante cultura, levado por violento traumatismo moral, morreu cedo, como cedo morrera seu pai, Bento Luiz Ferreira de Brito, prestigioso vereador por Cambuí à Câmara Municipal de Jaguari. Mas José Alexandre de Moraes, revestido de excessiva, de exagerada, de profunda modéstia, emprestou seu talento à edilidade e ao executivo. Poeta, jornalista, humorista de alto coturno, dava colorido à linguagem escrita de maneira a fazê-la escorreita e elegante. Ao lado dessas duas figuras expressivas e cultas alinhava-se o Padre Caramuru, grande orador sacro e "causer" de aprimoradas qualidades. Encimando a brilhante tríade de homens de inteligência, sobres¬saiam os irmãos Brito Lambert queridos por seus predicados de espirito e de coração. Acrescente-se a nomeação de Antônio Lambert para Secretário interino. Era então estudante de d i rei Io em São Paulo e, depois de formado, Promotor-de-Justiça em várias cidades paulistas, aposentando-se 110 final da carreira como Juiz de Direito de uma das varas eiveis da Capital.
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no ostracismo, mas seus postos graduados continuam ainda figurando à testa dos prenomes importantes, servindo-lhes de epíteto lisonjeiro
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nas indicações sociais ou festivas... Se o indivíduo não é "doutor" é, por certo, "capitão" ou "coronel". . .
  
Essa equipe, valorosa sob todos os aspectos, deu impulso correto e digno à Câmara que nascia e, imprimia, sem dúvida alguma, um sentido elevado à administração municipal.
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Enfim, extinguia-se o paroquiato cambuiense na espe-rança de perspectivas cheias de entusiasmo no self-go-uernment daí por diante.
  
A Câmara assim eleita e empossada entrou de agir. A transformação radical porque passara a ordem social e política do País imprimira também ao novel corpo legislativo uma concepção arejada e uma disposição reformista verdadeiramente notável e surpreendente.
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É que, por esse tempo, transitava na Assembléia Le-gislativa da Província projeto de lei elevando a freguesia de Cambuí à categoria de
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Município.
  
Foram então baixadas leis destinadas à disciplinação das medidas necessárias à organização institucional do município, bem como a fixação de normas capazes de porem em atividade a máquina administrativa. O Código tributário foi logo sancionado. Por igual, foi posto em execução o Código de Posturas. Estabeleceu-se o regime distrital, ''celula mater'' da estrutura municipal. E, promovendo o embelezamento e as melhorias das vias urbanas, deu-se publicidade à Lei nº 21, de 19 de abril de 1894, que assim dispõe:
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=== Representação paroquial ===
  
Art. l — Fica o Presidente do Município autorizado a mandar levantar a planta do nivelamento das ruas e travessas da Cidade,
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=== Comércio Indústria ===
a qual  será fundada nos seguintes princípios:
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§ 1º -- Acompanhar o nivelamento do terreno despresando o nível natural de modo que este nivelamento quer suba ou desça
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acompanhe sempre a linha da superfície do terreno principiando em um ponto que pela Câmara for determinado.
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§ 2º Serão tomadas distâncias de 50 em 50 metros e ahi collocado o marco de madeira de lei como ponto que indique
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onde passou o rumo do nivelamento tomado do ponto de partida.
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§ 3º - Começar o nivelamento de baixo para cima e em cada marco ser mencionada a quantidade dos centímetros que
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sobem do nível natural.
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§ 4º - Nos lugares onde houverem covas ou elevações ser mencionado na planta a quantidade de terra a importar
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ou transferir pela altura ou fundura em centímetros.
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Seguem-se nesse diploma legal outras considerações que importam na recomendação a ser observada nas ruas novas ou a serem abertas, e no critério de autorização para novas construções.
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=== Guarda Nacional ===
  
Ora, essas recomendações, lançadas em leis há quase um século, estampam a visão administrativa e técnica dos edis e dos dirigentes locais.
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== Capítulo III - Como se governa uma cidade ==
 
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É certo que a cidade progrediu lentamente. Imobilizou-a a carência de ligações rodoviárias com os centros consumidores e fornecedores. São Paulo era o polo magnético do comércio local. E a cidade dele se afastava em consequência de suas péssimas estradas de rodagem.
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A pouco e pouco, no entanto, o progresso foi abrindo caminho em sua direção. Casas comerciais varejistas e atacadistas, empórios, centros de abastecimento de várias espécie, bancos, fábricas, artesanato de apurado gosto, farmácias, drogarias, pequenas indústrias, casas de saúde, laboratórios, colégios, oficinas diversas, hospitais - tudo isso, a passos lentos, é verdade, foi-se instalando e produzindo, de modo que, na hora presente, a cidade se impõe entre suas co-irmãs da região, consolidando a fama de seu progresso e de suas dimensões de beleza e encantamento. A Praça Coronel Justiniano, à frente de uma Igreja deveras imponente, é dotada de jardim bem planejado, cheio de árvores, flores e perfume. Nada lhe falta, porque aos domingos a Banda de Música "Santa Terezinha", sob a regência de José Francisco do Nascimento ou de Ismael de Paiva, enche os ares, ali, com velhos dobrados e langorosas valsas, que são o enredo romântico de novelas amorosas, revivendo a lembrança de tempos idos-e-vividos...
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Por outro lado, as ruas da cidade, calçadas a paralelepípedos, molduradas por edifícios modernos, se espicham e se esparramam pelas várzeas e encostas circunvizinhas, formando, alargando o perímetro urbano, novos bairros e aglomerados, desafiando problemas complicados ao trânsito e ao urbanismo, e oferecendo ao visitante a imagem realista da coragem e do bom gosto do cambuiense: Bairro do Matadouro, Bairro do Zé Caixeiro, Bairro do Candoca, ruas alinhadas construídas por Sebastião Meyer e Olímpio Nogueira, enchem-se de casas novas e estilizadas. Logradouros novos, praças novas, ruas novas, conglomerados novos dizem bem do alto espírito inovador de um povo votado ao trabalho e à paz. E assim Cambuí cresce!
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=== Criação do município ===
 
=== Da administração municipal ===
 
=== Da administração municipal ===
 
Há quatro fases na história da administração municipal de Cambuí.
 
 
Na primeira, se expressa o Conselho de Intendência incumbido de servir de elo entre a freguesia que findava e o município que nascia. Durou pouco mais de dois anos.
 
 
Na segunda, que vai de 1892 a 1930, têm exercício os Presidentes da Câmara, que tinham a função ambígua de administrar a comuna e presidir o legislativo.
 
 
A terceira fase se abriu com a revolução de 1930, em que foi quebrada a autonomia municipal em consequência da supressão das garantias constitucionais e os dirigentes municipais nomeados pelo governo estadual. Criou-se o cargo de "Prefeito". Vai de 1930 a 1945, quando então se inicia a quarta fase, em que. os Prefeitos e Vereadores são eleitos.
 
 
Dentro dessa longa caminhada, encontram-se os seguintes chefes da administração municipal:
 
 
1892 — Antônio José de Brito Lambert, Presidente, Antônio de Mello Afonso, Secretário, João Lopes Pacífico, Joaquim Firmino
 
  Lopes, Justiniano Quintino da Fonseca e José Luiz Tavares da Silveira, Vereadores.
 
1894 — José Luiz Tavares da Silveira, Presidente, e Antônio Joaquim Vilhena  Granado,  Secretário.
 
1895 e 1896 - Padre José da Silva Figueiredo Caramuru, Presidente, e José Antônio Eiras, Secretário.
 
1897 — Major Antônio Marques  de  Figueiredo, Presidente, e José Luiz Tavares da Silveira, Secretário.
 
1898 — Padre José da Silva Figueiredo  Caramuru,  Presidente, e José Luiz Tavares da Silveira, Secretário.
 
1899 — Antônio Evaristo de  Brito, Presidente, Padre José da Silva Figueiredo Caramuru, Vice-Presidente e Antônio Alexandre
 
  de Moraes, Secretário.
 
1900 — Antônio Evaristo de Brito, Presidente, Padre Figueiredo Caramuru, Vice-Presidente e Antônio Alexandre de Moraes, Secretário.
 
1901 - Justiniano  Quintino  da  Fonseca,  Presidente,  Padre Figueiredo Caramuru, Vice-Presidente e Osório Guimarães, Secretário.
 
1902 a 1905 — Justiniano Quintino da Fonseca, Presidente, Padre Figueiredo Caramuru, Vice-Presidente e Antônio Alexandre
 
  de Moraes, Secretário.
 
1906 — Justiniano Quintino da Fonseca, Presidente, Adriano Colli, Vice-Presidente Antônio Alexandre de Moraes, Secretário.
 
1908 - Justiniano Quintino da Fonseca, Presidente, Silvério Bento da Silva, Vice-Presidente e Antônio Alexandre  de 
 
  Moraes, Secretário.
 
1909 - Justiniano Quintino da Fonseca, Presidente, Silvério Bento  da  Silva,  Vice-Presidente  e  Francisco Terra
 
  Vargas, Secretário.
 
1910 e 1911 - Silvério Bento da Silva, Vice-Presidente em exercício e Francisco Terra Vargas, Secretário.
 
1912 — Silvério Bento  da Silva, Presidente, Francisco José Pereira dos Reis, Vice-Presidente e Francisco Terra Vargas,  Secretário.
 
1913 — Silvério Bento da Silva, Presidente e Antônio Leopoldo Marques, Secretário.
 
1914 e 1915 — Silvério Bento da Silva, Presidente e Francisco Terra Vargas, Secretário.
 
1916 - 1917 - 1918 -- José Alexandre de Moraes, Presidente e Adolfo Ferreira da Silva, Secretário.
 
1919 — Herculano Afonso Duarte, Presidente e Antônio Leopoldo Marques, Vice-Presidente, e Sidney Amaral Meneses, Secretário.
 
1920 - Herculano  Afonso  Duarte,  Presidente,  David  Herculano Bueno,  Vice-Presidente  e  Sidney  Amaral
 
  Meneses, Secretário.
 
1921 a 1922 — David Herculano Bueno, Vice-Presidente em exercício e Sidney Amaral Menezes, Secretário.
 
1923 - 1924 - 1925 — Avelino Cândido de Brito, Presidente, José Corrêa da Conceição, Vice-Presidente e Adolfo Ferreira da
 
  Silva, Secretário.
 
1926 - Silvério Bento da Silva, Presidente, José Corrêa da Conceição, Vice-Presidente e Adolfo Ferreira da Silva, Secretário.
 
 
=== Prefeitos nomeados ===
 
 
1930 — David Herculano Bueno, substituído por Alfredo Eugênio de Carvalho.
 
1935 — José Barbosa de Oliveira Júnior.
 
1936 — Dr. Halley Lopes Bello, Prefeito, e Alfredo Eugênio de  Carvalho, Vice-Prefeito.
 
1937 — Dr. Halley Lopes Bello, Prefeito, e Alfredo Eugênio de  Carvalho, Vice-Prefeito.
 
1938 — João Batista Corrêa.
 
1940 — José Francisco do Nascimento.
 
1947 — João Batista Duarte (em comissão) .
 
1947 — Benedito Salles (em comissão) .
 
 
===Prefeitos eleitos ===
 
 
1947 — João Batista Lopes.
 
1949 — Alcino de Oliveira Salomon  (Vice-Prefeito em exercício) .
 
1950 — José Francisco do Nascimento.
 
1955 — Alcino  de  Oliveira  Salomon (até  1957).
 
1957 — Álvaro de Moraes Navarro, Vice-Prefeito  em  exercício .
 
1959 — Benedito Carvalho, Prefeito,  Mário  Ribeiro, Vice-Prefeito.
 
1963 — José Francisco do Nascimento, Prefeito, Benedito Delfino Machado, Vice-Prefeito.
 
1967 — Dr. Braz  Meyer, Prefeito,  José  Adolfo  da  Silva, Vice-Prefeito.
 
1971 — Luiz Evangelista Rangel Padilha, Prefeito, e  Dr. Bruno Capossoli, Vice-Prefeito.
 
 
 
=== Vereadores ===
 
=== Vereadores ===
 
A relação dos Vereadores, de 1892 a 1972 (oitenta anos) é excessiva, mas é justo que se lhes perpetue os nomes em livro destinado à história e à posteridade, como homenagem silenciosa aos bons serviços prestados à comunidade:
 
 
Alfredo de Brito, Francisco Paulino de Araújo, Antônio Lopes Sobrinho, Francisco Lopes dos Santos, Higino de Oliveira Cesar, Francisco Antônio de Brito Lambert, José Luiz Brandão, Antônio Luiz de Cantuária, João Garcia de Andrade, Vicente Marques da Silva, Modesto Bueno de Moraes, Elias Belisário dos Santos, João Pedro Gomes do Nascimento, Antônio Cândido Ferreira, José Marques da Silva, Afonso Finamor, José Lopes Pacífico, José Honório da Silva, José Silvério Pereira, Salustiano Marques Padilha, José Guilherme Eiras, Antônio Rodrigues Ferreira, José Vanulhi, Adriano Colli, Alfredo Fanuchi, Levindo Furquim Lambert, Virgílio da Silva Lopes, Luiz Garcia de Andrade, Milton Salomon Sales, Miguel Chiaradia, Antônio Raimundo do Nascimento, José Batista da Silva, Fausto da Silva Oliveira, João Rodrigues do Paraíso, José Luiz de Souza, Dr. Sebastião Meyer, João Toledo, Waldomiro Bueno, Adolfo Jonas da Silva, Francisco Júlio Pereira, Edgard Siqueira, Ângelo Bernardo Faccio, Antônio Luiz Gonçalves, Joaquim Augusto da Cunha, José Egídio Barbosa, Benedito Sales, José Bueno da Silva, Elias da Silva de Oliveira, João Gonçalves da Fonseca, Teruiaki Yamamoto, Dr. José Barbosa, Benedito Artur de Melo, Dr. Benedito de Carvalho Lopes, Jorge Antônio Dias, Simeão Manuel Dias, Lourenço Filho, João Rangel Fancuchi, Dr. Rui Ferrer de Oliveira, Waldemir de Oliveira, José Honorato Marques, Geraldo Pereira da Rosa, Waldemir Silvério Rodrigues, Dr. José Faustino da Cunha, Anardino Ribeiro da Costa, Abílio da Silva Oliveira, Ildeu Lessa de Moura, Dr. Bruno Capossoli, João Ferreira da Fonseca Resende, Dr. José Francisco Bueno, Raul Célio de Moraes, José Tertuliano de Brito, Francisco Pedroso de Oliveira, Antônio Marques de Oliveira, José Francisco Bueno, João Correia da Silva, João Evangelista Galvão, Eduardo Crispim Mariano, João Alfredo de Magalhães, Manuel Pedro da Rosa, Alfredo da Costa Magalhães, João Marques da Fonseca, João Batista de Moraes, Júlio Marques Moreira, Messias Cândido de Alvarenga, José Francisco de Faria, Antônio de Paiva Cardoso Júnior, João Antônio do Nascimento, Benedito José Andrade e Dr. Eunápio Hardman Castelo Branco.
 
 
 
=== Assembléia Municipal ===
 
=== Assembléia Municipal ===
 
Criada por lei com o objetivo salutar de interessar a comunidade local, por seus representantes qualificados, classes sociais, comerciantes e contribuintes, na orientação econômica e no exame dos atos administrativos municipais — a Assembleia Municipal reuniu-se anualmente de 1900 a 1908, sob a presidência da Mesa da Câmara.
 
 
Estabelecia a lei pesada multa, aos membros da Assembleia regularmente convocados que não comparecessem à sessão. E a presidência da mesa fazia cumprir rigorosa mente a determinação legal, consignando em ata a imposição das respectivas penalidades.
 
 
Discutiam-se os orçamentos e sua aplicação, e, no sentido econômico, apresentavam-se sugestões para o posterior exame da edilidade.
 
 
Era imperativa a presença dos vereadores.
 
 
Cessou  em  1908  a  atribuição  da  Assembleia  Municipal.
 
 
 
=== Ainda a Guarda Nacional ===
 
=== Ainda a Guarda Nacional ===
 
Registrou-se em capítulo anterior que a Guarda Nacional, criada para fins específicos, em época profunda¬mente conturbada por agitações políticas (1831), devia extinguir-se por si mesma logo também se extinguisse o regime que a instituiu. Proclamada a República, era razoável a sua perempção, dadas as suas características tipicamente monárquicas.
 
 
Todavia, isso não se deu. Ao contrário até: brotaram à mancheia patentes de todos os naipes e matizes, e era de ver a pletora de batalhões e companhias esparramados por todos os centros urbanos da província. Veja-se, por exemplo, o que publica o "MINAS GERAIS", órgão Oficial do Governo Mineiro, em 14 de julho de 1899: ''Por decretos de 20 de maio findo foram nomeados para a Guarda Nacional da Comarca de Cambuhy, neste Estado, os seguintes officiais:''
 
 
89º Brigada de Infanteria — Estado Maior:
 
Coronel-comandante  —  Justiniano  Quintino  da Fonseca;
 
Capitães-assistentes — Alfredo de Brito e Olegário José de Brito Lambert;
 
Capitães-ajudantes-de-ordens:  Herculano  Afonso Duarte  e Antônio Alexandre  de Moraes;
 
Major-cirurgião — José Luiz Tavares da Silveira.
 
 
265º — Batalhão de Infanteria — Estado Maior:
 
Tenente-Coronel - Cândido  Gabriel  de  Brito Lambert;
 
Major-Fiscal - José Luiz Padilha; Capitão-ajudante -Joaquim Francisco de Paula; Tenente quartel mestre -
 
Antônio Lopes Sobrinho; Tenente secretário — José Guilherme Eiras; Capitão cirurgião — Sebastião Marques da Silva.
 
 
l.º Companhia:
 
Capitão Avelino Cândido de Brito; Tenente — José Terluliano de Brito;
 
Alferes — Manoel Gonçalves de Menezes e Alfre¬do Fannuchi.
 
 
2º Companhia:
 
Capitão — José Antônio Eiras; Tenente José Luiz Ferreira;
 
Alferes -    José da  Silva  Figueiredo  e  Francisco Fannuchi.
 
 
3º Companhia:
 
Capitão -- José Silvério Pereira; Tenente - - Paulino Frederico;
 
Alferes — Osório Marques  e Bernardino  Furtado do  Nascimento.
 
 
4º Companhia:
 
Capitão — José Marques Victor; Tenente — Vicente Siecola;
 
Alferes — José Roque de Resende Júnior e Francisco Gonçalves Menezes.
 
 
266º — Batalhão de Infantaria — Estado Maior:
 
Tenente Coronel Comandante — Antônio Evaristo de Brito;
 
Major Fiscal — Ricardo José Pereira; Capitão Ajudante — Antônio Luiz de Manticarpo; Tenente Secretário — Lúcio Marques da Silva;
 
Tenente Quartel Mestre — José Ferreira de Brito; Capitão Cirurgião — José Amâncio de Salles.
 
 
20º Brigada de Cavalaria — Estado Maior:
 
Coronel Comandante João Correia da Silva;
 
Capitães Assistentes — Antônio Victoriano de Sousa e Vicente Marques da Silva;
 
Capitães Ajudantes de Ordens — Maximiano José de Brito Lambert e Fernando Carlos Pereira Guimarães;
 
Major Cirurgião — Antônio Luiz de Brito Lambert.
 
 
E outros nomes aparecem ainda no citado diploma legal, oferecendo patentes a vários cambuienses, a saber: Higino de Oliveira César, Major Fiscal; Antônio de Paiva Cardoso, Capitão; José Lopes Pacífico Sobrinho, Capitão; José Alexandre de Moraes, Capitão-Ajudante; José Maximiano de Brito Lambert, Capitão; Manoel Pedro da Rosa, Tenente; Benedito Alves de Toledo, Tenente-Secretário; Joaquim Xavier de Salles, Tenente-Quartel-Mestre; Silvério Bento da Silva, Tenente; Américo Antero de Salles, Tenente; Salustiano Marques Padilha, Tenente; Antônio Felipe de Salles Sobrinho, Tenente-Secretário; José Corrêa da Conceição, Tenente; Francisco Antônio de Brito Lambert, Alferes; Francisco Paulino de Araújo, Capitão.
 
 
Como se vê, ao contrário do que as instituições republicanas podiam exigir, a Guarda Nacional, honorífica e específica, ensejava a dádiva graciosa de galardões e dragonas, numa féerie. de patentes a encher e ornamentar a ombreira de cidadãos de todos os quilates da sociedade local...
 
 
 
=== Sede da Prefeitura Municipal ===
 
=== Sede da Prefeitura Municipal ===
 
Os serviços burocráticos e administrativos da Prefeitura estão instalados em prédio adrede construído para o Jardim de Infância que se criou na cidade, obra devida ao Prefeito José Francisco do Nascimento.
 
 
O Prefeito Dr. Braz Meyer, tendo em vista a precariedade quase que absoluta do edifício em que funcionava a Prefeitura, perambulando os seus serviços daqui para acolá, transferiu para esse prédio inadequado, em caráter de emergência, os serviços municipais, resolvendo assim, provisoriamente, as deficiências de que padecia o Executivo Municipal.
 
 
Situa-se na Praça Professor Maximiano Lambert, no centro de uma área bem ajardinada. É encarregado da Secretaria, da Contadoria e do Serviço Militar da Prefeitura Luiz Marques Ribeiro.
 
 
 
=== Prefeitura e Câmara Municipal ===
 
=== Prefeitura e Câmara Municipal ===
 
Os Poderes Executivo e Legislativo do Município, nos últimos períodos, estiveram assim constituídos:
 
 
'''1971-1972:'''
 
 
Prefeito:  Luiz Evangelista  Rangel  Padilha,
 
 
Vice-Prefeito:  Dr.  Bruno Capossoli,
 
 
Presidente  da  Câmara:  José  Adolfo  da  Silva
 
 
Vereadores: José Faustino da Cunha, Dr. Ruy Ferrer de Oliveira, Waldomiro Silvério Rodrigues, Anardino Ribeiro da Costa, Geraldo Pereira da Rosa, João Rangel Fanuchi, João Honorato Marques e José Adolfo da Silva.
 
 
'''1973-1976:'''
 
 
Prefeito:  Aristeu  Bueno,
 
 
Vice-Prefeito:  Elpídio Marques Ferraz,
 
 
Presidente  da  Câmara:  José Honorato Marques,
 
 
Vice-Presidente: Antônio Silvério de  Castro,  Vereadores: José Adolfo da Silva, José Faustino da Cunha, Dr. Ruy Ferrer de Oliveira, Ildeu Lessa de Moura, Antônio Paulino de Abreu, João Gonçalves da Fonseca e Elias Pedro da Silva.
 
  
 
== Capítulo IV - Como é exercida a justiça ==
 
== Capítulo IV - Como é exercida a justiça ==
 
=== Juízes de direito ===
 
=== Juízes de direito ===
 
Vários  diplomas  legais  dão  foros  de  cidadania  a Cambuí.
 
 
Assim é que o Decreto nº 239, de 13 de setembro de 1890,  determina:
 
 
''Art. 1º - Ficam criadas as seguintes comarcas:''
 
''§ 2º - de Cambuí, composta do termo de Jaguari e, do de Cambuí, desmembrado do de S. José do Paraíso, sendo a sede naquele.''
 
''(a)  Chrispim Jacques Bias Fortes.''
 
 
No ano seguinte é sancionada a Lei nº II, de 13 de novembro de 1891, dispondo:
 
 
''Art. 1º — A divisão judiciária e administrativa do Estado de Minas Gerais fica estabelecida pela designação das''
 
''comarcas e municípios da tabela anexa.''
 
 
E dessa tabela sobressai  Cambuí no número 27, sancionada a Lei pelo Presidente Cesário Alvim.
 
 
Por fim, é dada publicidade à Lei nº 23, de 24 de maio de 1892, que dispõe:
 
 
''Art. 1º — Ficam elevadas à categoria de cidade todas as atuais vilas sedes de comarca.''
 
''(a) — Eduardo Ernesto da Gama Cerqueira.''
 
 
Encerrava-se aí o ciclo de ordem legislativa que dava foros de independência judiciária à novel comuna mineira, desmembrada totalmente de suas coirmãs que a precederam. Sua instalação, de acordo com os respectivos assentamentos no Tribunal de Justiça do Estado, se deu dia 20 de março de 1892, conforme se verifica da seguinte ata:
 
 
"Aos vinte dias do mês de março de mil e oitocentos e noventa e dois, à uma hora da tarde, no Paço da Câmara Municipal, perante os cidadãos Vigário José da Silva Figueiredo Caramuru, presidente, e os vereadores Alfredo de Brito, João Lopes Pacífico, Antônio de Melo Afonso, Higino de Oliveira César, Justiniano Quintino da Fonseca e José Vilhena Granado, pelo cidadão Presidente foi aber¬ta a sessão. Lida e posta em discussão a ata da sessão precedente foi aprovada e assinada. Em seguida, o Vigário Figueiredo Caramuru fez sentir, como presidente da Câmara, que ia se efetuar a instalação da comarca de Cambuí, e para esse fim convidou as autoridades do município, câmara e povo, a fim de assistirem no Paço da Câmara ao ato solene da nova Comarca acima referida. Preenchidas as formalidades do estilo, tomou assento o Doutor José Moreira Brandão Castelo Branco Filho, que, depois de ler o decreto de sua nomeação e outras comunicações oficiais, convidou para exercer o cargo de Promotor interino da Comarca o cidadão Antônio Lambert, que não se fizera esperar na aceitação do honroso cargo, 110 qual o distinguia a primeira autoridade da Comarca de Cambuí. Em ato contínuo, o Doutor Moreira Filho, em arroubos de entusiasmo, declarou instalada a Comarca de Cambuí. Falou em seguida o Promotor interino da Comarca congratulando-se com a população de Cambuí pela aquisição de um juiz que havia de fazer a felicidade deste município, não só por sua ilustração como também
 
pelo seu caráter honesto e probo. Falou depois o Vigário Caramuru, que fez a apologia da justiça e pediu ao distinto Juiz de Direito que jamais se deixasse levar pelo coração, quando sentado na cadeira de julgador, que as expansões da alma não podem sobrepujar a razão, que estava sempre fora do alcance das emoções, filhas do sentimentalismo, e que o povo ansioso espera muito do seu talento e ilustração, e findou dando vivas ao Dr. Juiz de Direito. Logo depois nomeou o cidadão Ricardo José Pereira para exercer interinamente o cargo de escrivão do Registro de Hipotecas. Foi logo depois lavrada a ata especial de instalação pelos tabeliães deste juízo, escrivão de órfãos e de Paz num livro para esse fim destinado, conforme as determinações expressas do Doutor Juiz de Direito. Findo o ato de instalação o Vigário Caramuru convidou o Doutor Juiz de Direito, Câmara, autoridades e povo para um Te-Deum em ação de graças pelo ato que acabavam de assistir. Nada mais havendo a declarar foi encerrada a sessão. E para constar lavrou-se a presente ata. Eu, Antônio Lambert, Secretário, a escrevi, (aa) Padre José da Silva Figueiredo Caramuru, Dr. Moreira Brandão, João Lopes Pacífico, Antônio de Melo Afonso, Justiniano Quintino da Fonseca, José Vilhena Granado, Joaquim Mariano Froes e Alfredo de Brito."
 
 
Essa a ata lavrada em livro próprio da Câmara Municipal, tendo sido, porém, cumpridas fielmente as recomendações do magistrado, no sentido da lavratura de iguais termos e assentamentos em cada cartório, registrando-se o mesmo cerimonial, mas acrescentando-se, em cada tabelionato, a nomeação, feita, no momento, de José Alves de Moraes e Eduardo das Chagas Pinto para oficiais de justiça.
 
Assinaram então a ata existente nos referidos cartórios, além dos membros da Câmara Municipal, Antônio José de Brito Lambert, Joaquim Quintino da Fonseca, João Correia da Silva, 1º Juiz de Paz; José Luiz Padilha, João Ferreira da Silva, Firmino Lopes dos Santos, 2º Juiz de Paz; Emiliano Quintino da Fonseca, José Braz Lopes, Manoel Pedro da Silva, Antônio Marques de Figueiredo, José Alves de Moraes, Oficial de Justiça; Eduardo das Chagas Pinto, Oficial de Justiça; Joaquim Antônio da Costa Sousa, porteiro; e José Quintino da Fonseca.
 
Desfeitos os laços que prendiam Cambuí às cidades e comarcas a que se subordinava judiciária e administrativamente, alargam o passo o seu povo e suas instituições em busca de cada vez mais acentuada prosperidade.
 
E são nomeados, então, para jurisdição na comarca, os seguintes magistrados:
 
 
# Dr. José Moreira  Brandão  Castelo  Branco  Filho,  em 1892,
 
# Dr. João Capistrano Ribeiro de Alkimim, em 1893,
 
# Dr. Carlos Francisco d'Assunção Cavalcanti de Albuquerque, em 1900,
 
# Dr. José Porfírio Álvares Machado, em 1923,
 
# Dr. Alexandre Silviano Brandão, nomeado que não tomou posse,
 
# Dr. Olímpio Tito Ribeiro, em 1929,
 
# Dr. Estevam  José  Pereira, em 1930, mas esteve em exercício dois dias,
 
# Dr. José Maria de Vilhena, em 1932,
 
# Dr. João  Tavares  Corrêa  Beraldo,  em  1939,
 
# Dr. Francisco Diogo Pereira de Vasconcelos, em 1942,
 
# Dr. Augusto Vilhena Valadão, em 1949,
 
# Dr. Wagner Brandão Bueno, em 1949,
 
# Dr. Luiz Renault Apocalipse, em 1961,
 
# Dr. Zorocastro de Paiva Ferreira, em 1965, e
 
# Dr. Paulo Sebastião Guimarães, a partir de 1967.
 
 
Observação: Vários juízes estiveram afastados no gozo de licença, substituídos por juízes de paz, entre os quais Ma¬noel Pedro da Rosa, Antônio Alexandre de Moraes, Antônio Luiz de Brito Lambert, Silvério Bento da Silva e Waldomiro Bueno.
 
 
 
=== Juízes municipais ===
 
=== Juízes municipais ===
 
Exerceram a magistratura nas funções de juízes municipais os seguintes cidadãos:
 
 
# Dr. Afonso da Silva Brandão, em 1892,
 
# Dr. Augusto de Albuquerque Cabral, em 1895,
 
# Dr. Francisco Antônio Camarano, em 1899,
 
# Dr. Pedro Leão de Souza Guaracy, em 1901,
 
# Francisco Pereira dos Reis, interinamente em 1904,
 
# Major José Luiz Tavares  da  Silveira,  interinamente em 1904,
 
# Dr. Caetano Ferreira Pinto Malheiros, em 1908,
 
# Dr. Alfredo Henriques Vidigal, em 1908,
 
# Dr. Drauzio Vilhena de Alcântara, em 1910
 
# Dr. Carlos Vicente de Carvalho, em 1913,
 
# Dr. Teodoreto Ribeiro de Paiva, em 1914,
 
# Dr. José Corgulho Nogueira, em 1916,
 
# Dr. Leonel Costa, em 1917, e
 
# Dr. Romualdo Horta de Araújo Feio, em 1918.
 
 
Observações: Os juízes municipais foram substituídos em suas ausências e impedimentos por juízes de paz, entre os quais Antônio Evaristo de Brito e José Luiz Tavares da Silveira.
 
