Helena tem cada ideia!

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Maria Helena Simões

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Eu me chamo João Pedro e já sou bem grande, maior do que minha prima Helena. Depois que eu acordo, minha mãe me leva pra casa da minha vó Lena. Lá eu encontro com minha prima Helena, que eu já falei. E a gente fica brincando, rindo e comendo até na hora de ir para a escola.

- Vamos brincar de ficar leve no ar, que nem os astooo...que nem eu vi na televisão mesmo, vó? – quando Helena não sabe falar alguma coisa ela olha pra minha avó, que é avó dela também.

- Astronautas – disse minha avó. Helena é muito pequena e ainda não sabe falar “astronautas” direito. Eu já sei.

- É, vamos? – Helena abriu os braços e saiu como se estivesse leve no ar, voando pra lá e pra cá. Eu abri os braços também e saí voando pra lá e pra cá e trombando na Helena e caímos sentados e a gente riu muito. E vovó riu muito também, mas mandou a gente parar, porque a gente podia trombar e cair e machucar.

Então Helena falou: - Seria legal a gente acordar de manhã e não precisar levantar, sair assim da cama.

E começou a brincar de novo de braços abertos andando pra e pra cá, só que menos pra vovó não achar ruim.

Helena tem cada ideia!

Então vovó fez suco de mamão e laranja com pão de queijo. A gente sentou na cadeira da mesa da cozinha e tomamos o suco e comemos um punhado de pão de queijo.

Depois do lanche, eu inventei uma roupa de ficar invisível.

- Como é que é? – perguntou Helena.

- Você veste a roupa e ninguém vê você. É fácil – expliquei. - Olha só as pás do ventilador. Quando estão paradas, a gente vê. Quando ligam, a gente quase não vê. Então é só fazer uma roupa que rode e que os outros enxerguem do outro lado sem ver a gente.

Helena pensou, pensou, fez uma careta e disse:

- Quando eu que ficar in-vi-sí-vel eu fecho o olho.

E saiu andando de olho fechado, quando trombando nas coisas. Eu também fechei os olhos e saí trombando nas coisas. E a gente riu muito.

Helena tem cada ideia!

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Mas daí estava na hora de ir para a escola e vovó falou pra gente abrir os olhos e aprontar. E nos levou até a porta da escola.

No outro dia tinha arrumação na casa da vovó. Então eu, Helena e vovó ficamos no quintal e vovó armou as redes e falou pra gente deitar e ficar olhando as nuvens. E perguntou o que a gente estava vendo nas nuvens.

Eu vi um dragão, um astronauta e um cavaleiro com espada. Helena viu umas porquinhas, umas fadas e muitas flores, que eu não vi. Eu perguntei pra vovó o que ela estava vendo e ela disse que viu uma pessoa, que ela conheceu quando era mocinha.

Daí a moça que arruma a casa da vovó disse que estava tudo pronto. E fomos para dentro da casa comer suco de melancia e tomar bolo de chocolate, ih, errei, comer bolo de cenoura com chocolate por cima e tomar suco de melancia. E depois ficamos brincando de massinha e fomos pra escola.

De noite, vi na televisão um homem falando que tem muito lixo no espaço, que é resto de foguete e de nave e até uma caixa de ferramenta, que uma astronauta deixou escapar. Tive uma ideia de desenhar uma nave que corresse atrás do lixo e desse um tiro neles. E desenhei uma nave com um canhão e também cheio de lanças pra fisgar os lixos. Daí é só chegar perto do lixo e bum! – dar um tiro nele, que espatifa tudo e some. Ou então joga a lança no lixo e puxa com uma corda para a lixeira da nave.

No outro dia, fui correndo mostrar meu desenho pra Helena. Ela olhou e disse:

- João Pedro, está faltando uma vassoura. Se tem lixo, tem que ter vassoura. Senão, como é que vai limpar?

Helena tem cada ideia!

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Daí desenhei uma vassoura bem grande na nave. Helena achou muito legal e fomos comer cachorro quente e suco de morango com leite que vovó fez. E depois Helena teve outra ideia:

- Vamos escrever o maior número que existe?

Achei legal a ideia e vovó arrumou um papel bem grande para cada um e passamos a escrever o maior número que existe.

Meu número era assim:

8372360128293940124372612515328403848585151197210752801274...

e eu fui enchendo todo o papel.

Quando fiquei cansado de escrever, fui ver o número da Helena, que era assim:

|O|O|O|||||||OOOO|||OOOO||OOO|||||||||OOOOOOO||||||||||OOOO|||||||OOOOO|||O|O

- Uai, Helena, só tem zero e um?

- Uai, é muito mais fácil. É só fazer bolinha e risquinho.

Então passei a escrever só 0 e 1 também no meu número.

- Qual que o maior número? – eu perguntei pra vovó. – O meu ou o da Helena?

Vovó Lena olhou as folhas e disse que os dois números eram muito grandes e que houve empate.