 
 
=== Promotores de justiça ===
 
=== Promotores de justiça ===
 
O cargo de Promotor de Justiça, ocupado inicialmente, em caráter interino, por Antônio Lambert, no ato da instalação da comarca, foi desempenhado posteriormente pelos seguintes cidadãos:
 
 
# Capitão Antônio Felipe de Sales, em 1892,
 
# Dr. Aristides de Lima  Castelo Branco, cm 1893,
 
# Dr. Alípio  Benjamim  Gonçalves  Ferreira, em  1894,
 
# Dr. Odilon Augusto Ribeiro, em 1894,
 
# José de Almeida Prata, em 1895,
 
# José Eufrásio de Toledo, em 1899,
 
# Dr. Joaquim Nogueira, em 1903,
 
# Dr. Francisco  de Moura Brandão, em 1904,
 
# Antônio Cândido Reno, em  1906,
 
# Dr. José Godofredo de Moura Rangel, em 1907,
 
# Dr. Ulysses de Medeiros Corrêa, não aceitou a nomeação,
 
# Dr. Oscar Pedmante  (sem efeito a  nomeação),
 
# Dr. Drauzio VilheNa de Alcântara, em 1908,
 
# Dr. Romualdo Horta de Araújo Feio, em 1911,
 
# Dr. Raphael Fleury da Rocha, nomeação tornada sem efeito,
 
# Dr. José Olyntho de Magalhães, em 1913,
 
# Dr. Orosimbo Nonato  da  Silva, não tomou  posse,
 
# Dr. Alfredo Serra Júnior, cm 1914,
 
# Dr. Adolfo Pope Bastos  de  Castro, em 1915,
 
# Dr. Armando Santos, nomeação tornada sem efeito,
 
# Dr. Manuel de Oliveira Andrade Filho, nomeação sem efeito,
 
# Dr. Christino de  Albuquerque  Lage, nomeação sem efeito,
 
# Dr. Bronsilber Lopes Lage, em 1918,
 
# Dr. Brotero Antônio do Pilar Cobra, em 1919,
 
# Dr. Antônio Ribeiro de Andrada Sobrinho, nomeação sem efeito,
 
# Dr. Múcio de Abreu e Lima, em 1921,
 
# Dr. Genésio de Faria Ribeiro, não tomou posse,
 
# Dr. Eunápio Hardman  Castelo Branco, em 1923,
 
# Dr. Erasto  da  Silveira Fortes,  em 1924,
 
# Dr. Guttemberg Fernandes, em 1928,
 
# Dr. Lívio de Vasconcelos César, em 1929,
 
# Dr. Waldemiro de Almeida Mota, em 1929,
 
# Dr. Valporé de Castro Caiado, em 1932,
 
# Dr. Halley Lopes Bello, em 1932,
 
# Dr. José  Maria  da  Anunciação  Cavalcanti,  em  1936,
 
# Dr. Victor Machado de Carvalho, em 1944,
 
# Dr. Brasilino de Moura Cardoso, em 1945,
 
# Dr. Abelardo  Cabral Mota, em 1945,
 
# Dr. Alberto Pires, em 1947,
 
# Dr. Dino Macheroni, em 1948,
 
# Dr. Eugênio Carlos de Magalhães Vale, em 1949,
 
# Dr. Sinésio  Luiz  de  Paiva  Sapucaí,  nomeação  sem efeito,
 
# Dr. Rubem Miranda, em 1953,
 
# Dr. Paulo Tinoco, em 1954,
 
# Dr. Luiz Fernando Mendes Salomon, em 1956,
 
# Dr. Antônio Pinto da Silva, em 1956,
 
# Dr. William Cruz, em 1957,
 
# Dr. Pedro Carlos Junqueira Ferraz, em 1957,
 
# Dr. José Costa, em 1967.
 
 
 
=== Adjuntos de promotores de justiça ===
 
=== Adjuntos de promotores de justiça ===
 
Exerceram funções temporárias de Adjunto de Promotor de Justiça os seguintes cidadãos: Armando Alves Franco, José Herculano de Moraes, Dr. Sebastião Meyer, Pedro Ferreira, José Benedito de Sales Cortes, Antônio Paulino de Abreu e Dra. Neila do Carmo Fanuchi, e, interinamente, nas funções de Promotor de Justiça: Possidônio Tavares Paes, Manuel Francisco Lopes, Manuel Francisco de Oliveira Bressane, Osório Guimarães, Antônio Cardoso de Paiva Júnior, Alfredo de Carvalho Agueda, Dr. Sebastião Meyer, Levindo Furquim Lambert e Dr. José Ferreira da Silva Júnior.
 
 
 
=== Serventuários da justiça ===
 
=== Serventuários da justiça ===
 
No decorrer dos anos, os serviços da Justiça foram desempenhados pelos seguintes cidadãos:
 
 
''Escrivães de órfãos:''
 
 
Fernando Carlos Pereira Guimarães, 1º ofício    1890
 
Ricardo José Pereira, 1º ofício,         1890
 
 
''Escrivães de Judicial e Notas:''
 
 
Ricardo José Pereira lº ofício         1890
 
José Alexandre de Moraes, 2º ofício         1895
 
Joaquim Eugênio de Carvalho Júnior, 1º ofício  1906
 
José Manoel da Fonseca, 1º ofício 1917
 
Reinaldo Vieira, 2.9 ofício         1924
 
Antônio Felipe  de  Salles, 1º  ofício  1924
 
Alencar  Garcia  Machado,  2º  ofício 1930
 
Benedito Delfino Machado, 2º ofício 1936
 
Benedito Salles, l.9 ofício         1937
 
José Márcio Salomon, 3º  ofício                1956
 
 
''Escrivães dos Processos e Execuções Criminais:''
 
 
Demétrio Ribeiro e Silva                 1901
 
Astolfo Hermógenes de Moraes                 1913
 
João Batista  Corrêa                         1924
 
Guilherme Fróis de  Carvalho                 1938
 
Benedito  Carvalho Lopes                 1954
 
Ivo Edgar Eiras                                1960
 
 
''Escrivães do Registro Civil;''
 
 
Antônio  Cândido  Duarte                 1880
 
Guilherme  Spilborghs                         1886
 
Astolfo Hermógenes de Moraes                 1898
 
Osório Marques                                 1902
 
Francisco de Salles Fanuchi                 1915
 
Sebastião Rangel Fanuchi                 1956
 
 
''Distribuidor, Contador e Partidor:''
 
 
José Alexandre de Moraes                 ?
 
Antônio Felipe de Salles                 1908
 
Francisco de Salles Fanuchi                 1913
 
Joaquim Augusto da  Cunha                 1933
 
José Faustino da Cunha                         1957 
 
                   
 
Observação: A lista dos que ocuparam o cargo de ''Contador, Distribuidor e Partidor'' não é completa, porque o serviço, hoje, por demais movimentado, trabalhoso e difícil, não possibilitou ao seu titular colaborar com o autor desta obra, fornecendo-lhe os nomes de seus antecessores. É de se lamentar a lacuna aberta nesta obra destinada à história e à perenidade de sua organização burocrática e política. Mas, se não foi possível a cobertura da lacuna, que se há de fazer senão exclamar: ''si no é vero é bene trovato''...
 
 
''Avaliador Judicial:''
 
 
Avelino Cândido de Brito, Adolfo Ferreira da Silva, José Porfírio Marques, Alfredo de Salles Magalhães, Francisco Pedroso de Oliveira, Lacides Bayeux da Silva e José Patrício de Moraes.
 
 
''Oficiais de Justiça:''
 
 
Joaquim Firmiano Cardoso, Joaquim Antônio de Souza, João Evangelista da Silva, José Aureliano de Lima, José Alves de Moraes, Eduardo das Chagas Pinto, João Aureliano Padilha, Manuel Teixeira de Carvalho, José Gomes Moreira, Laudelino Sálvio Eiras, José Dardis Filho, João Teixeira de Carvalho, Wilson de Carvalho e Joaquim Firmino.
 
 
''Carcereiros:''
 
 
João Aureliano Padilha, Francisco Rangel Padilha, Geraldo Salles e José do Carmo Salles.
 
 
 
=== Juízes de paz ===
 
=== Juízes de paz ===
 
A função desempenhada pelos juízes de paz hoje não se integra bem no capitulo referente à Magistratura, porque suas atribuições não são realmente judicantes mas específicas na organização política do País. Aqui ficam, no entanto, os juízes de paz, uma vez que lhes cabe a substituição dos juízes de direito.
 
 
Lembre-se que o '''Capítulo II''' desta obra já registra o exercício de juízes de paz no período de 1850 a 1880, em que Cambuí era apenas freguesia de Jaguari. Elevado a município, foram juízes de paz os seguintes cidadãos:
 
 
1890 — Joaquim Quintino da Fonseca, Antônio Luiz de Brito Lambert e José Luiz Padilha;
 
1892 — João Corrêa da Silva e Antônio Marques Figueiredo;
 
1893 — Antônio Evaristo de Brito e Zeferino José de Brito Lambert;
 
1894 — Francisco Antônio de Brito Lambert;
 
1895 — José Luiz Tavares da Silveira.  Justiniano Quintino da Fonseca c João Lopes Pacífico;
 
1896 — José Luiz Tavares da Silveira;
 
1898 e 1899 — Alfredo de Brito.
 
 
A partir de 1900 é irregular e anacrônica, nesta obra, a relação dos referidos servidores, de vez que a pesquisa dos respectivos nomes, ao pé de cada termo de casamento, representava grande sacrifício e trabalho exaustivo ao titular do Cartório de Registro Civil. E por causa disso, a relação é falha.
 
 
De oitiva ou segundo informações esparsas, registrem-se os seguintes nomes:
 
 
Cândido Gabriel de Brito Lambert, José Lopes Pacífico Sobrinho, José Antônio Eiras, Joaquim de Paiva Cardoso, Egídio Paula da Silva, Antônio Luiz de Brito Lambert, Bento José Pereira, Silvério Bento da Silva, Manuel Pedro da Rosa, Simão da Silva Maia, Herculano Afonso Duarte, Benedito Alves de Toledo, Antônio Alexandre de Moraes, Waldomiro Bueiio, Atílio D'Onófrio, José da Silva Bento e Onésio An¬tônio de Souza.
 
 
É deveras lamentável a lacuna apontada. Mas, ''fiat voluntas tua...''
 
 
 
=== Delegados de polícia ===
 
=== Delegados de polícia ===
 
Por igual, os itens em que se arrolam os Delegados de Polícia devia de ocupar Capítulo destacado. São autoridades incumbidas e responsáveis pela ordem social, sem atribuições judicantes. Mas tais servidores são como que corolários cia distribuição da justiça, suportes da ordem social, ressonância da paz e da tranquilidade públicas.
 
 
No Império exerceram o cargo Manuel Marques de Oliveira e Antônio José de Brito Lambert e, já na República, Francisco José Pereira dos Reis, Antônio Luiz de Brito Lambert, José Bernardes da Fonseca, Atanásio José de Oliveira, Francisco Amâncio Eiras, Dr. Fábio Alves Franco, Dr. Adolfo Gonçalves do Nascimento, Álvaro de Moraes Navarro, Antônio Toledo, Antônio Ferreira Neto, Tenente José Quirino, Capitão João Batista Soares, Capitão José Machado Bragança, Elias Fanuchi Lombardi, Mário Dias Ribeiro, José Dardis Neto, Tenente Antônio Franco Thimoteo, Dr. Mauro Ladislau Campeio e Afonso Silva Oliveira.
 
 
Também o titular do Cartório das Execuções Criminais se exime de colaborar eficientemente na feitura desta obra, deixando de relacionar os Delegados de Polícia que atuaram na cidade ao longo do regime republicano. Seria excelente para a história de Cambuí que tal coisa não se desse. Mas...''quid est quod?''
 
 
 
=== Fórum ''Paiva Júnior'' ===
 
=== Fórum ''Paiva Júnior'' ===
 
A solução do grave problema suscitado pelas instalações do foro merece página à parte, dada a sua complexidade e a sua gravidade no decurso do tempo. Instalada a comarca, os serviços forenses audiências do juiz e sessão do júri — eram realizados no salão nobre da Câmara Municipal, prédio que aos poucos foi-se desgastando e se tornando impróprio até mesmo para a edilidade. Situava-se na esquina das Ruas Coronel Lambert e Capitão Soares.
 
 
Cumprindo resolução dos vereadores, ornavam-lhe a parede principal os retratos ampliados do Coronel Francisco Cândido de Brito Lambert e do Padre Figueiredo Caramuru, tendo ao centro um daguerreótipo de Tiradentes.
 
 
Teve que ser demolido, e o Fórum perambulou por ceca-e-meca, sem encontrar abrigo condigno. As sessões do júri funcionavam no Grupo Escolar, que se via forçado, por isso, a interromper suas aulas. E as audiências do juiz se faziam em saletas acanhadas e lôbregas, quando não se realizavam na residência dos magistrados ou nos gabinetes dos respectivos escrivães.
 
 
Coube ao Prefeito José Francisco do Nascimento abrir caminho para a solução do problema, depois de obter apoio do Governador Juscelino Kubitscheck. Adquiriu então parte da área junto à sede dos escritórios da Empresa Força e Luz (Rua Coronel Lambert) e desapropriou terrenos pertencentes a Antônio Pereira Duarte, enfrentando forte oposição de seus proprietários.
 
 
Chegou a iniciar a construção do prédio, abrindo-lhe alicerces e começando o levantamento das paredes, havendo, para tanto, obtido medições oportunas do empreiteiro do Estado.
 
 
Não levou a cabo o empreendimento por implemento de mandato. E a construção não foi então avante.
 
 
Tempos depois, no entanto, reeleito o mesmo Prefeito, dessa vez com a colaboração prestigiosa do Deputado Milton Salles, já no governo Magalhães Pinto, alcançou êxito no empreendimento, resolvendo em definitivo o angustioso problema.
 
 
O edifício então construído, embora hoje já deficiente para as práticas judiciais, atende magnificamente às necessidades da Justiça, na sua majestade e na sua pluralidade, pois que nele estão instalados todos os serventuários, e repartições conexas, além de amplo salão de júri, confortáveis gabinetes do juiz e do promotor.
 
 
Foi acertada a homenagem prestada à memória do Advogado Antônio de Paiva Cardoso Júnior, dando-lhe o nome honrado ao edifício do pretório cambuiense.
 
 
 
=== Achegas históricas ===
 
=== Achegas históricas ===
 
Ao ser criada a Comarca de Cambuí, sua sede foi trans-ferida de S. José do Paraíso para Camanducaia, face o Decreto nº 239, de 13 de setembro de 1890, e só alcançou foros de independência judiciária pela Lei nº 23, de 24 de maio de 1892, quando então se fez cidade.
 
 
A comarca foi elevada a segunda entrância pela Lei nº 1.906, de 23 de janeiro de 1959, mas a Resolução nº 46, do Tribunal de Justiça do Estado, reconsiderou essa promoção, determinando sua volta à primeira instância logo se afastasse o respectivo titular. Essa mesma Resolução anexou a Cidade de Estiva à Comarca de Cambuí.
 
 
Lembre-se que, já em 19 de setembro de 1908, pela Lei nº 375, a comarca esteve ameaçada de supressão se seu Juiz de Direito se afastasse do cargo, o que não se deu.
 
  
 
== Capítulo V - Organizações político-partidárias ==
 
== Capítulo V - Organizações político-partidárias ==
Linha 1 331: Linha 449:
 
Levindo Furquim Lambert.
 
Levindo Furquim Lambert.
  
Na realidade, findou aí a existência demorada do grande partido que deu vida e saúde à república. Vieram as eleições e, em conseqüência  
+
Na realidade, findou aí a existência demorada do gran¬de partido que deu vida e saúde à república. Vieram as eleições e, em conseqüência  
 
da prepotência do governo federal, explode a Revolução de 1930, chefiada por Getúlio Vargas. Triunfante o movimento militar  
 
da prepotência do governo federal, explode a Revolução de 1930, chefiada por Getúlio Vargas. Triunfante o movimento militar  
 
revolucionário, recebe-se, em Cambuí, caloroso telegrama expedido por Oswaldo Aranha, Ministro da Justiça; General Leite de Castro,  
 
revolucionário, recebe-se, em Cambuí, caloroso telegrama expedido por Oswaldo Aranha, Ministro da Justiça; General Leite de Castro,  
Linha 1 364: Linha 482:
 
de elite.
 
de elite.
  
Em Cambuí somente o PSD e a UDN lograram êxito — aquele chefiado por José Francisco do Nascimento e este por Milton Salles, várias vezes  
+
Em Cambuí somente o PSD e a UDN lograram êxito — aquele crefiado por José Francisco do Nascimento e este por Milton Salles, várias vezes  
 
eleito deputado estadual. O PSD saiu vitorioso na maioria das vezes.
 
eleito deputado estadual. O PSD saiu vitorioso na maioria das vezes.
  
Linha 1 461: Linha 579:
 
os municípios, na arrecadação do ICM para 1973. Para o cálculo dos índices foi somada a produção dos 722 municípios e chegou-se à  
 
os municípios, na arrecadação do ICM para 1973. Para o cálculo dos índices foi somada a produção dos 722 municípios e chegou-se à  
 
produção anual de todo o Estado. Depois, a produção de cada município foi multiplicada por 100 e o resultado foi dividido pelo total da  
 
produção anual de todo o Estado. Depois, a produção de cada município foi multiplicada por 100 e o resultado foi dividido pelo total da  
produção do Estado, obtendo-se o seu índice."  
+
produção do Estado, obtendo-se o seu índice." (Do ''Estado de Minas'', de 9 de janeiro de 1973) .
(Do ''Estado de Minas'', de 9 de janeiro de 1973) .
+
  
 
Os índices alcançados pelo município de Cambuí são os seguintes em 1973:
 
Os índices alcançados pelo município de Cambuí são os seguintes em 1973:
Linha 1 473: Linha 590:
  
 
=== O ensino primário ===
 
=== O ensino primário ===
 
+
=== O ensino primário pela municipalidade ===
O ensino primário na segunda metade do Século XIX caminhou lentamente, sem possibilidade de desenvolvimento, em virtude de vários fatores
+
negativos. De modo geral, basta lembrar que em 1827, pouco antes de ser Cambuí elevado a Curato, só havia em toda a província trinta e
+
três (33) es¬colas primárias, percebendo o professor cento e cinqüenta mil réis por ano...
+
 
+
Em 1835 se deu a publicação da primeira lei regulando o ensino primário público, que era, aliás, ministrado quase que exclusivamente a
+
alunos do sexo masculino, sendo vedado ainda a escravos.
+
 
+
Em 1842, a população escolar, no País não ia além de 6.869 alunos, dos quais 637 apenas eram do sexo feminino. Decresceu em virtude das
+
lutas políticas revolucionárias, que redundaram em árdua perseguição aos elementos filiados ao partido liberal, entre os quais se
+
encontrava grande número de professores.
+
 
+
Já em 1861 a situação se modificava: entre 12.815 alunos, 10.383 eram do sexo masculino e 1.543 apenas eram meninas. E em 1889, ano da
+
Proclamação da República, os dados referentes aos alunos matriculados eram estes (1):
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meninos 28.418
+
meninas 15.168
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total 43.568
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''(1)Apud "O ensino em Minas Gerais no tempo do Império", de Paulo Krugger Mourão de Miranda.''
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Verifica-se uma grande diferença entre meninos e meninas .
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A explicação está na mentalidade dominante na época, quanto à instrução a ser dada aos filhos do sexo feminino. Nenhum interesse dos
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chefes-de-família nesse particular. O ensino primário era ministrado quase que exclusivamente a alunos do sexo masculino.
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<nowiki>* * *</nowiki>
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No período de 1850 a 1889 em que Cambuí foi simplesmente freguesia ou paróquia, havia em funcionamento ape¬nas uma escola primária
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pública, para meninos, de que era titular, inicialmente, o Professor Tristão Francisco Godoy Leite, substituído, em 1860, pelo Professor
+
Joaquim José de Moraes, irmão de Alexandre José de Moraes, que teve atuação distinta em Cambuí. Nenhuma escola para alunos de sexo
+
feminino.
+
 
+
O ensino era supervisionado por Delegado de Instrução, que detinha uma soma bastante ampla de atribuições, aliás, justificadas, dadas as
+
dificuldades de comunicações entre localidades longínquas e a sede do governo provincial. Uma notícia de Cambuí a Ouro Preto, a cavalo,
+
levava meses a fio, sem o pronunciamento das autoridades superiores. Nesse caso, o Delegado de Instrução agia de maneira de¬cisiva na sua
+
circunscrição .
+
 
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Cambuí pertencia ao 15º Círculo Literário, com sede em Camanducaia, sendo Delegado na freguesia o Capitão Antônio José de Brito Lambert.
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Os requisitos exigidos para a contratação de profes¬sor público de curatos e freguesias se restringiam, apenas, à comprovaçãe de
+
idoneidade moral (Paulo Krugger Mourão de Miranda, obr. cit.).
+
 
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Em l.9 de setembro de 1888 entrou em exercício o Professor Maximiano José de Brito Lambert, filho cia localidade, então recentemente
+
formada pela famosa Escola Normal de Campanha. Trazendo idéias e práticas novas, oriundas de um meio do mais alto teor cultural e
+
social, iniciou o jovem mestre um tirocínio magisterial revolucionário para a época, colhendo resultados que o tornaram querido de muitas
+
gerações, pois que seu apostolado se encerrou em 1920, depois de 32 anos de exercício.
+
 
+
Removida de Cabo Verde por ato de 12 de outubro de 1892, toma posse da classe primária feminina a normalista Ana de Sales Magalhães, na
+
data de 24 de dezembro de 1892.
+
 
+
<nowiki>* * *</nowiki>
+
 
+
O ensino, que era inicialmente individual, passou a ser feito pelo sistema misto, em que, enquanto um grupo de alunos preparava
+
exercícios escritos, outro grupo recebia aulas de Linguagem e Leitura ou de Aritmética Elementar.
+
 
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Havia, por isso, um "decurião", aluno mais adiantado prestando ajuda ao mestre e que, entre 1903 e 1904, era João Moreira Salles, tempos
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depois magnata do comércio nacional e grande benfeitor de sua cidade natal. Cabia ao "decurião" auxiliar o professor no controle de
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leitura individual do estudante, passando-lhe ao mesmo tempo exercícios e colhendo-lhe resultados.
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A escola funcionava numa dependência do prédio do Paço Municipal, na Rua Capitão Soares, esquina com a Rua Coronel Lambert.
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Não havia mobiliário adequado nem mesmo quadro--negro, mas "pedras" ou "lousas" individviais, nas quais os alunos faziam exercícios e
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resolviam problemas nas quatro operações fundamentais. No centro da sala, uma grande mesa em torno da qual, nos seus três lados, porque
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na cabeceira se punha o Mestre, aboletavam-se os alunos, acotovelados, para os exercícios escritos. Encostados às três paredes da sala, bancos compridos em que os alunos, em adiantamentos
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heterogêneos, sem qualquer classificação por série, sentavam-se lado-a-lado e ombro-a-ombro.
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Dava-se ênfase especial à leitura manuscrita, para a qual havia livros especiais trazendo os mais variados tipos de caligrafia,
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desafiando a capacidade mnemônico-visual dos alunos.
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Abolira-se a palmatória. Não havia instalações nem mesmo fossas sanitárias. As necessidades fisiológicas dos estudantes eram feitas em
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matagal próximo à escola, nos fundos da casa de José Antônio Eiras, e a saída dos alunos era controlada por dois caramujos postos sobre a
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mesa, ao lado do Mestre. Só era permitida a saída de dois alunos por vez, carregando cada qual seu "caramujo." Cantavam-se nos últimos
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tempos, a "Marselhesa" (em francês) e um '''Hino a Minas Gerais''', já que, por esse tempo, o '''Hino Nacional Brasileiro''' ainda não recebera a bela poesia de Duque Estrada.
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O período escolar, diário, era de quatro horas, inclusive aos sábados.
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No Governo João Pinheiro, o então Secretário Carvalho de Brito, fez despachar para as escolas da cidade farto e magnífico material
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didático. As carteiras duplas, novidade nas escolas mineiras, fizeram sensação. As salas-de-aulas, de meninos e meninas, foram
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totalmente cheias desse mobiliário, ao mesmo tempo que quadros-negros, globos terrestres, mapas diversos cobriam as paredes internas da
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sala. E o professor recebia, por seu turno, livros didáticos e instrumentos diversos que o capacitavam para o melhor desempenho de seu
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magistério. Abria-se, de fato, uma era nova para o ensino mineiro.
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Na última década do século passado instalou-se nova escola pública feminina, a cargo de Dona Nicota Eufrázio de Toledo. Professora de
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raras qualidades e notáveis métodos didáticos, inaugurou também em Cambuí um tipo de escola em que, às exigências da instrução, propriamente dita, juntavam-se as particularidades da educação, edulcorada em técnica de requintes de delicadeza e finura de trato social. Por essa escola passou um grande número de alunas que são hoje venerandas matronas de nossa sociedade. Funcionava 110 prédio da Rua Coronel Lambert onde hoje reside a Professora Dolores Padilha Lambert.
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Com a transferência de Dona Nicota veio a substituí-la a Professora Mariana Silva Oliveira, em 1906, removida de Brasópolis. A sala-de-
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aulas continuou no mesmo prédio, à Bua Coronel Lambert, até que, em 1912, criado o primeiro grupo escolar na cidade, foi essa classe
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integrada no novo educandário.
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=== Do ensino primário pela municipalidade ===
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Foi verdadeiramente notável a atuação da Câmara Municipal, após sua instalação, nos domínios da instrução. Na data de 26 de janeiro de
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1892 baixava Lei regulamentando o ensino primário na órbita municipal. Essas instruções imprimiam um cunho revolucionário ao regime
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escolar. Diziam assim alguns de seus dispositivos:
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Art. l - Criar-se-ão em cada paróquia tantas escolas quantas forem necessárias à população.
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Art. 2 — Na impossibilidade de criarem-se cadeiras para um e outro sexo, serão criadas escolas mistas, regidas por professoras.
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Parágrafo único — É proibida a frequência de alunos maiores de 12 anos nas escolas mistas.
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Art. 4 — Nas escolas cuja frequência de alunos for superior a sessenta, a professora poderá requisitar da Câmara um ajudante
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mediante retribuição mensal.
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Art. 6 — Todos os utensílios da escola serão fornecidos pela Câmara.
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Art. 7 — A sala-de-aula será espaçosa, vasta e bem arejada.
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Art. 8 — O edifício da escola será constituído pela Câmara em lugar por ela determinado, tendo cômodo à freqüência dos alunos e
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residência do professor.
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Art. 10 — O fornecimento de livros renovar-se-á toda a vez que o professor julgar necessário."
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E fixando as disciplinas  a  serem ministradas, assim dispõe:
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Art. 32 — Constará o ensino das seguintes matérias:
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1º - Instrução Moral e Cívica;
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2º - Leitura e escrita;
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3º - Noções de gramática portuguesa;
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4º - Rudimentos de aritmética  até frações decimais, inclusive sistema métrico decimal;
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5º - Noções de geografia geral e do Brasil;
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6º - Noções de História do Brasil;
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7º - Noções práticas de desenho linear e geométrico;
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8º - Nas escolas mistas, haverá trabalho de agulha e de economia doméstica."
+
 
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Como se vê, nascia a Câmara Municipal de Cambuí — há 80 anos passados — bem orientada, trazendo nas suas leis aquilo que de melhor se
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apurava no tempo, observando-se que exigindo, em 1892, obrigatoriamente, no currículo escolar, "Instrução Moral e Cívica", só agora, em
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1972, as leis federais e estaduais estão a dar caráter obrigatório a essa disciplina nas escolas de lº e 2º graus.
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Registre-se ainda o alto espírito de amor à causa do ensino o seguinte dispositivo do regime tributário do novo Município, aprovado também pela Lei Municipal  de 20 de setembro de 1892:
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Art. 2º — Fica criada mais a tabela B de impostos que serão destinados ao fundo escolar de instrução primária que denominar-se-á Taxa
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Escolar. A quota líquida destinada ao fundo escolar não poderá ser aplicada em negócios estranhos à instrução."
+
 
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E, por fim, tabela B assim  discriminada:
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''Taxa Escolar''
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Imposto anual
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Por cada agricultor que plantar milho, feijão, arroz ou fumo 2$000
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Por cada comprador e exportador de fumo                40$000
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Dito de café                                                 40$000
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Dito de galinhas, milho, feijão e arroz                        40$000
+
 
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Nascia, pois, o município bastante avançado no tempo.
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+
 
=== O primeiro grupo escolar de Cambuí ===
 
=== O primeiro grupo escolar de Cambuí ===
 
O primeiro grupo escolar de Cambuí foi criado pelo Decreto nº 2.813, de 24 de abril de 1910, e instalado em 1º de fevereiro de 1912,
 
recebendo o nome de '''Dr. Carlos Cavalcanti''' por ato de 28 de outubro de 1911. Por ato de 17 de junho de 1910 foi o Professor Maximiniano José de Brito Lambert nomeado seu primeiro diretor. A classe feminina da Professora Mariana Silva Oliveira, já em funcionamento na cidade, foi incorporada ao novo estabelecimento, nomeadas ainda as Normalistas Lucrécia Vilhena de Alcântara e Ana Silva. Foi nomeado porteiro José Pedro Vieira da Silva, pouco depois substituído por João Evangelista de Salles.
 
 
A instalação foi feita com grandes solenidades, falando na ocasião diversos oradores.
 
 
Nascia assim o novo educandário sob os melhores auspícios, quer pelo alto gabarito de seu corpo docente, quer pelo entusiasmo com que o
 
acolheu a população da cidade. Abria-se para a educação da infância cambuiense uma era nova.
 
 
Vem dai a boa notícia que o jornal '''O Correio do Sul''', de Jaguari, em 1913, publicava cheio de entusiasmo.
 
 
A festa da Bandeira realizada no dia 19 do corrente na vizinha Cidade de Cambuí veio pôr em relevo o quanto os cambuienses
 
são patriotas, amantes da instrução e do progresso de sua terra: tal o brilhantismo, entusiasmo e harmonia que reinaram em todas
 
as solenidades efetuadas no '''Grupo Escolar Dr. Carlos Cavalcanti'''.
 
O Professor Maximiano José de Brito Lambert, operoso, inteligente e dedicado Diretor do Grupo Escolar não poupou esforços
 
nem  sacrifícios para o maior realce dessa festa cívica em honra ao nosso Pavilhão em homenagem ao símbolo de nossa adorada
 
Pátria. Para isso concorreram  as distintas professoras Lucrécia Alcântara Moreira Salles e Ana Silva, que chegam a ponto de
 
vestirem, à custa própria, algumas de suas alunas pobres.
 
Início da Festa: às 11 horas da manhã do dia 19 do corrente, ao som do Hino Nacional, a Bandeira foi hasteada na porta do
 
edifício do Grupo, sendo delirantemente saudada pelos alunos do estabelecimento, os quais, devidamente uniformiza-dos de
 
branco com faixas auriverdes à tiracolo, mostravam a boa ordem e disciplina que sempre predominavam naquele templo do saber.
 
Às 4 horas da tarde, em frente ao majestoso edifício, reuniu-se novamente o povo com a formatura, em alas, dos alunos,
 
fazendo-se a saudação à Bandeira. Nessa ocasião, inúmeros "Vivas" foram levantados aos Exmos. Srs. Presidente
 
do Estado, Dr. Delfim Moreira, e à República. Em seguida, precedido da Corporação Musical "Carlos Gomes", formou-se um
 
imponente préstio conduzindo em triunfo pelas ruas o Pavilhão Nacional.
 
Essa procissão cívica em que figurava o infatígável diretor do grupo, suas distintas auxiliares, o Sr. Inspetor Escolar,
 
alunos, Corporação Musical e povo, foi cumprimentar ao Exmo. Sr. Dr. Carlos Cavalcanti, Juiz-de-Direito da Comarca, polo
 
muito que tem leito em prol da instrução naquela cidade.
 
Ao chegar o préstito à sua residência, o Exmo. Sr. Dr. Carlos Cavalcanti incorporou-se ao mesmo, levantando vivas à
 
Bandeira Nacional, ao Exmo. Sr. Cel. Júlio Bueno Brandão, ao Exmo. Sr. Secretário do Interior, ao Grupo Escolar e ao povo de Cambuí.
 
'''À Noite''' -  Ao anoitecer já o "Recreio Cinema" (Prédio  hoje  ocupado  pelo  Mercado  Municipal.), caprichosamente
 
iluminado, atraía as visitas de todos que convergiam para  aquela casa de diversão, a fim de assistirem à continuação das
 
festas, cujo programa foi fielmente observado.
 
O palco estava deslumbrante e o seu conjunto era de um efeito surpreendente e admirável bom gosto que presidiu a colocação
 
de cortinas, bandei-rolas e flores artisticamente manufaturadas.
 
As Professoras Lucrécia Moreira Salles e Ana Silva são dignas dos maiores elogios pelo auxílio que prestaram ao Diretor do Grupo
 
na realização do magnífico programa que abaixo transcrevemos:
 
 
Primeira Parte:
 
 
I - "Pátria" — poesia por Natália Moraes.
 
II -"A Bandeira Nacional" — cena escolar em verso tendo por personagens Maria' José Duarte, Dolores Padilha, Maria José Lambert,
 
Maria Amélia dos Santos, lolanda Bianchi e Orziela Tavares.
 
III - "Amanhã", poesia por Antônio Marques de Souza, e "Marechal Floriano", declamação por Waldomiro Lambert.
 
IV - "Caridade" — comédia com as personagens:  Professora,  Natália  Moraes,  Dona  Maria, por Isabel de Oliveira;
 
José, aluna Cora Pereira; e Alzira, aluna Maria Amélia dos Santos.
 
V - "Lavandeiras" — coral pelas alunas Natália Moraes, Dolores Padilha, Maria Duarte, Maria Marques, Maria Magalhães,
 
Otília Tavares, Maria Lambert, Maria Amélia dos Santos, Iria Tavares, Maria da Conceição  Fonseca, Conceição  Salles,
 
Sebastiana  Marques, Maria Lopes, Maria E.dos Santos, Conceição Cavalcanti, lolanda Bianchi, Ana Duarte, Isabel  Oliveira,
 
Maria  Felipe,  Damásia Padilha e Cora Pereira.
 
 
Segunda Parte:
 
 
I - "O meu Dever"  — recitativo por Maria Porfírio  Marques.
 
II - "Se dependesse de mim" -- monólogo por Iria Tavares.
 
III -"Ramos de Flores" — comédia com as seguintes personagens: Euflozina — por Dolores Padilha; Gabriela — por Otitia Tavares;
 
Luiza — por Maria José  Duarte; Sidonia — por Maria Porfírio  Marques;  Augusta  —  por  Natália  Moraes; Maricota - 
 
por  Ana  Duarte;  Rosinha  - por lolanda Bianchi.
 
IV - "Dia dos Anos" — monólogo por Maria Lambert.
 
V - "As duas colegiais" — diálogo por Maria Porfírio Marques e Maria do Espírito Santo Lambert .
 
VI - "Mamãe não deixa" — canção por Maria  José  Lambert,  Maria  Amélia  dos  Santos  e Conceição Salles.
 
VII - "Discurso"  — por João  Sebastião  de Salles Fanuchi.
 
VIII - "Bailado" — por um  grupo de alunos.
 
IX -"Hino Nacional" — coral por Idalina de Oliveira, Orziela Tavares, Iracema Lambert, Ana Conceição, Rosinha Moraes,
 
Conceição    Cavalcanti, lolanda    Bianchi,  Izaira  Lopes,  Maria  Lambert, Cora  Pereira,  Manoela  Marques,
 
Francisca    Pereira, Diva  Tavares,  Maria  Conceição  Fonseca, Maria E.    do Santos, Maria Amélia Santos,
 
Maria José  Lambert,  Iria  Tavares,  Maria  Magalhães, Maria  Porfírio  Marques,  Maria  José  Duarte,  Dolores Padilha,
 
Natália Moraes e Otilia Tavares.
 
Terminando esta descrição cumpre-nos agradecer o honroso convite que recebemos do professor Maximiano José de Brito Lambert,
 
ao grupo escolar que proficientemente dirige, às respectivas Professoras e ao povo de Cambuí.
 
 
Essa reportagem longa e minuciosa, publicada há sessenta anos passados, comprova o alto nível do ensino ministrado no grupo escolar da
 
cidade. A notícia tem agora o sabor de lembrar nomes queridos de quem já não está entre os vivos e de outras venerandas matronas ainda
 
atuantes na sociedade local.
 
 
Em 21 de março de 1920, o Professor Maximiano José de Brito Lambert transmitiu a diretoria do Grupo Escolar - professora  Estefania  Ribeiro  de  Menezes,  após  32  anos de serviço público no  magistério.  Aposentava-se.
 
 
A nova diretora, inteligente e esforçada, seguindo as pegadas de seu  antecessor,  procurou manter o  impulso inicial dado ao organismo educacional que lhe foi confiado. Foi  eficiente.
 
 
Não sendo professor normalista, mas efetivada, foi substituída na direção do estabelecimento pelo professor Francisco Amaral de Menezes,
 
em 21 de junho de 1921, que, aliás, entrou logo em licença por motivo de saúde, sendo exonerado, a pedido, em 3 de abril de 1929. Nesta
 
mesma data foi nomeado para o cargo o professor Francisco de Melo Franco, que se removeu também poucos meses depois. O Professor Pedro
 
Brant Filho nomeado em seguida não tomou posse.
 
 
Em 26 de agosto de 1923, veio de Aiuruoca, removido, o Professor Antônio Hormisdas de Magalhães, que teve atuação destacada no exercício
 
do cargo, fazendo mesmo excelente administração. Foi aposentado em 17 de outubro de 1930.
 
 
Sucede-o na diretoria, removida de Cristina, a professora Francisca Gomes de Barros, empossada em 22 de novembro de 1930 e, finalmente,
 
aposentada em 4 de outubro de 1937.
 
 
<nowiki>* * *</nowiki>
 
 
Com o falecimento do porteiro João Evangelista de Salles foi nomeada para o cargo Isabel Praxedes de Salles, sendo, no entanto,
 
substituída eventualmente por Olímpio Leite Nogueira. Em 18 de agosto de 1923, é nomeada Ana Salles para o cargo de Porteiro, de que se
 
exonerou para ser substituída por João Batista de Salles, em 31 de outubro de 1929, ao mesmo tempo que Maria do Carmo Duarte era nomeada
 
servente.
 
 
<nowiki>* * *</nowiki>
 
 
No período de gestão do Professor Hormisdas constituía o corpo docente do estabelecimento as Professoras Carmen Pereira Fanuchi, Elinira
 
Silva Pereira, Alzira de Melo Alvim, Maria da Glória Ferrer, Déa de Moraes, Dolores Padilha e Aurora Lambert.
 
 
Da instalação do educandário até 1930, em classes vagas ou em períodos de licenças dos respectivos titulares, tiveram exercício
 
interinamente ou mediante contrato: José Pedro Vieira da Silva, Maria José Furquim Lambert, Helena de Montreuil Mineiro, Maria Aparecida
 
Nascimento, Maria da Conceição Oliveira, Efigênia Lambert, Hosina Moraes, João Sebastião de Salles Faiuichi, Jovina de Montreuil, Maria
 
da Conceição Moraes, Brasilina Ferrer, Isaura da Silva Pereira e Alice de Salles Fanuchi.
 
 
Da sua instalação, em 1912, até 1972, o estabelecimento teve a seguinte direção:
 
 
# Maximiano José de Brito Lambert, de 1912 a 1920,
 
# Estefania Ribeiro de Menezes, de 1920 a 1922.
 
# Antônio Hormisdas de Magalhães, de 1923 a 1930,
 
# Francisca Gomes de  Barros, de 1931 a 1937,
 
# Carmen Pereira Fanuchi, de 1937  a 1915,
 
# Déa de Moraes, em 1915 e 1916,
 
# Maria do Nascimento Lambert  de Oliveira, de 1946 a 1967, e
 
# Nilta D'Onofrio de Carvalho, exercício a contar de 1968.
 
 
Em todo esse período tiveram exercício no estabelecimento as seguintes professoras titulares: Dolores Padilha, Elimira Silva Pereira,
 
Ana Bueno (I), Aurora Lambert (removida para Belo Horizonte) Dulce de Carvalho, Maria da Glória Ferrer, Amélia Lambert, Euflausina
 
Tereza de Moraes, Maria de Lourdes Magalhães, Maria Luiza Lima, Ma¬ria do Nascimento Lambert. Maria José de Carvalho, Ana Bueno (II)
 
Maria Imaculada Magalhães, Lucy do Carmo Moraes, Luiza Ramos, Maria Aparecida de Paiva Bueno, Marialva Alves de Carvalho, Mariana Amaral, Maria Aparecida de Carvalho Ferraz, Maria Virgínia Lambert, Maria Cecília Lambert, Ana Romano Bueno Ferreira, Faina Divina Ferreira, Adair Pereira Borges, Maria José Medeiros, Rosalina Medeiros Borges, Ivone Stela Bueno e Neusa Maria de Oliveira.
 
 
 
<nowiki>* * *</nowiki>
 
 
Na data de 8 de fevereiro de 1946 foi nomeada para o Grupo sua primeira diretora técnica, a Professora Maria do Nascimento Lambert de
 
Oliveira, após conclusão de curso realizado na Escola de Aperfeiçoamento Pedagógico do Estado, em Belo Horizonte. A partir de então,
 
passou o estabelecimento por profundas modificações no seu sistema pedagógico, pois que sua diretora pôs em prática métodos, técnicas e
 
processos auridos no renomado instituto padrão do Estado, quiçá do País, na esteira da pedagogia moderna .
 
 
Ao encerrar sua brilhante gestão, deixou a Professora Maria do Nascimento Lambert de Oliveira um lastro de serviços que a recomendam à
 
gratidão do povo de sua terra.
 
 
Depois de aposentada a excelente diretora, o Grupo Escolar ficou assim constituído:
 
 
Nilta  D'0nofrio  Carvalho,  diretora,
 
Terezinha de Jesus Fanuchi Ferreira, auxiliar de diretoria,
 
Alice de Jesus Fanuchi Oliveira, auxiliar do curso supletivo,
 
Lúcia de Salles Nascimento  Carvalho, auxiliar de escrita,
 
Elza Maria Lambert, substituições eventuais,
 
Neusa de Melo Venturelli, artes plásticas,
 
Denise Aparecida de Moraes Marques, bibliotecária,
 
Maria tia Conceição Moraes, canto orfeônico.
 
 
''Professoras regentes de classe:''
 
 
Maria Edina Marques Moraes, Maria Heloísa de Moraes, Maria Cecília Barbosa Ferreira, Maria Aparecida Cavalcanti Franco, Maria Benedita
 
de Oliveira, Maria Luzia Medeiros Cunha, Aurora Medeiros de Faria, Marialva Alves de Carvalho, Rosalina Medeiros Borges, Maria de Lourdes
 
Lambert Duarte, Hedy Maria Bueno Cruz, Adair Medeiros Ramos, Maria do Carmo Lambert Duarte, Célia Benedita de Oliveira, e Mercedes
 
Teixeira Di Lorenzo.
 
 
''Professoras substitutas:''
 
 
Nita Marques Chagas, Celina Presciliana de Toledo, Helena Maria de Carvalho, Maria José Dias, Célia Dalagnoli, Aracy Conrado da
 
Silva, Maria Letieia Figueiredo, Ana Ferreira e Terezinha Míriam Lambert dos Santos.
 
 
''Servidores Administrativos:''
 
 
Expedita Alves da Cunha, Conceição Moreira da Silveira, Maria Aparecida de Paiva, Maria Aparecida Brandão dos Santos e Rita Lopes
 
Padilha.
 
 
Biblioteca: 4.500 livros, homenagem ao Dr. José Guilherme Eiras.
 
 
 
=== O segundo grupo escolar da cidade ===
 
=== O segundo grupo escolar da cidade ===
 
O segundo Grupo Escolar da cidade foi criado pelo Decreto nº 6.907, de 29 de março de 1963 e instalado dia 12 de junho de 1964. A Lei
 
nº 2.707, de 21 de dezembro de 1962, deu a esse estabelecimento a denominação de "Juca Pinto". Sua direção e seu corpo docente estão
 
assim constituídos:
 
 
Luiza Ramos, diretora,
 
Laine Divina Ferreira, auxiliar de diretoria,
 
Noemia Aparecida de Almeida, substituições eventuais.
 
 
''Professoras'':
 
 
Maria Antonia Louzada, Maria Ferreira da Silva, Ivete Martins Faria, Aracy (Piorado da Silva, Maria da Conceição Martins, Vera Lúcia Ferreira Dias, Carmelina Aparecida Lambert, Tereza Sônia Ribeiro Mercedes de Almeida Costa, Ondina Lopes Bello, Ruth de Oliveira Tavares e Marilda Aparecida Borges.
 
 
''Serventes:'' Maria de Lourdes Simões, Maria Aparecida Froes, Maria Conceição Roque e Afaria Conceição de -Jesus Teodoro.
 
 
 
=== O terceiro grupo escolar da cidade ===
 
=== O terceiro grupo escolar da cidade ===
 
+
=== O ensino rural ===
Com a denominação de '''João Lopes''', dada polo Decreto nº 8.710, de 17 de setembro de 1965, foi criado o terceiro Grupo Escolar da
+
=== O ensino secundário e o ensino particular ===
cidade, Decreto nº 8.679, de 9 de setembro de 1965, instalação realizada dia 16 de agosto de 1967. Sua direção, seu corpo docente e
+
=== Inspecção e assistência técnica escolar ===
seus servidores administrativos estão assim constituídos:
+
=== Pioneiros ===
 
+
Maria  Virgínia Lambert, diretora técnica,
+
Maria  Aparecida  de  Paiva  Bueno,  auxiliar  de  diretoria,
+
Neyde  Nascimento Veulurelli,  substituições  eventuais,
+
Vera Lúcia Ribeiro da  Silva, substituições eventuais.
+
 
+
''Professoras:''
+
 
+
Amélia Maria de Paiva Fanuchi, Maria Cecília Lambert Pereira, Iara Maria de Oliveira Ribeiro, Eliana Maria Lambert de Oliveira, Nancy
+
Aparecida de Moraes, Maria Aparecida da Silva, Neuza Marí de Oliveira Tatero, Maria das Graças Brito Marques, Maria Alves Pereira 
+
Camargos, Maria Elizabclh dos Santos, Marina Marques Nascimento, Marilene Salles, Maria Lctícia Ferreira, Benedita Aparecida de Souza,
+
Palmira do Carmo Paiva Fanuchi, Isabel Duarte Bueno, Ivone Stela Bueuno e Célia Dalagnolli.
+
 
+
''Biblioteca:''Dona Ana Bueno - 619 livro.
+
 
+
''Serventes :''Maria da Conceição Nunes Paiva e Tereza Ferreira Lima.
+
 
+
=== Ensino rural ===
+
 
+
No período imperial não havia qualquer interesse da província pelo ensino rural. Era mesmo inexistente, salvo em caráter privado, mantido
+
por fazendeiros, que se cotizavam para a remuneração do mestre. Dadas aos alunos, quase sempre só meninos, as quatro operações fundamentais, e conseguidos os garranchos da assinatura - lá ia o professor para outro reduto, mascateando a sua sabença...
+
 
+
Já na República, mal instalada a Câmara Municipal, são fixadas normas para a criação e o funcionamento do ensino rural, criando-se
+
escolas em vários bairros, assim dispondo a Lei Municipal em 7 de abril de 1895:
+
 
+
Art. 1º Ficão creadas três escolas primárias ruraes no distrito da cidade, sendo as mesmas pela seguinte forma:
+
A primeira denominada Tenente Coronel Fonseca no Bairro da Serra,
+
A segunda denominada Capitão Soares na Fazenda do Bom Sucesso,
+
A terceira denominada Coronel Lambert no Bairro da Roseta.
+
Art. 2º - O ensino será o mesmo estatuído no Regulamento Escolar da Lei nº 10.
+
Art. 3º - As cadeiras serão postas em concurso e não aparecendo opositores às mesmas serão estas mantidas por pessoas habilitada à
+
juízo da Câmara, independente de prestar exame, os quais exercerão esse cargo interinamente."
+
 
+
E dentro desse diploma legal, são nomeados Domingos Cláudio Afonso, em 3 de janeiro de 1896, para as cadeiras de Portão e Rio do
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Peixe, e José Laudelino, em 4 de abril de 1898, para o Bairro dos Vazes.
+
 
+
Enquanto o governo provincial primava, na ocasião, em negar à população rural os benefícios do ensino — a municipalidade incipiente, mal
+
nascia, estabelecia regime avançado no atendimento ao grande problema. E somente depois de trinta e tantos anos — em 1927 — o Estado
+
toma a si, no governo Antônio Carlos, o encargo de instruir a população rural.
+
 
+
Foram então instaladas, em 1927, escolas públicas nos seguintes bairros:
+
 
+
''Vazes'' - Professora Maria da Silveira Lambert,
+
''
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S. Sebastião dos Campos'' - Professoras Maria Vitorino de Souza e Magnólia de Melo.
+
 
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''Portão'' — Professora Ana Bueno,
+
 
+
''Água Comprida'' - Professora Lázara Pereira Coutinho,
+
 
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''Lambert'' - Professora Eugênia Lambert,
+
 
+
''Bom Sucesso'' - Professora  Maria  da Conceição Ferreira,
+
 
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''S. Domingos'' - Professoras Benedita Carvalho e Edith Magalhães,
+
 
+
''Cachoeira'' -  Professora Syria Guimarães,
+
 
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''Nunes'' - Professora Amélia Lambert,
+
 
+
''Serra do Cabral'' - Professora Floripes Nascimento Bueno,
+
 
+
''Braço-das-Antas'' - Professora Maria do Espírito Santo Duarte,
+
 
+
''Vargem-dos-Ilhéus'' - Professora Maria da Conceição Moraes,
+
 
+
''Cemitério'' - Professora Agueda  de Moraes,
+
 
+
''Boa Vereda'' -Professora Maria José de Assis, e
+
 
+
''Brandões'' - Professora Sebastiana de Andrade.
+
 
+
Todas essas escolas foram mantidas pelo Governo Estadual e fiscalizadas pelo Diretor do Grupo Escolar da cidade.
+
 
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Coroando essa bela obra, o Governo Federal, tempos depois, fez construir prédios típicos em Água Comprida, Rio-do-Peixe,
+
Serra do Cabral e Vazes. Mas ''mirabite dictu'' — são todas essas escolas suprimidas em conseqüência dos transtornos financeiros   
+
criados pela Revolução de 1930...
+
 
+
O interregno de ausência de escola pública estadual foi longo, só preenchida a grave lacuna pela interferência oportuna da Prefeitura
+
Municipal, que instalou, por verbas próprias, escolas em vários bairros do município.
+
 
+
O registro de escolas rurais na Secretaria de Estado da Educação acusa, em 1972, as seguintes escolas primárias instaladas em bairros do
+
Município de Cambuí:
+
 
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''Mantidas pelo Estado:''
+
 
+
#Água Comprida - Professoras  Maria  José  Marques, Conceição  Almeida  e  Maria  do  Carmo  Dias.
+
#Rio-do-Peixe - Professoras  Benedita Doleste  Almeida, Terezinha  Sônia  de  Jesus,  Olinda  de  Almeida  e Mariana  Aparecida  do  Nascimento.
+
 
+
''Mantidas pela Prefeitura Municipal:''
+
 
+
# Vazes - Professora Ivalquíria Aparecida Bueno Lambert
+
# Anhumas - Professoras Rosana Aparecida  Bueno  e Benedita  Cândida Brandão
+
# Congonhal — Professoras Ana Silvério Almeida e Benedita Doleste Almeida
+
# Lopes — Professoras Terezinha Resende  de  Souza  e Ana Maria    Tavares
+
# Portão — Professoras Nair Marques Ferreira  e Aparecida Clorado da Silva
+
#Vargem-dos-Ilhéos - Professoras Cacilda Aparecida de Souza e Bernardina  Gonçalves de Souza
+
#Bom Sucesso - Professora Ana Almeida Borges
+
#Braço-das-Antas - Professora  Ana  Maria  de  Faria
+
#Cachoeirinha — Professora  Maria  Antonia  do Prado
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# Caxambu - Professora Benedita Rosa  de  Jesus
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#Fonsecas - Professora Rosa Maria Bertolaccini
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#Lambert - Professora Aracy Clorado da Silva
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#Manoel - Professora  lolanda  da  Silveira  Ferreira
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#Mata - Professora Conceição dos Santos    Almeida
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#Meia Légua - Professora Luzia Moraes
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# Nunes-de-Baixo - Professora Marlene Aparecida Marques
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# Nunes-de-Cima —- Professora Sebastiana de Jesus Barroso
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# Pessegueiros —- Professora  Conceição Dias da Silva
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# Rosas I -Professora  Nilta  Marques  Lambert
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# Rosas II -- Professora  Rosa Maria  da Silva Marques
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# São Manoel -    Professora Carmelina  Aparecida Lambcrt
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# Serro — Professora  Rosa  Sabino  Dias.
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''Distrito de Senador Amaral'' (sede): Escolas Combinadas :
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Adail Bueno (diretora), Professoras Maria da Conceição Cor-rietta, Salete Cândida de Resende, Dulcineia Santana Veiga Resende, Benedita
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Aparecida de Faria, Aracy de Oliveira Rodrigues, e na função de Servente, Maria José de Souza.
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Escola*  Rurais  Distritais,  mantidas  pela  Prefeitura:
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# Serra do Cabral - Professoras Olivia Cabral Moreira e Nair Maria  da Fonseca
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# Ponte  Segura - Professoras  Maria José da Silva e Ovidia  Maria  da  Silva
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#Três Saltos - Professora  Inês Marculina das Chagas
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''Observação:'' As Escolas Combinadas da Sede do Distrito de Senador Amaral, mantidas pelo Estado, funcionam em prédio próprio, construído pelo Prefeito José Francisco do Nascimento.
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O '''Minas Gerais''',  de 19 de novembro de 1965 publicou a criação de Escola Infantil Combinada na Cidade de Cambuí, não sendo, porém,
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instalada por falta de acomodações próprias, embora provida do melhor mobiliário especializado.
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=== Ensino secundário e ensino particular ===
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Foi quase nula a intervenção oficial, antes da República, em favor do Ensino Secundário. As populações do interior da província,
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notadamente, estavam privadas de institutos de grau médio, destinados à educação e à cultura dos adolescentes.
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Em Cambuí chegou a funcionar, no entanto, em 1884, um colégio objetivando a instrução primária e secundária, sob a direção do Professor
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José Villa Maria, que prestou relevantes serviços à mocidade de então.
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Proclamada a República, instalou-se na cidade um externato dirigido pelo notável educador José Guilherme Cristiano, de pouca duração,
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pois seu dirigente foi atraído por Bragança, ocde se fez estimado por seus predicados pessoais e pela obra desenvolvida em beneficio do
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ensino e da cultura.
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Em 1905, o Padre Agostinho Martell cria um externa-to em Cambuí, fazendo funcionar o 1º ano equivalente ao curso ginasial. São
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Professores: José Alexandre de Moraes, de Português; Dr. Caetano Ferreira Pinto Malheiros, de Geo¬grafia e História; Maximiano José de
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Brito Lambert, de Aritmética; Dr. Carlos Cavalcanti, de Francês; e Padre Agostinho Martell, de Religião e Moral e Cívica. Com o falecimento do Dr. Malheiros, grande animador do estabelecimento, o Padre Martell desloca-se para o interior de S. Paulo, e o novel educandário encerra suas atividades.
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Na primeira década desde século, a Professora Analia de Brito Lambert mantinha superlotada classe de ensino primário particular,
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desenvolvendo aí excelente ensino, cumpridas as exigências do programa oficial fixado por Lei da Câmara Municipal.
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Mas é somente em 30 de janeiro de 1956, pela Lei Estadual nº 1.439, que, por iniciativa do Deputado Milton Salles, é criado o Colégio
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Estadual de Cambuí, com a denominação de '''Antônio Felipe de Salles''', dada pelo Decreto nº 5.101, de 6 de dezembro de 1968.
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Abriam-se para a população local e seus vizinhos perspectivas novas e alvissareiras no tocante ao desenvolvimento da cultura c das
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possibilidades que o ensino de segundo grau oferecia aos pretendentes a cursos universitários. Por igual, incorporava-se ao novo
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instituto curso especializado para a formação de professores de ensino primário, aspiração acalentada principalmente pelos estudantes do
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sexo feminino .
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Sua direção, seu corpo docente e seus servidores administrativos, em 1972, são os seguintes:
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Dr. Ayrton Lívio  Salomon,  diretor;
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Dr. João  Carlos Figueiredo, vice-diretor;
+
Ruth Aparecida  de  Oliveira,  secretária;
+
Prof.ª Anísia Medeiros Ferrer, bibliotecária;
+
Prof. Waldomiro Ferreira da Silva, bibliotecário;
+
Tito Eiras, inspetor-de-alunos;
+
Terezinha Capozzoli, inspetora-de-alunos;
+
Terezinha Lagatta, inspetora-de-alunos;
+
Niva D'Onofrio Marques, inspetora-de-alunos;
+
Geraldo Salles, porteiro;
+
Hélio Lúcio da Silva, servente;
+
Rosa Fróis, servente;
+
Maria José Figueiredo, servente; e
+
Luiza Maria  de Jesus, servente.
+
 
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''Professores:''
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Maria José Alvarenga, Matemática; Áureo Faria Macedo, Matemática; Lázara Pereira, Matemática; Alcindo Santos, Matemática; Benedito de
+
Carvalho Lopes, Português; José Pereira, Português; Sebastiana Pereira, Português; Vera Lúcia Meyer, Desenho; Lázara Stella Pereira,
+
Desenho; Celina Aparecida Toledo, Desenho; Alcides Del Agnolo, Inglês; Pedro Carlos Junqueira Ferraz, Geografia; Maria Rita Vilela
+
Figueiredo, Inglês; Alair Pereira Borges, Francês; Anunziata Isabel Marques, Geografia; Maria Antônia de Souza, Ciências; Maria do
+
Carmo Lambert Duarte, Ciências; Neusa Nascimento, História; Neila do Carmo Fanuchi, Educação Moral e Cívica; Neusa Aparecida Finamor,
+
Educação Moral e Cívica; José Aparecido Mello, Química; José Moraes, Física; Antônio Marmo, Física; Francisco Mendonça, Biologia; Maria
+
Paula B. de Oliveira, Biologia; Maria Virgínia Lambert, Didática; Carmelina Aparecida Lambert, Psicologia, Sociologia e Filosofia; Olga
+
Andrade Cruz, Educação Musical; Fernando Leão Jório, Educação Física; Henrique Pereira de Moraes, Educação Física; e Maria Edna de
+
Moraes Marques, Educação Física.
+
 
+
''Diretores do Estabelecimento por ordem cronológica:''
+
 
+
Dr. Pedro Carlos Junqueira Ferraz        1960
+
Prof. Wanderley Meyer               1961
+
Dr. Ayrton Lívio  Salomon               1962
+
 
+
''Primeiros professores:''
+
 
+
Dr. Pedro Carlos Junqueira Ferraz, Dr. Nilton Dias Fróis, Prof.ª Anísia Medeiros Ferrer, Dr. João Carlos Figueiredo, Dr. Benedito
+
Carvalho Lopes, Prof. Wanderley Meyer, Prof. José Pereira e Prof.ª Heloísa Moraes.
+
 
+
''Dados demonstrativo* da evolução do estabelecimento:''
+
 
+
Alunos matriculados em 1968   68
+
Idem em 1972                       940
+
 
+
''Observação:'' Em virtude do grande aumento de matrículas, a CARPE está, em 1972, realizando substancial acréscimo de salas, possibilitando matrículas superiores a 500 alunos novos.
+
 
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=== Inspeção e assistência técnica escolar ===
+
 
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Cambuí é sede de Inspetoria Seccional de Ensino Primário Estadual, a cargo da Dra. Antônia Diva Ferraz de Araújo, compreendendo os
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municípios de Cambuí (sede), Camanducaia, Córrego do Bom Jesus, Bom Repouso, Estiva, Itapeva, Extrema, Toledo e Munhoz.
+
 
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A inspeção às escolas rurais estaduais é feita pela Prof." Maria Aparecida Carvalho Ferraz, designada pela Secretaria de Estado da
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Educação. E a inspeção às escolas rurais mantidas pela Prefeitura cabe à Profª Dulce Aparecida Ramos.
+
 
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A chefia do ensino primário municipal está entregue a Cláudio do Nascimento Magalhães, que acumula ainda as funções de  encarregado  da  Carteira  do Trabalho e NAOF da Prefeitura.
+
 
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Os prédios escolares das zonas rural e urbana foram, em grande  parte,  construídos  pelos seguintes Prefeitos:
+
 
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# por Álvaro de Moraes Navarro, o do bairro Água Branca;
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# por Aristeu Bueno, ampliação e reconstrução do das  Escolas  Combinadas  de  Senador Amaral;
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# por Braz Meyer, os dos bairros Caxambu, Ponte Segura II, Rosas I e Rosas III;
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# por Benedito  Carvalho, os dos bairros Fonseca, Serro e Três Saltos;
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# por Luiz Evangelista Rangel Padilha, o do bairro Bom Sucesso;
+
# por  José  Francisco  Nascimento,  os  dos  bairros Braço das Antas, Cachoeirinha, Congonhal, Lambert, Tônico Manoel,  Meia  Légua,  Nunes  de  Baixo,  Pessegueiros,  Ponte Segura I, Portão, São Miguel e Vargem dos Ilhéos, além do prédio do Grupo Escolar '''Dr.  Carlos Cavalcante''', da cidade;
+
# o prédio das Escolas Combinadas de  Senador Amaral foi,  inicialmente, construído por José Francisco  do Nascimento  mas  reconstruído  pelo  Prefeito Aristeu Bueno, e o prédio  do bairro  das Anhumas também adquirido por José Francisco do Nascimento foi reconstruído pelo Prefeito Braz Meyer.  O  prédio  do bairro  dos Lopes foi  construído pelo Prefeito José  Francisco  do Nascimento  e  reconstruído pelo Prefeito Benedito  Carvalho;
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# os  prédios  dos  bairros  Vazes,  Água  Comprida, Serra do Cabral e Rio do Peixe foram construídos pelo Prefeito José Francisco do Nascimento em convênio com o governo federal.
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=== Os pioneiros ===
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Os primeiros cambuienses a alcançarem a conclusão de curso superior ou especializado, foram os seguintes:
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#Belas-Artes: Inês Moraes
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#Biblioteconomia: Neyde Lambert Oréfice
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#Ciências Econômicas: João Moreira Salles
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#Direito: Antônio Lambert
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#Engenharia: Nib Lambert
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#Farmácia: Levindo Furquim Lambert
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#Filosofia: Neusa Maria Lambert de Morales
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#Medicina: Ney Lambert
+
#Música: João Lambert Ribeiro
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#Normalista: Maximiano José de Brito Lambert
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#Odontologia: Sylvio Lambert de Brito
+
#Ortóptica: Neyde Lambert Oréfice
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#Pedagogia: Márcia Moraes
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#Química: Francisco da Silveira Lambert
+
#Sacerdócio: Monsenhor Aristeu Lopes
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#Veterinária: Sylvio Lambert de Brito
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== Capítulo VIII - Instituições religiosas e filantrópicas ==
 
== Capítulo VIII - Instituições religiosas e filantrópicas ==
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=== Igreja Católica ===
 
=== Igreja Católica ===
 
A igreja construída pelo Capitão Soares e pelo Capitão Moraes viveu até 1914, simples, modesta, desataviada, pobre, oferecendo guarida aos fiéis, que eram a totalidade da população do município.
 