- Êpa! – eu e a Helena falamos ao mesmo tempo e toda vez que a gente fala a mesma coisa ao mesmo tempo a gente começa a rir. Toda vez que tem disputa entre eu e Helena, vovó diz que deu empate. Mas aí vovó disse que estava na hora da escola e guardou as folhas para que a gente escrevesse um número maior ainda outro dia.

Então teve sábado e não tem aula e não fui à casa da minha avó, nem vi Helena. E teve domingo, que também não tem aula e foi a mesma coisa. Minha mãe diz que é pra minha avó descansar um pouco. Mas, às vezes, é sábado e é domingo e a gente vai à casa da vovó Lena assim mesmo. Mas dessa vez, eu, meu pai e minha mãe fomos a muitos outros lugares passear e foi muito legal também.

Na segunda-feira, já na casa da vovó, Helena me contou, quando vovó não estava perto:

- Descobri uma coisa te-rrí-vel!

Helena aprendeu a palavra terrível e toda hora ela fala terrível.

- O quê?

- Vovó guarda tudo que a gente desenha e escreve lá no quarto do fundo. Isso é te-rrí-vel.

Comecei a rir e perguntei: - Como é que você sabe?

- Ela disse pra minha mãe, que ela guarda tudo que a gente faz no armário grande lá no quarto do fundo.

- Mas ela guarda pra quê?

Helena levantou os ombros até as orelhas e falou:

- Não sei.

- Isso é te-rrí-vel – eu falei imitando Helena e começamos a rir.

E fomos comer pipoca e canjica, que a vó Lena tinha colocado na mesa pra gente comer antes de ir pra escola.

No outro dia, vovó deu uma folha grande de novo para cada um e falou:

- Por que vocês não desenham uma cidade?

- Isso! – eu e a Helena falamos “isso” na mesma hora e começamos a rir, porque a gente falou junto.

Eu desenhei uma cidade com muitas ruas, carros, casas, um rio, ponte, ônibus, igreja e uns prédios. Helena desenhou uma cidade com porquinhos, fadas, floresta, uma caverna e muitas flores. Helena olhou minha cidade e disse:

- Não vai ter dragão?

Helena tem cada ideia!

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Então desenhei um punhado de dragões voando sobre minha cidade. E falei pra ela desenhar um lago na cidade dela. Ela achou a ideia muito legal e desenho um grande lago no meio da cidade. E pintou de amarelo.

- Lago amarelo? Não é azul? – eu perguntei.

- É. Amarelo. É muito mais bonito. E a caneta azul também já está fraquinha – disse Helena.

Vovó gostou muito das cidades e nos chamou para comer coxinha, bolinho de queijo e tomar suco de uva. No outro dia, vovó deu canetas novas pra cada um, mas aí ficamos brincando de futebol e Helena cansou logo e foi brincar de boneca e eu continuei chutando bola.

E aí vovó pôs milho cozido no pratinho pra gente comer e Helena falou que ia comer sem usar as mãos e comer que nem os passarinhos. E então nós passamos a comer assim e vovó riu muito e a gente riu muito também. E aí fomos pra escola.

No outro dia, nós tivemos que ficar no quintal de novo, enquanto a arrumadeira lavava o chão da casa. Vovó ficou sentada na poltrona olhando as nuvens. Helena ficou conversando com as flores do jardim e com as fadas lá dela. E eu fiquei vendo um livro cheio de desenhos de bichos.

Então, Helena veio perto de mim e falou no meu ouvido:

- Aconteceu uma coisa te-rrí-vel. Mas é segredo.

- O quê? – eu perguntei.

- Vovó está chorando.

- Você está chorando, vó? – eu perguntei pra minha avó Maria Helena.

- Não, não é nada, não - disse minha avó. – É um cisco que caiu no meu olho.

- Não está chorando, não - eu falei pra Helena. – É um cisco que caiu.

- O cisco caiu num olho e depois caiu no outro olho – Helena disse e voltou pulando pra conversar com suas flores e fadas.

Depois eu fui desenhar um dragão bem grande e ficou parecido com um dinossauro. E Helena perguntou o que era e eu falei que era meio dragão, meio dinossauro. E ela falou que era um “dragãossauro” e a gente riu muito. E até vovó, que estava séria, riu muito também e disse que ia guardar o “dragãossauro”.

E fomos comer cachorro quente com suco de laranja. E depois fomos pra escola.

No outro dia, Helena teve outra ideia.

- Por que a gente faz uma máscara de mergulhar? – ela disse.

- Como? – eu perguntei.

- A gente põe um plástico na cabeça e sai mergulhando e vendo tudo no fundo da água.

- Mas aqui na casa da vovó Lena não tem piscina nem banheira.

- E precisa? – falou Helena.

Cada ideia que Helena tem!