 
Era constituída de dois corpos estruturais. O primeiro, de menor extensão e menor altura, se destinava às práticas litúrgicas propriamente ditas: altar-mor e mesa eucarística, e o corpo maior abrigava a multidão de fiéis para o exercício religioso. Púlpitos de cada lado, no entravamento dos dois corpos. Longas sacadas laterais ainda ofereciam localização aos assistentes, e, ao fundo, no pavimento das sacadas, o "coro" local, destinado às vozes e orquestra.
 
 
Num terceiro corpo do edifício, lado direito, baixo e simples, excrescência arquitetônica, se instalava a sacristia. À frente desse corpo uma tumba, na qual — sabia-se — achavam-se os restos mortais do Capitão Soares, fundador da cidade e construtor da igreja.
 
 
Ao lado do templo, e com ele articulado, erguia-se um arremedo de torre, desajeitado e inestético, em que se instalavam dois grandes sinos, de tonalidades sonoras bem combinadas.
 
 
Tudo muito simples e modesto.
 
 
Ao ser a igreja demolida, em 1914, foi também aberto o jazigo, e o ossário retirado e atirado em vala comum, no atual cemitério, sem uma lápide qualquer ou qualquer indicação dos despojes veneráveis retirados da matriz. Ninguém os localiza hoje.
 
 
Essa omissão indesculpável cabe, por inteiro, aos dirigentes locais da época, que não souberam prestar ao fundador da cidade a homenagem que lhe era devida.
 
 
Essa igreja recebeu, em 1906, o primeiro harmônio que a cidade teve, adquirido pelo Padre Alberto Nunes de Melo Brigagão, que era também excelente musicista.
 
 
Demolido o velho templo, que serviu satisfatoriamente à religiosidade de muitas gerações, construído que foi em 1811, nova igreja foi então levantada 110 mesmo local, sob a orientação de João Felipe, arquiteto competente, de reputado bom-gosto, e de seus irmãos Emílio, Rodolfo e Ângelo. Estrutura arquitetônica também modesta, mas dotada de requisitos, internos e externos, de conforto e certa beleza, que a punham de boa aparência. Tinha no centro de sua fachada uma torre bem lançada, ostentando relógio de regulares proporções.
 
 
Não contente ainda com esse templo, o povo da cidade promoveu, algumas dezenas de anos após, a sua reconstrução, dessa vez obedecendo a uma linha estrutural elegante, mantendo a torre central, em cujo zimbório se instala excelente relógio de grandes dimensões, visível a longa distância. Larga escadaria, dando acesso ao templo, imprime-lhe imponência majestosa.
 
 
Recentemente, um outro templo, de regulares proporções, foi construído ao lado do '''Hospital Ana Moreira Salles''', obra creditada à larga folha de serviços locais do ex-Prefeito José Francisco do Nascimento. Foi também benfeitor dessa arrojada obra Cândido de Brito Lambert (Candoca), que doou o terreno e colaborou efetivamente na sua construção. Interna e externamente, o novo templo, dedicado a São Benedito, é uma bela demonstração de fé.
 
 
<nowiki>* * *</nowiki>
 
 
É longa a relação dos párocos que, além dos já lembrados em capítulo anterior, exerceram ''munus'' sacerdotais na cidade, após o falecimento do Padre José da Silva Figueiredo Caramuru, ocorrido em 8 de junho de 1905, paroquiato iniciado em 1871, a saber: Pe. José Gomes da Conceição (1905), Pe. Agostinho Martell (1906), Pé. Alberto Nunes de Melo Brigagão (1907), Pe. Isidoro Guilmein (1908), Pe. Melchíades Augusto de Matos (1909), Pe. Oscar Sampaio de Maria Auxiliadora (1910), Pe. Waldomiro Braz do Amaral (1910), Pé. Edmundo Augusto de Castro (1910), Pe. Saturnino de Paula Conceição (1911), Frei Marcelino Dorelli (1913), Frei Mauro de São José (1914), Frei Brocardo Colonnelli (1918), Frei Nicolau de São José (1920), Frei Anselmo da Beata Virgem (1922), Pe. Lauro de Castro (1922), Cônego Leopoldo Peyronne (19215), Pe. Joaquim de Oliveira Noronha (1927), Pe. Antônio Pascoal (1948), Pe. Vicente Marques Ribeiro (1950) e Pe. José Avelino Magalhães, estes últimos a serviço de cooperadores do titular, Pé. Antônio Pascoal, seguindo-se Pe. Jorge Nogueira, Pe. Antônio Noronha (de 1957 a 1959), Pe. Jair Ferreira, Cônego Paulo Hermógenes Monteiro e Cônego Foch Morais Teixeira, ora titular da paróquia, realizando devotada obra apostólica na cidade e fora dela.
 
 
São cambuienses de nascimento os seguintes sacerdotes: Monsenhor Aristeu Lopes, integrando a sede arqui-episcopal de Pouso Alegre, mas prestando excelentes serviços sacerdotais à paróquia de sua terra natal; Pe. Afonso Ligório Rosa, Pe. Afonso Carvalho e Pe. Vicente Marques. O atual Vigário de Cambuí exerce seu ministério, também, na Cidade de Córrego do Bom Jesus e na Vila de Senador Amaral. Há, espalhadas pelo município, dezesseis capelas.
 
 
 
=== Igreja Presbiteriana ===
 
=== Igreja Presbiteriana ===
 
Coube a dois evangelistas norte-americanos, cujos nomes se perderam na tempo, lançar a semente da Igreja Presbiteriana em Cambuí, por volta de 1908.
 
 
Iniciaram-na com uma prática evangélica realizada na casa de Salustiano Padilha, presentes aproximadamente dez pessoas. Foi o grão-de-mostarda de que falam os Evangelhos.
 
 
Dez anos mais tarde veio a Cambuí, para visita pastoral, o missionário Rev. Gastão Boyle, que, além de pregações, distribuía Bíblias e as interpretava para o povo. Deram-se, em conseqüência, as primeiras conversões: Salustiano Marques Padilha, Sabino Marques Padilha, José Carneiro da Silveira, Bento Lopes Pacífico e outros.
 
 
O vasto salão da casa residencial de Salustiano Marques Padilha era átrio sagrado que dava nascimento à nova Igreja na cidade. E não foram poucos os reveses, porque, como todas as idéias novas, veio a passar o credo evangélico, até mesmo a política interferindo e exercendo o enteio de suas perseguições. C,orno a história ensina, essas perseguições não bastaram para cortar cerce a árvore nascente: a palavra dos evangelizadores foi levada a Camanducaia e a vários bairros populosos do município, distendendo tentáculos para a conquista de adeptos c crentes, num dos quais, aliás, o Bairro "Sertão dos Lopes", pelo número vultoso de crentes, se instalou a sede dos trabalhos evangélicos, tempos depois, no entanto, transferida para Cambuí, cumprindo ordem do Concilio Superior de São Paulo.
 
 
Muitos foram os grandes pregadores que estiveram em Cambuí, entre os quais cabe citar: Rev. Gastão Boyle, Rev. Jorge Host, Rev. Noé Vey, Rev. Henrique de Camargo, Rev. João Paulo de Camargo, Rev. Avelino Boamorte, Rev. José Ferraz, Rev. Walério M. Silva, Rev. Marco Cerqueira Leite, Rev. Paulo Wilon, Rev. Benedito Manuel de Carvalho, Rev. Delfino José Corrêa, Rev. Humberto Xavier Lene César, Rev. Astrogildo de Oliveira Godoy, Rev. Josias Rosa, Rev. Elias Marques Ferreira e Rev. Osias Costa. Entre esses, fez-se notar como grande músico o Rev. Humberto Lene César.
 
 
A comunidade presbiteriana tem organização e personalidade jurídicas, possui dois templos amplos e bem mo-biliados, bem como salas-de-aulas c casa pastoral. Mantém em Cambuí uma escola dominical para o ensino religioso e para atividades da UMP (União dos Moços Presbiterianos) da Liga Juvenil para as crianças, da Sociedade Auxiliadora Feminina (SAF), bem como mantém ainda programa da União Presbiteriana de Homens (UPH) e cultos com palestras, pregações e estudos bíblicos.
 
 
Realiza assim, a Igreja Presbiteriana de Cambuí, uma fecunda obra de propagação da Fé Cristã.
 
 
 
=== Igreja Evangélica Assembléia de Deus ===
 
=== Igreja Evangélica Assembléia de Deus ===
 
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=== Hospital ''Ana Moreira Salles'' ===
Teve sua fundação em 22 de janeiro de 1959, realizando cultos em praça pública e, posteriormente, cm sala alugada até 1963.
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Em 12 de abril de 1963 instalou-se em sede própria, contando, então, grande número de irmãos, festejando solenemente o acontecimento.
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Respeitadas as exigências do Código Civil Brasileiro (art. 18) e art. 141, § 1º, da Constituição Federal, exerce suas atividades congregacionistas também em Camanducaia e Estiva.
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Iniciou-se modestamente, mas a pouco e pouco foi recebendo adeptos até que, na sede própria, dotada de todos os requisitos e exigências para cultos, inclusive piscina destinada aos cerimoniais de batismo, promove a divulgação evangélica e consolida sua situação, contando desde já com um pastor responsável, cinco presbíteros e quatro diáconos.
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Funcionam suas atividades com o seguinte programa: aos domingos, culto matutino, das 7 às 8 horas; às 15 horas, escola dominical e, às 19 horas, culto público.
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O pastor fundador da Igreja de Cambuí foi o Irmão Oscar Bedori, sendo ultimamente dirigida pelo Pastor Eu-elides Feliciano da Silva.
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Examinando-se o seu desenvolvimento através do tempo, a partir de 1963, verifica-se que a Igreja Evangélica Assembléia de Deus vem alcançando sensível crescimento proselitista em Cambuí.
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=== '''Hospital Ana Moreira Salles''' ===
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Cambuí ufana-se por ostentar um dos mais completos — senão mesmo o mais completo — hospital do Sul de Minas, ou, ainda, do interior do Estado, incluindo-se as grandes cidades.
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O '''Hospital Ana Moreira Salles''' é modelar não só na amplitude dimensional de suas instalações, como na obra que realiza. Nada lhe falta.
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Sua história começa em 26 de setembro de 1944, quando se constitui a primeira mesa administrativa incumbida de tentar os passos iniciais em favor da obra, nela figurando .Tose Francisco do Nascimento, provedor; Dr. Vítor Machado, escrivão; Benedito Salles, tesoureiro; Dr. Murilo Gonçalves Torres, procurador; João Batista Duarte, mordomo; Dr. Milton Salomon Salles, Pé. Lúcio Remusat Reno, Álvaro de Moraes Navarro e Alcino Salomon, definidores. Constituía-se então a Irmandade da Santa Casa, que, nessa qualidade, recebia do Dr. José Guilherme Eiras seis alqueires de terra localizados no Bairro do Portão, além de cinqüenta cruzeiros novos em dinheiro. Abertos, assim, os fundos necessários ao começo da obra, João Moreira Salles entra com o donativo de seiscentos cruzeiros novos, possibilitando assim tornar realidade o sonho de seus idealiza-dores. Em 20 de maio de 1944 é adquirido o terreno e, em 27 de julho de 1952, é reorganizada a diretoria, que fica assim constituída: José Francisco do Nascimento, provedor; Benedito Delfino Machado, escrivão; Pé. José Arlindo Magalhães, tesoureiro; Waldomiro Bueno, procurador; João Batista Duarte, mordomo; Alcino de Oliveira Salomon, José Benedito Lopes, Álvaro de Moraes Navarro, definidores; José da Silveira Lambert, fiscal; e Armando Alves Franco, guarda-livros.
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Em 29 de dezembro de 1956 a instituição, já em pleno funcionamento, recebe o impacto acalentador por parte de João Moreira Salles, que doa à Irmandade a Empresa Forca e Luz, para que sua renda complete e reforce o seu orçamento e dê impulso à obra.
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Com a renúncia do Pé. Arlindo de Magalhães, é eleito provedor da Irmandade João Moreira Salles, que, por ausência, é representado, até 31 de janeiro de 1964, por José André de Moraes.
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E, coroando todas essas iniciativas, a 29 de novembro de 1959, é assentada a primeira pedra da grande obra.
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Com a renúncia de João Moreira Salles, volta a ser escolhido José Francisco do Nascimento provedor, que, dando andamento a seu elogiável programa de ação, faz assentar, em 13 de maio de 1967, a pedra fundamental da Igreja de São Benedito, junto à notável obra hospitalar, contando para isso com a colaboração eficaz de Cândido de Brito Lambert e sua família.
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Finalmente, com grande solenidade, em 18 de fevereiro de 1968, é inaugurado o hospital, a que foi dado o nome de '''Ana Moreira Salles''', em homenagem póstuma à mãe do grande benfeitor da instituição. Fez-se então pre¬sente toda a Família João Moreira Salles, com a exclusão do chefe generoso e amigo, então doente, que, lamentavelmente, veio a falecer dia 2 de março desse mesmo ano.
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A diretoria da Irmandade, em 1972, constitui-se dos seguintes cidadãos: José Francisco do Nascimento, provedor; Dr. Halley Lopes Bello, escrivão; João Batista Duarte, tesoureiro; Dr. Ibraim Ferrer de Oliveira, procurador; Guilherme Fróis, mordomo; Ângelo Bernardo Faccio, Waldomiro Bueno e Benedito Carvalho, definidores.
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É de justiça que, no final destas explicações, dê-se ênfase especial à atitude assumida pela Família João Mo-reira Salles, ao manter no mesmo ritmo a ajuda generosa prestada à instituição por seu grande benfeitor falecido.
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''Corpo Médico'' - Dr. Newmann Pereira Famichi, diretor-clínico; Dr. Olímpio Nogueira  de Figueiredo, Dr. José Maria  Ferreira,  Dr.  José  Cláudio  Carvalho  Bastos  e Dr. Francisco de Souza.
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''Direção Interna'' — Irmãs Claretianas.
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''Serviços e Convênios'' — Convênio com INPS e Funrural, Serviços de Raios X, farmácia, duas salas de curativos, banco de sangue, ambulatório, quatro enfermarias, quinze apartamentos, duas salas de operações, berçário, casa das irmãs (são seis irmãs), igreja, necrotério, PBX e gerador de emergência, sala de esterilização. Atende a todos os tipos de operações, clínica geral, obstetrícia e pediatria. Presta grandes serviços aos pobres, principalmente da zona rural, salientando-se que, ano passado, foram atendidos 3.095 indigentes, dos quais 489 pelo Dr. Newmann Fanuchi, 1.418 pelo Dr. José Maria Ferreira e 738 pelo Dr. Olímpio Nogueira de Figueiredo. Na seção de Maternidade foram feitos 209 partos de indigentes, num total de 290 partos. A farmácia do hospital, aviou 3.859 receitas. Para os serviços internos, além da colaboração de seis irmãs, há ainda 17 empregados.
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Sem qualquer dúvida e sem excessos, pode-se afirmar que o '''Hospital Ana Moreira Salles''' supera muitos nosocô-rnios das grandes metrópoles do País. Não se pode deixar de reconhecer os serviços prestados por vários e operosos cidadãos locais, notadamentc por José Francisco do Nasci¬mento, não só na realização da grande obra como no seu amplo, notável e eficiente desenvolvimento.
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O hospital recebeu recursos financeiros provenientes da distribuição de verbas assistenciais feitos por deputados federais e estaduais.
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=== Posto de higiene ===
 
=== Posto de higiene ===
 
A instalação do Posto de Higiene é serviço público creditado à vitoriosa folha de benefícios prestados pelo Deputado Milton Salles. Está a cargo do Dr. Olímpio Nogueira de Figueiredo, médico-sanitarista, que conta com a colabo¬ração dos cirurgiões-dentistas Dr. Bruno Capozzolli, Dr. Rui Ferrer de Oliveira e Dr. José Barbosa e do servente Rui Lelis de Moraes.
 
 
Presta extensos serviços à população do município e circunvizinhanças, notadamente às classes pobres.
 
 
Em 1971 distribuiu medicações a 1.223 doentes e apli¬cou 287 injeções. Atendeu a 4.025 consultas. Foram imunizadas com vacinas tríplices 361 crianças e com vacinas Sabin 127 crianças.
 
 
A vacinação anti-variólica elevou-se a 88 pacientes, e contra febre tifóide receberam vacinação 6.277 indivíduos.
 
 
Foram feitos 258 exames de fezes.
 
 
Por sua vez, o serviço odontológico do Centro de Higiene registrou a entrada de 520 crianças e atendeu a 1.755 pacientes. Realizou 1.981 obmrações e 1.511 extrações e um total de 1.579 curativos. Estão matriculadas no posto 7.280 crianças.
 
 
O atendimento é feito, com interesse especial, por toda a equipe lotada no Posto de Higiene local.
 
 
 
=== Tábua itinerária ===
 
=== Tábua itinerária ===
 
Distâncias de Cambuí a vários centros urbanos:
 
 
                                      km
 
1 - a Belo Horizonte                          421
 
2 - a São Paulo                                  151
 
3 - a Pouso Alegre (via Estiva )          59
 
4 - a Paraisópolis (via Consolação)    36
 
5 - a Camanducaia                              21
 
6 - a Bom Repouso                            24
 
7 - a Córrego do Bom Jesus                7
 
8 - a Distrito de Senador Amaral        18
 
  
 
== Capítulo IX - Serviços de utilidade pública ==
 
== Capítulo IX - Serviços de utilidade pública ==
Linha 2 250: Linha 687:
 
usuária exigia cada vez mais energia.
 
usuária exigia cada vez mais energia.
  
A luz, na cidade, chegou a tal ponto de amorteci-mento que sua população, lamentavelmente revoltada, depredou suas instalações,  
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A luz, na cidade, chegou a tal ponto de amorteci-mento que sua população, lamentavelmente revoltada, de¬predou suas instalações,  
 
quebrando-lhe os postes e arrancando-lhe os fios condutores.
 
quebrando-lhe os postes e arrancando-lhe os fios condutores.
  
Linha 2 263: Linha 700:
 
Empresa Elétrica Bragantina, depois de ter sido reformada e ampliada a rede de distribuição urbana e domiciliaria.
 
Empresa Elétrica Bragantina, depois de ter sido reformada e ampliada a rede de distribuição urbana e domiciliaria.
  
Está, pois, a cidade, não só bem iluminada como em condições de oferecer energia às indústrias que se vão criando ou ampliando.
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Está, pois, a cidade, não só bem iluminada como em condições de oferecer energia às indústrias que se vão cri¬ando ou ampliando.
  
 
Na Praça Coronel Justiniano é empregada iluminação a mercúrio, o que a torna ainda mais sugestiva e bela.
 
Na Praça Coronel Justiniano é empregada iluminação a mercúrio, o que a torna ainda mais sugestiva e bela.
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===Atividades agropecuárias===
 
===Atividades agropecuárias===
  
O escritório da Associação de Crédito e Assistência Rural (ACAR) vem desenvolvendo intenso trabalho de orientação agropecuária, bem como estudando tecnicamente as condições ecológicas do município, de maneira a possibilitar melhor aproveitamento e maior desenvolvimento da economia rural. Vem dando prioridade a tudo quanto se refere à exploração da batata, que, por isso mesmo, alcançou índices de relevância nacional.
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O escritório da Associação de Crédito e Assistência Rural (ACAR) vem desenvolvendo intenso trabalho de orien¬tação agropecuária, bem como estudando tecnicamente as condições ecológicas do município, de maneira a possibilitar melhor aproveitamento e maior desenvolvimento da eco¬nomia rural. Vem dando prioridade a tudo quanto se re¬fere à exploração da batata, que, por isso mesmo, alcançou índices de relevância nacional.
 
   
 
   
 
A preferência dos agricultores tem repousado na batata das águas, com a colheita total de 1.015.000 sacas de 60 kg, usadas para isso as variedades Bintje holandesa, Bintje sueca e Rodosa. A batata das secas, importada da Holanda, serve para o aproveitamento de sementes. O preço por saca varia de Cr$ 15,00 a Cr$ 80,00.
 
A preferência dos agricultores tem repousado na batata das águas, com a colheita total de 1.015.000 sacas de 60 kg, usadas para isso as variedades Bintje holandesa, Bintje sueca e Rodosa. A batata das secas, importada da Holanda, serve para o aproveitamento de sementes. O preço por saca varia de Cr$ 15,00 a Cr$ 80,00.
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Outros produtos agrícolas estão sendo explorados sob os cuidados técnicos da ACAR, nos termos do quadro abaixo:
 
Outros produtos agrícolas estão sendo explorados sob os cuidados técnicos da ACAR, nos termos do quadro abaixo:
  
  '''Cultura'''                   '''Área plantada ha'''       '''Rendimento ha'''         '''Produção'''  
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  '''Cultura'''           '''Área plantada ha'''   '''Rendimento ha'''     '''Produção'''  
  Feijão das águas                     130                           12                     1.560
+
  Feijão das águas     130             12         1.560
  Feijão da seca                         250                           11                     2.750
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  Feijão da seca       250             11         2.750
  Milho                       2.300                           20                   46.000
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  Milho   2.300             20         46.000
  Café                         320                           40                   12.000
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  Café     320             40         12.000
  Arroz (ano de 71)                 1.800 ha                 740 kg/ha   51.000
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  Arroz (ano de 71) 1.800 ha           740 kg/ha 51.000
 
  ''Observação: A produção do arroz é considerada como o produto em casca.''
 
  ''Observação: A produção do arroz é considerada como o produto em casca.''
  
Linha 2 537: Linha 974:
 
televisionada e radiofônica, e ali, em 1905, o Padre Agostinho Martell plantou uma cruz de madeira, oficiando missa solene perante  
 
televisionada e radiofônica, e ali, em 1905, o Padre Agostinho Martell plantou uma cruz de madeira, oficiando missa solene perante  
 
considerável número de excursionistas.
 
considerável número de excursionistas.
 
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O Pico de São Domingos / Pedra de São Domingos nunca pertenceu a Cambuí, como acreditava '''Levindo Lambert''', nem mesmo quando o
 
Córrego do Bom Jesus não era emancipado politicamente de Cambuí. O maciço maior da pedra, como avistamos de Cambuí, está
 
circunscrito em área pertencente ao município de Camanducaia, e sempre foi assim, conforme se depreende de escritura
 
pública lavrada naquele município. Já no seu lado leste, por onde a estrada chega, tem como marco divisando com a pedra maior,
 
o que ficou conhecido como pedra menor ou pedra "fia", sendo as vertentes de um lado para Camanducaia e do outro Paraisópolis,
 
sede da comarca de Gonçalves, cuja área está circunscrita neste município, sendo fato corroborado pela escritura
 
publica registrada naquela comarca. ('''Túlio José Borges Pereira''')
 
 
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===Distrito de senador Amaral===
 
===Distrito de senador Amaral===
Linha 2 556: Linha 981:
 
Suas condições mesológicas, bem como a liberdade de suas terras, em que a batata o colocou em primeiro plano da produção nacional, vem atraindo forasteiros, agricultores e comerciantes vindos de toda a região, dando-lhe, por isso, inusitado  movimento  e  impressionante  prosperidade.
 
Suas condições mesológicas, bem como a liberdade de suas terras, em que a batata o colocou em primeiro plano da produção nacional, vem atraindo forasteiros, agricultores e comerciantes vindos de toda a região, dando-lhe, por isso, inusitado  movimento  e  impressionante  prosperidade.
  
Sua área é de 138 km² e sua sede é dotada de luz elétrica fornecida pela Empresa Elétrica Bragantina S.A., de água encanada e esgoto domiciliário em andamento progressivo. Tem serviço regular de correio e duas linhas de ônibus ligando à sede do município e ao Arraial de Ponte Segura.
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Sua área é de 138 km2 e sua sede é dotada de luz elétrica fornecida pela Empresa Elétrica Bragantina S.A., de água encanada e esgoto domiciliário em andamento progressivo. Tem serviço regular de correio e duas linhas de ônibus ligando à sede do município e ao Arraial de Ponte Segura.
  
 
Uma queda d'água de regulares proporções, dentro da urbs, proporciona espetáculo agradável à vista.
 
Uma queda d'água de regulares proporções, dentro da urbs, proporciona espetáculo agradável à vista.
Linha 2 573: Linha 998:
 
Não é de mais que se repita aqui a decadência do Rio das Antas. Merece ele página especial pela importância que teve na vida da cidade. Seu esvaziamento se deve à devastação das matas nas suas cabeceiras. Seus afluentes vão, a pouco e pouco, se esgotando sem que os moradores ribeirinhos tomem conta do seu definhamento e dos prejuízos que seu desgaste traz.
 
Não é de mais que se repita aqui a decadência do Rio das Antas. Merece ele página especial pela importância que teve na vida da cidade. Seu esvaziamento se deve à devastação das matas nas suas cabeceiras. Seus afluentes vão, a pouco e pouco, se esgotando sem que os moradores ribeirinhos tomem conta do seu definhamento e dos prejuízos que seu desgaste traz.
  
Era outrora caudaloso e, nas chuvas demoradas, turbulento e bravo. Uma ponte extensa, toda coberta de folhas de zinco, ligava a cidade às  
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Era outrora caudaloso e, nas chuvas demoradas, turbulento e bravo. Uma ponte extensa, toda coberta de folhas de zinco, ligava a Cidade às  
 
Chácaras do Zeca Correia e do Tota, abrindo passagem para Estiva e Vazes. As aberturas laterais não ofereciam vau à travessia livre de  
 
Chácaras do Zeca Correia e do Tota, abrindo passagem para Estiva e Vazes. As aberturas laterais não ofereciam vau à travessia livre de  
 
pedestres ou animais, salvo se a nado.
 
pedestres ou animais, salvo se a nado.
Linha 2 585: Linha 1 010:
 
Hoje, não se dá isso. O Deputado Ulisses Escobar, representante de Camanducaia na Assembléia Legislativa do Estado, quando no exercício de Secretário de Estado da Viação, mandou para ali uma draga, deu ao rio retificação acertada e pôs fim às inundações periódicas. Ao mesmo tempo, ensejou a exploração rizícola das suas terras fecundas.
 
Hoje, não se dá isso. O Deputado Ulisses Escobar, representante de Camanducaia na Assembléia Legislativa do Estado, quando no exercício de Secretário de Estado da Viação, mandou para ali uma draga, deu ao rio retificação acertada e pôs fim às inundações periódicas. Ao mesmo tempo, ensejou a exploração rizícola das suas terras fecundas.
  
Na época própria, o vargedo extenso que margeia a '''Fernão Dias''' cobre-se de amarelo farfalhante, oferecendo à vista dos passageiros uma  
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Na época própria, o vargedo extenso que margeia a "Fernão Dias" cobre-se de amarelo farfalhante, oferecendo à vista dos passageiros uma  
 
paisagem animadora e sugestiva.
 
paisagem animadora e sugestiva.
  
Linha 2 658: Linha 1 083:
 
É razoável que se registre- aqui a implantação dos meios de recepção televisionada em Cambuí. Inicialmente, dado o vultoso número de aparelhos televisores instalados, foi organizada uma empresa que, acertadamente, plantou nas alturas do Pico de São Domingos (2.056 m) uma possante antena receptora, capaz mesmo de receber irradiações províncias de estações longínquas.
 
É razoável que se registre- aqui a implantação dos meios de recepção televisionada em Cambuí. Inicialmente, dado o vultoso número de aparelhos televisores instalados, foi organizada uma empresa que, acertadamente, plantou nas alturas do Pico de São Domingos (2.056 m) uma possante antena receptora, capaz mesmo de receber irradiações províncias de estações longínquas.
 
   
 
   
Fracassada, tempos depois, a inteligente iniciativa, o "ponto de escuta" passou à ''Empresa de Transportes Cometa'', poderosa e de abrangentes ligações interestaduais, que dele se serve para a constante interligação de seus inúmeros ônibus em trânsito rodoviário.
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Fracassada, tempos depois, a inteligente iniciativa, o "ponto de escuta" passou à Empresa de Transportes "Cometa", poderosa e de abrangentes ligações interestaduais, que dele se serve para a constante interligação de seus inúmeros ônibus em trânsito rodoviário.
  
 
Mas, recentemente, beneficiando de pronto os inúmeros usuários da cidade e da circunvizinhança, foi instalada uma antena no chamado antigamente "Morro do Maneco Moreira", hoje de propriedade de Benedito Carvalho, de onde se descortina toda a cidade e seus arrabaldes.
 
Mas, recentemente, beneficiando de pronto os inúmeros usuários da cidade e da circunvizinhança, foi instalada uma antena no chamado antigamente "Morro do Maneco Moreira", hoje de propriedade de Benedito Carvalho, de onde se descortina toda a cidade e seus arrabaldes.
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===Estradas===
 
===Estradas===
 
O problema da intercomunicação dos municípios sul-mineiros com a capital de São Paulo para onde converge todo o comércio da região e de
 
onde provêm os produtos industrializados de que ela necessita, constituía a preocuparão dos governantes municipais e de toda a população
 
limítrofe. Já em 1854 (''Revista do Arquivo Público Municipal de São Paulo'', 1937), as populações da região sul-mineira pleiteavam sua
 
anexação a São Paulo sob o fundamento de que todo o seu comércio era feito com a capital paulista. Daí a obsessão com que enfrentaram
 
óbices e entraves opostos pelos administradores federais e estaduais na solução do problema.
 
 
O jornal '''O Progresso''', de Cambuí, publicava, em 13 de maio de 1928, os seguintes comentários:
 
 
"Jaguari, Extrema e Cambuí vêm de longos anos trabalhando junto aos poderes do Estado para que esta região do extremo sul de Minas
 
seja beneficiada por estrada de ferro ou de rodagem.
 
O nosso colega '''O Tempo''', de Jaguari, por anos consecutivos, com uma perseverança patriótica e ativa, digna de encômios,
 
não se cansa de abordar o palpitante problema.
 
As Câmaras Municipais, por sua vez, já foram incorporadas a Belo Horizonte pedir ao então Presidente Mello Vianna as
 
boas graças do Estado, para que se resolvesse a questão rodoviária do extremo sul. E todo o sul de Minas se rejubilou
 
com a promessa então feita, de que seria efetiva¬da a ligação férrea Paraisópolis à estação dê Vargem.
 
Mais tarde, tendo falhado essa promessa, as mesmas Câmaras Municipais, por procurador idôneo, foram à presença do
 
Sr. Presidente da República, pedindo solução para o angustioso problema.
 