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Fomos correndo falar com vovó da nossa ideia. Ela achou muito legal, mas disse que por plástico na cabeça só se tivesse furos bem grandes pra entrar ar, senão era perigoso. E que era melhor a gente esperar até amanhã, mas eu vou contar agora o que aconteceu amanhã. Vovó comprou duas máscaras de mergulho pra gente, que tampa só os olhos e deixa a boca de fora. E a gente colocou as máscaras e saímos nadando pela casa da vovó vendo um punhado de peixes, bichos, tartarugas e sereias, e rindo muito.

Até que fomos comer um punhado de pastel de carne e de queijo com suco de manga. E fomos para a escola mais uma vez.

De noite, na minha casa, eu tive então uma ideia muito legal e pensei “amanhã vou falar com Helena esta minha ideia”. E contei pro meu pai e pra minha mãe a ideia que eu tive: uma máquina de ver no escuro.

- Muito legal sua ideia. Mas eu acho que tenho uma máquina assim – meu pai falou.

Foi no armário do seu quarto e pegou uma filmadora, que filmava no escuro, mas tudo verde, era só empurrar um botãozinho. E me deu e eu

apaguei as luzes do quarto e fiquei filmando até a hora de dormir. No outro dia, levei a filmadora pra mostrar para Helena. Ela achou super-legal no começo, mas depois disse:

- Fica tudo verde. Fica parecendo, como é que é mesmo aquilo que eu não gosto, que é verde, vó?

- Brócolis, espinafre. Mas tem que comer que é bom – disse vovó.

- Eco! – disse Helena fazendo cara de nojo. Eu ri da cara que a Helena fez e vovó riu também. E vovó guardou a filmadora, que podia cair e estragar. Então, fomos brincar de jogar bola. E depois comemos pipoca com canjica. E saímos correndo para a escola.

De noite na minha casa desenhei uns robôs bem grandes e uns carros voadores pra mostrar pra Helena e vó Lena no outro dia. Contei pra minha mãe e ela me contou uma coisa “te-rrí-vel”. Vó Lena se chama Maria Helena.

- Então, a Helena tem metade do nome da vovó – eu disse. Minha mãe achou graça e concordou.

Quando eu cheguei à casa da vovó, Helena já estava lá e a gente falou junto:

- Tenho um segredo pra te contar.

E a gente riu e eu contei primeiro.

- Você sabia que vó Lena se chama Maria Helena? Que o seu nome é metade do dela?

Helena ficou olhando pra cima, pensou e disse: - Então é.

E depois ela contou o seu segredo:

- Descobri uma coisa te-rrí-vel.

Helena toda hora fala te-rrí-vel.

- O quê? – eu perguntei.

- Sei onde vovó guarda o que a gente faz. É lá no armário do quarto do fundo da casinha do quintal – disse Helena apontando com o dedinho perto da boca na direção da casinha do fundo. – Mas isto é segredo.

- Vamos lá? – eu disse.

- Êba! – disse Helena. - Vamos!

E saímos correndo pro quartinho do fundo. A porta está sempre aberta e eu e Helena entramos. E Helena apontou com o dedinho perto da boca pro armário, que estava com a chave na porta. Eu abri a porta e vimos duas pilhas enormes de papel, que a gente desenhou, que eram muito mais altas que eu e a Helena juntos.

- Vamos ver um? – Helena teve essa ideia.

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- Vamos.

Então eu peguei uma folha que eu alcançava e puxei. Ela estava presa e aí eu puxei com força e saiu um pedaço. E aí Helena também ajudou a puxar e, de repente, as folhas começaram a cair e a gente tentou segurar e as folhas foram caindo, caindo, caindo, caindo em cima da gente e Helena gritou:

- Êba! Êba! Êba!

E não parava de cair as folhas de desenhos em cima da gente, parecia uma cachoeira de papel e a gente começou a jogar as folhas para cima gritando:

- Êba! Êba! Êba!

E eu vi um desenho, que eu fiz quando era criança, e um desenho que Helena fez, quando era mais criança ainda.

E daí vovó apareceu e disse: - Que bagunça!

Vovó, quando fala “que bagunça”, não está achando que é muita bagunça, não. Mas minha mãe, quando fala “que bagunça!” ela está achando que é muita bagunça mesmo.

Daí a gente ficou sem saber o que fazer no meio da piscina de papel e então vó Lena ou vovó Maria Helena disse:

- Quando vocês forem do meu tamanho, vocês vão gostar muito de ver estes desenhos, que mostram um pouquinho do que como vocês são agora. E vamos pra mesa que hoje tem brigadeiro e morango com leite.

- Quer que ajuda, vó? – perguntou Helena.

Vovó riu. - Não, pode deixar. Vão comer.

Nós saímos correndo pra cozinha e comemos brigadeiro com morango com leite. E quando a gente voltou para se despedir da vovó, ela já tinha colocado quase tudo de volta no armário. Então voltamos correndo pra ir para escola e Helena disse:

- João Pedro, vamos desenhar todo dia até ficar grande. Daí a gente vai fazer uma montanha de desenho que vai até nas nuvens.

Helena tem cada ideia!

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