Agora, finalmente, sentimo-nos tocados por uma esperança benfazeja: o Governo Ao Estado, por intermédio da
 
Secretaria da Agricultura, resolveu mandar estudar a ligação Belo Horizonte-São Paulo, cuja linha-tronco passaria
 
por Jaguari, Extrema e Cambuí. Esse ato do Governo foi auspiciosamente comentado pela imprensa, que — sem qualquer voz
 
discordante — via nele a melhor solução do problema.
 
Pois bem, Ouro Fino discordou dessa ligação, e entrou a telegrafar pedindo primazia para o seu município. Não contente
 
com isso, a '''Gazeta de Ouro Fino''', órgão oficial da política ouro-finense, vem de encetar campanha de
 
pretensões egoísticas, querendo à viva força fazer com que a linha-tronco passe por aquele município, porque
 
é tal e tal sua produção cafeeira, porque é tal e tal sua riqueza."
 
 
E depois de comentar com certa ironia as alegações bombásticas referentes ao alto progresso alcançado por Ouro Fino, continua o
 
articulista convocando os políticos ouro-finenses a cerrar fileiras em torno da pretensão de Jaguari, Extrema c Cambuí, até então
 
municípios postos à margem das cogitações e dos interesses do governo estadual. E encerra seus comentários depois de lembrar que Ouro
 
Fino já estava aquinhoado por estrada de ferro, clamando por justiça em favor de uma rica e abandonada zona do Estado.
 
 
Em 17 de setembro de 1933, um cronista escrevia para a cidade de Bragança (SP) estes comentários:
 
 
"Um jornal do Sul de Minas vem de fazer longa reportagem a favor da ligação férrea de Bandeirantes (SP) e Pouso Alegre,
 
na Estrada de Ferro Sul de Minas.
 
É uma campanha cediça nos anais da região. Pode-se mesmo dizer que os municípios contidos na referida zona esgotaram
 
todos os recursos em prol desse melhoramento.
 
'''O Município''',  jornal que se editava em Cambuí, número de 6 de setembro de 1904, dá a notícia da exploração
 
que o Engenheiro Dr. Costa Trevões estava fazendo no sentido de estabelecer a ligação ferroviária entre Bragança (SPR)
 
e a Rede Sapucaí.
 
Nessa mesma ocasião fundava-se em Cambuí uma associação denominada "Sociedade Agrícola e Industrial" destinada,
 
entre outros fins, a fazer "a propaganda em prol da estrada de ferro que deverá passar por esta cidade", tal como
 
expressava o jornal cambuiense '''A Propaganda''', de 22 de setembro de 1904.
 
A Associação ficou no discurso do Promotor de Justiça e no lema ''Improbus labor oimia vincit'' —  eloquentemente
 
proposto pelo vigário..."
 
 
E o mesmo jornal continua tecendo argumentos e comentando projetos do Governo do Estado, em favor da desenvolvimento cada vez maior da
 
rede ferroviária do Estado, acrescentando:
 
 
"Ao assumir a Presidência do Estado, o Sr. Raul Soares designou comissão de engenheiros, da qual fazia parte
 
o atual Presidente do Estado, Dr. Olegário Maciel, com o fim de estudar o plano ferroviário a aludida comissão
 
apresentou o seu relatório: foram meticulosamente estabelecidas todas as ligações ferroviárias do Estado, exceto a
 
que dizia respeito ao extremo Sul de Minas (Cambuí, Camanducaia e Extrema) . Diante desse inominável "esquecimento",
 
dirigimos uma Carta Aberta (ver '''Imparcial''', de Pouso Alegre, nº 121) ao Presidente do Estado (junho de 1923)
 
estranhando não consignar aquele plano a ligação Pouso Alegre-Vargem.
 
Mais tarde, em 1927, os Presidentes das Câmaras de Extrema, Camanducaia e Cambuí vêm a Belo Horizonte entender-se
 
com o Presidente do Estado sobre o mesmo desiderato, defendendo a velha aspiração dos municípios sulinos. E '''O Tempo''',
 
de Camanducaia (nº de setembro de 1927) publicava, logo em seguida, violento artigo analisando as promessas
 
vãs dos governos e lembrando a conveniência de se unirem, por uma qualificação eleitoral intensificada, no sentido
 
de fazerem, peso na balança eleitoral.
 
E indo ficou em demagogia..."
 
 
E o cronista de Belo Horizonte para o jornal paulista conclui seus comentários conclamando todos os municípios localizados na área
 
abandonada para uma ação conjunta, cm que, além dos elementos de caráter político se unam representantes de todas as classes sociais,
 
homens da inteligência, do comércio, da indústria, da lavoura, para, em conjunto, alcançarem o objetivo colimado.
 
 
E outro jornal de Cambuí mesmo, '''O Expositor Municipal''', de 1º de outubro de 1933, a propósito da reportagem acima transcrita,
 
acrescenta:
 
 
"Esse artigo é um esforço ingente, incomensurável, que se vem fazendo, de longa data, nos municípios abandonados
 
— Cambuí, Camanducaia e Extrema — em prol de tão útil campanha. Tal-vez mesmo seja utopia a ligação ferroviária
 
desta malfadada tríade de fecundos e ubérrimos rincões mineiros, mas, mesmo assim, tem sido, está sendo, há de ser
 
o belo sonho acalentado e acariciado por todos os habitantes destas plagas."
 
 
Mais  recentemente, é a '''A Montanha''',  de  25  de abril de 1948, de Cambuí que escreve:
 
 
"Vem causando relativa impressão o movimento separatista do Triângulo Mineiro. Quer a gente daquele rincão,
 
''tout court'', o seu desmembra-mento de Minas e a constituição de um novo listado — o Estado do Triângulo.
 
Se o movimento é de grande envergadura, não sei. Negam-lhe importância, uns; emprestam-lhe seriedade, outros.
 
De qualquer modo, o que nenhuma dúvida resta é que os benefícios do governo devem ser distribuídos equitativamente
 
por todas as comunas, coibido o privilégio criado em favor da zona feliz que deu à luz o governante do momento...
 
Mais acertado, sob o ponto de vista administrativo ou mesmo político, seria que os municípios limítrofes de São Paulo
 
recebessem maior ajuda. E se explica: é que em São Paulo a vida municipal é muito mais confortável. As cidades
 
paulistas oferecem mais interesses, quer nas possibilidades de progresso e conforto propriamente ditos, quer no
 
tocante aos problemas da luta pela vida. Exercem, por isso mesmo, um constante atrativo aos mineiros da fronteira,
 
em virtude do que a emigração para a Canaan paulista toma quase as proporções de um êxodo permanente. Daí o fato
 
de se lembrar a necessidade de melhor proteção aos municípios limítrofes com o grande Estado bandeirante."
 
 
Pois bem, esse problema permaneceu na tenda das discussões por muitos lustros, só alcançando solução com a advento da estrada asfaltada
 
superiormente denominada '''Fernão Dias''', pois ela recobre, em toda a sua extensão, as pegadas ali feitas pelo impávido desbravador de
 
nossos sertões.
 
 
Com a abertura da grande rodovia, cessaram as discussões e as queixas em torno do isolamento a que estava relegada larga faixa do sul do
 
Estado.
 
 
Veja-se que o lançamento direciona! da grande via acompanha rigorosamente a trilha aberta pelo indígena, lembrando assim o que assinala
 
Buarque de Holanda (''Caminhos e Fronteiras'', pág. 23) que, por igual, acompanha Orville Derby ao afirmar que os sertanistas "apenas
 
seguiam caminhos já existentes pelos quais se comunicavam entre si os índios de diversas tribos relacionadas, ou grupos da mesma tribo.
 
"E Buarque de Holanda acrescenta, com acerto, que ''ainda hoje, o traçado de muitas estradas de, ferro parece concordar, no essencial, com os velhos caminhos dos índios e bandeirantes, sinal de que sua localização não era caprichosa'' (obr. cit., pág. 23).
 
 
Também Cassiano Ricardo (''Marcha para o Oeste'', pág. 251) diz: "São os caminhos preexistentes, abertos pelos índios — as picadas — ou
 
pela natureza — os rios e principalmente os que ele mesmo abriu, que explicam a ubiquidade do bandeirante pelo Brasil inteiro."
 
Ligando as duas grandes capitais — São Paulo-Belo Horizonte — a '''Fernão Dias''' abriu perspectivas novas para todas as cidades plantadas às suas margens. Por ela, enfim, partindo de Atibaia em 1674, transitou o intrépido bandeirante em seu roteiro em busca das minas do Sapucaí, segundo informa Capistrano de Abreu (''Os Caminhos Antigos e Povoadores do Brasil'', pág. 69).
 
 
 
===Limites interestaduais===
 
===Limites interestaduais===
 
A solução da pendência de limites entre Minas e São Paulo não alcançou, de pronto, efeito na longa linha traçada pela demarcação Rubim.
 
No correr dos tempos surgiram interpretações diversas em alguns pontos da linde, criando pequenos focos de atritos interestaduais. Um dos
 
pontos mais controvertidos e, por isso mesmo, dos mais sérios, deu-se no local por São Paulo designado "Bandeirantes" e por Minas chamado
 
"Vargem", entre os Municípios de Extrema (MG) e Bragança Paulista. Dualidade de topônimos para o mesmo local.
 
 
Os serviços de fiscalização e de arrecadação de impostos, principalmente, encontravam ali o clímax da controvérsia: se o fiscal vinha
 
de São Paulo, o contribuinte alegava suas condições de "mineiro", e se, ao revés, o arrecadador se dizia mineiro, o devedor se
 
proclamava morador em terras de São Paulo. A dupla territorialidade estadual se entrechocava quando os interesses econômico-financeiros
 
se fazia sentir. E ninguém ali pagava impostos estaduais c municipais.
 
 
Criada a diocese de Bragança, o respectivo titular nomeou de pronto, pároco para o Arraial de Bandeirantes, recebendo, porém, de
 
imediato, protesto do Bispo de Pouso Alegre, que ali tinha uma de suas paróquias.
 
 
A Estrada de Ferro Bragantina, por seu turno, a fim de garantir a posse paulista na estreita faixa contestada, espichou seus trilhos
 
partindo de Bragança, até o ponto exato em que São Paulo entendia estar sua linha divisória, construindo aí a estação ferroviária
 
"Bandeirantes".
 
 
Os jornais da região, por motivo de suas afinidades políticas e sentimentais, entraram na perlenga. Em Camanducaia, pelo '''O Tempo''',
 
Plínio Gayer protestava corajosamente e, por igual, '''O Progresso''', de Cambuí, dirigido por Levindo Lambert, reagia contra a
 
intromissão paulista.
 
 
O clima não era bom...Mas tudo ia, a pouco e pouco, amainando ante as perspectivas apontadas por comissão de alto nível designada para
 
solucionar o litígio.
 
 
<nowiki>* * * </nowiki>
 
 
A  questão,  porém, não  se  encerra  aí.
 
 
O '''Estado de Minas''', de 30 de janeiro de 1934, publicava vibrante, editorial comentando a situação do mo-mento, em que o extremo sul do Estado reclamava contra a situação de abandono por parte do governo estadual:
 
 
"Noticia-se — diz o articulista - que a população de Vargem, território contestado por Minas e São Paulo, vem de enviar
 
representação à Constituinte pedindo a solução para a controvérsia suscitada naquele local entre os dois Estados.
 
Um jornal paulista, comentando o fato, diz que "os habitantes daquele lugar, em hipótese alguma desejam submeter-se à jurisdição
 
mineira." E terminando, assevera o mesmo jornal, que o memorial em apreço propõe plebiscito para a solução definitiva do caso.
 
Quem  conhece a zona fronteiriça prevê, desde logo, que, aceita por quem de direito, a fórmula plebiscitaria, o resultado,
 
não pode haver a menor dúvida, será favor de São Paulo."
 
 
E o articulista critica a maneira como a administração estadual mineira enfrenta os problemas pertinentes às questões sócio-econômicas
 
da região. E acrescenta em seguida:
 
 
"A população de Vargem, território que a ad-ministração mineira batizou com o nome de "Palmeiras", se nega a
 
submeter-se à jurisdição mineira. Terá razão?"
 
 
Sim e não, responde o próprio articulista.
 
 
Atribuíam-se motivos de natureza geográfica para a opção dos moradores de Vargem (ou Palmeiras) em favor de São Paulo, mas encontram
 
razões históricas e sentimentais para justificar a permanência mineira no arraial, e acrescenta:
 
 
"Já se disse que os municípios de Extrema, Camanducaia e Cambuí constituem o apêndice de Minas Gerais. Acertada expressão,
 
essa: apêndice, coisa inútil, pedaço que os cirurgiões decepam sem nenhum dano para o paciente e o atiram aos cães famintos.
 
Apêndice, acertada expressão aplicada aos três municípios sulinos, que vão sendo, de verdade, coisa inútil no organismo
 
administrativo de nosso querido Estado."
 
 
E encerrando com palavras repassadas de revolta e tristeza, diz ainda o articulista:
 
 
"Urge que Minas Gerais adote política de proteção às localidades situadas nas divisas paulistas. Provê-las de recursos
 
financeiros, de meios de comunicações, de obras e edifícios públicos e maiores facilidades na ação administrativa, de forma
 
a prender o indivíduo ao meio e a despertar nas respectivas populações a gratidão, o amor, a admiração, o reconhecimento
 
e o orgulho pelo Estado e por seus governantes  - é o caminho para a conquista das simpatias de uma região que é,
 
diga-se o que se disser, genuinamente mineira."
 
 
Palavras proféticas. Nos últimos anos, os governos estaduais têm proporcionado à região uma política de desenvolvimento gradativo, sob
 
todos os aspectos, consolidando a simpatia popular pelo Estado.
 
 
 
===O ''Apêndice Mineiro''===
 
===O ''Apêndice Mineiro''===
 
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===Solução de limites ===
Cambuí, Camanducaia e Extrema receberam o epíteto pejorativo do ''Apêndice  Mineiro''.
+
 
+
Infelizmente — diz um comentarista pela '''Cidade de Bragança''', de 21  de julho de 1938:
+
 
+
"Estou agora compreendendo os motivos porque os governos estaduais têm entregue à própria sorte os três municípios
+
do Sul do Estado: Cambuí, Camanducaia e Extrema.
+
Depois de uma longa jornada pela imprensa em que debati com denodo e fé esse problema culminante para a minha terra,
+
experimento agora aquela estranha sensação, que a inteligência do Padre Vieira teve que se render para entender as
+
intrincadas regras do vetusto latim..."
+
 
+
E depois  de comentar a  posição  geográfica  dos municípios em relação a  São Paulo, diz:
+
 
+
"Alimentei por muito tempo a esperança de que Minas Gerais acolhesse um dia os anseios e aspirações daquela
+
pequena região do Estado, fazendo deslizar por suas colinas luxuriantes as locomotivas condutoras de progresso
+
e de riqueza, ou, então, abrisse por seus vales magníficos amplas e largas rodovias.
+
Todavia, chego à conclusão de que jamais os habitantes de minha terra ouvirão o silvo agudo das máquinas possantes
+
jamais terão o concurso oficial na abertura de artérias destinadas à condução de nossas riquezas."
+
 
+
E acrescenta com certa  ênfase:
+
 
+
"Cambuí, Camanducaia e Extrema são tributários de São Paulo. O seu comércio, embora incida sobre eles pesados
+
tributos de fronteira, é feito com Bragança e mesmo com a grande metrópole paulista."
+
 
+
E depois de enfatizar o desinteresse da administração mineira, no tocante a esse recanto rico e ameno do Estado, conclui com certa
+
tristeza :
+
 
+
"Se é verdade que tudo é Brasil, na expressão corriqueira da literatura unitária, também é certo que, se Minas Gerais
+
proporcionar melhores meios de transporte à malsinada região extremo-sul, abrirá, inquestionavelmente, maiores fontes
+
econômicas ao já poderoso Estado de São Paulo. Se tudo é Brasil - que impede São Paulo procurar resolver então esse
+
problema relevante para seu próprio interesse?"
+
 
+
Não foi necessária a interferência paulista em coisas de interesse mineiro, porque um mineiro na Presidência da República abriu a
+
cobiçada estrada. Nem, tão pouco, encontrou ressonância o cepticismo incongruente e desajustado do comentarista, porque Minas Gerais, no
+
seu ''self-government'', soube dar solução acertada e oportuna ao grave problema de suas ligações viárias.
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No rastro desses acontecimentos e comentários, faz-se lembrar que o Dr. José Guilherme Eiras, prestigioso causídico então residente em
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São Paulo, reuniu em interessante plaqueta uma série de seus artigos publicados no '''Correio Paulistano''', conceituado diário de São Paulo. Um comentarista mineiro, por sua vez, sob a epígrafe "Os Limites de Minas e São Paulo", em '''O Diário''' (BH) de 9 de setembro de 1935, teceu considerações elevadas em torno do opúsculo, analisando-lhe os argumentos e apreciando-lhe os objetivos, condenando, no entanto, o plebiscito lembrado pelo eminente advogado para a decisão da controvérsia.
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Muito antes do Dr. José Guilherme Eiras, um batalhador incansável pela redenção do chamado "apêndice mineiro", o Sr. Mineiro Júnior
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publicava no "O Imparcial", de Pouso Alegre, em junho de 1923, extensa e bem lançada "carta-aberta" ao Dr. Raul Soares, então Presidente
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do Estado, pleiteando com vigor e razões concludentes a ligação Paraisópolis (RMV) à Estação de Vargem ou Bandeirantes (SPR).
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Embora já se houvesse versado esse assunto em outro capítulo desta obra, repita-se que o Governo de então havia constituído comissão de
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engenheiros, entre os quais o Sr. Olegário Maciel, incumbida de oferecer-lhe estudo integral de todas as estradas por que Minas ansiava.
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E do relatório extenso em que figuravam até mesmo sub-estradas, vias hipotéticas, destinadas a futuro remoto, não constava a estrada
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destinada a favorecer o rincão de Cambuí, Camanducaia e Extrema. Mineiro Júnior, então, protesta com veemência e calor, acusando a
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comissão de agir sob influências políticas, desprezando os interesses regionais das respectivas populações. E tudo ficou assim...
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A "carta-aberta" redundou inócua, mas, com ou sem a interferência da política, tudo se resolveu a contento. Tudo se resolveu a contento,
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porque tudo pode ser mudado, menos a geografia.
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<nowiki>* * *</nowiki>
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E, para bem demonstrar a profunda alteração que se processou nos serviços de transporte na Região Extremo--Sul do Estado, transcreve-se,
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para efeito também de encerramento deste item, a impressão deixada por alguém, no jornal '''Cidade de Bragança''', de 23 de julho de 1937, a propósito de viagem então feita :
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====Santa Rita dos Pastéis====
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Um dos divertimentos preferidos pelos que visitavam o Parque de Diversões da '''Feira Permanente de Amostras''', de Belo Horizonte,
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era, sem dúvida, a pitoresca jardineira denominada ''Santa Rita dos Pastéis''. Com os eixos propositadamente entortados,
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proporcionava a seus passageiros, pagando dez tostões a corrida, solavancos capazes de arrancar vísceras e amassar ossos e músculos.
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Pois bem, fui experimentar ''Santa Rita dos Pastéis'' no percurso de Estiva a Cambuí. A jardineira que faz o serviço de transporte de
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Pouso Alegre a Cambuí, passando pela Vila de Estiva, não tem, é claro, as características da que desopilava o fígado dos alegres
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visitantes da Feira de Amostras. Ao contrário, até: presta relevantes serviços e atende bem às necessidades sociais.
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Mas, ''Santa Rita dos Pastéis'' toma, entre Estiva e Cambuí, um caráter diferente: não são os eixos propositadamente entortados,
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não é o  veículo em si mesmo que põe em pandarecos os bofes da gente. É a estrada esburacada e imprópria que nos mói as carnes
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e a alma. Porque também a alma, ao término da viagem, se sente conturbada e doente à vista do espetáculo triste que se suportou."
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O reverso da medalha agora impressiona: aí está a '''Fernão Dias''' magnífica, esplêndida, perfeita, larga, linda, ligando as duas capitais e as terras que o desbravador ligou com o tacão de suas botas e o suor de seu rosto. ..
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===Solução de limites===
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A pendência de limites entre Minas e São Paulo, de que trata este capítulo, aberta desde mesmo que se traçou a Linha Rubim, só foi definitivamente solucionada em 28 de setembro de 1936, quando comissão de alto nível, constituída de paulistas e mineiros, deu a questão por encerrada, fixando então suas raias atuais.
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Assinaram a ata demarcatória, por São Paulo: Dr. Francisco Antônio de Almeida Morato, Dr. João Pedro Cardoso e Dr. Aristides Bueno; e
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Dr. Milton Soares Campos, Dr. Benedito Quintino dos Santos e Dr. Temístocles Corrêa Barcelos, por Minas Gerais.
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Esse acordo interestadual, encerrando a secular pendência, foi aprovada pelo Decreto nº 7.932, de 20 de setembro de 1936, por parte do
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Governo de São Paulo, ''ad referendam'' da respectiva Assembléia Legislativa, que o aprovou pela Lei nº 2.694, de 3 de novembro de 1936, e
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pelo Decreto nº 673, de 20 de outubro de 1936, baixado pelo Governo de Minas Gerais, também ''ad referendam'' da Assembléia Legislativa,
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que, por igual, o deu por firme e valioso, pela Lei nº 115, de 3 de novembro de 19,36.
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A homologação desses importantes arestos foi feita pela Lei Federal nº 375, de 7 de janeiro de 1937.
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Por fim, os trabalhos demarcatórios, consolidando o ajuste, foram encerrados através dos Decretos nº 8.468, do Governo de São Paulo, e
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nº 944, do Estado de Minas Gerais, ambos datados de 11 de agosto de 1937. ''Per omnia secula...''
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== Capítulo XIII - Difusão cultural ==
 
== Capítulo XIII - Difusão cultural ==
  
 
=== Imprensa===
 
=== Imprensa===
 
O primeiro jornal de que se tem notícia, editado em Cambuí, veio a lume nos primeiros tempos deste século. Denominava-se "O Itahim", étimo tomado ao principal rio do município, nascido ao pé da Pedra de São Domingos.
 
Bem lançado, bem redigido e, sobretudo, orientado com elegância e independência. Redatoriava-o o Coronel Lázaro Silva, que, ao mesmo tempo, advogava e dirigia hotel. Gerente: Clementino Azevedo.
 
O exemplar de 16 de junho de 1901, nº 18, publica veemente editorial de crítica a Cesário Alvim, que renunciara a Presidência do Estado, medrosamente, só porque em Campanha houve uma tentativa de rebelião popular, prontamente debelada. A crítica e causticante e severa, e o articulista assume atitude corajosa e altiva diante do impasse.
 
Vale a pena transcrever, desse mesmo número, o seu interessantíssimo
 
 
'''''Expediente'''''
 
 
''Publica-se aos domingos.''
 
 
''São nossos correspondentes:''
 
 
'''Rio de Janeiro:''''' M..J.  Gonçalves Pereira - Rua de São Bento nº 11, Monsenhor João Evangelista Braga
 
'''Inhaúma.''' - A. J.  Souza Botafogo
 
'''Pernambuco:''' Alfredo  Câmara  -  Administração-Geral  dos  Correios .
 
'''Minas:''' Dr. Alfredo  Pinto – Bello Horizonte.
 
'''Jaguary:''' Major  Bazilio  Ribeiro  de  Sá.
 
'''São  Paulo:''' Dr.  Antônio Braga - Largo 7 de Setembro n.9 7.
 
'''São Bento do Sapucahy''': Professor J.  Badaró.
 
'''São José dos Campos:''' Manuel  Teixeira  de  Souza.
 
'''Extrangeiro:'''
 
'''França:''' Dr.  F.  Germain,  engenheiro - Paris.
 
'''Itália:'''  Dr.  A.  Emiliani, médico - Montegiorgio.
 
'''Ilha de Malta:''' Cav.  Giuseppe Miller - Malta.
 
'''Japão:''' J.F.  Collaço  -  Chinese  -  Bank  Yokohama.
 
'''China:''' Álvaro  Antônio  Álvares  -  Hong-Kong.
 
'''Beytouth, Syria:'''  Gregoire Audi.
 
'''Ilha de Cuba:'''  Biagio Torrielli - Cônsul  em  Havana.
 
 
Como se vê, o pequeno hebdomadário cambuiense varava o mundo e espalhava-se vitoriosamente por todos os quadrantes da terra. Aos mais
 
longínquos países de lín-guas estranhas: China, Japão, Malta, Síria, onde os jornaleiros por certo apregoavam pelas ruas: "O Itahim! O
 
Itahim! Chegou O Itahim!"
 
 
Está isso na primeira página do jornal nº 18, de 16 de junho de 1901...
 
 
O prelo pertencia a seus dirigentes, motivo porque, transferindo-se o Coronel Lázaro Silva, cm razão de desaven¬ça política com os
 
dirigentes de Cambuí, instalou a máquina impressora em Jaguari, onde, aliás, veio a ocupar posição de destaque, clcgendo-se Presidente da
 
Câmara.
 
 
"O Itahim" teve o condão de despertar o interesse da cidade por um jornal que lhe acompanhasse os passos e levasse aos quatro ventos a
 
onda de progresso que a ia impulsionar. Providenciou-se a aquisição de prelo, o que foi feito mediante "ação entre amigos" e, em
 
consequência, instalada a oficina no prédio em que hoje funciona o Clube Recreativo, em salas próximas à casa do Tabelião Benedito
 
Salles.
 
 
Nesse mesmo local se instalou também a primeira mesa de bilhar que a cidade teve. Ali se reuniam elementos de prol da sociedade
 
cambuiense para o novo "passa tempo" de boa qualidade.
 
 
A tipografia era dirigida por João Batista Corrêa, cuja habilidade o fez aperfeiçoar-se logo na técnica da composição. Tinha por auxiliar
 
Achiles Frederighi.
 
 
Nasceu então, ali, o jornal "O Município", redatoriado por José Alexandre de Moraes, uma cultura bem de¬senvolvida, revestida de grande
 
modéstia. No exemplar de 6 de setembro de 1904 lançou vibrante editorial defendendo i ligação ferroviária Pouso Alegre a Bragança.
 
 
Era realmente um semanário bem feito. Conteúdo e continente. A sua apresentação gráfica excelente, como excelentes eram seus editoriais.
 
 
Cessadas as atividades de "O Município", outro jornal, ''A Propaganda", veio a defender as aspirações e os anseios de progresso da
 
comunidade local. Era dirigido pelo Dr. Drauzio Vilhena de Alcântara e assessorado também por José Alexandre de Moraes, em 1908, de curta
 
duração.
 
 
Depois desses bem feitos periódicos há um hiato pro-longado sem qualquer publicação jornalística, até que, em 1922, por ocasião da grave
 
luta política travada no município, surgem dois jornais combativos: "O Rebate", saído em primeiro lugar, defendendo a posição do partido
 
situa¬cionista, e "O Democrata", publicação iniciada em seguida, dando apoio às ideias deflagradas pela oposição. Terça¬ram armas por
 
algum tempo, atacando-se reciprocamente. Jornais de cunho partidário, trazendo, cada qual, interesses diferentes, tiveram resultados
 
negativos no desenvolvimento da campanha que defendiam.
 
 
Cessada a pugna com a vitória do situacionismo, extinguiram-se também os dois defensores partidários. E não foi sem tempo. . .
 
 
Mais tarde, em 1929, surge "O Progresso", dirigido por Levindo Lambert, tendo Waldir Lambert na orientação administrativa e no trabalho
 
gráfico. Durou pouco. Prestou bons serviços, defendendo as ligações rodoviárias interestaduais na Região do Sul de Minas.
 
 
Em 1930 é a vez da "Gazeta de Cambuí". Vai até 1931. São vários os seus redatores, entre os quais o Dr. I.ívio César, o Dr. Guttemberg
 
Fernandes e Levindo Lambert. Em sua última fase é redatoriado pelo Dr. Halley Lopes Bello, que lhe empresta grande brilho e o orienta
 
superiormente.
 
 
O Dr. José Ferreira da Silva Júnior funda "O Expositor Municipal", bem impresso e de bom conteúdo lite¬rário .
 
 
Encerrada essa fase de publicações periódicas, o Deputado Milton Salles, cm 1949, findo o ciclo ditatorial
 
 
cm que viveu o País, põe a lume o "A Montanha", destinado a uma bela posição no cenário jornalístico do Estado. Jornal bem feito.
 
Intérprete da União Democrática Nacional. Teve vida curta, mas semeou boa semente na seara oposicionista do Estado.
 
 
Recentemente um grupa de jovens fez publicar o "Atalaia", que chegou a expedir poucos exemplares, sem jeito de prosseguimento efetivo — o
 
que foi deveras lamentável. Tratava-se de uma publicação embebida de boas intenções e fundamentada no interesse de divulgar a marcha do
 
progresso na cidade e de fazer cultura no sentido mo¬derno e eficiente da palavra.
 
 
Conserva-se ainda a lembrança de um pequeno jornal, "A Flecha", de cunho humorístico, de que era redator Levy de Laert, pseudônimo de
 
Levindo Lambert, tendo como gerente Xandó, apelido de Alexandre de Salles Fanuchi, de saudosa memória. Viveu pouco. Morreu cedo...
 
 
 
=== Bibliotecas ===
 
=== Bibliotecas ===
 
Há na cidade três boas bibliotecas: a "José Alexandre de Moraes", da Prefeitura, com 2.301 volumes; a do Clube Recreativo "Rui Barbosa",
 
com 968 volumes e a do Colégio Estadual, somando já 3.600 obras especializadas, denominada "Dr. Halley Lopes Bello".
 
 
A biblioteca da Prefeitura, aberta ao público, padece a falta de classificação adequada, obedecendo apenas a uma catalogação empírica.
 
Mas a do Clube Recreativo mantém classificação decimal, Sistema Dewey, instalada em sala adrede preparada para o mister, bem equipada e
 
simpática. A biblioteca do Colégio Estadual — a melhor da cidade — é privativa do estabelecimento e suas obras se completam em torno
 
das disciplinas em que se desdobra o currículo escolar.
 
 
A frequência das bibliotecas públicas é compensadora e satisfatória.
 
 
 
=== Cinema ===
 
=== Cinema ===
 
Lá pelos anos de 1912 ou 1911.5 é que se instalou o cinema na cidade. Funcionava no prédio onde hoje se acha o mercado, que, por sua vez,
 
em virtude de tremenda manta passada pelo Sr. Ricardo José Pereira à Câmara Municipal, quando presidente o Sr. Silvério Bento da Silva,
 
funcionava onde hoje está o cinema, na Praça da Matriz.
 
 
A inauguração do cinema foi um acontecimento de grande repercussão em Cambuí e seus arredores. Instalara--o uma empresa de que era
 
presidente o saudoso farmacêutico José Luiz Tavares da Silveira.
 
 
Os trabalhos técnicos foram feitos pela inteligência biilhante de João Batista Corrêa, mais tarde substituído pelo também inteligente
 
Lázaro Silva.
 
 
Não havia luz elétrica na cidade. Um gerador a gasolina produzia tanto a energia necessária como a luz in-terna e externa. A Banda de
 
Música do Zeca Pedro rompia um dobrado nos confins da Rua Coronel Lambert e marchava para o cinema, arrastando já um punhado de
 
assistentes. A igreja se esvaziava e Frei Marcelino Dorelli, carmelita descalço, pregava zangado:
 
 
''- Calígula  tinha    um    cavalo  chamado Incitatus. Elegeu  o  cavalo  Senador  de  Roma  e  lhe  dava  banquetes, comidaria''
 
''fina e bebidas gostosas. Mas o cavalo relinchava e pateava desesperado quando via um feixe de alfafa.'' 
 
 
E concluía, cheio  de humor:
 
 
'' - O povo de Cambuí é como o cavalo de Calígula: deixa a igreja para procurar o cinema.''
 
 
Não adiantava a arenga do frade ingênuo e bom. O povo largava a reza e acompanhava a banda de música, a caminho do cinema...
 
 
A projeção era feita por trás da tela, e o Abel Guimarães se incumbia de, em cada intervalo de filmes, molhá-la intensamente. E é
 
justamente  por causa do Abel  Guimarães, um português fino c astuto, que surgem agora estas notas ligeiras. Porque o Abel Guimarães pode
 
ser considerado precursor do cinema falado. Ficava ele por trás da tela, de martelo em punho, bigorna e outros petrechos ruidosos e
 
sonoros, para, no momento exato, produzir o som ou o ruído que o drama ou a comédia representavam. Às vezes o estampido da garrucha do
 
Abel não coincidia com a detonação do drama, mas a valsa langorosa do Cornélio desviava a atenção dos espectadores. E tudo ia bem, afinal
 
de contas, magnificamente bem mesmo, lá pelos bancos compridos que enchiam a pequena sala, toda às escuras...Tontollini arrancava
 
grossas gargalhadas, Teda Bara deitava olhares cobiçosos, e o Abel teria lançado seu nome na história, se se previsse a extensão que a
 
técnica, a ciência e a arte fariam ao cinema moderno...
 
 
Atualmente a Empresa de Wanderley Meyer atende perfeitamente às exigências de seus usuários. Além de proporcionar-lhes conforto interno,
 
poltronas amplas e distintas, preocupa-se em exibir filmes de longa-metragem e de alta qualidade.
 
 
Não contente, a empresa constrói agora uma nova sala de exibições dotada de todos os requisitos modernos de beleza e conforto. Oferece
 
sessões diárias, às 20 horas, e aos sábados e domingos três sessões intervaladas.
 
 
 
=== Teatro ===
 
=== Teatro ===
 
De longa data foram bem cultivados em Cambuí o gosto e a técnica teatrais. A arte dramática tinha aí apaixonados cultores. Fundara-se o
 
''Grêmio Artur Azevedo''.
 
 
Não havia prédio próprio, e os amadores da arte serviam-se de um pavilhão outrora existente mais ou menos onde está boje a casa nº 358,
 
da Rua Coronel Lambert. Era propriedade do Major João Correia da Silva. Tudo simples. Piso de terra socada. Palco improvisado ao fundo.
 
 
Cada assistente levava consigo, na noite da representação, cadeira, tamborete ou banco em que se aboletava e que reconduzia para sua casa
 
logo que encerrasse a peca. A criançada assistia o espetáculo gostosamente espalhada pelo chão...
 
 
O grande animador do teatro era João José Pereira o João Pedreiro, como era conhecido. Quase analfabeto, mas dotado de memória prodigiosa, linha, como quase todos os portugueses, pendor razoável para a interpretação de personagens importantes nos dramalhões sentimentais da época. Seus filhos Nico Pedreiro e Aquilino tomavam parte. Os demais comparsas João Tota, Lindolfo Sales, Zé Fidélis, Zeca Pedro, Anália Lambert, João Gato, serviam sofrivelmente na comparsaria da peça. Silvino José Ferreira vinha de Jaguari
 
para completar o elenco. E nessas idas-e-vindas acabou casando-se com Aquilina.
 
 
Tempos depois, já em prédio próprio, onde está hoje. o cinema, construído por Ricardo José Pereira e passado por barganha à Câmara
 
Municipal, que ali pretendia insta¬lar mercado, foram levadas algumas pecas representadas por Alfredo da Costa Magalhães, Antônio Omelas
 
e João Pedreiro, três bons portugueses, e outros. O dramalhão "Ghigi" foi encenado ali.
 
 
Bem mais tarde, em 7 de setembro de 1918, Levindo Lambert interpreta o personagem principal do drama "Artur, o Jogador", e Chiquito
 
Fanuchi e Quincas Duarte fazem-se admirar por suas boas qualidades de cômicos em comédia levada a efeito no final do espetáculo.
 
 
Há, depois, um hiato demorado nos bastidores modestos do palco e, em 1925, vai à cena a Revista Musicada ''Cambuí por dentro e por fora'', de autoria, letra e música de Levindo Lambert, sobre costumes locais. A peça foi as¬sim levada, personagens e quadros:
 
 
Nhô Belarmino - Alfredo Magalhães;
 
Trancoso - Duílio  Capossoli .
 
 
Quadros:
 
 
I — "As Árvores" — Edith Magalhães, Ana Salles, Josephina Magalhães, Floripes Nascimento e Arminda Silva.
 
II - "O Ford" — Sálvio Magalhães. Coro: Alice Fanuchi, Filomena Silva, Olinda Magalhães e Maria Joana Eiras.
 
III - "As Estradas" — Efigênia Lambert, Mariinha Lambert e Benedita Carvalho.
 
IV - "O  Trabalho" - Francisco  Capossoli.  Coro:  Maria Joana  Eiras, Alice Fanuchi  e  Olinda  Magalhães.
 
V - "Câmara  Municipal"  - Edith  Magalhães.
 
VI - "Capitão Soares" — Antenor  Ramos.
 
VII - "Gratidão" - - Filomena  Silva.
 
VIII -  "Os Cacoetes" - José de Barros Duarte, Francisco Capossoli,  Antenor Ramos e  Duílio  Capossoli.
 
IX - "Os Piraquaras" - Mariinha    Lambert, Benedito Moraes  e Duílio Frederighi.
 
X - "O Poeta" - Mariinha Lambert.
 
XI - "O Amor" - Nenete Lambert e Tereza Nascimento.
 
XII - "A  Serenata" - Francisco Capossoli.
 
XIII - "A  Pinga" - Edith  Magalhães, Efigênia Lambert, Ana Salles, Alice Fanuchi e Antenor Ramos.
 
XIV - "A  Saudade" - Filomena  Silva.
 
XV —  "Hino a Cambuí" — por todo o elenco.
 
Segunda parte:
 
"Uma  Troça  de  Estudantes" —  comédia.
 
Personagens:
 
Nhô Jucá (caipira): Antenor  liamos;
 
Augusto: José de  Barros Duarte;
 
Luiz: Duílio Capossoli;
 
Alfredo: Benedito Moraes;
 
Curiós: José Nascimento  (estudantes).
 
 
A parte musical ficou sob a regência do escultor italiano Agostinho Odísio e a orquestra se constituiu dos seguintes músicos: João de
 
Salles Fanuchi, Elias Fanuchi, Coniélio Lambcrt, Zico do Tota, José dos Heis, José Hilário e João Lagata.
 
 
Na reprise foi oferecido ao autor, festivamente, seu busto em tamanho natural, esculpido pelo artista italiano Agostinho Odísio.
 
 
Dois anos mais tarde, em 1927, o mesmo autor encenou nova revista teatral musicada: ''Cambuí etc. e tal'', com os seguintes personagens e
 
quadros:
 
 
Cel. Manduca (fazendeiro) - José  Nascimento
 
Nhá Vevá, sua mulher - Edith  Magalhães
 
Tolentino - Duílio Capossoli
 
Chofer - Antônio  Salles Oliveira
 
Transeunte I - Conceição Moisés
 
Transeunte II - Aparecida Salles
 
Leiteiro - João Nascimento
 
Melindrosa - Maria Nascimento
 
Almofadinha - Donana Salles
 
Dona Língua - Maria  Joana  Eiras
 
Menina A -  Aparecida Moraes
 
Menina B - Conceição Lambert
 
Menino I - Nenete Lambert
 
Bilheteiro - Waldyr Lambert
 
Bilheteiro II -João Nascimento
 
 
Quadros:
 
 
I - "Alvorada" — solo de Alice Fanuchi e coral feminino.
 
II - "Jardim" — solo de Antônio Salles Oliveira e coro de vozes femininas.
 
III - "Transeuntes" — solo de Ana Salles.
 
IV - "Mercado" —  solo  de  Francisco  Capossoli  e  coral feminino.
 
V - "Os  Distritos"  — ''Bom  Retiro'',  por  Antônio  Salles Oliveira; ''Córrego'', por Tereza Nascimento e ''Cidade,'' por Filhinha Oliveira.
 
VI - "O Leiteiro" — solo por João Nascimento.
 
VII - "Almofadinha" — por Ana  Salles.
 
VIII - "Amor  na  Roça"  —  dueto  por  Filomena  Silva    e Efigênia Lambert.
 
IX - "Dona língua" — por Maria Joana Eiras.
 
X - "O Jogo" — solo por Déa Moraes e coral feminino.
 
XI - "As Rifas" - meninos João Nascimento, Waldir Lambert, Aparecida Salles, Conceição Lambert e Tereza Nascimento.
 
XII — "A Caridade" — solo de Alice Fanuchi e coro de Déa Moraes, Benedita Carvalho, Maria Joana Eiras e Clarisse Moraes.
 
XIII - "Hino de  Cambuí" — coro misto.
 
 
Na primeira parte do programa:
 
 
#"O Meu Sertão" — coral por Alice Fanuchi, Edith Magalhães, Maria Nascimento, Efigênia Lambert, Ana Salles e Filomena Silva.
 
#"As Borboletas" — pelas meninas Filhinha  Oliveira, Aparecida Salles, Mércia Moraes e Carmen Venturelli.
 
#"A Sertaneja" — por Efigênia Lambert, Clarisse Moraes,  Déa Moraes  e  Filomena  Silva.
 
#"Saudade do Meu Sertão" — solo por Edith Magalhães.
 
#"Vivo Feliz" - solo  por Maria  Nascimento.
 
#"Canção da Mocidade" - dueto por Benedita Carvalho e Ana Salles e coral misto.
 
 
Coube ao autor da peça reger a parte musical, orquestra constituída dos mesmos elementos da revista anteriormente encenada.
 
 
Estiveram presentes neste festival o Jazz-Band de Estiva e a Banda de Música de Vargem-do-Paiol, bairro do distrito da cidade.
 
 
Cabe aqui encarecer a colaboração prestada, sempre, desde os primeiros tempos das apresentações da Rua Cel. Lambert nº 358, por Antônio
 
da Silveira Lambert (Toniquinho Coletor), na qualidade de "ponto".
 
 
O teatro decaiu em Cambuí, a partir dessa última apresentação, como, aliás, por todas as cidades do interior, com o advento do cinema e,
 
por último, da televisão.
 
 
Nos últimos tempos, entretanto, Sérgio Cardoso, o grande intérprete de "Antônio Maria", tão cedo arrebatado pela morte, frequentando
 
assiduamente Cambuí, preparou um grupo de moços e encenou duas peças clássicas: '''Júlio César''', de Shakespeare, e "Armadilha Para Um Homem Só", de Robert Thomas. A apresentação teve o patrocínio do Teatro do Estudante Cambuiense (TECA). A municipalidade conferiu por sua vez a Sérgio Cardoso, o título de "Cidadão Cambuiense".
 
 
 
=== Bandas de música ===
 
=== Bandas de música ===
 
Madrugaram na inteligência do cambuiense o pendor e o gosto devotados à música.
 
 
Entre 1870 e 1880 floresceram na freguesia duas excelentes bandas de música, alimentadas pelas duas maiores famílias da localidade:
 
Lambert e Quintino.
 
 
Da banda dos Lamberts conserva-se, ainda hoje, nítida fotografia em que figuram, entre outros, Antônio Luiz de Brito Lambert (Tota),
 
Maximiano José de Brito Lambert, que veio a ser professor primário de muitas gerações, Francisco Antônio de Brito Lambert (Chico de
 
Brito). Olegário de Brito Lambert e Francisco Crisóstomo da Silveira, casado na mesma família. Os demais figurantes da histórica
 
fotografia não são reconhecidos mesmo por cambuienses de avançada idade.
 
 
Da banda de música dos Quintinos pouco se sabe, lembrando-se apenas que era requintista o Cel. Justiniano Quintino da Fonseca, tempos
 
depois querido e acatado chefe da política local.
 
 
Extintas essas corporações, veio, bem mais tarde, para a cidade, o Maestro Marceliano Braga, que pôde organizar uma banda de música da
 
qual, aliás, faziam parte Cornélio Lambert, Bastico Moraes, João Tota, Alvico, José Figueiredo, João Astolfo, Lindolfo Salles, João
 
Batista Corrêa e muitos outros que, com o passar dos tempos, permaneceram na ribalta, integrando a banda reorganizada pelo maestro José
 
Pedro Vieira da Silva, após a retirada de Marceliano Braga para Varginha.
 
 
Zeca Pedro, membro de uma família de bons musicistas, natural de Paraisópolis, prestou grandes serviços a Cambuí, que lhe deve ainda seus
 
melhores músicos. Era artista de notáveis qualidades, dotado de uma intuição musical verdadeiramente invulgar e de capacidade rara na
 
execução de vários instrumentos. Se Zeca Pedro tivesse vivido em meios cultos e se posto em contato com a música acadêmica, sem nenhuma
 
dúvida seria um de nossos grandes virtuosos. Formou ele uma plêiade de músicos aos quais possibilitou conhecimentos e técnicas capazes de
 
prosseguirem, na sua ausência, a tarefa da divulgação musical.
 
 
Foram seus discípulos: João Lambert Ribeiro, posteriormente Catedrático da Escola Nacional de Música; José dos Reis, regente e
 
compositor; Zé Hilário, Sílvio Lambert, Chiquito Fanuchi, Aquiles e Pilado Frederighi, Palazio Padilha, Benjamim de Paiva, Levindo
 
Lambert, Maximiano Lambert e outros. A banda que então organizou ficou assim constituída: José Figueiredo e João Astolfo, baixos; Cornélio, clarineta; Bastico Moraes, requinta; João Tota, bom-bardino; Chiquito Moraes, pistão; João Grilo, sax mi-bemol; Palazio, Zé Hilário, Chiquito Fanuchi, Sílvio Lambert e Pílade, sax si-bemol; Aquiles, pistão; João Lagata, bumbo; e Zé Fidélis, rufo.
 
 
Essa banda, denominada "Carlos Gomes", foi, a pouco e pouco, perdendo e ganhando elementos, até que João Lambert Ribeiro fundou a sua
 
banda, abrindo-se então uma competição musical verdadeiramente notável. Dê-se a palavra, neste ponto, ao jornalista José dos Reis,
 
autodidata de fino quilate, também musicista, compositor e regente, que, sob a epígrafe "Sapos e Curiangos", assim se expressa, em
 
artigo publicado na "Gazeta de Cambuí", de 3 de outubro de 1948:
 
 
''"Não estou bem certo, mas parece-me que foi em 1911 ou 1912 que o jovem Joãozinho Ribeiro organizou a Corporação Musical "12 de Outubro",''
 
''sob sua competente batuta. Organizada a banda nova, outro jovem, Levindo Lambert, reorganizou a banda velha com elementos da antiga''
 
''corporação regida pelo competente professor-de-música, Maestro José Pedro Vieira da Silva, na ocasião residente em Inconfidentes, de Ouro Fino."
 
 
''A banda de Joãozinbo Ribeiro era composta dos seguintes músicos: Aquiles Frederighi, pistão; Avelino Modesto, requinta; Joãozinho''
 
''Ribeiro, Elias Fanuchi e Pílade Frederighi. clarinetas; João Telefone, trombone ''cantabile''; Palazio, bombardino; Chiquitão, baixo;''
 
''Afonso Guimarães, 1º si-bemol; Nico Quirino, 2º si-bemol; Antônio Casemiro, 1º si-bemol; Chiquitinho, 2º si-bemol, depois pistão;''
 
''José da Elisa, 1º mi-bemol; Benedito Maria, bumbeiro; José Cecília, prateleiro; e João Fanuchi, rufeiro, depois bombardino e,''
 
''por último, compositor.''
 
 
''Da banda velha faziam parte os seguintes elementos: João Tota, requinta; Cornélio, Totônio Marques, Zorico e Benjamim Paiva,''
 
''clarinetas; José Hilário, trombone-de-canto; Levindo Lambert, bombardino; Zé dos Reis, Alvico e Maximianinho, pistão; Zé Figueiredo e''
 
''João Astolfo, baixos; Dudu e Waldomiro Lambert, 1º si-bemol; Laudelino Pedreiro, João do Neco, Zequinha do Astolfo e Deodato, 2º si-"
 
''bemol; João Grilo, 1º mi-bemol; João Lagala, 2º mi-bemol; Nico Zorico, 3º mi-bemol; José Israel, bumbeiro; José da Chica, prateleiro; e" ''Horário do Neco, rufeiro.''
 
 
''Logo que Joãozinho iniciou os ensaios de sua filarmônica em casa de seu velho genitor, Cap. João Ribeiro, de saudosa memória, onde''
 
''atualmente reside o Sr. Candoca, o pessoal da outra banda apelida os músicos da banda nova de "sapos", pelo fato de ensaiarem à beira''
 
''do brejo. Em represália, os rapazes do Joãozinho apelidam os moços da banda velha de "curiangos", pássaro de olhos reluzentes e que é''
 
''encontrado à noite voando pelas estradas, à frente dos viajantes.''
 
 
''Surgiu daí forte animosidade entre os com¬ponentes das corporações. Se uma tocava o "Silvino Rodrigues", a outra parodiava-o e o batizava ''de "Tira-Prosa". ''A outra parodiava a mesma música e crismava-a de "Cala-a-Boca", como quem diz: comigo ninguém pode. Mas a música que''
 
''ambas tocavam com gosto, entusiasmo e imponência, era o dobrado "Quinze", cujo arranjo, harmonia e melodia encantavam e prendiam a''
 
''atenção da gente. Ambas uniformizadas, disciplinadas e bem ensaiadas, sempre faziam "bonito" onde quer que tocassem. Os dois jovens de''
 
''1912 tiveram as respectivas situações totalmente mudadas: Levindo Lambert é Diretor do Conservatório de Música de Minas Gerais e''
 
''Joãozinho Ribeiro é Catedrático de Violino da Escola Nacional de Música do Rio de Janeiro”''
 
 
Não completou o saudoso articulista o posfácio dos acontecimentos. É que o aperfeiçoamento e a competição dessas duas bandas despertaram
 
as preferências populares, ficando a cidade dividida em duas facções, apoiando ou repelindo uma e outra.
 
 
Os ânimos se exaltaram tremendamente. Velhas amizades se desfizeram.
 
 
E, para evitar maiores consequências, o Dr. Carlos Cavalcanti, Juiz de Direito da comarca, convocou elementos representativos da cidade
 
para uma reunião a realizar-se no salão nobre da Câmara Municipal. Abertos os trabalhos, expôs a situação, dando-lhe colorido realista e
 
dramático, ressaltando ao mesmo tempo os perigos que se delineavam para a paz cambuiense, caso persistisse a divisão da população em duas
 
facções distintas, apoiando "sapos" e "curiangos". Sugeriu, por fim, que uma das bandas encerrasse suas atividades, decidindo-se que a
 
mais antiga, com direi-los adquiridos, se mantivesse ativa.
 
 
Por essa forma, morreu a Banda "12 de Outubro", a dos "sapos", regida por João Lambert Ribeiro.
 
 
Aconteceu, porém, que, encerrada a emulação, a banda remanescente perdeu seu interesse e declinou em qualidade...
 
 
Por outro lado - como foi dito por José dos Reis - João Lambert Ribeiro matriculou-se no Conservatório de São Paulo e, depois de
 
concluído o respectivo curso, disputou, por concurso, a Cátedra de Violino na Escola Nacional de Música do Rio de Janeiro, logrando
 
êxito; e Levindo Lambert, por igual, seguiu para Pouso Alegre e Ouro Fino, formando-se em Farmácia e, posteriormente, em Direito, pela Universidade de Minas Gerais, sendo nomeado Professor-Catedrático de Dicção do Conservatório de Música da Universidade Federal de Minas Gerais, cuja diretoria também exerceu por muitos anos.
 
 
<nowiki>* * *</nowiki>
 
 
Passada essa fase, nova etapa se abre para a música local. Tempos depois, em que o recesso das corporações concorreu para a sua
 
decadência, Levindo Lambert, quando estudante de Farmácia, organizou uma banda-mirim, constituída de meninos e rapazolas. Muitos desses
 
elementos aperfeiçoaram suas técnicas e qualidades, persistindo no ofício e mantendo-se, até hoje, em atividade.
 
 
Outra fase, no entanto, se abriu para a música em Cambuí, quando, em 1922, deflagrou-se apaixonada luta política, em cujo desdobrar fatos
 
desabonadores para os foros de civilização de seu povo vieram perturbar a tranquilidade local. Nessa ocasião, o Partido Democrata, que
 
fazia oposição à política dominante, organizou banda de música para seus festejos e propaganda.
 
 
Foi a Banda "Santa Cecília", que teve a duração das rosas de Malherbe...Regia-a Levindo Lambert.
 
 
Encerrada a luta, de duração curta, também ela se dissolveu, indo seu instrumental a constituir o acervo inicial da Banda "Santa
 
Terezinha", organizada por José Francisco do Nascimento, grande lidador e grande músico, a quem a cidade e seu povo muito devem nesse e
 
em outros setores de sua atividade e de seu bem-estar.
 
 
Essa banda ficou assim constituída : Isaú Dias Marques, Antônio Padilha de Moraes (Sancré), João Batista do Nascimento, Benedito Salles,
 
João Batista Salles (João Ros-cão), Geraldo Salles (Ganzela), Lázaro Teixeira de Carva-iho (Fio do Neco), José Moacir Lambert, Geraldo
 
Cipriano (Tatita), José Lambert (Zico do Tota), Waldir Lambert, Geraldo Lagata, José Francisco do Nascimento, Sebastião Moraes  (Tião), 
 
José  Ferreira  da  Silva  (Dê  do  Adolfo)    e Adolfo Bento da Silva  (Picuma).
 
 
A regência de José Nascimento, a partir de então, foi frutuosa, não só pelos atributos artísticos que exortam a personalidade do grande
 
cambuiense, como também pelo prestígio que seu cargo (Prefeito) emprestava à corporação. Substituiu-o na direção da banda Ismael de
 
Paiva, que recebeu de seu sogro, José Nascimento, o mesmo espírito desportivo de amor à música e de desprendimento por resultados
 
financeiros.
 
 
Atualmente, a Banda "Santa Terezinha", com a colaboração do grande pistonista Altino de Souza Bom, vem procurando melhorar cada vez mais
 
suas condições técnicas e artísticas, realizando retreta, aos domingos, na Praça Gel. Justiniano. Concorre sobremodo para a difusão
 
cultural de seu povo e para o maior encantamento das tardes domingueiras de Cambuí.
 
  
 
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''Sentados, da esquerda para a direita: José dos Reis, Maximiano Lambert, José Hilário Lambert, advogado Paiva Júnior (diretor), João''
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''Sentados, da esquerda para a direita: José dos Reis, Maximiano Lambert, José Hilário Lambert, advogado Paiva Júnior (diretor), João Lambert, Osório Marques, Antônio Leopoldo Marques e Benjamin de Paiva Cardoso. Em pé, da esquerda para a direita: Horácio Teixeira de Carvalho, José Figueiredo, João Batista Duarte, João Lagatta, Florduardo Lambert, Waldomiro Lambert, Adelino Carvalho, Antônio Marques, João Astolfo de Moraes, José Brasilino e José Miguel Padilha. No centro, em pé, Levindo Lambert, regente (1914).''
''Lambert, Osório Marques, Antônio Leopoldo Marques e Benjamin de Paiva Cardoso. Em pé, da esquerda para a direita: Horácio Teixeira de''
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''Carvalho, José Figueiredo, João Batista Duarte, João Lagatta, Florduardo Lambert, Waldomiro Lambert, Adelino Carvalho, Antônio Marques'',  
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''João Astolfo de Moraes, José Brasilino e José Miguel Padilha. No centro, em pé, Levindo Lambert, regente (1914).''
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''Sentados, da esquerda para a direita: Francisco Pereira Lambert, Elias Fanuchi Lombardi, Avelino Caetano, Francisco de Salles Famiehi,''
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''Sentados, da esquerda para a direita: Francisco Pereira Lambert, Elias Fanuchi Lombardi, Avelino Caetano, Francisco de Salles Famiehi, Pilade Frederighi, Palazio Pudilha, João de Salles Fanuchi e "não identificado". Em pé, da esquerda para a direita: "não identificado", Joaquim Salomão, Justiniano Padilha, Osório Guimarães, Antônio Casemiro, "não identificado" e José Bernardino. O maestro João Lambert Ribeiro, regente, não figura na fotografia.''
''Pilade Frederighi, Palazio Pudilha, João de Salles Fanuchi e "não identificado". Em pé, da esquerda para a direita: "não identificado",''
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''Joaquim Salomão, Justiniano Padilha, Osório Guimarães, Antônio Casemiro, "não identificado" e José Bernardino. O maestro João Lambert''
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''Ribeiro, regente, não figura na fotografia.''
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''Sentados, da esquerda para a direita: José Lambert, Waldyr Lambert, Geraldo Lagarta, José Francisco do Nascimento (regente), Sebastião  Moraes, José Ferreira da Silva e Adolfo Bento  da Silva. Em pé, da esquerda para a direita: Isaú Dias Marques, Antônio Padilha de Moraes, João Batista do Nascimento, Benedito Salles, João Batista Salles, Geraldo Salles (Ganzela), Lázaro Teixeira de Carvalho, José Moacir Lambert e Geraldo Cupriano de Moraes.''
''Sentados, da esquerda para a direita: José Lambert, Waldyr Lambert, Geraldo Lagarta, José Francisco do Nascimento (regente), Sebastião''  
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''Moraes, José Ferreira da Silva e Adolfo Bento  da Silva. Em pé, da esquerda para a direita: Isaú Dias Marques, Antônio Padilha de Moraes,''
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''João Batista do Nascimento, Benedito Salles, João Batista Salles, Geraldo Salles (Ganzela), Lázaro Teixeira de Carvalho, José Moacir''
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''Lambert e Geraldo Cupriano de Moraes.''
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== Capítulo XIV - Personalidades ilustres ==
 
== Capítulo XIV - Personalidades ilustres ==
  
 
===Parlamentares===
 
===Parlamentares===
 
Teve atuação eficiente e distinta a representação de Cambuí no parlamento mineiro. Além de se conduzirem de maneira digna e nobre, os
 
Deputados Milton Salles, Halley Lopes Bello e Benedito Salles, fizeram jus ao reconhecimento de seus conterrâneos e amigos, cujo bem-
 
estar tiveram em alta conta no exercício dos respectivos mandatos.
 
 
Milton Salles se destaca pela constante renovação de seu ''munus'' e pela firmeza de suas atitudes, assim como pela coragem e desassombro de seus pronunciamentos, sempre visando aos altos interesses da democracia e do regime, tan¬to quanto pela sinceridade de seus propósitos. Por sua iniciativa foi criado o Colégio Estadual "Antônio Felipe de Salles", ao qual propôs a anexação, posteriormente, do Curso de Formação de Professores de 1." grau, aspiração marcante da ju-ventude feminina do Município. Também por sua iniciativa criou-se o Grupo Escolar "Jucá Pinto". Colaborando com o Prefeito José Francisco do Nasimento, alcançou do governo do Estado a construção do Fórum, obra que, por si só, recomenda à posteridade e à gratidão de seus conterrâneos, os seus realizadores, desde que se lembre de como atuavam em Cambuí os serviços da justiça.
 
 
Ainda por sua iniciativa, o município se beneficiou dos seguintes melhoramentos:
 
 
a) Caixa Econômica Estadual;
 
b) abertura do escritório da Associação de Crédito e Assistência  Rural (ACAR);
 
c) instalação doo serviço rádiotelegráfico do Estado;
 
d) instalação do Posto de Saúde bem equipado;
 
e) assistência  dentária nos grupos  escolares;
 
f) verbas vultosas para o serviço de águas, supervisão do DNOS;
 
g) emancipação  dos  distritos de  Córrego do BomJesus e Bom Repouso;
 
h) criação do Grupo Escolar "Professor Maximiano Lambert" em Córrego do Bom-Jesus.
 
 
No momento, é justo que se lhe atribua boa parcela da pacificação política do município, outrora agitado por extremas lutas, cabendo
 
também a José Francisco do Nascimento e ao Deputado Cristóvam Chiaradia iguais quinhões.
 
 
No que tange ao Deputado Halley Lopes Bello, porque desenvolvida em dois períodos legislativos apenas, teve atuação exercida nas várias
 
comissões parlamentares em que se integrou e, pela tribuna, na defesa e no estudo de problemas relacionados com a educação.
 
 
Escondido por modéstia equilibrada, é portador de uma brilhante cultura jurídica e de iguais predicados tribunícios, motivos porque se
 
fez bem notado entre seus pares.
 
 
Já Benedito Salles, conquanto de temperamento discreto, não se fez omisso, promovendo várias medidas de caráter social, em benefício da região que. representava e da comunidade de seu nascimento.
 
 
Propôs a criação do Grupo Escolar "João Lopes", logrando êxito. Destinou verbas especiais a instituições filantrópicas e assistenciais,
 
entre, as quais o '''Hospital Ana Moreira Salles'''.
 
 
Cambuí fez-se, pois, representar de maneira condigna e operosa no parlamento estadual.
 
 
 
===João Moreira Salles===
 
===João Moreira Salles===
 
Desde, os primeiros tempos da vida social, administrativa e política de Cambuí, a família Xavier de Salles ocupa posição de relevo tios
 
seus quadros mais altos e de maior gabarito.
 
 
Elevada a freguesia, em 1850, já por esse tempo José Xavier de Salles é escrivão de paz e, cumulativamente, embora de maneira oficiosa,
 
porque não criada ainda a repartição, desempenha esse estimado paroquiam) as funções de encarregado do serviço postal. Estimado
 
paroquiano - re-pete-se - porque o seu falecimento, em 9 de junho de 1880, abriu um vácuo profundo no panorama humano da freguesia,
 
segundo escreve Bernardo Saturnino da Veiga em sua preciosa obra "Almanak Sul Mineiro", de 1884.
 
 
Proclamada a República e criado o município, ainda em 1889, e instalada a comarca em 1892, é o capitão Antônio Felipe de Salles nomeado
 
Promotor-de-Justiça por ato do governo estadual. E em 7 de abril de 1891, em conseqüência do afastamento, a pedido, de Avelino Cândido
 
de Brito, é Joaquim Xavier de Salles seu substituto no cargo de Procurador-da-Câmara Municipal. Para escrivão de paz do Distrito de Bom
 
Jesus do Córrego é nomeado Américo Antero de Salles, tempos depois sucedido por Sebastião Faustino de Salles, pai do deputado Milton
 
Salles e sogro do suplente de deputado Benedito Salles. Na sede, com o correr dos tempos, Antônio Felipe de Salles Sobrinho, depois de
 
ocupar o cargo de Avaliador Judicial, é tabelião do 1º ofício e seu filho Benedito Salles seu sucessor, que, recentemente, ao
 
aposentar-se, é sucedido por seu filho Antônio Felipe de Salles Neto. Ainda na sede, Francisco de Salles Fanuchi ocupa o cargo de
 
Escrivão do Registro Civil, sendo sucedido por seu filho Sebastião Rangel Fanuchi.
 
 
No entrosamento e na sucessão funcional que se vem fazendo, tem-se por objetivo fixar-se a posição do clã Xavier de Salles na vida
 
pública e social cambuiense, pondo em destaque, daqui por diante, a figura e a obra respeitáveis de João Moreira Salles, personalidade
 
que dilatou o seu nome. além das fronteiras domésticas e municipais para impôr-se como um dos magnatas da política econômica nacional.
 
 
Seus pais - José Amâncio de Salles e Ana Moreira Salles — fugindo ao standard da família, eram fazendeiros
 
 
no bairro do Portão, gleba ocupada por eles próprios e cultivada também por filhos e genros.
 
 
João desde cedo mostrou-se disposto a enfrentar os aclives da luta cotidiana, e, menino ainda, pondo-se à frente de um carrinho puxado
 
por carneiros, conduzia produtos da fazenda para a cidade, trazendo de retorno aquilo que a fazenda necessitava para seu custeio.
 
 
Nesse ir-e-vir, Adriano Colli, seu padrinho de batismo, arguto e sagaz, descobre no afilhado inatas qualidades de comerciante e
 
predicados naturais de delicadeza e finura de trato. Traz o jovem para a sua casa varejista como caixeiro, a principal da cidade, e o
 
prepara para as atividades comerciais .
 
 
Nesse trabalho diuturno, João Moreira Salles revela então tino raro no transacionamento dos negócios e nas relações entre comprador e
 
vendedor. Distingue-se pela amenidade de comunicação e pela agudeza no exame das perspectivas econômicas em jogo. É dotado daquele,
 
"faro" que os antigos qualificavam o instinto de penetração analítica das coisas. E de tal forma se porta João Moreira Salles que Adriano
 
Colli, decidindo visitar a Itália, sua pátria, e lá permanecer por largo tempo, não vacila em deixar nas mãos do jovem afilhado e
 
caixeiro a direção de sua importante casa comercial, entregando-lhe a responsabilidade de vultosos capitais e de transações
 
especulativas de elevado teor. Por muitos meses sua fortuna e seus bens giraram nas mãos de João Moreira Salles, moço quase imberbe,
 
nascido nas grotas ásperas do bairro do Portão.
 
 
Ao regressar, Adriano Colli encontrou tudo não só em perfeita ordem, mas seus negócios assinalados com as perspectivas de maiores
 
lucros.
 
 
Diante disso, resolve o abastado comerciante dar a seu afilhado outras possibilidades de vida: encaminha-o à casa Araújo Costa & Cia.,
 
altos comerciantes atacadistas de S. Paulo, onde o jovem exerceria atividades experimentais no trato de negociações de grande vulto, e,
 
ao mesmo tempo, frequentaria  instituto  especializado,  destinado  a  prepará-lo para a carreira que a intuição lhe destinara.
 
 
O professor Maximiano José de Brito Lambert prepara o moço para os exames de admissão, que ele vence e supera, matriculando-se na
 
renomada Escola "Álvares Penteado", pioneira do ensino comercial no Brasil.
 
 
Vencido galhardamente o currículo escolar, Moreira Salles cola grau e volta a Cambuí, porque seu padrinho, resolvendo retornar
 
definitivamente à sua pátria, põe-lhe nas mãos, em sociedade com seu sobrinho Luiz Ciambelli, a grande e conceituada casa comercial por
 
ele fundada. Logo depois contrai casamento com dona Lucrécia Vilhena de Alcântara, pertencente a uma das mais distintas famílias do
 
Sul-de-Minas, professora do grupo escolar local.
 
 
A sociedade comercial, com a denominação de "Casa Ideal", no entanto, vive pouco tempo — não porque os seus sócios quebrassem de qualquer
 
forma a harmonia e a confiança recíprocas, mas porque, ambos, antevendo mais amplos horizontes, entenderam dar ao ajuste dissolução
 
amigável e promissora. Luiz Ciambelli estabelece-se em Bragança e João Moreira Salles em Guaranésia, de onde ,aliás, pouco depois se
 
transfere para Mococa. Nessa cidade paulista dá os primeiros passos no comércio do café, que lhe iria, em seguida, ensejar-lhe a
 
caminhada vitoriosa que o levou à culminâncias das finanças nacionais. Araújo Costa & Cia. até aí davam-lhe o apoio que ele, incipiente
 
ou neófito, no perigoso campo da comercialização do maior produto brasileiro no mercado internacional, poderia necessitar. Não foi
 
preciso orientação de ninguém. Marchou sozinho.
 
 
Transferiu-se então para Poços de Caldas, onde, depois de fazer-se correspondente de vários Bancos, funda a Casa Bancária "Moreira
 
Salles", que, alcançando o êxito colunado, absorve a Casa Bancária de Botelhos, de Pedro de Perna, o Banco de Mococa e o Banco
 
Machadense, nascendo então o Banco "Moreira Salles". Depois de espalhar sucursais e agências por vários estados do Brasil funde-se com o
 
Banco Agrícola e Mercantil do Rio Grande do Sul, tornando-se, daí por diante, um dos mais poderosos institutos de crédito cia rede bancária brasileira.
 
 
Moreira Salles já é, então, nome respeitado nos meios comerciais e financeiros, impondo-se como figura de proa na estrutura econômico-
 
financeira do Brasil. É nome nacional.
 
 
Dando arras a seu inato instinto comercial, alarga, ao mesmo tempo, as suas negociações cafeeiras e toma de pronto a Fraca de Santos,
 
fulcro poderoso da política cafeeira do país. E aí Presidente da Comissária-Exportadora e Importadora União S/A. de Brasil, Warrant Cia.
 
de Comércio e Participação, dos Armazéns-Gerais União Paulista S/A. do Sindicato do Comércio Atacadista de Café do Estado de S. Paulo,
 
Membro do Conselho da Associação Comercial de S. Paulo, Conselheiro da Refinaria e Exploração de Petróleo e Presidente do Rotary Clube de
 
Santos. Ocupando posição de relevo na vida comercial de Santos, S. Paulo e Poços de Caldas, Moreira Salles não se deixa envenenar pelo
 
luxo ou pela ostentação, porque, simples, modesto, desprendido, tal qual o foi nos primórdios de sua vida, empenhou-se em várias
 
campanhas de benemerência, quer em favor da redenção da criança pobre, quer no terreno das aspirações nacionais, doando avião à
 
campanha nacional de aviação, quer ainda na instalação de um dos maiores hospitais do país, que é o de sua cidade natal.
 
 
Recebeu o título de Comendador Oficial da República Italiana e, por último, após a fusão de vários Bancos, o importante cargo de
 
Presidente do Conselho de Administração da União dos Bancos Brasileiros.
 
 
Nas suas viagens à Europa nunca deixou de visitar Castelnuovo di Garfagnana (Itália), onde nasceu e morreu Adriano Colli, pondo-se em
 
contacto, sempre, com seus parentes, já que seu grande amigo e benfeitor não deixou descendentes.
 
 
Sobrepondo-se, porém, a todos os títulos e galardões, cabe, nesta obra destinada a dar notícia do que foi, do que é e do que poderá ser
 
Cambuí, cabe aqui destacar a posição de João Moreira Salles nos quadros humanos e sociais da cidade em que nasceu e à qual deu o melhor
 
de seus esforços. O '''Hospital Ana Moreira Salles''', cuja denominação foi dada pelo consenso unânime da população local, é obra que
 
exaltará por todo o sempre o nome e a figura do "caipira" de Cambuí, como escreve o ''Diário de São Paulo'',  de 2 de março de 1968, para que, não só os coevos mas os pósteros, saibam prestar-lhe, na saudade e na gratidão, as homenagens que ele merece.
 
 
A Câmara Municipal de Cambuí deu o nome de "João Moreira Salles" à rua principal da cidade — tributo modesto àquele que tanto elevou sua
 
terra no concerto geral de sua pátria.
 
 
Sobre Moreira Salles escreveu Theófilo de Andrade, o grande articulista dos Diários Associados, no ''Diário de São Paulo'', de 7 de março de 1968:
 
 
"Mesmo depois de atingida a culminância, no mundo dos negócios, João Moreira Salles continuou, todavia, a ser o mesmo homem
 
simples dos  primeiros dias, sem mudar seus hábitos, fiel às suas origens de capiau das montanhas. Os seus hábitos eram
 
morigerados. A sua vida  simples como a de um frade. Tinha a pachorra de engraxar os próprios sapatos, o que o fazia diariamente
 
mesmo viajando  pelo estrangeiro. Cito estes fatos para mostrar a simplicidade e a contenção de hábitos de um grande capitão
 
dos negócios a quem o  êxito na vida não modificou nada e que, dentro das quatro paredes de sua casa, continuou a ser o mineiro
 
de Cambuí, o montanhas  austero que representou papel de destaque em determinada fase da evolução de nossa terra."
 
 
Esse, o julgamento que dele faz um dos mais completos colunistas do jornalismo patrício e um dos mais altos ex-poentes da cultura
 
nacional.
 
 
João Moreira Salles era casado com a professora Lucrécia de Alcântara Moreira Salles. São seus filhos: a senhora Elza Salles Ribeiro
 
Vallim, o Embaixador Walter Moreira Salles, e os senhores Hélio Moreira Salles e João Carlos Moreira Salles.
 
 
Nasceu em 18 de fevereiro de 1888, em Cambuí, e faleceu em 2 de marco de 1968, em S. Paulo, sendo sepultado em sua cidade natal,
 
cumprida por sua família sua última vontade. A população local, comovida, prestou a seu grande amigo e benfeitor sentidas homenagens.
 
 
 
===João Batista Corrêa===
 
===João Batista Corrêa===
 
São dois artistas diferentes, é claro: - Antônio Francisco Lisboa manejou o escopro, o pincel, a goiva, o formão, o estilete e todo o
 
instrumental de que a escultura e as artes plásticas utilizam. Seu nome atravessou o tempo e as fronteiras. É figura exaltada em todos
 
os continentes onde a arte barroca criou escola.
 
 
É o Aleijadinho glória nacional.
 
 
Não se quer um paralelo entre a genialidade de um e a fecundidade artística de outro:
 
 
João Batista Corrêa também pôs em prática os mesmos petrechos e, guardadas as devidas proporções, impôs-se, no meio em que vivia e fora
 
dele como artista consumado: escultor, entalhador, pintor, desenhista, retratista e, com raras perfeições, artífice e artesão, versando
 
todas as peculiaridades artísticas e desconhecidas.
 
 
Autodidata, senhor absoluto de uma capacidade analítica incontrastável, dentro da habilidade técnica manual, poderia alcançar renome na
 
história da arte brasileira não fora ele modesto e introvertido, alheio à publicidade e à exteriorização.
 
 
Encerrado cuidadosamente em seu ''atelier'', sem que ninguém sequer vislumbrasse sua atividade diurna e diuturna, esculpiu em madeira-de-lei uma imagem do Coração de Jesus, tamanho natural, revestindo-a, cm seguida, de pintura adequada, perfeita e bela. Obra verdadeiramente admirável, digna de figurar nos certames e exposições de arte de qualquer centro culto do país.
 
 
Benta pelo Padre Alberto Nunes Brigagão, foi depois procissionalmente levado à Igreja Matriz, onde se expôs durante algum tempo, após o
 
que o artista, talvez pai odiando Apeles, preferiu reconduzi-la ao atelier e de lá não a retirar jamais. Modelou e fundiu em cimento o
 
busto do Governador Benedito Valadares, imitação perfeitíssima de bronze, que, por incrível que pareça, tornou o mesmo destino da imagem
 
do Coração de Jesus: não logrou permanência no logradouro público após sua inauguração festiva.
 
 
Concebeu e desenhou esplêndido e belo altar destinado ao Sacratíssimo Sacramento, entalhou-o em madeira-de-lei, e o entregou à Igreja
 
Matriz da cidade, dessa vez mantendo-o à admiração pública, o mesmo acontecendo com o imponente púlpito, obra de arte que se conservou
 
até a reforma total do templo principal da cidade.
 
 
Não foi somente, porém, na área privilegiada da arte e de todas as suas nuanças que João Batista Corrêa pôs em equação a criatividade de
 
seu fecundo espírito. Exerceu a Promotoria da Justiça da Comarca, interinamente, por várias vezes; governou a cidade como seu Prefeito;
 
desempenhou as funções de Escrivão das Execuções Criminais e representou, no município, o Departamento Nacional do Café, além de outras
 
atividades de caráter social.
 
 
Mas, sobretudo — repita-se — João Batista Corrêa impôs-se na admiração dos coetâncos como artista e artífice consumados, não lhe
 
escapando à técnica e à inteligência nenhum setor em que deixasse de pôr à prova sua capacidade admirável de criar e realizar. Seu nome
 
e sua arte — já está dito — teriam amplitude nacional não fosse seu temperamento esquivo e ensimesmado.
 
 
É mesmo no território da arte, do artificismo, do artesanato, da habilidade manual, que João Batista Corrêa se destaca no cenário
 
artístico e cultural de Cambuí e alhures.
 
 
Seu pai, Major João Corrêa da Silva, português, nascido na Ilha Graciosa (Açores), emigrou aos 13 anos de idade, vindo para Ubatuba
 
(SP) e aí permaneceu por dois anos. Transferindo-se para Cambuí, consorciou-se em 1866 com Maximiana Adelina de Brito, filha do Coronel
 
Francisco Cândido de Brito Lambert, de cujo enlace nasceram ainda: Gabriela, casada com José Alexandre de Moraes, falecidos; José
 
Corrêa da Conceição, casado com Ana Moreira Salles Corrêa, também falecidos.
 
 
João Batista Corrêa é casado com Maria do Espírito Santo Lambert Corrêa, residentes em S. Paulo.
 
 
O Major João Corrêa da Silva ocupou vários cargos de importância na organização político-administrativa do município, inclusive o de
 
Intendente por ocasião da instalação da cidade, e, posteriormente, o de juiz-de-paz e vereador especial.
 
 
 
===João Marinho===
 
===João Marinho===
 
O artesanato de João Marinho pede registro especial na história da técnica e das artes em Cambuí.
 
 
Não era ele um artesão comum enfeitando a paisagem humana capaz e inteligente de seu tempo. Mas um autêntico artista-raro, pela
 
habilidade e bom gosto com que confeccionava chicotes, relhos, rebenques, rabos-de-tatu, cabeções para arreamento de montarias etc.
 
 
Sua matéria-prima era constituída de fios recolhidos de clinas e caudas-de-cavalos, cuidadosamente cardados e, em seguida, entrançados,
 
obedecendo a esmerado desenho artístico, quer no entrosamento das mechas e filaças, quer na escolha das suas cores.
 
 
Lembre-se que, por esse tempo, sem automóveis, imperava o transporte por meio de montarias bem ajaezadas,cuja apresentação, além dos requisitos de conforto e segurança, se impunha por apuros de elegância: botas longas, esporas e estribos de prata, chapeirão à cabeça, pala dobrada e preso à garupa entre a sela c o rabicho.
 
 
Tais petrechos eram exigência da época. Daí porque a perícia artesanal de. João Marinho, toda ela dedicada às peças das arreaduras e à
 
indumentária do cavaleiro, constituía uma das mais belas manifestações da criação folclórica.
 
 
Casas especialistas de Rio de Janeiro e São Paulo, que comerciavam com artefatos desse gênero, arreamentos para montarias, disputavam a
 
aquisição e o privilégio de os distribuir a seus fregueses, conquanto lutassem bravamente com a inércia do artesão, que era, como quase
 
todos os representantes dessa classe, indiferente, modesto e - por que não dizer? - preguiçoso...
 
 
Na Exposição Nacional de 1908, realizada no Rio de Janeiro, comemorativa do centenário da abertura dos portos, as peças artesanais de
 
João Marinho despertaram interesse e admiração.
 
 
Utilizando ainda da mesma técnica, mas empregando matéria-prima diferente, João Marinho produzia entrança¬dos de couro-cru, desdobrando-o
 
em tiras de poucos milímetros e as transformando em torcilhões multicoloridos para rédeas, bridas, barrigueiras, cabeções de freios,
 
cabrestos, rabichos, peitorais, loros, tudo empregado nas montarias de apurado gosto, além de "laços" resistentes para a domacão de
 
animais xucros.
 
 
Todavia, o "hobby" de João Marinho consistia no seguinte: exibindo três cascas de nozes, colocava uma bolinha de cera sob uma das
 
cascas, convidando o espectador a descobrir cm qual delas se escondia a pequena esfera. Dificilmente se acertava. É que João Marinho,
 
dotado de extrema destreza digital ,escamoteava de tal jeito a pequenina peça que raramente era ela encontrada sob uma as cascas.
 
 
João Marinho morreu pobre, sem deixar discípulos.
 
 
 
===Dr. Sílvio Lambert de Brito===
 
===Dr. Sílvio Lambert de Brito===
 
Figura representativa da cultura cambuiense é, por sem dúvida, a do Dr. Sílvio Lambert de Brito, nascido a 29 de março de 1892, filho de
 
Antônio Evaristo de Brito e de Hermelinda Lambert de Brito.
 
 
Concluídos os cursos de odontologia e de veterinária, logrou de pronto cátedra na Faculdade de Odontologia e, em seguida, a de professor
 
na Escola de Medicina Veterinária. Durante os respectivos cursos, destacou-se entre seus colegas pela largueza de sua inteligência e
 
pela abrangência de seus conhecimentos científicos.
 
 
Nas sessões do Centro Acadêmico "Afrânio Peixoto" impôs-se pela elevação de suas idéias e pela fluência de sua oratória inspirada e
 
fácil. Por isso mesmo, na conclusão do curso odontológico foi eleito orador-da-turma, ocasião em que produziu excedente peça oratória,
 
repassada de conhecimentos técnicos e de fina estrutura literária.
 
 
Herdando de seu Pai propensão para o jogo político, elegeu-se vereador e, posteriormente, Presidente da Câmara Municipal de Pouso
 
Alegre, cujos mandatos dignificou.
 
 
Ocupou o cargo de Inspetor Sanitário Regional de Veterinária, nomeado pelo Ministério da Agricultura, nele se aposentando depois de
 
prestar bons serviços à pecuária mineira.
 
 
Era casado com a professora Maria Luiza da Silva Brito, que lhe sobrevive, deixando os seguintes filhos: Hélio, coronel de exército,
 
falecido; Izete, professora, lotada no Ministério do Trabalho; Walter, universitário de Direito; Mariângela, professora e universitária
 
em Brasília; Neyde, professora e universitária em Florianópolis; e Ney, universitário de direito em Brasília.
 
 
Faleceu o Dr. Sílvio Lambert de Brito em 13 de agosto de 1963, no Rio de Janeiro (G. B.)
 
 
 
===Dr. Ney Lambert===
 
===Dr. Ney Lambert===
 
Uma vida longa torna-se curta, inócua e descolorida se na sucessão de seus dias e anos nada se destaque em favor da humanidade.
 
 
Ao revés uma existência pouco dilatada projeta-se sobremaneira na história da civilização quando dela derivam realizações e atitudes
 
capazes de atuarem no meio social e na cultura como fatores de integração e desenvolvimento.
 
 
O Dr. Ney Lambert, médico, cardiologista, impôs-se na sociedade e nos meios médicos e assistenciais pela cultura, pela modéstia, pela
 
dignidade de sua ação social e profissional, pelo desprendimento, pelo espírito humanitário.
 
 
'''O estudante''' - Seu curso secundário foi feito no antigo Ginásio Mineiro, cujas tradições se incorporam hoje na vida c na história do atual Colégio Estadual. Concluiu-o em dezembro de 1940.
 
 
Na solenidade de entrega dos respectivos certifica-dos, profunda e respeitosa impressão causou à enorme assistência, sessão presidida
 
pelo então Secretário da Educação, Dr. Cristiano Machado, quando, dentre os diplomandos, um braço se levantou bem alto, sozinho, em
 
saudação integralista ao ser entoado o Hino Nacional. Era o jovem Ney Lambert, que, desde cedo, demonstrava sua fé cívica e firmeza de
 
suas convicções ideológicas, diante mesmo de altas autoridades federais e estaduais contrárias àquele movimento.
 
 
Discreto, indiferente à atoarda que posteriormente agitou a nação — o jovem estudante manteve-se silencioso, vencidos os primeiros
 
arroubos de seu entusiasmo cívico pela política, mas firme e consciente em seus ideais.
 
 
Aprovado em concurso vestibular, matriculou-se na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, curso concluído em 1945
 
já como Assistente do Professor Rivadávia Gusmão, catedrático de técnica operatória. Durante todo o seu curso universitário, exerceu ele
 
as funções de bibliotecário do Conservatório Mineiro de Música, órgão por ele organizado sob a orientação de seu pai, então Diretor do estabelecimento.
 
 
'''Vida profissional''' -  Iniciou atividades profissionais em Santa Bárbara, de onde se afastou para assumir em Belo Horizonte o cargo de médico do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários (IAPC), nomeado interinamente pelo então Ministro do Trabalho, Dr.
 
Octacílio Negrão de Lima. Logo após, no entanto, a fim de se garantir na instituição previdenciária, inscreveu-se em concurso e, dentre
 
muitas dezenas de candidatos, logrou excelente classificação, efetivando-se, por isso mesmo, no cargo ocupado interinamente.
 
 
No desdobrar de suas funções, recebeu a incumbência ministerial de chefiar o órgão a que pertencia, permanecendo nela por vários anos e
 
das quais se afastou a pedido .
 
 
Ao mesmo tempo em que exercia suas funções no IAPC, recebia também a nomeação de Assistente da Faculdade de Medicina, passando,
 
posteriormente, ao cargo de Professor Adjunto, no exercício da Chefia do Departamento de Biome-tria da mesma Faculdade.
 
 
Mas não ficaram nisso suas atividades médicas: fez em São Paulo curso intensivo de aperfeiçoamento em Cardiologia, simpósio organizado
 
pela Sociedade Médica de S. Paulo, recebendo o respectivo certificado dia 9 de fevereiro de 1952.
 
 
Extintos os antigos Institutos de Aposentadorias e criado, por unificação, o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), foi o Dr.
 
Ney Lambert designado Chefe do Serviço Médico Hospitalar de Belo Horizonte, sem se ausentar, no entanto, de sua clínica especializada.
 
 
'''O desportista''' — Desde muito jovem o Dr. Ncy Lambert dedicou-se com grande entusiasmo a práticas desportistas. Alcançou, por isso mesmo, troféus, taças, medalhas, diplomas e menções honrosas, vencendo competições de alta relevância em vários setores do esporte mineiro.
 
 
Na Olimpíada Universitária Brasileira de 1910 sagrou-se Vice-Campeão Nacional de Xadrez e, posteriormente, trouxe para Minas Gerais a
 
láurea da vitória de Xadrez e Bridge disputados em Recife, Salvador, Belo Horizonte, São Paulo e Porto Alegre.
 
 
Merece especial destaque a pugna enxadrística travada 110 salão nobre da Associação dos Empregados do Comércio em junho de 1939,
 
competição a que concorreram 25 enxadristas, logrando o jovem Ney Lambert empatar com o campeão mundial, o russo Alekhine.
 
 
Ao comentar o notável feito do jovem enxadrista mineiro, assim se pronunciou a imprensa da Capital:
 
 
"Às 22:40 acentua-se a vantagem do jovem Ney Lambert que conta com duas torres, um cavalo e quatro peões, contra uma dama
 
e cinco peões.  Os "sapos" que rodeiam o taboleiro do jovem mineiro estão entusiasmados com a sua boa posição. Já há quem
 
preveja a sua vitória. Aumentam os comentários em torno do taboleiro de Ney. Os entendidos afirmam que está ganha a partida."
 
 
E após anotar a retirada de vários disputantes do torneio, acrescenta a imprensa :
 
 
"Alekhine pára 3 minutos sobre o tabuleiro do rapaz para fazer um lance. A assistência, acostumada à sua rapidez, fica
 
entusiasmada. Mais uma volta, às 22:35 o Campeão do Mundo aceita o empate proposto por Ney Lambert, um amador de 19 anos.
 
A assistência saúda o feito do rapaz mineiro — registra o comentarista — com uma vibrante salva de palmas."
 
 
Interpelado pelo jornalista, explicou Ney Lambert:
 
 
"Eu podia fazer uma dama e aumentar a minha vantagem, forçar um triunfo. Entretanto, a técnica formidável do meu adversário
 
poderia  transformar em derrota a mínima distração de minha parte, distração, aliás, muito possível dada a minha excitação
 
e os comentários de todos os lados."
 
 
Esse belo triunfo serviu de incentivo ao enxadrista mineiro, que nesse sentido, alcançou em várias capitais brasileiras, como
 
representante de seu Estado, esplêndidas vitórias e significativos troféus. Suas férias no serviço público e nas lides profissionais
 
privadas ele as passava à beira do S. Francisco ou do Araguaia, em caçadas c pescarias, esportes também de seu especial agrado.
 
 
'''Dados biográficos''' -  Nasceu o Dr. Ney Lambert dia 14 de maio de 1919, em Cambuí, filho de Levindo Furquim Lambert e. de Aurora
 
Lambert.
 
 
Do seu consórcio com a professora Augusta Herbster de Gusmão Lambert são seus filhos Helvécio, Marcos e Júnia.
 
 
Faleceu o Dr. Ney Lambert, repentinamente, dia 15 de agosto de 1970, vitimado por distúrbio cardíaco.
 
 
A Assembléia Legislativa do Estado, as Câmaras Municipais de Belo Horizonte e Cambuí, o Juizado do Trabalho de Uberaba, o Conselho
 
Estadual de Educação e outras instituições lançaram em ata votos de pesar pelo desaparecimento de quem muito fez pela comunidade
 
mineira.
 
 
 
===Dr. José Guilherme Eiras===
 
===Dr. José Guilherme Eiras===
 
O nome e a personalidade do Dr. José Guilherme Eiras sobressaem, sem qualquer dúvida, na paisagem humana de Cambuí.
 
 
Oriundo de família desprovida de recursos econômicos e financeiros, começou sua vida lavrando a terra, apegado ao cabo do guatambu, mãos
 
calejadas no amanho cotidiano, suando e cansando na pequena gleba que seus pais possuíam no Bairro do Portão.
 
 
Aos dez anos de idade, ainda analfabeto, veio para a cidade, acompanhando seus genitores, que se desfizeram do acanhado trato de terra
 
possuída a duras penas. Passou a freqüentar a escola primária regida pelo Professor Maximiano Lambert, galgando desde logo as primeiras
 
colocações entre seus colegas de classe. Justamente por isso, pouco tempo levou para assumir, na escola, o posto de "decurião", que,
 
naquele tempo, auxiliava o Mestre na alfabetização dos alunos novos.
 
 
Mas, não ficaram aí as atividades do jovem Eiras: passou a aprender o ofício de seleiro, já que, por esse tempo, a demanda de artefactos
 
de montarias era um imperativo constante. À noite, aprendia música e integrava a filarmônica local.
 
 
A sua ambição e o seu grande descortinio, porém, não lhe davam persistência no artesanato, motivo porque deixou Cambuí e empregou-se em
 
Bragança, importante cidade paulista, aí exercendo variadas atividades burocráticas e comerciais, sempre melhorando, no entanto, nas
 
condições econômicas.
 
 
Voltou à terra natal para assumir o cargo de Procurador da Câmara Municipal, depois de vencer difícil concurso como candidato a
 
Tabelião.
 
 
Dados os seus predicados morais, foi nomeado Tenente-Secretário da Guarda Nacional, distinção essa que não impediu de tomar, por
 
inteiro, rumo diferente em sua vida: mudou-se para São Paulo, renunciando as funções de Vereador à Câmara Municipal.
 
 
Na grande Capital paulista enfrentou sérias dificuldades, vencendo-as brilhantemente. Submeteu-se a concurso nos Correios, alcançando
 
classificação e nomeação, sendo então, em conseqüência, depois de várias promoções, encarregado de gerir a Tesouraria da respectiva
 
repartição na Agência da Luz.
 
 
Daí por diante, a vida de José Guilherme Eiras constitui uma constante progressão triunfal, tanto na área da economia e das finanças
 
como na arte da direção política. Elegeu-se Juiz de Paz do Jardim América e passou a integrar todas as associações e entidades de caráter
 
político e social de seu bairro e circunvizinhanças. Cursou ginásio noturno e submeteu-se a exame vestibular na Faculdade de Direito,
 
cujo curso concluiu com êxito e galhardia. Abriu banca de advocacia e conquistou renome e confiança nos meios forenses.
 
 
Ao mesmo tempo que assim agia, desenvolvia cuidadoso esforço em favor da educação e da cultura de seus irmãos, cuja transferência para
 
S. Paulo promoveu. Colaborou eficientemente no '''Correio Paulistano''', importante diário da grande metrópole paulista, e deu publicidade a várias plaquetas defendendo a interligação ferroviária de Minas e São Paulo.
 
 
Visitando freqüentemente sua terra natal, dava, por isso, apoio financeiro a suas instituições culturais e filantrópicas, tendo mesmo,
 
iniciado a coleta de numerário para a construção do '''Hospital Ana Moreira Salles'''. Prestigiou os grupos escolares locais oferecendo-lhes material escolar, livros e bolsas a estudantes pobres. Tem seu nome, por isso mesmo, a biblioteca do primeiro grupo escolar da cidade.
 
 
Era filho de Manuel Antônio Eiras, português de nascimento, e de Maria Cabral Eiras, nascido em Cambuí, no Bairro do Portão, dia 25 de
 
junho de 1877, falecendo em São Paulo. Do seu consórcio com Dona Nhazinha Eiras deixou seis filhos.
 
  
 
== Capítulo XV - Tradições e costumes ==
 
== Capítulo XV - Tradições e costumes ==
  
 
===Folclore===
 
===Folclore===
 
O município de Cambuí, incrustado em zona que recebeu de perto o batismo bandeirante nos primórdios da descoberta o, por isso mesmo,
 
sentiu também de perto os percalços da luta desbravadora, não guardou sequer reminiscências folclóricas ponderáveis da era sertaneja.
 
 
Não há folclore a registrar. Nem mesmo se justifica a ausência de atividades dessa natureza, já que Cambuí se adia entre vários núcleos
 
em que o passado e a tradição conservam sinais evidentes em suas manifestações populares.
 
 
O quadro célebre '''O Batuque''', talvez inspirado por Martins e Spix, nas suas andanças pelas Gerais, foi, ao que, parece, aproveitado nas alturas de Estiva, a dezoito quilômetros de Cambuí. E Camanducaia e Bom Retiro (hoje Bom Repouso) centralizavam movimentação intensa
 
nesse mesmo sentido.
 
 
No distrito de Bom Repouso conservou-se latente um agrupamento que, vez por outra, vinha a Cambuí para sua exibição dramático-coreográfica nos Congados. Nada mais que isso.
 
 
Catiras, cateretês, dança de S. Gonçalo, em certos bairros mais afastados, ainda movimentam os festejos, principalmente nos casamentos
 
de roceiros. Como se observa por toda a parte, a viola cabocla é o instrumento de eleição, cujos arpejos ou rudes melodias, os pés
 
roceiros acompanham em ritmo estrondejante.
 
 
Uma ou outra manifestação folclórica, ainda, por esta ou aquela maneira, continua a tradição talvez bem afastada na história, mas sem laivos de expressão nitidamente popular. Vejam-se, por exemplo, as comemorações antoninas, em que fogueiras à porta das residências criavam variados motivos destinados a se perpetuarem indefinidamente. Tanto isso é certo que um cronista de Belo Horizonte escrevia em julho de 1948:
 
 
"Estão agora em minha retina as fagulhas luminosas de nossas fogueiras de S. Antônio, S. João e S. Pedro. Cá estão elas
 
trazendo uma ruma de recordações de velhos tempos, em que as ruas do pequenino Cambuí se pontilhavam de labaredas, os
 
céus se cobriam de balões e o ar pal¬pitava com o estrondo de bombas e foguetes. Um padre carmelita, descrevendo, com
 
certo exagero, os nossos costumes, publicava por esse tempo em revista italiana:
 
  ''— Senza panne, si; ma senza bombe no...''
 
Cá estão, enfim, as fogueiras de seu Tota, de seu Adriano, do Nico Alexandre, regadas a quentão gostoso e a rezas
 
e modinhas! E com as minhas saudades, eu passaria a convidar ao caro Prefeito da cidade para, num requinte de amor
 
ao passado, promover a volta dos velhos costumes, das tradições que tanta poesia davam, naqueles tempos, à vida
 
da gente. Não faltam violões e seresteiros. Não morreram ainda os sonhos da mocidade nem, por igual, se apagou o
 
fogo da Fé no coração dos homens.
 
Pois bem, que Cambuí espalhe os seus "quentões", tire as suas "sortes", cante as suas modinhas, dance as suas
 
quadrilhas, reze as suas rezas, retornem, enfim, um pouco ao passado, para que os moços de hoje fiquem conhecendo
 
os costumes ingênuos dos moços de ontem...('''A Montanha''')
 
 
Fogueiras intensas e inúmeras esquentavam de fato o ambiente e o corpo enregelado da gente, nas noites frígidas de junho, ao mesmo tempo
 
que os "quentões", feitos de aguardente, caramelo e gengibre, tudo fervendo em velhas chaleiras de ferro fundido, davam inspiração e
 
vigor físico aos seresteiros. Chico Raimundo — o Castanho, de que tan¬to protestava — ufanava-se de transpor o braseiro das fogueiras de
 
pés descalços...E o fazia, de verdade, saltitante e alegre... Dia seguinte, ]á estava ele rachando lenha ou agarrado às patas dos
 
cavalos para a aplicação de ferraduras...
 
 
 
===Carnaval e entrudo===
 
===Carnaval e entrudo===
 
+
===Carros de bois===
Na primeira década deste século e mesmo no primeiro quinquênio da segunda, o carnaval era muito animado e interessante.
+
===Tropas de burros===
 
+
Verificava-se o predomínio da "máscara", como por toda a parte. Com voz de falseie, vinha a pergunta:
+
 
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- Você me conhece?
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Grupos de mascarados enchiam a cidade e muitos desses em cavalos bem ajaezados. Lindolfo Sales, a caráter, imitava Paulino Frederighi,
+
então fiscal da água e das ruas, que tinha um dos dedos da mão anquilosado. E imitava bem. Por sua vez, José Bueno (Zé Fogueteiro)
+
retratava com perfeição Paiva Júnior, estimado advogado e pessoa queridíssima na cidade.
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+
O travestimento era generalizado, porque, de modo geral, as mulheres não participavam dos grupos fantasiados.
+
 
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No último dia (terça-feira), à noite, vinha o Zé Pereira: um bombo e uma multidão de acompanhantes, choramingando de porta em porta,
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pedindo "coisas" de comer, carregando, ao mesmo tempo, um simulacro de esquife:
+
 
+
"Zé Pereira morreu
+
Que será de eu. . ."
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O barulho era de convencer os recalcitrantes, e pães, biscoitos, doces, conservas, latarias, tudo vinha para as ces¬tas e balaios, que os
+
foliões carregavam para a casa adrede escolhida para as suas comezainas.
+
 
+
Mas, o que mais exaltava os folguedos do carnaval na primeira década do século era precisamente o entrado. Pas¬sasse alguém por uma
+
janela e lá vinha bacia de água a ensopá-lo. Se parasse ou reclamasse, mãos femininas (desta feita entravam as mulheres) vinham de anil
+
em punho, borrando de azul o rosto e as roupas do passeante.
+
 
+
Se o indivíduo, prevenido, passasse ao longe, vinha--Ihe um "limão-de-cheiro", que consistia num recipiente feito de cera (não era
+
difícil a feitura) e cheio de água levemente perfumada.
+
 
+
Às vezes, o limão-de-cheiro era aplicado em abraço, no pescoço da vítima. Meninos e empregados de algumas casas sentavam-se à porta
+
trazendo bandejas de limão-de-chei¬ro para serem vendidos.
+
 
+
A feitura obedecia a processos técnicos de fácil manejo: usado o limão comum (fruto) como forma, era mergulhado em cera derretida e,
+
posteriormente, quando frio, partido ao meio e de novo unido para reservatório de água. Ou-Iro processo consistia em utilizar-se o
+
"papo" de galinha cheio de água e, em seguida, mergulhado em cera derretida. Depois de frio, esvasiava-sc. o conteúdo e se reenchia o re-
+
ccptáculo de água levemente aromatizada.
+
 
+
A Praça da Matriz era então despida de qualquer arborização, ajardinamento ou de embelezamento artificial. Pasto de cabritos e
+
galináceos e mesmo de vacas leiteiras, simplesmente .
+
 
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No centro, um chafariz que fornecia água aos vizinhos não providos do precioso líquido. A Praça, então, tornava-se campo de batalha para
+
o entrado: o chafariz fornecia a mu¬nição necessára para as competições hídricas.. .
+
 
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Tudo isso - já era, como hoje se diz.
+
 
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===Carros-de-bois===
+
 
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A obra realizada pelos carros-de-bois na distribuição da riqueza e no desenvolvimento do progresso local merece página à parte na
+
história da civilização mineira.
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Esse veículo canhestro, rude e simples, faz jus a monumento em praça pública, tal qual recebeu o "automóvel" na Via Dutra.
+
 
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Um jornal de Jaguarí recenseou os carros-de-bois de Gambuí alcançando cifra superior a quatrocentos (sic) em trânsito constante pela
+
estrada ligando a Bragança. O chiar estridente de seus eixos propositadamente preparados para o atrito por meio de palhas de milho
+
fixadas nos cocões, chegava a exigir a suspensão momentânea dos trabalhos do júri local, quando a onda carreteira repontava, tendo à
+
fren¬te seus candieiros, em demanda de Estiva, Gapivari e bairros próximos, carregada de mercadorias.
+
 
+
Era então uma ruma interminável de carros, cada qual arrastando seis, sete, oito ou mais juntas de bois, que, presas à canga por canzis
+
resistentes, inclusive junto as do coice, que se ligava ainda ao cabeçalho -- desusava mansamente por horas seguidas, modorrenta,
+
irritante, frente ao Fórum, ferindo os ouvidos da gente e perturbando o sossego da urbs.
+
 
+
A Câmara Municipal chegou a legislar sobre isso: determinou que os candieiros, à entrada da cidade, untassem os eixos, a cheda e os
+
cocões com cebo ou sabão, para evitar o atrito estridente e enervante.
+
 
+
Os jornais já citados acusavam os carros de Cambuí nos estragos tremendos produzidos nas estradas, e os responsabilizavam pelos ônus
+
causados aos municípios respon-sáveis por sua conservação. Os sulcos profundos abertos no leito da via tortuosa eram fendas futuras no
+
regime das chu¬vas.
+
 
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Mas, embora postos no banco dos réus, persistiam os carros na faina destemerosa de conduzir produtos da terra e reconduzir aos pagos aquilo de que necessitava o progresso local.
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Foi, por isso, grande - muito grande mesmo - a obra realizada por esse veículo rudimentar, antes do advento do caminhão e do automóvel.
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Cabe-lhe a glória pioneira de ter carriado a riqueza e a redistribuído por uma vasta área em torno da cidade.
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+
Aliás, segundo se lê em Buarque de Holanda ('''Caminhos e Fronteiras''', pág. 23) os veículos à tração promoveram o alargamento das estradas antes simples carreador de animais e trânsito de pedestres, ensejando o aperfeiçoamento do transporte e das comunicações.
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Foi o que se deu com os carros-de-bois.
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===Tropas-de-burros===
+
 
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Merece igual tratamento o serviço desenvolvido pelas tropas-de-burros na importação de artefatos e artigos indus-trializados e exportação
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de produto da terra, necessários à captação da prosperidade da região.
+
 
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De início, demandavam Pindamonhagada, estação de embarque e desembarque, galgando a Mantiqueira em várias etapas. Eram de/oito léguas,
+
"serra-acima", como ao tempo se dizia, Via Capivarí, S. José do Paraíso, S. Bento do Sapucaí, Alto da Serra e Pinda. Uma boa estirada! O
+
grande mercado era Rio de Janeiro.
+
 
+
Posteriormente, tornou-se Bragança o maior empório da região a promover o intercâmbio comercial com o extremo sul do Estado. As doze
+
léguas eram vencidas em poucas etapas, dada a ausência de serras tortuosas e íngremes. E S. Paulo era o foco de atração.
+
 
+
Cada tropa, em geral, constiuía-se de 10 a 12 burros ou mulas, tendo à frente a madrinha, testa enfeitada de fitas coloridas, levava um
+
cincerro badalando em cada movimento .
+
 
+
No lombo amarrava-se a cangalha e nesta a carga pro-tegida por mantas de couro-cru, desafiando a violência dos aguaceiros.
+
 
+
A passo tardo, abria caminho através de lamaçais e atoleiros, e vencia três léguas por dia. Acostava-se em ran¬chos à beira da estrada,
+
sob a cobertura de telha vã, apoiada em várias estacas ou esteios, quase ao relento. E ali, à clari¬dade da lua, cantando velhas e
+
dolentes toadas sertanejas, os tropeiros varavam à noite, muita vez insones, dormindo ou¬tras vezes sobre couros e baixeiros.
+
 
+
A carga, constituída, comumente, de sacos de farinha de trigo, sal, açúcar escuro ou caixas de querozene, era bem amarrada na cangaliia
+
por correias de couro-cru.
+
 
+
Prestaram grandes e relevantes serviços ao progresso e ao desenvolvimento da região. Tal qual os carros-de-bois, merecem monumento.
+
 
+
Entre 1851 e 1860, a qualificação de toda a população masculina, feita pela Guarda Nacional, registrava a ativida¬de de 61 tropeiros,
+
isto é, proprietários de tropas-de-burros destinadas ao transporte de produtos de importação e expor¬tação locais. Nesse número não se
+
incluíam os "arrieiros", encarregados dos aprestos e movimentação das tropas. Os carros-de-bois, por esse tempo, ainda não ocupavam lugar
+
no intercâmbio comercial, dada a ausência de estradas largas e próprias.
+
 
+
 
===Semana Santa===
 
===Semana Santa===
 
Não se vai lembrar aqui a dramatização litúrgica da Semana Santa, que era aquela ainda hoje desenrolada nas regiões longínquas, onde a
 
faina da renovação não destruiu os alicerces da religião cristã nem apagou a chama da Fé. Não se vai lembrar, porque, ainda, é a mesma de
 
todas as localidades brasileiras em que a religião católica impera decisivamente.
 
 
O drama do Calvário foi sempre durante uma semana, até a segunda década deste século, revestido de compunção,
 
 
respeito, tristeza e solenidades que bem interpretavam a religiosidade de que se desfalca a sociedade de nossos dias. O silêncio, o
 
luto, a sobriedade eram um imperativo de todas os lares austeros, onde nenhuma voz se levantava nem a gula se fazia sentir. As mesas e
 
iguarias se impunham pela simplicidade e pelo jejum. Os sinos das igrejas silenciavam e as "matracas" convidavam os fiéis para os
 
cerimoniais religiosos.
 
 
Era, de fato, ambiente de recolhimento moral e íntimo, até que, no sábado dito da "aleluia", ao meio-dia, os sinos bimbalhavam festiva
 
e ruidosamente, e a Banda de Música deflagrava um dobrado alegre e retumbante. Iniciavam-se então as comezainas, e a população agora
 
dissipava o melhor dos seus folguedos, comendo e bebericando. Jovens janotas e moçoilas de vestidos multicoloridos mudavam o panorama
 
citadino. Encerrava-se o drama da Morte e iniciava-se o mistério da Ressurreição.
 
 
Hoje, na maioria das cidades brasileiras não há mais isso.
 
 
 
===Festas religiosas===
 
===Festas religiosas===
 
A padroeira é Nossa Senhora do Carmo, mas a festa religiosa de maior importância e mais movimento era a de 20 de janeiro, consagrada a
 
São Sebastião.
 
 
Desde o início das novenas realizavam-se à porta da Igreja-Matriz os leilões de prendas oferecidas pelos fiéis para o custeio das
 
despesas da festa. A Banda de Música, às 18 horas, subia estridentemente (mais comumente "subia" mesmo) e se punha no coreto
 
valetudinário ereto à frente da igreja, tendo de lado a barraca coberta de pano destinada à guarda das prendas e iguarias. E o leilão ia
 
vibrante, cercado de arrematantes e curiosos, até o último "toque" dos sinos, quando então se encerravam os pregões e os assistentes
 
procuravam a Igreja para as suas orações.
 
 
A festa de Nossa Senhora do Carmo, padroeira, dia 16 de julho, não tinha a vibração da de S. Sebastião, mas, por isso mesmo, provocava
 
mais contrição e mais fé.
 
 
Essas festas — a de S. Sebastião e a de Nossa Senhora do Carmo — se encerravam sempre com a procissão de andores percorrendo as ruas
 
principais da cidade, em que cada imagem artisticamente enfeitada era carregada pelos fiéis. Os andores eram preparados em casas
 
particulares e recolhidos festivamente na véspera da festa, para a solenidade procissional do dia seguinte.
 
 
No encerramento dos festejos, quando a procissão entrava na Igreja, processava-se um espetáculo verdadeiramente edificante e
 
estarrecedor. Minguei Velho (Miguel Lombardi) punha em cena seus altos conhecimentos de pirotécnica italiana. Atiçando fogo às
 
baterias, os ares se agitavam tremendamente e o estampido dos petardos era audível a dezenas de quilômetros de distância. Uma batalha
 
campal de detonações e de poderio percussor capazes de mais ensurdecer um surdo...
 
 
Muitas vezes a arte de Miguel Velho se provava em torneios de fogos coloridos e estrondejantes, geralmente à véspera da festa, quando
 
castelos medievais, armados ao lado da Igreja, entravam em tiroteio esfuziante contra barcos e navios de guerra, frente a frente.
 
 
Miguel Velho, amplas barbas brancas espalhadas pelo peito, e seu estado maior - José Miguel, seu filho, e Elias Fanuchi, seu neto -
 
comandavam a pugna temerária e belicosa.
 
 
Lá se foram esses tempos. . .
 
 
Registre-se neste passo o que o jornal cambuiense '''A Montanha''',  de 18 de julho de 1948 publicava:
 
 
'''Furiosa'''
 
 
Seu Maneco é regente da Banda,
 
Vai na frente, lampeiro e catita...
 
Os seus passos só marcam compassos
 
Que a charanga não segue nem fita...
 
  As mocinhas repontam bonitas
 
  Enfeitadas à porta e à janela.
 
  Bombardino, trombone, pistão,
 
  Soltam brilhos de cor amarela. . .
 
O Totonio ao passar pela casa
 
Do  Compadre  Tonim  Coletor,
 
Clarineta retira da boca
 
Pra dizer: "Como vai o Senhor?"
 
  (Mas o Mestre não gosta
 
  De esperar a resposta
 
  Do Compadre Tonim: /
 
  Bum-tchim-bum-tchim-bum-tchim.)
 
Mal chegados à porta da Igreja
 
Rompe o sino a tocar be-le-lem. . .
 
E o pistão quer agora mostrar
 
Quanta força no peito ele tem
 
  (Mas o baixo não deixa
 
  E o Maestro se queixa
 
  Desse grande chinfrim:
 
  Bum-tchim-bum-tchim-bnm-tcliim)
 
É nessa hora que a coisa se esquenta
 
E se espalha por todos os rincões.
 
Zé Maneta também vai provar
 
O barulho dos seus foguetões.
 
  O pistão passa então a tocar
 
  "Sobre as Ondas" --- a valsa velhinha:
 
  - Bum-tatá, bum-tatá, bum-tatá. . .
 
  - Como é boa esta nossa bandinha!
 
(Fala assim ao Vigário
 
O senhor boticário:
 
- Se não fosse esta idade...
 
- Ai meu Deus que saudade!)
 
    Arrastando as chinelas furadas
 
    Tônio Rosa inicia o leilão:
 
    - Quem dá mais? Um cartucho, senhores,
 
    Quem dá mais? quem dá mais? quanto  dão?
 
Finda a reza.  O leilão acabou-se
 
Sai o povo em  conversas à-toa.
 
Põe-se o Mestre defronte da Banda
 
E um dobrado meloso ressoa.
 
  Vai então pela rua
 
  Sob as luxes da lua
 
  O dobrado sem  fim:
 
  Bum-tchiin, bum-tchim, bum-tchim. . .
 
 
 
===Senhor Fora===
 
===Senhor Fora===
 
Uma tradição que se esgotou ao perpassar dos anos foi a denominada "Senhor Fora".
 
 
Consistia na seguinte prática religiosa: o doente, quase em coma ou presumindo suas últimas horas, pedia confissão e comunhão, a qualquer
 
hora do dia ou da noite. Duas, três, quatro horas da madrugada os sinos da Igreja Matriz bimbalhavam de maneira característica. A
 
população levantava-se e formava-se na Igreja solene procissão, levando o pároco a hóstia consagrada. E ao bater de sinetas, a
 
procissão se dirigia silenciosa e trôpega pelas ruas escuras da cidade, à luz de velas, até a residência do doente. Depois da confissão e
 
da comunhão, a procissão, com o mesmo ritual, regressava à Matriz, onde era então entoado o "tantum ergo", após o que a multidão se
 
dissolvia, e cada um regressava, estremunhado, ao seu leito caseiro.
 
 
Não existe mais essa prática.
 
 
 
===Mês de maio===
 
===Mês de maio===
 
Outra tradição que a voragem do tempo e as transformações dos costumes consumiram, é a procissão, madrugada da à fora, pelas ruas da cidade, em dias de maio, mês dedicado ao culto da Maria Santíssima.
 
 
Acordava-se ao sol nascer com os cantos homílicos e as invocações a Nossa Senhora pelo terço rezado pelo povo alternado com o sacerdote
 
e, em seguida, coro falado na ladainha de todos-os-santos. Antes de iniciar-se cada "mistério" do terço, o povo cantava, parada a
 
procissão, e só rompia a marcha vagarosa quando se iniciava o Padre Nosso:
 
 
O '''Padre Nosso''' era cantado alternadamente, isto é, sacerdote e povo.
 
 
http://s20.postimg.org/3up6dq13x/bio6_0.jpg
 
 
Ao ingressar na Igreja, aos pés do altar, encerrava-se a procissão com a '''Salve Rainha''', também cantada alternadamente:
 
 
http://s20.postimg.org/ewyupwkkd/bio7_0.jpg
 
 
E a bela oração à Virgem era toda cantada assim, alternadamente, sacerdotes e acólitos, secundados pelo povo. A linha melódica simples e
 
monótona assemelhava-se a uma melopéia oriental ou a um cânon em que intervalos de poucos tons se estruturavam, até o fim, de maneira
 
sincrônica.
 
 
As modificações por que vem passando a sociedade moderna mataram, na igreja, essa homenagem poética à Virgem, não mais existindo as
 
procissões madrugadeiras dos velhos tempos. Continua, no entanto, por todos os rincões brasileiros a coroação à Virgem feita por meninas
 
escolhidas — uma para coroar a imagem da Virgem e outra para depositar-lhe um ramo de flores nas mãos - acompanhadas por um grupo de
 
jovens vestidas de túnica branca e levando às costas asas também brancas, subiam pela rua afora até a Igreja, formando duas alas,
 
acompanhadas pela Banda de Música.
 
 
Já não há nos tempos de agora esse significativo tributo de amor à Virgem Santíssima.
 
 
''In omne tempus...''
 
 
 
===Festa do Córrego===
 
===Festa do Córrego===
 
Córrego, ou Senhor-Bom-Jesus-do-Córrego, ou, ainda, Córrego-do-Jesus, é município desde 1953. Divorciou-se de Cambuí. Partiu-se o elo
 
que os prendia, mas a história de um se prende à de outro em fatos que os unirão para todo o sempre.
 
 
A festa do Córrego, como se dizia antigamente, não é descrita com o colorido que o folclore empresta às manifestações de caráter
 
popular, mesmo porque ela tem cunho e sentido religiosos.
 
 
Repercutia no cenário sul-mineiro, abarcando mesmo larga faixa do território paulista, despertando, em particular, o interesse dos que
 
cercavam o pequeno burgo vizinho de Cambuí.
 
 
Forasteiros, comerciantes, especuladores de todo o porte, bufarinheiros, jogadores inveterados, profissionais da batuta,
 
representantes, enfim, de toda a fauna andeja, de todas  as  classes sociais,  dispostos  a  dormirem  ao  relento,  ao lado de uma
 
fogueira crepitante, ou sob os beirais da  Igreja do Senhor-Bom-Jesus — abriam caminho para o arraial. Cambai se esvaziava. Xinguem
 
pelas ruas. Xinguem em casa. Muitas famílias  da  cidade  possuíam - só  para  os dias das festas pequenas casas que; se
 
atopetavam de parentes e  familiares, dormindo no chão duro, sem colchão e sem travesseiros, somente para - o quê? - verem e
 
ouvirem o que. se passava no arraial nos últimos dias que precediam 6 de agosto. Os que não tinham casa no arraial iam diariamente,
 
vencidos seis quilômetros a pé, ou em carros-de-bois, por estradas íngremes e tortuosas, e ao divisarem, de longe,  o pequeno  amontoado 
 
de casas,  em  que consistia  a vila,  escutavam o  sussurro cavernoso da multidão que se acotovelava por todos os 
 
seus cantos e recantos, como se fora o ressoar longínquo das ondas do mar na concha acústica  dos  caramujos.
 
 
Dia e noite, o pátio destinado ao buzos — jogo de azar manejado por uma espécie de dado de forma típica e oblonga, de constituição óssea — estava constantemente superlotado, e o ruído das pequenas pecas nos beirais de grandes mesas redondas e côncavas, cobria o vozear dos licitantes e jogadores contumazes. Perdia-se dinheiro a rodo...
 
 
Comerciantes turcos armavam barracas cobertas de sapé ou, mais comumente, de simples folhagem decepada nos subúrbios da arraial, e, lá
 
dentro, bugigangas de toda espécie, quinquilharias, objetos simples e pobres, de latão ou folha-de-flandres, imitações de ouro e prata,
 
misturavam-se a uma variada sorte de pendurucalhos rebrilhantes.
 
 
Nico Alexandre carregava seu opulento e variado '''Bazar do Leão'''.
 
 
De manhã e à tarde, o palhaço a cavalo, seguido de um punhado de moleques, anunciava o espetáculo:
 
 
''Hoje tem espetáco?''
 
''Tem sim sinhô...''
 
 
E em seguida:
 
 
''O paiaço que é?''
 
''É ladrão de muié...''
 
 
A esse tempo a Banda de Música já esgotara o vasto repertório de dobrados afinados e melosos pelas ruelas do arraial, enquanto que os
 
namorados, daqui e dalém-mar, trocavam olhares cobiçosos - porque àquele tempo outra coisa não podiam nem sabiam fazer...
 
 
Chico Paulino concorria para a barulheira com o ruído de seus dados.
 
 
Uma frota de troles, formada em Bragança e Pouso Alegre, despejava, de momento a momento, mais forasteiros, mais devotos, mais gente,
 
atulhando a pequena praça de uma multidão curiosa e heterogênea, convocada para jogos de azar e divertimentos ao gosto da época.
 
 
Mas, tudo isso se desfez quando o Bispo de Pouso Alegre determinou a suspensão dos festejos no Santuário, desde que as autoridades policiais continuassem a permitir jogos-de-azar. A proibição foi cumprida, e a festa do Senhor-Bom-Jesus-do-Córrego passou para o capítulo das coisas do passado. Calendas gregas...
 
 
O Bispo Diocesano tinha razão: as devoções eram poucas. Os Frades Carmelitas bem que se esforçavam e desenvolviam excelente obra
 
catequética . A imagem do Senhor-Bom-Jesus era uma obra de arte sacra. Viera de Portugal nos longes de mil e setecentos e tantos. Mas
 
mesmo assim, a festa profana é que atraía e atuava e despertava a atenção e o interesse dos forasteiros.
 
 
Repita-se, na linguagem de hoje: já era...
 
 
<nowiki>* * *</nowiki>
 
 
O Suplemento Literário do '''Correio da Manhã''' (Rio), de 6 de fevereiro de 1911, publicou a seguinte página de autoria de Levindo Lambert:
 
 
===Festa do Senhor Bom Jesus do Córrego===
 
 
Madrugada.Invés do canto dos galos
 
A Banda do Geraldo rompe um  dobrado
 
Quente, barulhento, bonito e afinado,
 
Acordando o sol atrás do Pico de São Domingos,
 
Despertando a caboclada cheia de pinga,
 
Cheia de cinza,
 
Esparramada  ao lado da fogueira.
 
  E a Banda do Geraldo vai tocando o dobrado
 
  Quente, barulhento,
 
  Com berros de trombone e gritos de pistão,
 
  Um barulho dos diabos,
 
  Capaz de acordar Sua Majestade o Imperador do Japão,
 
  Do outro lado da terra. . .
 
Por isso mesmo,
 
O sol bota a cabeça de fora atrás do Pico de São Domingos,
 
E espia...
 
Depois, cheio de medo,
 
Vai devagarinho,
 
Devagarinho,
 
Levantando a loira cabeleira. .
 
  A caboclada,
 
  Cheia de pinga, cheia de cinza,
 
  Ao lado da fogueira quase apagada,
 
  Levanta-se de carreira
 
  Esfregando os olhos,
 
  Esfregando a cinza,
 
  Esfregando os bolsos,
 
  Ajeitando a lapiana no correião das calças,
 
  E de carreira vai alcançar a Banda do Geraldo.
 
  Antes de acabar o café gostoso da casa do festeiro    .
 
Depois,
 
O sol perde o medo da Banda do Geraldo:
 
- Vai subindo, vai  subindo,
 
Gostando de ver as moças bonitas
 
A porta da Igreja do Senhor Bom Jesus,
 
Vestidas de verde
 
De vermelho-escarlate  ,
 
De amarelo e de azul,
 
Conversando com os moços pacholas
 
Tocadores de violas no catira de São João.
 
  Depois,
 
  Cansado, satisfeito,
 
  Vai descendo, vai descendo,
 
  Acompanhando a procissão do Senhor Bom Jesus,
 
  Ouvindo o cântico dolente que os devotos cantam,
 
  O cântico que a Banda do Geraldo encobre de-repente
 
  Com o estrondo do bombo e o ruído dos pratos,
 
  Com os berros do trombone e os gritos do pistão. . .
 
E o sol, então,
 
Devoto do Senhor-Bom-Jesus,
 
Vai de-certo acordar as gentes que moram do outro lado da terra,
 
E contar como é boa,
 
Como é bonita,
 
Como é gostosa,
 
A festa do Senhor-Bom-Jesus-do-Córrego...
 
 
 
===Massacres e matanças===
 
===Massacres e matanças===
 
Está registrada em outro capítulo desta obra a cas-tração de cavalos praticada cm plena Praça da Matriz nos idos de 1905. A técnica
 
exercitada pelo estimado Coronel Justiniano Quintino da Fonseca não oferecia repulsa aos olhos dos assistentes, homens e meninos, porque
 
empregada com cuidados de higiene e assepsia e, ainda, certa perícia cirúrgica que bem comprovavam a competência do operador.
 
 
Já o mesmo não se dava na castração de touros, também em plena Praça Pública, por Francisco Amâncio Eiras. Conquanto sem derramamento
 
de sangue, o processo empregado por Chico Eiras feria a sensibilidade de, todos os seus auxiliares e dos que se prestavam a assistir o
 
terrível massacre do animal. Era o touro fortemente amarrado e "sugigado" por muitos auxiliares e, depois, ajeitados os seus
 
testículos sobre uma prancha de madeira, passava então Chico Eiras a esmigalhar as glândulas seminais do boi, que urrava terrivelmente
 
 
Uma crueldade sem par. De arrepiar os cabelos...
 
 
A matança de porcos na via pública constituía, ainda, uma prática desfeita pela evolução da cidade.
 
 
Quase todos os comerciantes de gêneros-da-terra a adotavam, mas, particularmente, Adriano Colli, ao lado da Igreja-Matriz, se
 
sobrepunha aos demais, porque mantendo, nos fundos de sua casa, na Rua da Palha (Rua Luiz Gama) uma vultosa engorda de suínos, que derramava sobre a cidade uma catadupa de bichos-de-pé (''tunga penetrans''), podia o comerciante sacrificar um exemplar diariamente, o que de fato fazia, atendendo assim sua vasta freguesia. O porco, adivinhando talvez seu destino trágico, enchia os ares de uma gritaria infernal, o que lhe não impedia de receber no coração certeira punhalada. Isso feito, era a vítima coberta da folhagem dura e resinosa do pinheiro, para destruir-lhe os pelos e cerdas. Em seguida, colocado em decúbito dorsal, era então aberto da laringe ao períneo, retiradas as vísceras (barrigada), separadas as bandas gordurosas (toucinho) e isolado o sua, da cauda à cabeça. E pronto...
 
  
 
== Capítulo XVI - Acontecimentos históricos ==
 
== Capítulo XVI - Acontecimentos históricos ==
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== Capítulo XIX - Minha terra ==
 
== Capítulo XIX - Minha terra ==
 
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''Levindo Lambert''
 
''Levindo Lambert''
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  És bela, és boa, és rica e abençoada,
 
  És bela, és boa, és rica e abençoada,
 
  E tens o encanto das regiões divinas.
 
  E tens o encanto das regiões divinas.
    Salve, Cambuí,
+
  Salve, Cambuí,
    Terra querida !
+
  Terra querida !
    A nossa vida
+
  A nossa vida
    Será por ti !
+
  Será por ti !
 
  O solo teu, fecundo, em farta messe,
 
  O solo teu, fecundo, em farta messe,
 
  Nos dá conforto e paz, nos dá riqueza,
 
  Nos dá conforto e paz, nos dá riqueza,
 
  E vigorosa e ardente a natureza
 
  E vigorosa e ardente a natureza
 
  Em frondes, flores, frutos se enriquece.
 
  Em frondes, flores, frutos se enriquece.
    Os filhos teus são bons e laboriosos
+
  Os filhos teus são bons e laboriosos
    - E são assim na vida - honrando a ti -
+
  - E são assim na vida - honrando a ti -
    O Pátria de nomes tão formosos:
+
  O Pátria de nomes tão formosos:
    - Brasil, Minas Gerais e Cambuí !
+
  - Brasil, Minas Gerais e Cambuí !
  
 
(Oficializado pela Lei Municipal nº 542, de 15-01-1973).
 
(Oficializado pela Lei Municipal nº 542, de 15-01-1973).
Linha 4 577: Linha 1 582:
 
Edição para a Wikipédia: Luís Carlos Silva Eiras
 
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''Dedicatória''
 
  
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''Levindo reclama da revisão do livro impresso''
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''As palavras mais citadas no livro:''
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